segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Coisas tristes

Uma senhora que faz secretariado perto da nossa redacção (trabalhamos todos no mesmo open space, portanto) descobriu há pouco, por telefone, que a mãe está gravemente doente. Como se o historial familiar da senhora - e estas notícias! - não fossem já suficientemente más, a frieza de novo drama começa logo na forma como se apresentou, ao telefone.

«Bom dia, eu sou a filha da doente da cama 8...».

Nem a todos pode calhar um médico «romântico de esquerda» (na semana passada, pedi a um doutor da caixa que me passasse umas credenciais e fiquei quase três quartos de hora a ouvi-lo contar e comentar tudo e mais alguma coisa, num estilo excêntrico e espampanante em que metade das palavras saíam a voar disparadas para outro receptáculo qualquer que não o meu canal auditivo. Justificou a sua postura com o tal título de «romântico de esquerda». Esqueceu-se de me mandar carimbar as credenciais, percebi hoje de manhã.

Nota mental: nunca mais dizer a minha verdadeira profissão, numa destas circunstâncias. Pior cotado que «jornalista» só mesmo político ou arrumador de carros, suponho. E nestas ocasiões, jornalista tanto é o pivô do jornal da noite como o revisor de uma revista de horticultura - nem vale a pena argumentar).

segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

Ultimamente ando a escrever muito sobre música - até parece mal. Mas não tenho culpa de tanta coisa (por acaso, boa) me andar a passar pelos ouvidos.

Depois dos Sentados, que como devem ter reparado (abaixo, meninos, abaixo) para mim foi igual a Ed Harcourt, a querida Laura Veirs tocou no Alquimista, faz hoje uma semana.

A típica songwriter por quem ninguém, ou muito pouca gente, dá um chavo, a senhora tem um par de discos bem jeitosos, que recomendo ao meu vasto auditório: "Carbon Glacier" e "The Year of Meteors". Isto são canções de uma folk confessional, observadora e tendencialmente conservadora, mas quem gostar, digamos, de um Josh Rouse também não vai daqui nada mal servido. Ao vivo, e numa noite de absoluto dilúvio, Miss Laura, que às mãos da British Airways perdeu malas, roupa e CDs, apresentou-se de sandálias com meias por baixo (!) e fez o que lhe cabia: embrenhou as suas belas canções num charme menineiro não muito longe, também, da minha queridíssima Mirah, agarrando o público pela mão. Não foi inesquecível, mas muito muito simpático. E até de Saramago se falou/cantou.

Laura Veirs é geóloga e, muitas vezes, canta como se estivesse sozinha no fim do mundo, mas a sentir-se bem. Gosto da ideia.

Dias mais tarde, nova senhora nos palcos do Alquimista: Lisa Germano, veterana por muitos adorada, de quem lamentavelmente conheço apenas os dois últimos trabalhos. "In The Maybe World", deste ano, é belíssimo, e foi muito bem representado na lotada noite de Sábado. Ao longe, a quase cinquentona, de calças de ganga e t-shirt, parece uma garota. Sentada ao piano, fala dos seus gatos, mas também de um disco por tanta gente adulado ("Op8", com Howe Gelb e restante pandilha) como «um disquito engraçado» ou da calorosa reacção do público como inédita na sua carreira. Presença encantadora e voz a lembrar, por vezes, uma das minhas grandes paixões: Shannon Wright.

Ontem, vi os Yo La Tengo na Aula Magna. Tal como há 493 anos (talvez tenham sido menos, mas parece-me que já foi há tanto tempo...) no Garage de Alcântara, um formidável concerto, mesmo para quem, como eu, conhece mal os seus discos - à excepção do lindivinal "And Then Nothing Turned Itself Inside Out", recordado amiúde na noite de ontem, para meu deleite. Olho para o palco e parece-me ver três amigos, encostadinhos uns aos outros, ocupando metade (se tanto) do palco amplo, mas fazendo um barulho e uma magia bem maior que a soma das partes. Muito bonito.

Hoje, conto que a Cat Power, à semelhança do não-concerto de Matosinhos aqui há uns tempos, destrua a Aula Magna. Tratam-na como um vidrinho, mas a moça é um... erm, garrafão. Mesmo que alegadamente sóbrio, nos dias que correm.

A quem de direito, fica uma lista de senhoras que, não querendo parecer mal agradecida pelas oferendas concretizadas, fariam as minhas delícias ao passar por Portugal: Neko Case, Neko Case, Neko Case. Shannon Wright, Shannon Wright, Shannon Wright. Lucinda Williams, Lucinda Williams, Lucinda Williams. Faço promessas e cumpro-as, se me indicarem o santinho respectivo.

quinta-feira, 30 de novembro de 2006

Bebés

A reacção feminina à chegada ao escritório de alguém com um bebé ao colo é um clássico.

Estejam lá a fazer o que estiverem, levantam-se como se tivessem fogo no rabo para aclamar a criança, coitada, por momentos transformada num autêntico Menino Jesus, com sete ou oito mulheres em seu redor, a tagarelar e fazer as vezes de reis magos.

Não me interpretem mal: gosto tanto de bebés como qualquer nuvípara (aprendi esta quando fui fazer uma mamografia; acho que quer dizer «sem filhos»), mas não consigo ir cantar loas à cria de alguém que mal conheço (ou não conheço de todo, como acaba de acontecer).

Isto lembra-me duas coisas: o Ricardo Araújo Pereira a dizer que o sketch do Paulo Bento só foi visto por meio milhão de pessoas porque estas, no trabalho, preferem fazer «qualquer coisa» a ter de trabalhar; e o episódio do Seinfeld em que há um bebé particularmente horrendo. Todos fingem a reacção de encantamento («Ooooohhhh, que lindo!...»), menos o Kramer, que com os seus típicos tremeliques e convulsões denuncia, aos berros, a real aparência da criança (sosseguem os mais sensíveis: o bebé nem aparece, provavelmente dentro da mantinha estava um boneco).

quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Sentados



Nesta bela foto, roubada à/ao Angua no Fórum Sons, não dá para perceber, mas o Ed Harcourt apresentou-se em Santa Maria da Feira com um casaquinho bordeau, que à distância parecia de veludo mas, visto de perto (eu cruzei-me três vezes com ele, na fila para a casa-de-banho) era de simples bombazine.

Gosto muito do Ed Harcourt, apesar de só ter ligado convenientemente aos seus dois primeiros álbuns. Acho que o senhor tem voz de chocolate quente com um cheirinho de uísque, e derreto-me com a) boa parte das suas canções b) o empenho e o carinho que coloca em palco, e que este ano pude, por fim, presenciar.

Em Lisboa, no pico do Verão, falei com o senhor antes de um concerto em que se revelou nervoso, ansioso, agitadíssimo - mas inspirado, e cheio de ideias para preencher as duas horas de espectáculo, perante pouquitas pessoas. Escrevi, na altura, que era bom que o autor da incomparável «God Protect Your Soul» pudesse acalmar e concentrar-se no seu serviço. Por incrível que pareça, julgo que foi o que aconteceu Sábado, lá nos Sentados. A audiência estava menos que calorosa, mas foi-se rendendo ao desejo, expresso pelo artista, de «turn this funeral into a wedding».

Um doce. E à terceira vez que nos cruzámos, lá o abordei para lhe dar os parabéns pelo sucesso do concerto. Ele achou que tinha corrido «ok» e confessou-se muito cansado. Estranhamente, garantia lembrar-se de mim: «You did the interview», recordou. Depois de, em Lisboa, ter cumprido a promessa de tocar o «God Protect Your Soul» por eu adorar a canção, eis que Ed Harcourt cimenta o seu lugar no meu Top de Simpatia 2006.

A seguir tocaram os Sparklehorse, de quem conheço e adoro, sobretudo, o álbum "It’s A Wonderful Life". Há quem diga que a banda (o Mark Linkous e uns amigos) estava em piloto automático, a fazer o frete de tocar para nós, mas sinceramente deram o concerto que me apetecia ver: não muito longo e com o cheiro a flores mortas e terra queimada que associo à sua música. Não sei porquê, mas a poupita no cabelo do Linkous esteve, durante todo o concerto, a ser ligeiramente levantada por uma corrente de ar (?) que não se fizera sentir na actuação anterior. E esse pormenor, mais a dolência ligeiramente doentia da música dos Sparklerhorse, fizeram-me sentir lá longe, no sítio de onde aquela gente e aquelas canções vêm, e onde eu provavelmente nunca estarei.

A Emiliana Torrini cancelou; foi pena, mas pergunto-me quando é que verei, nos sentados ou em qualquer outro evento nacional, as songwriters que realmente adoro. Pista para os promotores: a country nem sempre morde ou larga peçonha.

Para concluir: os casaquinhos bordeau dominaram as duas últimas semanas, na tela ou no palco (ver post sobre Ciência dos Sonhos). Começo a encará-los como garantia de qualidade.

quinta-feira, 23 de novembro de 2006

A Ciência dos Sonhos

Depois de um camião ter caído na linha de comboios de Cascais, impedindo-me de chegar ao cinema a horas, na Segunda-feira, ontem também não foi fácil cumprir a promessa de ver "The Science of Sleep" quanto antes. Pensei que tinha boleia até chegar a casa e descobrir que, afinal, um mal entendido ia obrigar-me a apanhar um táxi até ao cinema. Corri rua abaixo para encontrar um dos taxistas mais lerdos dos últimos tempos: com a estrada por sua conta, em vez de acelerar, passeava-se pelas ruas de Lisboa, como se quisesse apreciar as vistas. Isto enquanto assobiava, linguita presa nos dentes, as músicas que iam passando na Rádio Orbital. Recordo com particular asco uma versão reggaeton para «I'm In Love With An Alien», da Kelly Family. Demorou eternidades a estacionar frente ao Corte Inglés e, apesar de lhe ter facilitado o troco (cinco euros), deu-mo em moeditas que foi sacar a um porta-moedas refundido. Vinguei-me deixando-lhe uma embalagem de compal no carro (recorde pessoal de maldade voluntária da minha parte. Mas acho mesmo que ele estava a gozar comigo).

Depois da história do camião, dizia eu então, parece que havia mesmo alguém "lá em cima" com pouca vontade que eu visse o novo filme do Gondry. Mas, contra tudo e contra todos (como diria o Pinto da Costa), consegui chegar à sala mesmo no começo do genérico. Duas horas depois, concluí que o alguém "lá em cima" tem (quase) sempre razão.

Desengane-se quem for à procura de um novo "Eternal Sunshine of the Spotless Mind". Elucide-se quem se tenha surpreendido com o facto deste filme só estar em duas salas de Lisboa. "The Science of Sleep" é dos filmes mais toscos, disparatados, surreais e tolos que já vi. Saí da sala algo desolada, até porque, neste meu acalorado desejo de apanhar a película antes que saísse de cartaz, arrastei o meu home para o cinema, e evidentemente que ele disse cobras e lagartos da "história".

No entanto, à medida que as horas iam passando e me recordava de pequenos pormenores do filme (cujas histórias, personagens, diálogos e tudo à volta, sublinho, são de uma incrível incoerência), não fui capaz de ignorar que tenho um certo carinho pela coisa.



