terça-feira, 29 de março de 2005

Essencial



Ouvir os Shivaree em 2005. Não, eles não morreram, e estão até bem melhor de saúde (criativa) que em "Goodnight Moon". Props para o Tarantino: a escolha do dito êxito para o genérico final do "Kill Bill 2" salvou a banda do esquecimento. "Who's Got Trouble" é belíssimo e tem a Ambrosia Parsley a cantar a letra que se segue. Basta para ser um dos discos do ano na casa do sofá.

I'm lost in a dream
Where my love supreme
Can't find me
Like I care
By chance to undermine
My fantasy divine
It's mystery that binds me there
I'm
Looking for a moonbeam to get lost in
Everything will be beautiful and bright
Cause things come out at night
They're ugly
And some of them bite
So I'm getting lost in a dream

I'm looking for a rainbow to fly over
To a place where angels draw their bows
It's danger heaven knows
To wager
My x's and o's
That we could get lost in a dream

I'm lost in a dream
Sweet and double cream
I know
It sounds unfair
But love's a compromise
And I don't think it wise
For one to be so well aware

I'm
Looking for a melody to hold me
Waiting for the orchestra to play
And if you ever stray
Okay
I'm happy to stay
Alone ever lost in a dream

I'm looking for some sunshine and some clover
And a cloud to rest my head upon
Can't put my finger on
Just when
My baby got gone
Because I
Was too lost
In a dream

Tudo me enjoa, tudo me irrita (II)

2. Portas e casacos

Qualquer pessoa que viva deste lado do sistema solar sabe que sair de casa com sacos, malas e/ou chaves na mão não é pêra doce. Os atropelos, as mãos trilhadas e o tempo perdido enquanto se tenta desesperadamente fechar a porta e chamar o elevador são constantes na vida ocidental. Ora, esta faceta do quotidiano é surpreendentemente fácil, na sua representação televisiva. As portas parecem abrir-se como que por magia ou empatia com o seu dono (nunca se vê ninguém à procura das chaves, por exemplo), e os ladrões são coisa reservada apenas às séries de detectives, pois, em todas as outras produções, as portas ficam muitas vezes no trinco, quando não encostadas. Poupar electricidade é outra coisa que não passa pela cabeça das personagens, para quem deixar a luz acesa quando se vai à rua é coisa do senso comum.

A situação agrava-se quando - e ainda outro dia vi isto - além de conseguirem fechar a porta e pensar ao mesmo tempo, os actores ainda cometem a proeza de enfiar o casaco com a ajuda de apenas um braço. Acho que a classificação «ficção» devia aparecer bem explícita nestes casos.

A única excepção a este tratamento fantasioso do quotidiano, vertente sair e entrar de casa, reside muito provavelmente no brilhante "Seinfeld". Basta lembrar a forma como Kramer desliza pela casa de Jerry adentro para percebermos que eles sim, compreendem os perigos das portas abertas e consequente promiscuidade com o território dos vizinhos.

sábado, 26 de março de 2005

Tudo me enjoa, tudo me irrita

Há coisas que tenho vindo a observar em vários filmes e séries e tentarei apresentar, de seguida, de forma sistematizada. São fenómenos que ora me enervam, ora me intrigam... Vejam se concordam.

1. Comes e bebes

Nos filmes, ninguém come como as pessoas normais. A situação agrava-se nas novelas e seriados. As personagens vão ao café, dão uma trinca no bolo ou um gole no sumo e está feita a festa. Vão-se embora (muitas vezes sem pagar) e nem olham para trás, com um último esgar de gula ou arrependimento pelo desperdício que acabam de protagonizar. Isto a mim irrita-me. Não querem, dêem-me. Mesmo que seja de plástico, é comida deitada fora, o que a mim me abre especialmente o apetite, quando estou em casa com a despensa quase vazia. Muito comuns são também os pequenos-almoços faustosos, em casas invariavelmente arejadas e modernas. Na televisão, ninguém toma uma meia de leite ou come um pãozinho com queijo; há sumos de frutos distantes e tropicais, dispostos sobre paninhos coloridos e ladeados por pastelaria fina e outros acepipes de complicada identificação. Imagino que seja, esta mania, herdada das novelas brasileiras, que durante anos nos moldaram os padrões televisivos, e onde os actores se pavoneiam com frequência frente a mesas suculentas e nutritivas. Não sei como é a vida dos ricos em Portugal, mas pessoalmente não conheço ninguém que, em casa, passe mais de cinco minutos a tragar a primeira refeição do dia.

