sexta-feira, 6 de outubro de 2006

Estado Civil

Há uma curiosa linhagem de loucura na minha família. Para tornar as coisas (ainda) mais interessantes, centra-se essa tendência do lado feminino do clã.

O caso mais clássico é o da minha tia, apropriadamente chamada de «tia maluca». Em criança achava-a excêntrica e engraçada, com o passar dos anos (e uma temporada de mais de um ano em sua casa), vim a perceber as razões pelas quais o resto da família evita grandes confraternizações com a irmã de meu pai. Os episódios sucedem-se: muitos deles envolvem autoridades (às quais a minha tia recorre por todo o tipo de ninharias), muitos outros são divertidíssimos, sobretudo para quem não tiver de os ouvir em primeira mão, horas a fio (ela não precisa que lhe respondam para dar seguimento aos seus monólogos). É uma pessoa especial - ou então, doida varrida. E mais não me alongo não só porque não é preciso, como porque, afinal, sempre é a mana mais nova do meu pai.

Depois, e sobretudo de há cinco anos para cá, temos a minha avó. Sempre teve um feitio, cough, especial, e a idade agravou certas características da sua personalidade. A partir dos 90, mais coisa menos coisa, começou a inventar largo. A primeira grande história saída da cabeça de alguém que nunca entrou numa escola prende-se com um vizinho nosso, a quem de repente a Dona Maria acusou de ser ladrão. Que roubara roupas, e berços, e tralha antiga de uns galinheiros do seu quintal em Santo Ovídio. Nada disto é, evidentemente, verdade, mas para a minha avó não podia ser mais líquido. Tanto que chegou a ir a casa do senhor, um Sábado de manhã bem cedinho, pedir satisfações e perguntar por coisas que, na sua maioria, não existem há décadas.

Aqui há uns tempos, um choque geracional fez com que a minha avó acusasse a minha tia (mãe e filha, portanto) de lhe roubar os soutiens. Perfeitamente natural, se pensarmos que a minha avó já quase nem precisa de tais artefactos e a minha tia terá uns quantos armários cheios deles. A mãe quer agora mudar as fechaduras das portas de casa para que a filha, que vive a mais de 300 quilómetros de distância, deixe de lhe fanar os soutiens. Um clássico, portanto.

Talvez por passar pouco tempo no Porto, tenho escapado relativamente incólume a esta onda fantasiosa da Dona Maria. Até esta semana, quando a minha avó perguntou à minha mãe como correra o casamento. Qual casamento? O meu.

Pelos vistos, casei na passada Terça-feira, «não pela Igreja, só pelo civil». Parece que ela faz muita questão de sublinhar esta parte.

Gostava de saber em que ponto da nossa relação é que a minha avó fez de mim alguém anti-igreja (sou baptizada, comungada, catequizada, etc e tal) e melhor ainda! alguém que não convidaria os avós para o casamento.

Entretanto o meu padrinho acreditou ligeiramente na história (que, convenhamos, nem está mal inventada) e sentiu-se um pouco triste por não ter sido tido nem achado quanto ao matrimónio da única afilhada. Vou mandar-lhe um sms a pedir desculpa, perdão, a desmentir.

8 comentários:

Anónimo disse...

Lia, MEGA LOOOLL

É a melhor história da tua avó! Sem dúvida :)

Tens de casar pá! É mesmo um desejo da tua avó, ela é que não sabe :)

lia disse...

«Mas pelo civil, não foi pela igreja!».

É lindo...

Para metade de Santo Ovídio, esta história já é verdade, de certeza.

:-D

Anónimo disse...

onde já se viu, uma menina de boas famílias!
foi para Lisboa, entrou no caminho da perdição!
:D

lia disse...

Boas famílias é como quem diz... a avaliar pela história acima... :D

Anónimo disse...

Acho interessante de facto tentar avaliar o que está por trás dessa "invenção". Mas mais interessante ainda é o teu padrinho ter acreditado. De risos! Entra na história e diz que sim, é tudo verdade, mudaste de religião e foste casar à mesquita.

lia disse...

Tendo em conta que a tia acima mencionada em tempos trocou o catolicismo pelo judaísmo (tendo mais tarde voltado atrás, contentando-se hoje em ser uma alegre excêntrica ecuménica), não quero dar à minha avó mais um «desgosto»! :D

O meu padrinho, à partida, achou que seria tanga. Mas como a história até fazia algum sentido (cerimónia discreta, e tal :P), ficou com a pulga atrás da orelha!

Obrigada pela visita :)

lia

J G disse...

LOOOOOOOOOOOOOL

Lia, os meus parabéns pelo... casamento!!

LINDO!

Anónimo disse...

Só deixo que te cases se não abandonares os Arneiros :)

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