Há quem tenha escrito que "The Science of Sleep" é um filme falhado, mas para assim ser era preciso que Gondry tivesse tentado fazer um filme, diz o meu home, ainda inconformado. Realmente, talvez não tenha tentado. Mas as sequências animadas, com bonecada feita à mão (?), muitos bichinhos e cenários entre o naïf e o absurdo, e uma outra cena de ternura incomensurável acabam por resgatar a experiência da minha "reclycle bin" mental. Ou muito me engano ou este ainda vai ser um daqueles filmes que sei ser mau, ou pelo menos longe de bom, mas do qual não consigo não gostar.



Quanto ao Gael. Meus amigos (e minhas amigas), escreveu o Jorge Mourinha no Y que o senhor estava, neste filme, «com o charme no máximo». E não podia ser mais verdade. Mas há quantos filmes é que ele já usa esse expediente? Hum? Assim de repente, não consigo apontar falhas aos visuais + carisma ostentados em "Motorcycle Diaries" ou mesmo "Má Educação". Qualquer dia há um grave derrame de charme nas nossas salas de cinema e depois quero ver. Eu avisei. Actor mai-lindo de sempre d'acordo com liisabel (como me chama a amiga Susaninha).



(anda com este fatinho bordeaux todo o santo filme)

terça-feira, 21 de novembro de 2006

Esta noite na Química FM

... na oitava emissão do Boa Noite e um Queijo, as quimigals vão dar destaque ao vindouro Festival para Gente Sentada e falar com os Jesus The Misunderstood. Acompanhem-nos!...

Sobre o Science of Sleep

Ontem um camião fez o favor de se despenhar sobre o viaduto de Alcântara (*), interrompendo a circulação na linha de Cascais. Inocente em Paço de Arcos, fiquei uma hora à espera de um comboio que, diariamente, não se atrasa um segundo que seja. Parece-me que há alguém lá em cima que não quer que eu vá ver o novo filme do Gondry.



(*) - informação apurada junto de um dos empregados de balcão do cada vez mais obrigatório Café Martinez, de Algés.

Honras

Já terão reparado que, desde o passado Sábado, este blog anda todo ufano.

Ele é visitantes novos, uma fitinha a ornamentar o tasco no canto superior direito, comentários a torto e a direito e até uma verdadeira heroína que diz ter lido todo o meu blog (três anos de disparates), entre as duas e as cinco e meia da matina.

Não posso fazer outra coisa que não voltar a agradecer às gentes da Rádio Comercial. Jantar com amigos, num Sábado à noite, entrar no carro a seguir, ligar o rádio e ouvir o Manuel Cruz a cantar o «Ouvi Dizer» foi um momento lindíssimo (ainda por cima, dado o calibre de Fanáticos de Ornatos de 75% dos passageiros) e não acontece todos os dias. Muito e muito obrigada, diz este bicho de conta :)

(Para ouvirem a Vanda Miranda ler alguns dos textos do Sofá, basta seguir este link ou clicar na fitinha lá em cima).

segunda-feira, 20 de novembro de 2006

Hoje

Hoje vou ver o novo filme do Michael Gondry, o homem do "Eternal Sunshine". Relembro que essa fita andou aos trambolhões neste blog durante uns bons meses, e ainda hoje tenho aquela foto clássica, do casalinho deitado numa cama de ferro em plena praia, em pleno Inverno, a revestir uma caixa de sapatos com CDs lá dentro. Diz assim a lógica (ou a matemática?) que a fórmula Gondry + indiezada + Gael vai dar pano para mangas ao Sofá. Mas já li, aqui e acolá, que o filme é «falhado», cheio de boas ideias mal concretizadas, «apenas» bem intencionado, etc. Logo se vê (e o facto de já lhe estar a dedicar um post, sem ter visto um trailer que seja, deve querer dizer alguma coisa - quanto mais não seja, sobre a minha fraca higiene mental).



Entretanto, ontem comecei a ver o "Carne Viva", do Almodóvar. Aqui há uns dias toda a gente troçou daqueles que, como eu, nunca tinham pensado no realizador espanhol como homossexual. Tudo por causa de uma frase recente do senhor, que reza qualquer coisa como: «Toda a gente sabe que eu sou gay, mas a Penelope Cruz tem os melhores seios da Europa». Por acaso nunca pensei, ou deixei de pensar, no homem enquanto gay, straight, bi ou o que quer que seja, o que não deixa de ser uma negligência intelectual da minha parte. Com um universo tão sexual nas suas obras, já me devia ter deitado a pensar na vida íntima do Pedrito. Ou então não. Mas voltando ao filme, ocorre-me dizer que aquilo que mais me encanta nos filmes de Almodóvar é a sua feminilidade. Um pouco doentia, é certo, mas feminilidade. É como se todas as personagens e histórias de Almodóvar nascessem da imaginação de uma rapariguinha adolescente, trágica mas romântica. E fã de thrillers e livros policiais.

Também me é impossível não adorar a forma como retrata uma Espanha que podia ser um Portugal.

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

Celebridades da minha terra

O liceu onde andei, do sétimo ao 12º ano, tinha 3500 alunos e capacidade para pouco mais de mil. Dividido por pavilhões, anexos precários e casotas a cair, que deixavam entrar água quando chovia (e não precisava ser muita, a chuva), era ladeado por muita árvore (do mal o menos) e dava para a biblioteca municipal e o café "O Garfo", onde se reuniam os rufias do meu tempo.



Numa época bem mais segmentada socialmente do que a actual (ou pelo menos à distância assim me parece), havia os intemporais betos, os surfistas e bodyboarders, os metaleiros e os, cough, "normais". No ano em que o Kurt Cobain morreu, eu e as minhas amigas fizemos um reportagem (para um jornal que nunca chegou a ser publicado) sobre estes "grupos". Moviam-nos interesses pessoais, claro está, e ainda tenho as cassetes. Um dia ponho-me a ouvir.

Isto tudo para dizer que, inesperadamente, muito pessoal do meu liceu se tornou famoso! Um pequeno inventário:

- a jovem mulher do Pinto da Costa. Tinha uma irmã gémea e ambas gozavam de imensa popularidade junto da rapaziada de noventa e tal. Andava um ano à frente da minha turma.

- os gémeos modelos, Pedro e Ricardo (?) Guedes. Passávamos a vida a fazer pouco daquele par de betos, de cabelinho esticado pelo ombro, penteado à menina, e calças de ganga com cinto, bem subidas. Reza a lenda que foram "descobertos" na paragem do 84, em Santo Ovídio, onde eu vivia. Urge dizer que hoje, nas entrevistas, até me parecem rapazes simpáticos. Andavam um ano atrás da minha turma.

- a mulher do jogador portista e, mais tarde, boavisteiro Jorge Couto. Vencedora do galardão Miss Teenager (revista de miúdas da altura), magríssima e adepta, também, das calças de ganga "em altura". O futuro marido chegava a ir buscá-la de carro desportivo lá ao liceu.

- o actual MC Ex-Peão, dos hip-hoppers Dealema! À época, era um metaleiro de calças pretas e justinhas, com semblante carregado, que por motivos que ainda hoje desconheço costumava passear-se frente ao liceu, com o irmão pequenito. Vivia no mesmo bairro daquela que viria a ser mulher do Pinto da Costa e é, estou em crer, mais novo que eu. Não o teria reconhecido na sua encarnação rapper não fosse a minha amiga Barbara alertar-me para o facto (que, a princípio, recusei ser possível). Um metaleiro virado hip-hopper? Ah, se fosse no meu tempo...

quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Aperaltem-se todos, vamos ter visitas!

Fontes seguras garantem-me que, no próximo Sábado, a boa gente da Rádio Comercial vai abrir as portas do programa O Meu Blog Dava um Programa de Rádio a este modesto Sofá. Possível momento histórico a caminho: será que, em três (!) anos de vida, o meu tasco vai receber em simultâneo mais de duas pessoas e meia? Aguardamos com ansiedade qualquer visita extra, e agradecemos já a amabilidade da ideia :)

Se calhar não era má ideia voltar a colocar a imagem do sofá e os links que perdi quando, sem querer (e sem perceber!), apaguei o template todo... Se houver tempo, ainda puxo o lustro à casa, até ao fim da semana.

quarta-feira, 15 de novembro de 2006

Carinho

Hoje, no Café Martinez, em Algés, ouvi um empregado de balcão referir-se ao Salazar como «o Oliveirinha».

Queijinho fresco

Ontem houve mais uma emissão (a sétima!) do Boa Noite e um Queijo, na Química FM. Se quiserem / puderem ouvir, passem por aqui: o João Gonçalves é um santo (quase) e gravou-nos o programa. Saudações e agradecimentos das quimigals!

terça-feira, 14 de novembro de 2006

Sapatinhos de ir aos figos

Tudo bem - no meu relativamente novo local de trabalho, as senhoras arranjam-se mais (e melhor?) que eu. Têm saltos sempre altos, botas bicudas (brrr... devem dar jeito para matar baratas), quinquilharia sortida ao pescoço e nos pulsos. Deixam nuvens aromáticas, possivelmente de perfumes caros, atrás de si, e o som troteante dos saltos a ecoar pelo corredor. Ainda assim, não há necessidade de certas coisas.

Na semana passada, marquei consulta para a médica do trabalho. À hora combinada, havia mais sete (!) mulheres à espera. Nenhuma com consulta marcada, todas com boas desculpas: «Eu é só medir a tensão...», «Eu é só verem-me os ouvidos...». Escusado será dizer que, das sete oponentes, três ou quatro me passaram à frente (umas quantas desistiram).

A senhora dos ouvidos gostava de meter conversa, mesmo com quem não lha dava (eu, portanto). Após uns bons 10 minutos de silêncio, retoma o "chat" com o enigmático:

«Sapatinho confortável, hein?»

isto enquanto olhava de soslaio para os sapatos que me deu a minha sogra há dois ou três Natais, e que eu tinha nos pés. Não são muito vistosos, é verdade. Não têm tacão... mas são, de facto, confortáveis, e resistentes. Têm uma cor que dá com tudo. E gosto deles.

«Siiim... estão um pouco estragados, mas são bons para andar», acabei por responder, acabrunhada.

( o trauma não foi suficiente para pensar comprar sapatos novos desde então )

Bruxaria

Nunca achei que fosse suficientemente importante para alguém me lançar um mau-olhado, mas começo a mudar de opinião (em relação ao eventual feitiço, não à minha importância).

Nas últimas semanas, uma sucessão aparentemente imparável de pequenos azares e incidentes, geralmente domésticos, tem-me posto a cabeça em água. Desde queimaduras que me deixam a mão à lá Freddie Krueger, a infecções urinárias que duram mais que o meu primeiro (e, por este andar, derradeiro) leitor de mp3, avariado na semana de estreia, o rol de desastres é demasiado fastidioso para os enunciar na íntegra.

O sexto sentido, que tal como a SR ali ao lado, tendo a confundir com paranóia, é que continua todo lá. Há bocado pensei: «Tanta desgracinha junta, ainda vai dar uma desgraça gigante, não tarda nada». E não é que, esta tarde, ia deitando a perder o trabalho de um mês e tal, de forma irreversível? Dêem-me férias.

quinta-feira, 9 de novembro de 2006

As Cidades

Tenho uma certa tendência para me apaixonar por cidades que visito em contexto mais ou menos lúdico. Ainda assim, umas apaixonam mais que outras. Londres e Nova Iorque (que conheci infimamente, mas conheci) são as mais recentes, mas há dez anos, ninguém me calava com Amesterdão. Hoje soube que a amiga que lá me levou a passar uma bela quinzena, nas férias de Verão, vai emigrar de vez. Boa viagem, Ana, que seja tudo pelo menos tão bom como em 1996.