Uma última nota para as ficções juvenis onde estudantes do secundário se alimentam a suminhos, e, em noite de desvario total, lá afogam as mágoas com uma bebedeira patrocinada por uma qualquer cerveja sem álcool.

(continua)

Pluto World Tour

[Depois do concerto de ontem (25 de Março) na Aula Magna, é apenas da mais elementar justiça que repesque este tópico e vos instigue a irem ver os Pluto, se eles forem passear para as vossas bandas. Há castigo (sei lá, mais uma dissertação sobre malas, por exemplo) se não acatarem a minha... hum, sugestão.]

RIOT

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(foto cortesia do senhor AJRSA)

quinta-feira, 24 de março de 2005

Lamechas

Já desde os meus tempos de aficionada do "Dempsey & Makepeace" (obrigava a minha mãe a inventar justificações de falta para poder ir para casa ver o "Agora Escolha", isto na quarta classe) que não me emocionava tanto com o destino de uma parelha romântica na tê vê. E eu que, a princípio, nem gostava da série...

(SPOILER para quem ainda não chegou ao fim dos episódios do "The Office")

sexta-feira, 18 de março de 2005

New look

Estava um pouco cansada do antigo visual aqui do tasco e decidi mudar o template, ou lá como é que se diz. Claro que fiz burrada e fiquei sem o boneco do sofá, e o que é pior, sem os vossos comentários!... João, Marla, Nuno, Mysti e Sandra, peço desculpa. Vamos começar de novo?...

Posso parar quando eu quiser

Tenho um problema com malas. O problema é não poder comprar todas as que gostava de ter. Quem me conhece sabe que nem sou gaja de grandes gastos; passam-se semanas sem que compre alguma coisa «para mim», isto se ignorarmos os comes e bebes e as pechinchas da loja dos 300. Mas as malas deixam-me um pouquito descontrolada. Estive a reflectir sobre possíveis razões para que isso aconteça...

Em primeiro lugar, e como diz a CM, da Laranja Amarga, as malas são um dos poucos produtos-para-gaja que é possível comprar sem complexos. Não há o perigo de nos ficarem apertadas, de não haver o nosso número, de nos caírem mal. Uma mala materializa o utópico ideal do one size fits all, extendível apenas, nestes domínios do shopping, aos sapatos (e depende do pé!), chapéus (que muitos não vêem ainda como acessório com direito à vida) e agasalhos que, agora que chegou o Verão, já não entram na equação.

Assim sendo, para comprar uma mala é necessário que se reúna um número reduzido e alcançável de factores: a cor, o formato, o tamanho agradarem-nos. E a partir daí não precisamos de nos preocupar com mais nada, excepto o preço, claro, e ele há lojas cujas malas eu adoro e onde nunca comprei uma que fosse, para a amostra.

Depois, e isto parece-me importantíssimo, uma mala configura uma promessa. Se olho para uma mala espaçosa, com boa arrumação, com cara de me ir dar jeito todos os dias da semana and then some more, acredito que é nela que reside a solução para o caos do meu quotidiano. Se a comprar, vou ter aquilo de que preciso e não consigo arranjar: espaço, arrumação, ordem, tempo (por não mais ter de pensar onde enfiei as coisas, por exemplo; uma mala perfeita, esse nadir das gajas, é aquela onde tudo se guarda e encontra com facilidade, evitando horas de procura e frustração).

Sinto o mesmo com as caixas de plástico das lojas dos chineses; só por passar a ter onde arrumar a tralha, acho logo que a minha vida vai ser mais descansada e relaxada.

Penso que é legítimo concluir, pois, que uma mala, ou a mala (perfeita, aquela que nos tira o desejo de conhecer outras malas e nos conduzirá à monogamia de acessórios) é uma ilusão. E como tal esvai-se sem aviso prévio.

