sexta-feira, 20 de outubro de 2006

Está a chover e portanto...



A primeira vez que ouvi este disco não sabia o que era. Estava gravado em mp3, num CD-R com outros discos para ouvir e escrever sobre, para a Mondo Bizarre. Lembro-me de pensar nuns Interpol mais para os meus lados (meigos, quase soturnos, americanos do campo). Vim a descobrir serem os National, com "Alligator". À medida que insistia, parecia-me cada vez melhor. Escrevi sobre o disco e, passados uns meses, entendi perfeitamente porque é que uma revista estrangeira chegou a fazer duas críticas ao álbum, revendo-o em alta: detesto dar notas, mas a dar, este jacaré não pode ser menos que um dez em dez. E no meu texto inicial nem ao oito cheguei... mais tarde marquei uma entrevista para me redimir. Adorei falar com o vocalista, Matt Berninger, e ainda hoje amaldiçoo a chefe que não me deixou ir a Paredes de Coura em 2005. Se este é o meu disco do século, até agora, o que não teria sido o concerto, que ouvi, cheia de raiva e inveja, pela rádio.

Já estou farta de escrever sobre o "Alligator" - mas não me canso de ouvi-lo. Hoje peguei nele para ouvir no caminho para o trabalho, com a desculpa que estava a chover muito e que é um bom disco para me "aconchegar" os ouvidos e a alma. E é. Mas eu consigo - e quero - ouvir este álbum com qualquer temperatura ou disposição. À nonagésima audição, continuo a descobrir pequenos pormenores (aquela guitarrinha sempre esteve ali? e aquela revienga do violino?) e a deixar-me embalar / inquietar / apaixonar por canções como «Karen», «Lit Up», «Daughters of the Soho Riots»«, «Val Jester», «All The Wine»... O meu home uma vez descreveu o "Alligator" como uma mistura entre melosidade e maladragem. Talvez seja essa a razão que me leva a pensar neste álbum como um dos discos que melhor me descrevem. Agora é anotar a ideia antes que me aconteça o mesmo que ao Rob Fleming, do Alta Fidelidade, que leva a vida a pensar na lista dos seus discos favoritos de sempre, e quando uma miúda de um jornal regional lhe faz a pergunta, tem de mudar a resposta umas 20 vezes, por nunca estar contente com o resultado. (já que falamos em arrebatamentos, o High Fidelity é dos meus livros mais amados de todos os tempos. O filme não é tão bom, mas gosto muito do John Cusack).

Mas voltando ao "Alligator". Eu sempre me deixei perder (ou ganhar...) por uma boa letra, e vejam isto:

«You wear your skirt like a flag
And everything surrounds you, and it doesn't fade
Nothing like this sound I make
That only lasts the season
And only heard by bedroom kids who buy for that reason
Cuz you're the low life of the party, bad blood
Bad blood for everybody
I'm in control and I believe»

«Break my arms around the one I love
And be forgiven by the time my lover comes
Break my arms around my love»

«I wake up without warning and go flying around the house
In my sauvignon fierce, freaking out
Take a forty-five minute shower and kiss the mirror
And say, look at me
Baby, we'll be fine
All we gotta do is be brave and be kind»

«I was in a train under a river when I remembered what
What I wanted to tell you, man
What I wanted to tell you, man
I got two sets of headphones, I miss you like hell
Won't you come here and stay with me
Why don't you come here and stay with me

(...)

Why did you listen to that man, that man's a balloon
Fake a heart attack, you gotta get back to me»

«Big wet bottle in my fist, big wet rose in my teeth
I'm perfect piece of ass
Like every Californian
So tall I take over the street, with highbeams shining on my back
A wingspan unbelievable
I'm a festival, I'm a parade»

[em pleno modo American Music Club / Mark Eitzel ]

«Karen, take me to the nearest famous city middle
Where they hang the lights
Where it's random, and it's common versus common
La di la

I've got five hundred in twenties
And I've got a ton of great ideas
I'm really worked up
I'm on a good mixture, I don't want to waste it
I'm on a good mixture, I do not want to waste it
I wanna go gator around the warm beds of beginners
I'm really worked up»

São todas magníficas, não obstante eu geralmente perceber que o homem canta outra coisa qualquer.

Falta-me analisar os The National à luz da sua origem. A banda é do Ohio mas opera em Nova Iorque. A minha estada relâmpago na Big Apple não me permite encaixar isto. Houve muita coisa a saltar-me à vista e aos outros sentidos, na já saudosa viagem, mas a melancolia extra forte de um "Alligator" não foi uma delas - ao contrário do que acontece com os TV On The Radio (em Português, Tê Vê na Tufonia), cujo caos, belo mas opressivo, foi das primeiras coisas que reconheci ao botar o pé em NYC. Melhor assim - nem tudo tem de ter relação directa com o sítio de onde vem. E tenho a noção de que este disco, independentemente do local de onde partiu, vai ficar para sempre guardado no meu coração.

5 comentários:

Anónimo disse...

acho mal teres tirado o sofá

lia disse...

Eu não tirei nada, melher! Apaguei foi o template todo, sem querer, e ainda não tive vagar para repor as perdas... : (

Unknown disse...

'Alligator' foi na minha opinião o melhor álbum de 2005. Não me canso de ouvir! :)

bitsounds disse...

já me tinha esquecido deste album, mas quando saiu ouvi imenso ... agora está arrumado nem sei onde, mas tenho que procurar e ouvir de novo ...

lia disse...

Claro que sim :) Não há que perder de vista este aligátor de mordida doce :)

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