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

Pedimos desculpa pela interrupção...

Sei que tenho votado este blog a relativo abandono, mas tem-me faltado o tempo (e alguma disposição, também) para escrever. Além de que, lá em casa, houve um bem sucedido golpe de estado, e agora quem manda é ela:



D. Shiva I

terça-feira, 31 de outubro de 2006

Queijinho

É hoje, o quinto episódio do Boa Noite e um Queijo. Oiçam, na Química.

quinta-feira, 26 de outubro de 2006

Saudades do futuro...

Às vezes (e não, não é todos os dias...) aperta para estes lados uma certa e determinada saudadezinha de cor bem conhecida. Ainda não percebi se o remédio para esse "mal" é - ou não - dar-lhe de comer, ouvindo discos como aquele que a Mary recorda aqui.

No entanto, esta semana recebi boas notícias sobre o estado de um dos mais recentes e apetecíveis projectos do Manel Cruz, soube que o Nuno Prata, finalmente com disco cá fora!, arranjou um terceiro músico para tocar com ele, e vi pela primeira vez o blog do Kinörm na China. Uns mudam de cidade, outros dão a volta ao globo e fazem bonecos. A Ribeira do Porto em Xangai - como não há-de uma pessoa deixar-se comover um pouquito? : )

terça-feira, 24 de outubro de 2006

Queijo Quatro

É hoje, meninas e meninos. Ouvi a Química, se vos aprouver (das 20h às 22h).

sexta-feira, 20 de outubro de 2006

Está a chover e portanto...



A primeira vez que ouvi este disco não sabia o que era. Estava gravado em mp3, num CD-R com outros discos para ouvir e escrever sobre, para a Mondo Bizarre. Lembro-me de pensar nuns Interpol mais para os meus lados (meigos, quase soturnos, americanos do campo). Vim a descobrir serem os National, com "Alligator". À medida que insistia, parecia-me cada vez melhor. Escrevi sobre o disco e, passados uns meses, entendi perfeitamente porque é que uma revista estrangeira chegou a fazer duas críticas ao álbum, revendo-o em alta: detesto dar notas, mas a dar, este jacaré não pode ser menos que um dez em dez. E no meu texto inicial nem ao oito cheguei... mais tarde marquei uma entrevista para me redimir. Adorei falar com o vocalista, Matt Berninger, e ainda hoje amaldiçoo a chefe que não me deixou ir a Paredes de Coura em 2005. Se este é o meu disco do século, até agora, o que não teria sido o concerto, que ouvi, cheia de raiva e inveja, pela rádio.

Já estou farta de escrever sobre o "Alligator" - mas não me canso de ouvi-lo. Hoje peguei nele para ouvir no caminho para o trabalho, com a desculpa que estava a chover muito e que é um bom disco para me "aconchegar" os ouvidos e a alma. E é. Mas eu consigo - e quero - ouvir este álbum com qualquer temperatura ou disposição. À nonagésima audição, continuo a descobrir pequenos pormenores (aquela guitarrinha sempre esteve ali? e aquela revienga do violino?) e a deixar-me embalar / inquietar / apaixonar por canções como «Karen», «Lit Up», «Daughters of the Soho Riots»«, «Val Jester», «All The Wine»... O meu home uma vez descreveu o "Alligator" como uma mistura entre melosidade e maladragem. Talvez seja essa a razão que me leva a pensar neste álbum como um dos discos que melhor me descrevem. Agora é anotar a ideia antes que me aconteça o mesmo que ao Rob Fleming, do Alta Fidelidade, que leva a vida a pensar na lista dos seus discos favoritos de sempre, e quando uma miúda de um jornal regional lhe faz a pergunta, tem de mudar a resposta umas 20 vezes, por nunca estar contente com o resultado. (já que falamos em arrebatamentos, o High Fidelity é dos meus livros mais amados de todos os tempos. O filme não é tão bom, mas gosto muito do John Cusack).

Mas voltando ao "Alligator". Eu sempre me deixei perder (ou ganhar...) por uma boa letra, e vejam isto:

«You wear your skirt like a flag
And everything surrounds you, and it doesn't fade
Nothing like this sound I make
That only lasts the season
And only heard by bedroom kids who buy for that reason
Cuz you're the low life of the party, bad blood
Bad blood for everybody
I'm in control and I believe»

«Break my arms around the one I love
And be forgiven by the time my lover comes
Break my arms around my love»

«I wake up without warning and go flying around the house
In my sauvignon fierce, freaking out
Take a forty-five minute shower and kiss the mirror
And say, look at me
Baby, we'll be fine
All we gotta do is be brave and be kind»

«I was in a train under a river when I remembered what
What I wanted to tell you, man
What I wanted to tell you, man
I got two sets of headphones, I miss you like hell
Won't you come here and stay with me
Why don't you come here and stay with me

(...)

Why did you listen to that man, that man's a balloon
Fake a heart attack, you gotta get back to me»

«Big wet bottle in my fist, big wet rose in my teeth
I'm perfect piece of ass
Like every Californian
So tall I take over the street, with highbeams shining on my back
A wingspan unbelievable
I'm a festival, I'm a parade»

[em pleno modo American Music Club / Mark Eitzel ]

«Karen, take me to the nearest famous city middle
Where they hang the lights
Where it's random, and it's common versus common
La di la

I've got five hundred in twenties
And I've got a ton of great ideas
I'm really worked up
I'm on a good mixture, I don't want to waste it
I'm on a good mixture, I do not want to waste it
I wanna go gator around the warm beds of beginners
I'm really worked up»

São todas magníficas, não obstante eu geralmente perceber que o homem canta outra coisa qualquer.

Falta-me analisar os The National à luz da sua origem. A banda é do Ohio mas opera em Nova Iorque. A minha estada relâmpago na Big Apple não me permite encaixar isto. Houve muita coisa a saltar-me à vista e aos outros sentidos, na já saudosa viagem, mas a melancolia extra forte de um "Alligator" não foi uma delas - ao contrário do que acontece com os TV On The Radio (em Português, Tê Vê na Tufonia), cujo caos, belo mas opressivo, foi das primeiras coisas que reconheci ao botar o pé em NYC. Melhor assim - nem tudo tem de ter relação directa com o sítio de onde vem. E tenho a noção de que este disco, independentemente do local de onde partiu, vai ficar para sempre guardado no meu coração.

terça-feira, 17 de outubro de 2006

Mais Queijo

Esta noite, na Química. É ouvir! Diz-que vamos dar bilhetes para o teatro e tudo...

Mais frases

Há, quer-me parecer, um vagabundo / maluco residente na minha rua. É um senhor de longas rastas, que outro dia vi a falar amistosamente com uma vizinha. Suponho, assim, que seja inofensivo.

Ontem ao final da tarde, ia eu ligeirinha a subir a rua, tentando escapar à chuva, quando o vejo muito entretido a mexer num contentor cheio de entulho. Uns papéis pareciam chamar-lhe especialmente a atenção. Ao ver-me, achou por bem justificar o seu comportamento:

«Não consigo encontrar um bilhete postal em condições para juntar à minha colecção!! Possa - será possível?!»

Continuei a caminhar bem depressa, para evitar os pingos cada vez mais grossos e também para que o homem não percebesse que eu estava prestes a escangalhar-me a rir.

segunda-feira, 16 de outubro de 2006

Parabéns!

Foram, e espero que continuem a ser, centenas de horas de prazer, em disco e ao vivo. Ornatos, Pluto, Supernada, Foge Foge Bandido, Ornatos Ornatos Ornatos - ou uma vida (quase 10 anos é uma vida, não é?) a ouvir e adorar o que sai da cabeça do Manel Cruz. Além da música e da prosa, há os bonecos (ilustração), a bê dê, a graça e, muito resumidamente, o brilho que emana do senhor. O Manel faz (32) anos hoje e o Sofá Verde manda-lhe os seus sentidos parabéns. Com muito carinho.



Foto d' O Puto do costume (que também está de parabéns, mas por outras razões. Lá iremos, hoje o dia é violeta).




( e numa segunda-feira cheia de chuva e caras feias, nada mais justo que recordar a letra do «Dia Mau» e questionar: quem consegue encaixar numa canção pop de três minutos e qualquer coisa a frase - sim, é uma frase - «mas vendo bem não houve à luz do dia quem não tenha provado o travo amargo da melancolia», não merece tudo? Eu se calhar sou suspeita, mas acho que sim. )

Sonhos

Na semana passada sonhei que bebia, julgando tratar-se de iogurte líquido, um bom bocado de lixívia. Só me apercebi do equívoco ao olhar para a garrafa (bem colorida e assim propícia ao engano). Fiquei aflita - não tanto pelos efeitos da lixívia nas minhas entranhas, mas porque de repente era criança outra vez e tinha de ir contar ao meu pai o que fizera. Aproximei-me a medo, na casa antiga de Santo Ovídio onde hoje só deve haver ratos, e pedi:

«Oh pai, podias levar-me ao hospital, para me fazerem uma lavagem ao estômago?»

O meu pai, contrariamente ao que esperava, não explodiu de raiva e aflição. Olhou para mim e, com condescendência, disse: «Ai, e agora já queimaste as cordas vocais».

Eu levei a mão ao pescoço e concordei: «Pois queimei». Acordei com a garganta inflamada.

sexta-feira, 13 de outubro de 2006

Semana constipada e consgestionada

Tem sido uma semana cheia de compromissos profissionais e espirros insistentes.

Ainda assim, basta-me andar pelos habituais e glamourosos locais para compilar umas bonitas frases...

Ontem, um taxista explicou-me a praga das moscas (andam por todo o lado e, outro dia, creio que entraram mesmo na boca de um colega. É nojento, mas verdade). Segue a explicação do senhor:

«Elas andam moles, pousam em todo o lado.»

( até na comida do restaurante de um amigo onde o homem vai há tantos anos - o que se há-de fazer? Eles têm lá «aquelas coisas para matar as moscas, mas elas não vão lá acima morrer»... )

Hoje, na paragem do 29, umas velhotas queixavam-se da nova "Rede 7" da Carris. Quando se lhes esgotaram as queixas, diz uma para a outra:

«O que é que eles disseram hoje às cinco da manhã que eu me fartei de resmungar?»

-> nota mental: esta gente ouve rádio às cinco da manhã. E resmunga.

«Deve ter sido aquilo da taxa de internamento!», alvitrou a outra.

«Ah, pois foi! Cinco euros por dia!... Haviam de me mandar a mim! Eu dizia-lhes logo: não pago!! Se nem pró comer me chega!!»

Na estação de comboios de Algés, os vendedores de trapos discutiam (fiquei com a impressão, não confirmada, que o tema era a intervenção da polícia no seu negócio).

«... mas deixa, que Deus não dorme e castiga! Deus castiga!...»

Antes, no 29, um velhote todo torto entrou no autocarro levando à comoção generalizada. Acabou por ser uma mulherzinha, também ela pouco jovem, a levantar-se e ceder o seu lugar - não sem antes sem mandar a boquinha: «Mas há aqui pessoas mais novas!...».

O jovem mais próximo picou-se e respondeu. «Se calhar, essas pessoas mais novas estão mal-dispostas, não é?!».

