quinta-feira, 23 de novembro de 2006

A Ciência dos Sonhos

Depois de um camião ter caído na linha de comboios de Cascais, impedindo-me de chegar ao cinema a horas, na Segunda-feira, ontem também não foi fácil cumprir a promessa de ver "The Science of Sleep" quanto antes. Pensei que tinha boleia até chegar a casa e descobrir que, afinal, um mal entendido ia obrigar-me a apanhar um táxi até ao cinema. Corri rua abaixo para encontrar um dos taxistas mais lerdos dos últimos tempos: com a estrada por sua conta, em vez de acelerar, passeava-se pelas ruas de Lisboa, como se quisesse apreciar as vistas. Isto enquanto assobiava, linguita presa nos dentes, as músicas que iam passando na Rádio Orbital. Recordo com particular asco uma versão reggaeton para «I'm In Love With An Alien», da Kelly Family. Demorou eternidades a estacionar frente ao Corte Inglés e, apesar de lhe ter facilitado o troco (cinco euros), deu-mo em moeditas que foi sacar a um porta-moedas refundido. Vinguei-me deixando-lhe uma embalagem de compal no carro (recorde pessoal de maldade voluntária da minha parte. Mas acho mesmo que ele estava a gozar comigo).

Depois da história do camião, dizia eu então, parece que havia mesmo alguém "lá em cima" com pouca vontade que eu visse o novo filme do Gondry. Mas, contra tudo e contra todos (como diria o Pinto da Costa), consegui chegar à sala mesmo no começo do genérico. Duas horas depois, concluí que o alguém "lá em cima" tem (quase) sempre razão.

Desengane-se quem for à procura de um novo "Eternal Sunshine of the Spotless Mind". Elucide-se quem se tenha surpreendido com o facto deste filme só estar em duas salas de Lisboa. "The Science of Sleep" é dos filmes mais toscos, disparatados, surreais e tolos que já vi. Saí da sala algo desolada, até porque, neste meu acalorado desejo de apanhar a película antes que saísse de cartaz, arrastei o meu home para o cinema, e evidentemente que ele disse cobras e lagartos da "história".

No entanto, à medida que as horas iam passando e me recordava de pequenos pormenores do filme (cujas histórias, personagens, diálogos e tudo à volta, sublinho, são de uma incrível incoerência), não fui capaz de ignorar que tenho um certo carinho pela coisa.



Há quem tenha escrito que "The Science of Sleep" é um filme falhado, mas para assim ser era preciso que Gondry tivesse tentado fazer um filme, diz o meu home, ainda inconformado. Realmente, talvez não tenha tentado. Mas as sequências animadas, com bonecada feita à mão (?), muitos bichinhos e cenários entre o naïf e o absurdo, e uma outra cena de ternura incomensurável acabam por resgatar a experiência da minha "reclycle bin" mental. Ou muito me engano ou este ainda vai ser um daqueles filmes que sei ser mau, ou pelo menos longe de bom, mas do qual não consigo não gostar.



Quanto ao Gael. Meus amigos (e minhas amigas), escreveu o Jorge Mourinha no Y que o senhor estava, neste filme, «com o charme no máximo». E não podia ser mais verdade. Mas há quantos filmes é que ele já usa esse expediente? Hum? Assim de repente, não consigo apontar falhas aos visuais + carisma ostentados em "Motorcycle Diaries" ou mesmo "Má Educação". Qualquer dia há um grave derrame de charme nas nossas salas de cinema e depois quero ver. Eu avisei. Actor mai-lindo de sempre d'acordo com liisabel (como me chama a amiga Susaninha).



(anda com este fatinho bordeaux todo o santo filme)

8 comentários:

Anónimo disse...

o "filme" é uma ternura. eu gostei muito exactamente por ser "tosco" :)

Gaelito é "smile cheio de coraçõezinhos suspirantes"

Bjs :)
becks

lia disse...

Como resistir a um filme terno com o gaelito a "falar" francês e inglês (e até um poucochito de espanhol, puta madre)? :)

Beijinhos!

Mónica Lice disse...

Parabéns pelo blog! Não o conhecia, até o ter ouvido!;-)

Beijinhos.

eskimo friend disse...

tb só vim dizer olá.
olá.

lia disse...

Olá a todos, pois então :D

E obrigada pela visita.

Já agora: é oficial. Alguns dias depois concluo que gostei do filme. Não tenho mesmo remédio...

Art&Tal disse...

e eles vao nascendo

para uma revoluçao tranquila

Joana disse...

Ainda bem. O bom senso leva tempo. ;)

Gostei MESMO muito deste filme.

O Gondry continua inigualavel. (O Gael tambem, mas no genero apetecivel).

Jinhos.

Anónimo disse...

Gael *desmaio*

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