Antes de perder o multibanco apaixonei-me por uma mala que vi à venda perto de minha casa. Não comprei e a primeira coisa que pensei quando dei pela falta do cartão foi que me tinham roubado o dinheiro todo, antes mesmo de ter podido comprar a maleta (tão jeitosa, cor tão boa, e os CDs e livros a caberem todos lá, tão ajeitadinhos... Quase podia prescindir da renda e ir viver para dentro da mala).

Serve isto para apelar à compra, não por impulso, mas por instinto, e para tentar explicar ao meu gajo a profusão de malas e sacos pendurados na minha cama (mal ele sabe que dentro de muitos deles há outros, progressivamente mais pequenos, ao bom jeito das matrioskas russas). Não é uma questão de vaidade, nem de futilidade, antes uma crença sincera numa vida melhor.

quinta-feira, 17 de março de 2005

Porque não?

Diz-que Moby, de seu verdadeiro nome Richard Melville Hall, escolheu o nome artístico com base na alcunha herdada do tri-tio avô (isto existe?), Herman Melville, o autor de "Moby Dick" (há pouco tempo li um livro de uma escritora espanhola, chamado "A Louca da Casa", em que ela discorre com fluência sobre as paranóias e os hábitos dos profissionais da sua classe. Fiquei a saber que, aquando da primeira edição, o "Moby Dick" vendeu tanto como um disco dos Plástica e que o homem ensandeceu à conta disso).

Mas dizia: o Moby chama-se Moby porque o seu remoto antepassado escreveu o Moby Dick. Pergunta - porque é que não o alcunharam de Dick?

Será que ele nos está a contar a história toda?...

Pesadelos e pequeno-almoço ao domicílio

Ontem tive medo de ir ver a ante-estreia do segundo "The Ring". Bem, não foi só medo: a coisa começava às 23h45 e eu hoje tinha de acordar cedo. Mas acabei por ter sonhos tão amedrontadores como a saga da menina Samara. Permitam-em que partilhe. No primeiro, eu tinha conhecimento, a bordo do já mítico 42, que tinha havido um massacre em minha casa. No meu prédio. Tudo morto e destruído, e eu só me safara porque não estava em casa (yeah!). Fiquei com algum medo que julgassem que fora eu a autora do saque e da matança, já que geralmente eu e as minhas companheiras de casa somos bodes (ou cabras) expiatórias de tudo quanto corre menos bem entre Alcântara e Ajuda. Acabei por saber que, afinal, o massacre não fora ali, mas numa das (várias) casas onde já vivi. Fiquei aflita, acordei. Estava a minha room mate a chegar a casa da ante-estreia.

Voltei a adormecer e sonhei que estava em casa, regressada de um trabalho nocturno, prestes a deitar-me. Tocam à campainha (um toque muito musical e roto, por acaso). Do quarto da minha mate M. Wee sai uma nova personagem, que ora era um colega meu de trabalho, ora um colega de aulas. Ele acha que não devemos abrir a porta: «Hoje em dia é perigoso, por causa dos massacres», concordo eu, como se estivesse a falar do tempo frio ou das macacadas do Santana. No entanto abrimos. Eram dois representantes de um novo serviço de pequeno-almoço ao domicílio: traziam catálogo e nós escolhíamos o nosso prato favorito. Eles encarregavam-se de confeccioná-lo, em nossa casa. Perguntei qual a solução mais rápida, a moça confessou que não havia nenhum que demorasse menos de 15 minutos a fazer.

Cada prato tinha um nome, e ela deu-me três sugestões:

«Tem o 'Vamos Ver o Sol, Ver o Mundo Morrer', o 'O Filho Deita-o pela Boca, Deixa o Puto Crescer'...» e uma terceira, que não me lembro, mas era, tal como as outras, parte integrante das letras dos Pluto.

Escolhi a primeira, anunciando contente «É do 'Bem-Vindo a Ti'!...». Mas depois arrependi-me e cancelei o pedido, dizendo alarmada: «Esse não, esse não, que tem peixe!».