A mulher não esperava resposta, notou-se. Limitou-se a olhar para ele de soslaio e dizer: «Esteja calado, que eu não falei para si».

Lá diz a minha amiga Cibele: fosse tão fácil comprar armas em Portugal como é nos EUA, e também teríamos os nossos assassinos em série.

terça-feira, 10 de outubro de 2006

Extra Cheese

Esta noite, na Química FM (105.4). Tudo (ou nada) pode acontecer.

segunda-feira, 9 de outubro de 2006

Adeus, Hard Club

Neste final de ano, a notícia com "N" grande, no que toca ao encerramento de salas míticas, parecia ser a do CBGB's. E continua a ser.

Mas pessoalmente, toca-me bem mais de perto o fecho do Hard Club. Foi lá que consolidei o enamoramento com os Ornatos (7 de Dezembro de 1998 - ainda hoje a data me soa especial) ou dei asas às pancas Pattonianas.

Fico feliz, apenas, por quem escreveu o texto no Correio da Manhã ter noção do que foi o Hard Club ao longo da última década...

«Por ali passaram homens de libido à flor da pele, como Manuel Cruz, dos Ornatos Violeta, o ‘senhor caleidoscópio’ David Byrne, Mick Taylor a cair. Os Blasted Mechanism como se penetrassem em ‘florestas virgens’ e João Gordo, dos Ratos de Porão, qual ‘Obélix urbano on-acid e ataque constante’ deitando fumo pela cabeça em ‘carniceria tropical’»


Não era, claramente, um espaço perfeito. Ainda me lembro das chincanas para lá chegar - para quem nunca lá foi, o Hard Club fica a escassos metros do Rio Douro, o que tanto nos proporciona uma vista soberba como mui complicados acessos. Quando havia cheias ou simples chuvadas a coisa tornava-se ainda mais crítica. E nos últimos anos quase não fui lá, graças à viragem quase total da programação para as festas drum 'n' bass e os concertos de metal.

Durante quase 10 anos, soube bem sentir que uma das maiores (ou pelo menos, das melhores) salas de espectáculos do país era da mesma terra que eu. Dificilmente encontrei outro recinto com as mesmas condições (sonoras, de visibilidade para o palco) e o mesmo carisma (essa coisa que não se explica mas que se sente: nas paredes de granito, nas varandas para o Douro, nos rostos das pessoas). Era um verdadeiro clube. E sempre que penso em noites memoráveis no Hard Club, continua a vir-me à memória a mesma imagem: a de uma rapariga que não conheço, a dançar sozinha, com um sorriso de orelha a orelha, enquanto Manel Cruz, há oito anos, cantava «eu quero ver a lua a ver-me a andar, a ver-me a dançar». São coisas...

Listas

Ontem li, numa dessas revistas de Domingo, que perante a avalanche de informação a que somos sujeitos todos os dias, a solução parece ser... fazer listas.

Nos EUA, dizia o artigo, tem crescido em massa a venda de agendas com espaço para fazer listas.

Há qualquer coisa aqui que não bate certo. Já nem me vou debruçar sobre a real utilidade das listas (a meu ver até podem ajudar à frustração, por no final do dia, ou do mês, ser mais claro e evidente o número de coisas que ficou por fazer).

O que me intriga é: quem quer fazer uma lista, precisa mesmo de comprar uma agenda especial com espaço reservado às ditas?

«No meu tempo», as listas faziam-se nas costas de um talão de supermercado, numa senha de autocarro ou, em caso de extrema necessidade, na palma da mão.

Quem precisar de uma agenda especial para fazer uma lista, tem encontrado o seu problema - que não será falta de tempo, nem de organização, mas sim de agilidade...

Posto isto, confesso que tenho dezenas largas de blocos de notas, meticulosamente arrumados numa divisória da estante do Gato Preto que me enfeita a sala. Estão todos sarrabiscados de nomes, números, comentários de concertos e discos, florzinhas e ideias que nunca concretizei. Não consigo deitar qualquer um deles fora e tenho-me especializado em comprar dos bonitos, para ter uma desculpa adicional.

O último bloco de notas que comprei é uma espécie de moleskine verde, com elástico à volta e um "bolso" no final. A moça que mo vendeu perguntou se eu não o achava «just the perfect note book» e eu tive de concordar. É «sweet», respondi. Ela riu-se e confessou que, ao receber aquela encomenda, teve medo que as pessoas já não ligassem ao que é «just sweet». Mas que, ao final de uma semana, os bloquinhos praticamente tinham esgotado!

Também me perguntaram se não queria levar um com a embalagem completa, e perdoaram o engano no preço, beneficiando o cliente (eu, portanto). Obviamente, estou com saudades de Nova Iorque.

Verão - Outono

Acho que devia ser criada uma nova estação, a juntar às clássicas Primavera - Verão e Outono - Inverno. Na segunda semana de Outubro, por exemplo, estamos em plena temporada Verão - Outono.

Já não se vê ninguém a tomar banho de mar na marginal (ao contrário daquilo a que assistia diariamente, quando apanhava o comboio até Setembro), mas é impossível andar de meias ou casaco sem nos arrependermos da ideia, mal saimos porta fora.

Eu adoro o calor e adoro o Verão, mas odeio esta indecisão térmica. A coisa torna-se ainda mais dramática quando - à semelhança do que aconteceu esta noite - há melgas à mistura. Levantei-me duas vezes para pôr fenistil nas mãos e nos braços e uma terceira para ver se via a sacana da zumbidora.

Cheguei a lembrar-me do Homer Simpson, naquele episódio em que o nosso herói resolve tudo à pistolada.





Um tiro na melga - tinha graça, não? Depois quedei-me a pensar como é que um insecto infecto pode ser mais inteligente (ou, pelo menos, mais ágil) que um humano, e deprimida adormeci.

sexta-feira, 6 de outubro de 2006

Estado Civil

Há uma curiosa linhagem de loucura na minha família. Para tornar as coisas (ainda) mais interessantes, centra-se essa tendência do lado feminino do clã.

O caso mais clássico é o da minha tia, apropriadamente chamada de «tia maluca». Em criança achava-a excêntrica e engraçada, com o passar dos anos (e uma temporada de mais de um ano em sua casa), vim a perceber as razões pelas quais o resto da família evita grandes confraternizações com a irmã de meu pai. Os episódios sucedem-se: muitos deles envolvem autoridades (às quais a minha tia recorre por todo o tipo de ninharias), muitos outros são divertidíssimos, sobretudo para quem não tiver de os ouvir em primeira mão, horas a fio (ela não precisa que lhe respondam para dar seguimento aos seus monólogos). É uma pessoa especial - ou então, doida varrida. E mais não me alongo não só porque não é preciso, como porque, afinal, sempre é a mana mais nova do meu pai.

Depois, e sobretudo de há cinco anos para cá, temos a minha avó. Sempre teve um feitio, cough, especial, e a idade agravou certas características da sua personalidade. A partir dos 90, mais coisa menos coisa, começou a inventar largo. A primeira grande história saída da cabeça de alguém que nunca entrou numa escola prende-se com um vizinho nosso, a quem de repente a Dona Maria acusou de ser ladrão. Que roubara roupas, e berços, e tralha antiga de uns galinheiros do seu quintal em Santo Ovídio. Nada disto é, evidentemente, verdade, mas para a minha avó não podia ser mais líquido. Tanto que chegou a ir a casa do senhor, um Sábado de manhã bem cedinho, pedir satisfações e perguntar por coisas que, na sua maioria, não existem há décadas.

Aqui há uns tempos, um choque geracional fez com que a minha avó acusasse a minha tia (mãe e filha, portanto) de lhe roubar os soutiens. Perfeitamente natural, se pensarmos que a minha avó já quase nem precisa de tais artefactos e a minha tia terá uns quantos armários cheios deles. A mãe quer agora mudar as fechaduras das portas de casa para que a filha, que vive a mais de 300 quilómetros de distância, deixe de lhe fanar os soutiens. Um clássico, portanto.

Talvez por passar pouco tempo no Porto, tenho escapado relativamente incólume a esta onda fantasiosa da Dona Maria. Até esta semana, quando a minha avó perguntou à minha mãe como correra o casamento. Qual casamento? O meu.

Pelos vistos, casei na passada Terça-feira, «não pela Igreja, só pelo civil». Parece que ela faz muita questão de sublinhar esta parte.

Gostava de saber em que ponto da nossa relação é que a minha avó fez de mim alguém anti-igreja (sou baptizada, comungada, catequizada, etc e tal) e melhor ainda! alguém que não convidaria os avós para o casamento.

Entretanto o meu padrinho acreditou ligeiramente na história (que, convenhamos, nem está mal inventada) e sentiu-se um pouco triste por não ter sido tido nem achado quanto ao matrimónio da única afilhada. Vou mandar-lhe um sms a pedir desculpa, perdão, a desmentir.

quarta-feira, 4 de outubro de 2006

AM leva-me para o FM

Arranjei mais lenha para me queimar!

A culpa é, uma vez mais, da vizinha AM. Agora, todas as Terças-feiras, das 20h00 às 22h00, podem ouvir-nos a escolher música e falar sobre ela (e tudo à volta) em 105.4, a frequência da Química FM.

Tudo aqui.

sexta-feira, 29 de setembro de 2006

Tal como prometido...

Algumas imagens para tentar ilustrar a paixão recente pela Grande Maçã.






















Legenda: um candeeiro olha para o Ground Zero; Gershwin ecoa num túnel de Central Park; o São João em Nova Iorque (ou Little Italy à noite); transporte alternativo na cidade/no distrito das limusines; um parque com livros à disposição, para consumir e voltar a colocar na prateleira; um de muitos restaurantes acolhedores e surpreendentemente económicos; uma limusine de tamanho médio para Manhattan; um pachorrento Domingo de manhã na Quinta Avenida; uma das magníficas “mercearias” com comidas prontas ou prontas a preparar + horários espantosos (abertas a toda a hora, portanto); a bimba mas obrigatória panorâmica da Ponte de Brooklyn.

Ainda...

Sei que estou a ficar (ainda mais) repetitiva e enfadonha, mas ainda penso nisto...





Será que há linhas de ajuda para pessoas como eu?...

sábado, 23 de setembro de 2006

NY, duas semanas mais tarde

Aos 28 anos, sem estar à espera nem fazer nada por isso, fiz algo que imaginava só ser possível muitos anos e muitos subsídios de férias mais tarde: atravessei o Atlântico e visitei, pela primeira vez, a América.

Foram três dias com um serviço (entrevista a careca famoso) pelo meio, mas chegou para me deixar encantar por uma cidade que é muito mais do que isso. Como tentei explicar abaixo, se Londres é um elegante fogo de artifício, Nova Iorque, com os seus ziliões de quilómetros (sobretudo em altitude), cheiros (muitos deles horrendos), ruídos (a toda a santa hora) e pessoas em infatigável trânsito, só pode ser comparada a uma explosão atómica. Caminhar pelas ruas de Manhattan é um atentado aos sentidos, permanentemente despertados pelo tamanho das limusines, ou pelo aspecto sou-boa-demais-para-o-Sexo-e-a-Cidade das transeuntes mais ricaças, ou pelos irrecusáveis pretzels, bagels e companhia, ou ou...

Fiz Central Park quase todo a pé, num Domingo de manhã, descobri a mal-cheirosa e frenética Chinatown por acidente, à noite, e logo de seguida derreti-me com os aromas e as luzinhas meigas de Little Italy. Um São João em plena Nova Iorque? Sem ter posto lá um dedinho de pé que fosse, já sabia, como toda a gente, que Nova Iorque é muitas cidades ao mesmo tempo. Mas a confirmação, na prática, de tal lugar comum deu-me adrenalina para continuar a calcorrear as ruas da Big Apple, ignorando dores nas pernas e as horas tardias que já seriam em Portugal.

A cada passo há uma «photo opportunity» - e eu que só levei um cartão na máquina digital... A cada esgar mais desorientado aparece alguém que nos pergunta se estamos bem, se precisamos de ajuda ou direcções - sem ser preciso pedir. Isto aconteceu várias vezes, quer nas zonas mais abastadas da cidade quer nas que mais se aproximam da nacional «xungaria». Quando eu e o meu colega procurávamos a rua do CBGB's, por exemplo, um velhote veio ter connosco, a perguntar o que queríamos daquela zona. «É que aquilo agora é só winos», alertou-nos ele. Que tivéssemos cuidado.

Esta disponibilidade permanente é, talvez, a impressão mais forte que trago de Nova Iorque. Explicaram-me que, por lá, os empregados de mesa não ganham um salário, mas sim um seguro de saúde e o que recebem em gorjetas. Será isso que os faz cumprimentar toda a gente com um sorriso e esmerar-se no atendimento? Provavelmente. Mas acredito que existe, naquela maneira de ser nova-iorquina, uma apetência muito especial pela rapidez, pela eficácia, pelo ser «despachado» e expedito que supera a compreensível corrida ao dólar. A cidade e todos os seus milhões de habitantes, de todas as cores, tamanhos e idades (vi muitos idosos a passear, auxiliados por complicados derivados de bengalas), parecem viver com uma ideia em mente. Ou antes, com uma missão. E é essa missão que mantém Nova Iorque a vibrar, a zumbir, a fazer tique-taque 24 horas por dia, como um gigantesco coração.

(queria pôr aqui umas imagens, mas o blogger não está a colaborar...)

quinta-feira, 14 de setembro de 2006

Nova Iorque

Já contei as histórias milhões de vezes a pessoas diferentes, mas ainda não me ocorre nada de certeiro nem sucinto para escrever sobre Nova Iorque.

Socorro-me por enquanto de imagens.

Se Londres é isto...



... Nova Iorque só pode ser comparada a isto:



Mais a qualquer momento...

Chico

Hoje comecei o dia a ver um dos DVDs da nova trilogia do Chico Buarque (a do Amor, Palavra e Futebol).

Por razão alfabética ou qualquer outra, peguei primeiro no do Amor. Diz o homem, numa das muitas declarações que polvilham o documentário, que uma letra de canção não é - a nível formal, de conteúdo e intenção - a mesma coisa que literatura.

Pois não, mas o que dizer de letras destas?

«Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar

E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos

Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização

Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você»

É em alturas destas que uma pessoa sente um certo calorzinho no coração por falar Português.

terça-feira, 5 de setembro de 2006

Depois do drama abaixo documentado, este blog prossegue com a sua programação «normal».

Uma estudante de Comunicação do ISCSP (a mesma faculdade que eu e muitos dos seis leitores deste blog frequentámos) fez um trabalho de fim de curso sobre... crítica musical!

Que bom, ver alguém ignorar os temas - muito populares no «meu tempo» - do efeito pernicioso dos desenhos animados nas crianças ou da fisionomia do escaravelho da batata (um destes é mentira, não vou dizer qual).

Pelas respostas dadas pelo Jorge Manuel Lopes e partilhadas no seu blog, deve ser um trabalho bem interessante de consultar, o da Ana Luzia. Deixo aqui a resposta que mais me encheu as medidas:

«15 – Há alguma coisa que considera que deve mesmo ser mudada ao nível da crítica musical no nosso país?
Quem faz crítica musical devia ouvir menos música só para registar mentalmente que ouviu música. Devia ouvir música melhor. Devia ser menos reverente em relação ao passado. Devia ler mais sobre música. Devia ler mais sobre/ envolver-se mais no que nos rodeia (socialmente, politicamente, culturalmente) que não é música mas que tem tudo a ver com música. Devia ter menos medo. Devia ter mais recursos lexicais. Devia ter mais imaginação. Devia ser mais jornalística e, ao mesmo tempo, menos funcional. Devia ser simultaneamente mais subjectiva e objectiva. Devia ouvir música nova mais e melhor. Devia pensar a música portuguesa mais e melhor.»

Antes e Depois (1990 - 2006)

Procedimento habitual pós-derrota importante deste senhor, quando era miúda:

- chorava, ficava ensimesmada no quarto, escrevia no diário

Mulher feita, assisti Domingo à despedida do atleta, após 21 anos de carreira.

- chorei, tirei a roupa da máquina e pendurei-a no estendal, fiz o jantar, fui a um concerto em trabalho e, passados dois dias, vim escrever no belogue

Não há nada como ter que fazer para afastar os macaquinhos do sótão.

Mas continuo algo inconsolável, sim. Como diz a amiga Cibele, é como se uma parte de nós desaparecesse. Como diz o amigo moonshiner, citando os grandes The National, «all you've gotta do is be brave and be kind».

Entretanto, uma dúvida: será o homem um génio (também) da comunicação ou este discurso já estava pensado? É formalmente perfeito e absolutamente delicioso para qualquer fã. Como seguidora de longa data, não podia pedir um agradecimento mais bonito ou sentido. Mesmo sem as lágrimas, aqui fica a transcrição...

«The scoreboard says I lost today, but what the scoreboard doesn't say is what it is I have found. And over the last 21 years, I have found loyalty. You have pulled for me on the court and also in life. I've found inspiration. You have willed me to succeed sometimes in my lowest moments. And I've found generosity. You have given me your shoulders to stand on to reach for my dreams, dreams I could have never reached without you. Over the last 21 years, I have found you. And I will take you and the memory of you with me for the rest of my life. Thank you.»

O discurso e o pranto de que se fala, no link do youtube abaixo.

A prova de que estamos em sintonia, aqui:

«I was sitting there realizing that I was saying goodbye to everybody out there, and they were saying goodbye to me. It's saying goodbye. You know, it's a necessary evil. But we were getting through it together. That felt amazing.»

Photobucket - Video and Image Hosting

sexta-feira, 1 de setembro de 2006

As verdadeiras estatísticas

Ficam as estatísticas oficiais daquele que, afinal, não foi o último jogo de Andre Agassi.

-> muitas horas de espera até à uma e meia da manhã, hora a que começou a partida com Baghdatis

-> 14 posições no sofá, procurando o equilíbrio impossível entre conforto, boa visibilidade para o televisor e manter-me acordada

-> sete mordidelas de melga

-> um tubo de Fenistil Gel

-> 249 zumbidos de melgas rasando os meus ouvidos

-> zero melgas esmagadas

-> 21 anos de carreira passados em revista num jogo

-> dois sets fáceis, um fácil mas para o outro lado, e dois de puro sofrimento

-> um tenista de Chipre que não merecia - tal como Blake, em 2005 - perder o jogo

-> quatro horas de nervos, génio, coragem, caimbras e até teatro

-> 24 mil pessoas a puxar para o mesmo lado, nem sempre com civismo, mas com paixão inabalável

-> dois match points, um dos quais a valer

-> duas lendas em court (no final, quando John McEnroe entrevista o vencedor)

-> um sorriso único, como diz o amigo JG

-> vários sms de comentário ao jogo e chacota com comentadores, trocadas com o «vizinho» acima referido

-> uma hora e meia de «sono» antes de um acordar complicado

-> uma razão maior para, afinal, ter sido boa ideia adiar para este ano, para este torneio, para esta cidade, o último adeus

quinta-feira, 31 de agosto de 2006

Porque sim

Deus é de Mafamude. Às vezes é bom acreditar que sim.

quarta-feira, 30 de agosto de 2006

Andre

Pode ser hoje, amanhã ou até depois. O Andre Agassi está em prova no Open dos EUA e, apesar de ainda ontem o ter visto recuperar de um 4-0 no terceiro set, vai cair um dia destes. Nada de novo: de quedas se fez a carreira deste homem a quem o comentador da Eurosport chamou «cabrito de 36 anos» (!). O problema é que esta não será uma queda qualquer: é A queda, a derradeira, a que porá termo a uma carreira de 20 anos.

Nenhum tenista conseguiu passar pelo número 1 do ranking em três décadas diferentes, nenhum venceu, na era do open, todos os torneios do Grand Slam em superfícies distintas. Mas a razão que me levará às lágrimas um destes dias não tem, como é natural, ligação directa a números, recordes e façanhas «técnicas».

Tinha acabado de fazer 12 anos quando vi o primeiro jogo do Andre Agassi. Não conhecia as regras do ténis, não me interessava por desporto e estava longe de imaginar que ali, no ecrã do televisor, na minha casa em Santo Ovídio, estava uma paixão para toda a vida. Ao contrário do que aconteceu com tantos dos ídolos e heróis que tive na adolescência e arranque de idade adulta, o menino cabeludo que se fez homem careca nunca abandonou o meu coração.

Era uma criança quando ele perdia jogos improváveis ou finais importantíssimas e chorava como se a carreira do «kid de Las Vegas» tivesse chegado ao fim (tantas vezes, e de forma tão precoce, anunciado...). 16 (!) anos volvidos, continuo a emocionar-me com a forma e a força que mostra no court. Como consegue virar um jogo do avesso, meter a bola onde qualquer outro nem se lembraria de ser possível, como retorna ao campo aos saltinhos de entusiasmo (daí a história do cabrito, valha-me Deus), perante o histerismo de um público gradualmente seu.

Nem sempre o seu talento foi reconhecido, nem sempre as gentes de Nova Iorque – já que estamos em tempo de US Open - viram nele mais do que um glamouroso tenista, um tudo-nada estouvado. Surpreende-me a unanimidade que se gerou nos últimos anos em seu redor: lembrar-se-á esta gente dos epítetos que caíam sobre os ombros do rapaz aos 20 e poucos anos? Falhado, nunca ganhará um Grand Slam, tenista de Hollywood... Sem nunca perder o carisma (nem que tentasse o conseguiria), Andre Agassi deu a volta a isto e muito mais. Caiu para número 144 do ranking e regressou para ganhar (mais) grandes Slams, triunfou em Roland Garros, ao contrário de quase todos os seus parceiros de grandeza (com Sampras à cabeça), tornou-se um ícone transversal, não perdendo no entanto a ligação à casa-mãe: o desporto que o pai o pôs a jogar mal reparou que, em bebé, Andre seguia de forma impiedosa a bola posta a balouçar por cima do berço.

Em 16 anos, o Andre Agassi tornou-se parte integrante das minhas rotinas. Nem todas boas: lembro-me de três ou quatro discussões com o meu pai, à conta de jogos (dele) e fitas (minhas), o que é especialmente relevante pois se eu tive uma dúzia de discussões a sério com o meu pai em 28 anos de vida, é muito. A minha mãe começou a torcer pelo Sampras para equilibrar as forças lá em casa. Tive, durante 12 anos benza-o Deus, um rouxinol chamado Agassi. Descobri dezenas de revistas teen e outras maroscas para me manter a par das desventuras light do homem, numa altura em que a Internet estava longe e encontrar, em Portugal, alguém que tivesse um tenista americano como ídolo era mais complicado que conhecer alguém com três rins.

Muitas das minhas memórias mais divertidas (e das mais dramáticas, também) remontam a jogos do homem. Wimbledon 92 em primeiro lugar, é claro: até fiz (e cumpri) a promessa de que, se ele ganhasse a final (o que era visto como uma missão impossível), ia duas vezes à missa naquele Domingo (vivia frente à igreja). Os jogos da Taça Davis. A milagrosa vitória em Roland Garros, à qual assisti, em sofrimento, com as minhas amigas, em tarde de aniversário. A sensação de que tudo é possível (para o bom e para o mau…), nem que o resultado de um parcial pareça definitivamente arrumado. Adivinhar as jogadas, desejar a reviravolta, torcer-me toda no match point.

Por causa do Andre Agassi passei a gostar de ver ténis, e por arrasto mais uns quantos desportos. Aquando dos Masters de Lisboa, em 2000, não desperdicei a oportunidade de o ver jogar ao vivo. As minhas amigas não desperdiçaram a oportunidade de me acompanhar e apoiar em tão histórica ocasião. Dias antes da final perdida contra o Kuerten, ia a entrar no Atlântico quando vi que havia uma sessão de autógrafos e jogatana com os miúdos, num pavilhão ao lado. Ia morrendo esmagada mas consegui furar entre a multidão e chegar à fala / ao aperto de mão com o homem. Não sei onde está o autógrafo, mas o importante é que aconteceu: mostrei a minha devoção em meia dúzia de palavras e saí de lá aliviada. Marquei um pontinho no gigantesco mapa da vida do homem que acompanhara toda a minha juventude.

Hoje, amanhã ou depois, um dia destes, tudo isto será de uma vez por todas Passado. O senhor vai dedicar-se à família (um verdadeiro conto de fadas da vida real…), à fundação de caridade, quem sabe a treinar e apoiar novos talentos. Daqui a uns anos teremos (?) os petizes Graf-Agassi a passear a herança genética pelos courts. Até lá, ficam as memórias. É absorver tudo o que o homem ainda consegue mostrar, nos próximos dias.

quinta-feira, 24 de agosto de 2006

Amor - Ódio

No primeiro andar, tudo brilha, tudo cabe, tudo cativa.

São mesmo estes armários, estas estantes, estes cestos e candeeiros e bengaleiros e paninhos do pó que quero para a minha vida. Anoto, vou levar. Ainda por cima é barato.

No andar de baixo: não há. Stock esgotado. Custava muito avisar lá em cima?

Quando há, pegamos, pagamos e seguimos para o transporte & montagem. É caro, as filas não andam, os computadores dos funcionários encravam. No dia da entrega, atrasam-se, trazem coisas que não são bem aquelas que compramos, esquecem-se (!) que tinham ficado de passar lá por casa. Às vezes temos de ligar e perguntar por onde anda a mercadoria, que por acaso até já está paga - e afinal nem é tão pouco dinheiro como isso, quando ao preço base juntamos o de todos os acessórios que não sabíamos mas são vendidos à parte (e o acessório de um guarda-fatos, por exemplo, são os puxadores).

Acho que nunca tinha entendido bem o alcance da expressão «amor-ódio» até conhecer o IKEA.



(agora a minha esperança é que algum big shot da empresa leia isto e me ofereça um vale duns 1000 euros para gastar em Alfragide e, já agora, uma viagem para dois, com hotel e refeições, em Estocolmo)

Be generous



Era o meu favorito. A par do Doug Ross, do John Carter e do Peter Benton (OK, nunca me consegui decidir muito bem, dentre a riqueza do elenco original). Quis (o actor) experimentar novos desafios profissionais, morreu a personagem que ao longo deste anos se tornou um velho conhecido.

Quando era miúda chorei um fim-de-semana inteiro quando, num episódio da Missão Impossível, morreu uma das agentes. Achava sempre que aquele aviso inicial («se algum de vocês quinar, a gente lava as mãozinhas», etc) era só para despistar, e afinal a moça lá sucumbiu numa qualquer missão. Não eram imortais, nem querer na tela.

A morte do Doutor Greene foi coisa mais anunciada; um tumor no cérebro que jogou às escondidas com o médico durante um ano levou-o, eventualmente, às seis e quatro de uma manhã havaiana. Curioso como uma série que se passa quase sempre no hospital (frenético, caótico, cheio de vida - e morte), ou quanto muito no exterior, mas à noite ou em sítios escuros, se mudou para uma praia solarenga e luminosa para aquele que foi, provavelmente, o seu episódio mais sombrio de sempre.

O realismo da coisa (todos os nós que ficam por atar, a filha que até ao suspiro final do pai se comporta como aquilo que é - uma parvinha de 14 anos) e um breve mas incisivo flashback final provam que, ao contrário do que eu inicialmente pensava, se calhar não havia outra maneira de assinalar a despedida do Doutor Mark Greene. Se calhar, era mesmo preciso este sofrimento todo, este peso imenso que por segundos parecia real. Uma personagem daquelas não se manda embora com a desculpa de uma migração ou de um emprego noutro estado.

Para sempre ficará a imagem do médico, em suave delírio nos derradeiros segundos de vida, imaginando-se a deambular pelos corredores do hospital (para ele, símbolo do trabalho de uma vida, e não de doença ou morte) subitamente vazio. Ou o episódio anterior, em que o homem, já com poucas forças, insistia em continuar a trabalhar e dava de caras com muitas das pessoas com quem se cruzara até então, desde a mulher com a unha encravada do primeiro episódio ao sem abrigo que confia apenas naquele médico para impedir que os enfermeiros malvados o levem para longe do seu inseparável carrinho do lixo. Ou ainda a recusa em ver a sua vida prolongada pelos tratamentos que ele próprio tanta vez administrou aos pacientes, preferindo a morte «ao natural», tentando viver aqueles poucos de dias como se nada fosse. «Be generous» foi o último recado do Mark Greene à filha adolescente. Foi bonito.

Vá lá que, depois de tanto drama, mudei de canal e vi a maior badalhoca da pop actual (Fergie) a conspurcar o nome de Londres (e a Union Jack, pregada numas cuecas) na sua primeira musiqueta a solo. Pude passar rapidamente da choramingueira à maledicência, uma mudança muito bem recebida na altura. E hoje dá o House na TVI. Sinto-me como aquelas pessoas a quem morre um animal de estimação e dizem que não querem mais nenhum: não voltarei a ganhar afecto a um médico de uma série de televisão.

terça-feira, 22 de agosto de 2006

Londres

Cada vez que vou a Londres acho-a mais pequena - no bom sentido. Como se, paulatinamente, todas as peças que na primeira visita me pareceram confusas e distantes entre si se juntassem agora num mosaico cada vez mais bonito, compreensível, portátil.

Na semana passada voltei a Londres. Tal como no ano passado, estive pouco mais de 24 horas na cidade, trabalho oblige!, mas foi o suficiente para tirar várias notas mentais que ainda não partilhei por aqui graças a alguma preguiça. Mas Londres merece, como tal cá vai...


1. Londres sabe receber. Entro no comboio para o centro da cidade e está a revista do aeroporto de Gatwick à minha espera, com o Gael García Bernal na capa. Chego ao pequeno hotel de Camden onde viria a pernoitar e descubro que, naquela noite, há projecção de um dos meus filmes favoritos de sempre, "Shallow Grave". Na mesma tarde, dois polícias (um preto, outro branco, ambos extremamente prestáveis e divertidos - tal e qual como nos filmes) reparam numa portuguesa à nora no metro e dispõem-se a ajudar-me, sem que eu lhes pergunte nada. Pouco depois, um senhor entabula conversa comigo à conta das fotos que ia tirando, rua fora, com a descartável comprada no aeroporto, e ficámos uns bons minutos em amena e civilizada cavaqueira. No dia seguinte, vejo um polícia de moto, parado nos semáforos, a avisar duas turistas que corriam rua fora - os guardas a cavalinho iam passar no outro sentido. Os funcionários dessas malévolas corporações (Starbucks, para quando os teus apetecíveis cafés em Portugal, para quando?...) que inundam a cidade não nos atendem sem, na despedida, nos desejarem um bom dia, e parecem sinceros. Há uma sensação de ordem que não faz da cidade um sítio frio, pelo contrário. Em Londres, toda a gente parece estrangeira e, paradoxalmente, local.

2. Um dia é suficiente para encontrar muitos cromos. Antes de regressar, almocei num restaurante multilingue perto de Westminster. A empregada que serve às mesas na cave é supersónica: quando está por perto, ouve-se falar/gritar Italiano, Inglês, Português e voam pelo ar piropos do «bella» ao «doutore». Quando sobe ao primeiro andar, a sala fica subitamente vazia e morta. Os seus passos apressados, escadas abaixo, antecipam o retorno da energia e do vendaval linguístico à sala. Parece a Carla do "Cheers", jeans justas e sapatilhas brancas, mas em bonito. Não chego a perceber de que nacionalidade é mas despede-se com um «obrigado». Não é isso que me deixa com saudades antecipadas, mas a jacket potato também estava boa.

3. No centro fino de Londres, há dezenas de fashion statements ambulantes. A pose, a roupa, a simples forma como pisam a calçada lembram-nos os incontáveis movimentos estéticos, sociais ou musicais que a cidade já viu - ou já fez - nascer.

4. Ninguém tem medo da chuva. Eu também faço de conta que não me afecta, mas ainda deito um olhar furtivo às banquinhas de rua, esperando encontrar algures um guarda-chuva chinês a preço de amigo (cinco libras não só cinco euros, cinco libras não são cinco euros - luto comigo mesma para não me esquecer desta verdade básica mas essencial).

5. De todos os não muitos sítios onde já estive, Londres é o que mais se assemelha ao coração do mundo. Na sua grandeza, consegue ser - cada vez mais, para mim - pequena e acolhedora, solidária e hospitaleira, excitante mas amigável. Que atentem contra esta cidade e este ideal magoa-me (quase) tanto como se a bomba rebentasse na porta ao lado. Sem ofensa para os corações de mundos alheios.

sexta-feira, 11 de agosto de 2006

Elementar, meu caro House

Um médico mau como as cobras, mas que consegue descobrir coisas do arco da velha e deslindar mistérios inacessíveis ao resto dos mortais. Uma equipa de outros médicos («lacaios», chama-lhes ele) relativamente bem intencionados e bem apessoados, mas cuja nabice é exposta episódio sim, episódio sim, sempre que o seu guru misantropo entra em acção. Um misto de série de hospital (doenças, desgraças, casos da vida) e série de detectives (deduções, silogismos, entradas clandestinas em casa dos pacientes), com música à maneira (desde blues ao meu ryanzito) e ambiente um tudo-nada sombrio. Como é que eu não me havia de tornar fã desta bodega?



Eis-me regressada aos meus tempos de fanática por séries, e muito por causa do gigantesco actor que é o inglês Hugh Laurie. Na pele (americana) do infalível Dr. Gregory House, o Mourinho dos médicos - grisalho, sarcástico, amargoso - encanta as minhas noites de Segunda (Fox) e Quinta (TVI).

E pensar que tudo começou num Sábado à noite, quando a fazer zapping achei graça a que, numa série passada nos EUA, se falasse do Instituto de Medicina e Higiene Tropical, do qual fui vizinha enquanto andei na Faculdade... Oh yeah, os yankees levam a sério a pesquisa para escrever guiões.

quinta-feira, 10 de agosto de 2006

Dias Assim

Pelo menos até agora, este dia, para mim, tem sido assim:



( obrigada à grande - literalmente, grande - Zuca Maria pela ilustração )

quarta-feira, 9 de agosto de 2006

Epifania

Eu não estava preparada para aquilo. No jornal, dias depois, o João Bonifácio chamava-lhes «cometa». Aqui ao lado o Vítor também ficou impressionado. No Fórum Sons não faltaram elogios e expressões bem certeiras para descrever o que se passou em Sines. Eu, quase duas semanas depois, continuo à procura das palavras adequadas.

Em teoria, o que vi foi um espectáculo de um grupo do sertão brasileiro, com um vocalista, três percussionistas e um guitarrista. Na prática, foi bem mais. Não estava à espera de nada e saí com tudo - sobretudo, com uma vontade imensa de conhecer mais, ouvir mais, ver mais. Comprei, à saída do castelo onde decorre o festival, um dos CDs da banda, que como temia não é tão violento como o concerto. Mas vale. Alguém diz no fórum dos moços que às vezes não nos fazia nada mal, a nós portugueses, beber um pouco mais da cultura que se estende do outro lado do Oceano, em Português tão português como o nosso.

Sob a influência das letras - arrebatadas, estranhas, singulares - que ouvi em Sines, não posso concordar mais. E que figura é aquele Lirinha, de fato branco, mangas compridonas e gravata vermelha, fazendo-se ao palco como se a sua vida dependesse daquele concerto, perdendo-se no frenesim e no trovoar das percussões com um esgar completamente demente e perverso?

Saí de Sines com uma nova banda preferida, e tendo em conta que, embora vários amigos me tentem a pensar o contrário, nunca entrei completamente no espírito do festival, isso conta muito. Quase tudo. Falta dizer que muita gente odiou. Acho que faz todo o sentido. Agora não descanso enquanto não voltar a pôr-lhes a vista em cima.

My head's like a kite

Além da melancia e do Fenistil Gel, Verão sem isto...



... não é bem Verão. É o segundo post deste tasco sobre o mesmo disco, mas é capaz de não haver melhor para vir de comboio até Paço de Arcos e não ter (muita) inveja (mortal) das pessoas que se banham e jogam às raquetas e sorriem enquanto eu venho trabalhar. Shines, i lub you!

Coisas simples

Nestes dias de canícula, conta-se em poucas palavras a minha vida.

Durante o dia, só preciso de



À noite, quando acordo com pernas, braços e dedinhos dizimados, a palavra de ordem é



Fosse a enfermeira Fátima tão engenhosa como estas melgas e tinha-se poupado um banho de sangue na consulta de Medicina do Trabalho, ontem. Cinco minutos com a seringa enfiada no meu braço, à procura da veia «marota» que teimava em escapar-lhe, para depois deixar cair o tubinho com o sangue ao chão. Imagino o que não terá pensado o rapaz que entrou a seguir, para fazer análises também, vendo o chão tingido de sangue...

terça-feira, 8 de agosto de 2006

Help

Há muitos comportamentos que tendo a compreender e/ou desculpabilizar nas pessoas. Maltratar, negligenciar e abandonar animais não é um deles. Ajudem a União Zoófila.

( hoje no Público:

Mais de 500 animais abandonados este ano na União Zoófila

Associação vive nova situação preocupante, com números recorde em termos de abandono e falta de verbas para fazer face às despesas )

quarta-feira, 2 de agosto de 2006

2 de Agosto

Muitos parabéns a duas das pessoas mais importantes para mim: a minha amiga Cibele (que hoje chega à bela idade de 30 anos) e a minha Avó Maria, uma jovem de 95.



segunda-feira, 31 de julho de 2006

terça-feira, 25 de julho de 2006

Algés

A frase promocional de uma vendedora de trapos na estação de comboios de Algés:

«É só prás jeitosas!...»

segunda-feira, 24 de julho de 2006

Hoje como ontem

No final do ano passado, escrevi aqui que já tinha saudades de sair de um concerto cheia de vontade de ir para casa ouvir o disco que lhe servira de pretexto. Referia-me ao "First Impressions of Earth" e ao concerto dos Strokes que tive a sorte de ver, numa cave bafienta em Madrid.

Meio ano depois, eis que os moços passam, pela primeira vez, por Portugal.

Os mesmos cabelinhos, os mesmos casaquinhos (ou não - o Casablancas já trocou o de general pelo CdC, Clássico de Couro) e, acima de tudo, a mesma festa. Adoro aquelas canções, por aquilo que são (hits instantâneos de inestimáveis três minutos, como diz o Mário Lopes no Público de hoje) mas também pela ilusão que criam: a de que naquele momento só importa saltar, dançar e celebrar como se não houvesse (depois de) amanhã.

Não ter ido ao concerto "em serviço" ajudou à descontracção, admito. Mas o maior mérito vai todo para aquelas guitarras insinuantes e para as melodias de quem passeia pela rua com as mãos nos bolsos e uma confiança apenas igualável pelo sorriso.

Someday, Last Nite, Heart In A Cage, Juicebox, Reptilia, You Only Live Once... é difícil escolher o meu momento favorito. Mas porque a pop é, também, uma colecção de memórias, não pude deixar de regozijar quando o Casa-carinha-fofa-Blancas anunciou o Modern Age. Para mim, essa música é sobre sair do primeiro trabalho a sério que tive, apanhar o comboio para uma praia suburbana e sentir, com a minha melhor amiga, que estávamos na mais exclusiva das estâncias turísticas. E à noite voltava a ouvir a canção, no programa do Miguel Quintão. Tudo tão fácil, tão bom, tão Strokes...

Estávamos em 2000 e acho que era feliz. Mas em 2006 temos os Strokes ao vivo em Portugal, por isso não há razão para lamúrias, neste post.

quinta-feira, 20 de julho de 2006

É com alguma surpresa que constato que, em finais dos anos 90, andava a ouvir (a certa altura, de forma obsessiva) uma banda/projecto que antecipou, pelo menos em alguns aspectos, dois grupos literalmente na berra, neste século que atravessamos: Gnarls Barkley e TV On The Radio.

Chamavam-se Pigeonhed e poderão agradar aos fãs daquelas bandas acima.

"The Full Sentence" é um dos discos da minha vida e está algures numa qualquer caixa das que continuam a acumular-se nos corredores da CN (Casa Nova).





(Gosto muito dos TV On The Radio; Gnars Barkley é naquela)

Pós-modernismo doméstico

Pós-modernismo doméstico é...

- passar a ferro a capa da tábua de engomar

- receber um sms e não me querer levantar para ir buscar o telemóvel para não perder pitada do "House". Cinco minutos depois acabar por levantar-me e descobrir que o sms diz: «Está a dar o House!...».

Férias precisam-se.

sexta-feira, 7 de julho de 2006

Palavras

Há muita gente a quem, nos dias que correm, gostava de (hip-hopemente falando) mandar props. Que não tenha tido tempo e inspiração para fazê-lo não significa que esteja esquecida, a intenção...

Antes que me passe a ideia, começo pela Mary-John.

Acabo de "tropeçar" acidentalmente num texto escrito por esta minha comadre em Novembro de 2001, ou seja, estávamos nós para nos conhecer.

Quem escreve assim, não só não é gago como só pode ser a Mary-John : )

«Lia outro dia uma entrevista a uma cantora/escritora de canções norte-americana, que quando confrontada pelo entrevistador com o porquê da omnipresença da tristeza e da melancolia nas suas canções, disse simplesmente que "as pessoas felizes escrevem e cantam canções tristes". Garanto que todos os que se propuserem a dispensar cinco minutos a pensar sobre o assunto vão entendê-la, pelo que não vamos dar a solução do problema. Nós por cá entendêmo-a com a ajuda dos Cowboy Junkies no concerto de ontem à noite.»

«Resumindo, a voz de Margo só por si já era razão mais do que suficiente para arriscar a visita à Aula Magna, e felizmente foram muitos os que o fizeram. Se houve alturas em que o destaque foi dado à voz, também ficou claro que a parte instrumental é vital para os Cowboy Junkies. Não querendo desfazer o baixo, nem a bateria, os nossos dez pontos vão para a guitarra de Michael, que conseguiu deixar de boca aberta até os leigos em matéria de acordes. Os doze pontos foram ganhos, desde o início, por Jeff Bird, que levava clara vantagem em relação aos outros pelo simples facto de tocar harmónica. É verdade... de certa maneira o resultado do jogo estava viciado desde o início, ou não fossemos nós grandes apreciadores de sonoridades acústicas a fazer lembrar estas ambiências do oeste. Foi até lá que viajámos por alguns instantes, e de onde a muito custo tivémos de regressar. Afinal estávamos na presença de verdadeiros cowboys.»


sexta-feira, 23 de junho de 2006

Procurar o amor

Os utilizadores do sapo.pt levam a novos extremos a busca do amor.

Sempre que passo pela homepage deles reparo no top das palavras mais pesquisadas naquele dia... e «amor» é, quase quase sempre, a primeira.

Reparem:

«1. amor 2. portugal 3. filmes 4. mundial 5. jornal 6. jogos 7. lisboa 8. hotel 9. tempo 10. porto»

Depois temos honrosos 23º, 26º e 56º lugares para «anal» (!), «mamas» e «floribela». Por enquanto, pelo menos no top do sapo, os Morangos ainda batem a produção infanto-surreal da SIC (estão em 44º).

segunda-feira, 19 de junho de 2006

Sim, eu também gostava...

«... esta magia tem vindo a perder-se. A última grande selecção do 'Escrete' a encantar o mundo futebolístico foi a de 1982 (Espanha); em 1986, no México, foi um sol que durou pouco. Daí para a frente, a monotonia instalou-se na equipa do Brasil e a magia dos jogadores não tem passado para a selecção. As vitórias medíocres nos Mundiais de 1994 (EUA) e de 2002 (Japão/Coreia) não ajudaram os mais nostálgicos corações brasileiros.»

Li isto no Público de hoje. Como é que se pode ganhar dois mundiais quase consecutivos e ser medíocre? Não sei, mas gostava que Portugal fosse medíocre assim, nessa monotonia da vitória.

domingo, 18 de junho de 2006

Inanidades

Grande momento na revista Pública deste Domingo: Maria Filomena Mónica descobre que as crianças de 2006 não são as da sua infância.

Até concordo que a ausência de regras claras e de acompanhamento dos filhos está na origem de muita da desorientação infanto-juvenil de hoje, mas não pude deixar de me rir com expressões como «crime cultural», aplicadas a levar os filhos a concertos dos D'ZRT.

«A titilação sexual primária, contida na letra destes conjuntos musicais, é desapropriada a jovens de tenra idade. Ao aceitarem levar filhos pequenos a concertos pop, os pais estão a tornar-se cúmplices de um crime cultural.»

Sim, espero bem que os filhos que vier a ter me peçam para ir a recitais de piano (aos cinco anos) e saraus de música clássica (a partir dos sete, oito).

«Titilação sexual» é um termo lindo, e só por isso Maria Filomena Mónica ganha pontos. Mas a melhor parte está logo na primeira coluna de texto:

«A pedido da revista Atlântico, aceitei escrever sobre a novela Morangos Com Açúcar, exibida diariamente pela TVI entre as 18h00 e as 20h00. Foi então que me dei conta de que a mesma tinha originado uma banda musical idolatrada pelos miúdos. Um colega confidenciou-me que o filho, de dois anos, já entoava o 'Para Mim Tanto Faz'. Fui imediatamente à FNAC do Chiado comprar o disco: a inanidade da letra ultrapassou as piores expectativas.»

Ou seja, Maria Filomena Mónica despertou de um sono profundo quando contactada pela revista Atlântico (porque um ano de 2005 em que os D'ZRT dominaram os tops de vendas não lhe chegaram para perceber a existência da «banda idolatrada pelos miúdos»), e acha estranho que as cantigas memorizáveis por crianças de dois anos tenham «letras inanes». O que deveria o infante cantar de cor? As letras de Sérgio Godinho? Einstürzende Neubaten? Rui Reininho? Tom Waits? Andrew Bird? Fica a dúvida (e a risota, confesso).

Provas

Como eu dizia ontem, há sempre razões para se torcer por determinadas equipas (ou, pelo menos, para amenizarmos o choque da sua vitória).

México:



(encontrei esta imagem por acaso. Não, a sério. Estava a tentar perceber se mais alguém tinha ido ver as Pussycat Dolls ao Atlântico e fui dar a um site de fãs do actor, que anunciavam/lamentavam a sua presença nos MTV Awards em Lisboa, no ano passado...)

sábado, 17 de junho de 2006

Coitadinhos

Sou daquelas pessoas insuportáveis que conseguem ter pena de quem quer que seja. Nem que, antes desse ataque de consciência, tenha desejado aos «coitadinhos» as piores coisas deste mundo e do outro.

Esta irritante falha de carácter reflecte-se no meu (cada vez mais interessado, confesso) visionamento dos jogos do Mundial. Torço por tudo quanto é país pobre, não-favorito, terceiro mundista ou outsider na competição. Às vezes também gosto que ganhem os que jogam melhor. Hoje, assistia divertida ao baile do Gana frente à República Checa, e exultei quando o árbitro assinalou um penalty a favor dos africanos e expulsou o checo faltoso. Bastou que o operador de câmara mostrasse, nas bancadas, um miúdo a chorar baba e ranho, esborratando as cores da bandeira checa que levava pintada na cara, para que me arrependesse do que estava a desejar e até ficasse um bocadinho contente quando o ganês falhou o penalty.

Ainda assim, gostei do resultado. Deliro quando vejo as equipas a jogar sem medo, mesmo que com ingenuidade e alguma trapalhice, ignorando foras-de-jogo, perigo de contra-ataques, etc.

Para comentários a sério, leiam aqui.

quinta-feira, 15 de junho de 2006

Got you where I want you motherfucker

O meu gangsta popper favorito, finalmente, em Portugal?...

Por esta vou de bom grado ao Sudoeste... nem que não vá ouvir as músicas do "Gentleman" ou do "1965", mesmo sabendo que o Shawn Smith já não faz parte da coisa, e correndo até o risco de ver um concerto para dois ou três (o resto do cartaz tem uma orientação diametralmente oposta à luz negra que emana o Greg Dulli).

Mary, tentei comentar n' O Burro mas não consegui. Seja como for, vemo-nos por lá : )

quarta-feira, 14 de junho de 2006

Censura!

Ainda sobre o Mundial (nos dias que correm, não dá para lhe escapar, nem sei se quero): compreendo que os senhores que mandam nestas coisas desejem que a transmissão se centre nos jogos, mas ignorar coisas como a entrada em campo de um adepto croata, durante o jogo com o Brasil ontem à noite, é um bocado ridículo.

Não mostrar imagens quase nenhumas das pessoas que, na bancada, fazem a festa é, a meu ver, tão estúpido como, nos resumos das partidas, mostrar essas imagens e ignorar os golos, jogadas mais perigosas, etc.

Ontem, quando o dito fã da selecção aos quadradinhos entrou em campo, obrigando à interrupção do desafio, o realizador optou por mostrar os jogadores a olhar para o ar ou uma ou outra claque nas bancadas. O valente croata, nem vê-lo. Este tipo de edição é uma palhaçada e raia mesmo a censura. O facto, a notícia naquele momento era a entrada em campo do gajo, e não o jogo, que por acaso até estava parado.

(Qualquer dia entra um elefante em campo e os comentadores: «Pois é, pois é, a relva está bem verdinha!»)

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Ou seja, não é preciso centrar as reportagens em fait-divers como o champô favorito dos jogadores, nem fazer de conta que um mega-evento como o Mundial de Futebol se faz apenas com uma bola e 24 pés.

Aquela coisa lá longe na Alemanha

Para a Bola, esta manhã, a notícia mais importante é o Léo ter dito que o Miguelito, sim senhora, é um bom reforço para o Benfica.

Parece que lá longe na Alemanha, onde está a haver um torneio mundial ou lá que é, os gajos que detêem o título ganharam o primeiro jogo. E quem marcou o golo? Um «amigo de Rui Costa», claro está!

«Kaká salvou o Brasil- Depois do italiano Pirlo outro amigo de Rui Costa»

Eu, na terminologia d' A Bola, devo ser «uma amiga de vários adeptos do Benfica»...

segunda-feira, 12 de junho de 2006

E ainda!


Nem nas melhores fotos, ou seja, naquelas que lhe tirou o grande Luís Bento aquando da passagem pelo Coliseu dos Recreios, Patrice é tão... fofo como sentado frente a frente para uma entrevista, nos bastidores do Super Bock. Não vi o concerto, não conheço os discos, mas os olhos daquele moço não enganam - há ali ternura para dar e vender. E ao vê-los não restam dúvidas sobre a razão que o terá levado a dedicar o seu último álbum, "Nile", à água.

Na mesma tarde, estava eu atrofiadíssima a testar dois minidiscs diferentes, um charmoso belga passa por mim e cumprimenta-me com simpatia. Será que o Tom Barman me reconheceu, sendo que a última e única vez que falara com ele estava a cair de sono e o senhor com uma ressaca de caixão à cova? De forma a ganhar fôlego para os próximos dias, acreditemos que sim.

Recompensas

Numa altura em que toda a gente enfia o chinelinho no dedo e ruma à praia mais (ou menos) próxima, aqui a moura de trabalho divide-se entre entrevistas sucessivas, festivais madrugada dentro e atribuladas mudanças de casa, com caixotes às costas e sem elevador.

Há, no entanto, recompensas. Uma: ontem, apesar de à hora do lanche já cambalear um nadinha, o Ed Harcourt (songwriter inglês que gravou pelo menos um disco lindivinal) fez-me uma promessa e cumpriu-ma. No final da entrevista, confessei a minha condição de fãzoca do "Here Be Monsters" (2001) e, em particular, de 'God Protect Your Soul', a música que me apanhou de surpresa nas longínquas e saudosas emissões d' "O Menino É Lindo", na Voxx.

«São coisas dessas que fazem tudo valer a pena», garantiu ele, sem pinga de ironia descortinável à vista desarmada. «Tenho andado para recuperar essa música, se gostas assim tanto esta noite vou tocá-la, pela primeira vez em muito tempo».

Agradeci, apesar de não ter acreditado (muito). Foi a primeira música de um concerto de duas horas. Obrigada, Ed - take care (literalmente).

quarta-feira, 31 de maio de 2006

Elitismos

Sempre achei o Amoreiras um centro comercial bastante queque (além de me perder inevitavelmente num dos pisos), mas ontem tive um bom exemplo do público que merece aquele estabelecimento.

Frente a uma escolinha próxima das Amoreiras, uma miúda de cinco ou seis anos fazia birra, sentando-se no chão da rua e berrando o mais alto que conseguia.

A mãe ou acompanhante (não percebi bem): «E depois a menina ainda se admira que não a levem ao Amoreiras! Uma menina que se comporta assim, de facto, não pode ir ao Amoreiras!...».

Aquele "de facto", então, caiu na frase que nem ginjas...

Afinal...

É hoje e afinal não vou / não fui.

Depois de passar semanas a fio a espreitar a data no site da banda, surpreendendo-me de cada vez que confirmava não estar esgotada, lá tive de me render às evidências: ficar em terra e esperar que, num futuro não muito distante, o "Alligator" passe por cá.

So long, The National!

«31 May: KOKO, London, UK // SOLD OUT»

terça-feira, 30 de maio de 2006

Táxis

Ando muito de táxi, e muitas vezes em trabalho. Ao contrário da maior parte das pessoas, não tenho grande queixa dos taxistas. Das duas uma: ou tenho sorte ou então minimizo os danos, comparando inconscientemente essas viagens (de táxi) com as outras, mais frequentes ainda, de autocarro. E aí já sabemos quem ganha...

Outro dia juntava numa pilha várias facturas de táxi, para pedir aos patrões o reembolso das despesas. Eis que dou de caras com um recibo passado pela... AUTO TÁXIS VAMPIRO.

Deixo uma sugestão de logotipo, para pôr na "lombada" dos veículos:

terça-feira, 23 de maio de 2006

Bola, parte dois

Ainda sobre o futebol, continuo a fazer o mesmo percurso casa -> trabalho que fazia há dois anos, por isso estou em condições de dizer que o rácio de bandeiras por janela ou prédio é, naquele trajecto, muito menor em vésperas do Mundial da Alemanha do que por alturas do Euro em Portugal. Será que, afinal, os santos da casa sempre fazem milagres?

A propósito, se bem que com muito atraso, deixo à equipa da Rádio Portugal do Cotonete um grande abraço e desejos de tanta sorte como aquela de que a nossa selecção vai precisar em terras germânicas... Sub-post especialmente dedicado ao meu antigo colega, claro está :) É um orgulho ver-te aí em baixo, como os jornalistas "a sério"!

"Jornalismo" desportivo

Hoje n' A Bola:

«EI-LO. Braga é hoje a capital de Portugal. O Euro-2006 dá o pontapé de saída e o País tem de abraçá-lo. As manifestações de carinho sucedem-se no Minho, mas é necessário mais. Todos temos de esquecer, para já, o Mundial da Alemanha. O momento é dos sub-21. O Euro, o nosso Euro, só pode ser um sucesso. O espectáculo está garantido (...).

Triunfo do futebol. Este ano não há férias. Há dias disputou-se a final da Liga dos Campeões, hoje inicia-se o Euro de sub-21. Depois, segue-se o Mundial. Concentremo-nos no nosso Euro. O Euro da vingança. Ainda ninguém esqueceu a desilusão do Euro-2004. A tragédia grega. Só há uma forma de amenizar essa dor. A conquista do Euro-2006!

O País provou que ama o futebol, a Selecção Nacional. Que sabe receber. Que sabe ganhar ou perder. Mais importante: que sabe fazer do futebol uma festa. É isso que todos esperamos ver a partir de hoje. O repto de Scolari continua válido. Que o País se vista com as cores da nossa Bandeira. Desde há muito, Portugal brilha nos escalões jovens. É, por exemplo, bicampeão do Mundo em sub-20. Mas tem valor para mais. Muito mais. Temo-lo provado. (...) Até ao Bessa. No dia 4 de Junho. O dia da final. O dia da festa.»

Isto. Não é bem. Jornalismo. Mas até diria. Que quem escreve ou manda escrever. Tem noção disso. Coiso.

Tempos idos

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