Terei pirado de vez?... (pergunta de retórica, eu sei).

Bom dia!

terça-feira, 15 de março de 2005

Atchim

Aproveitando o embalo da grande, muito grande, Laranja Amarga, deixo os meus dois tostões sobre a questão da venda de medicamentos sem receita fora das farmácias, ou seja, sobre aquela que é, na prática, a primeira medida posta em cima da mesa pelo nosso novo primeiro, José Sócrates.

Parece-me uma boa ideia e fartei-me de rir com um dos argumentos esgrimidos por quem não quer perder o tacho (do exclusivo da venda) e, como tal, se opõe à mudança. Dizem eles que, nos países onde esta medida foi implementada, aumentaram os casos de intoxicação medicamentosa. Sinceramente, se alguém se quer matar com Trifene ou pedrar com Aspegic... a meu ver, merece morrer mesmo. Não se pode ser tão ridículo.

sexta-feira, 11 de março de 2005

Sinal dos tempos

Ontem o meu Avô fez anos. Não sei ao certo se 89 ou 90; lembro-me apenas que é um jovem ao lado da minha Avó, que este Verão completa 94 anos. Liguei ao ancião para lhe dar os parabéns. Respondeu-me, com a sua voz que o telefone sempre rejuvenesce, que estava quase a chover (em Santo Ovídio), que a minha Avó ainda estava no café, e que estava a comer broa. Agradeceu os votos de parabéns mas passado pouquíssimo tempo despachou-me. «Estimei ouvir-te, mas agora tenho de ir, a 'Caboucla' já está a começar».

quinta-feira, 10 de março de 2005

Indigência

Perdi o cartão do multibanco. Sempre me interroguei como seria sofrer um revés destes. Já me gamaram o telemóvel, e dessa vez foram logo duas curiosidades satisfeitas de uma só vez: fiquei a saber como é ser assaltada, e como é viver, ainda que apenas temporariamente, sem telemóvel.

Agora o multibanco. Sempre fui rapariga de fracas posses, e mesmo tendo a impressão que não compro muita coisa, o dinheiro passa a correr na minha conta. Ontem, quando dei pela falta do multibanco, tratei logo de o cancelar. O senhor da «caixa directa» fez questão de me avisar que esta era uma operação irreversível, ou seja, depois de cancelado, o cartão fica inutilizado, mesmo que o encontremos (até parece que me conhece!). Fiquei então com cerca de 7€ na carteira. Obviamente (mas até podia nem ser assim tão óbvio) tenho pessoas muito próximas que desde logo se prontificaram a emprestar-me dinheiro, e que até mo davam se fosse preciso, estou em crer. Mas enquanto me dirigia à CGD com a caderneta (última actualização: tinha 26 contos, no começo de 2000), para verificar se alguém me tinha roubado dinheiro nos entretantos, tentei pensar em como será andar por este mundo efectivamente sem dinheiro. Olhar para a montra da loja, para a banca de jornais, para a fachada de um restaurante e pensar: não, ali não posso ir, como um cão à porta de um qualquer estabelecimento.

Não me gamaram dinheiro desde que perdi o cartão, acabou por dizer-me a caderneta, e no caminho para casa comprei dois pães de tamanho médio por 50 cêntimos, para o lanche. Às vezes, faz bem relativizar as coisas (e, já agora, ver como a comida é inflacionada em tudo o que é café).

Pensamento do dia

«Quero deixar claro tudo o que é de mim
Só depois de estar em Paz eu posso dar»

quarta-feira, 9 de março de 2005

Amado

Faz de conta que hoje é Dia da Música...

"O sertanejo trepou no carrossel, deu corda na pianola e começou a música de uma valsa antiga. O rosto sombrio de Volta Seca se abria num sorriso. Espiava a pianola, espiava os meninos envoltos em alegria. Escutavam religiosamente aquela música que saía do bojo do carrossel na magia da noite da cidade da Bahía só para os ouvidos aventureiros e pobres dos Capitães da Areia.(...) Então a luz da lua se estendeu sobre todos, as estrelas brilhavam ainda mais no céu, o mar ficou de todo manso (talvez que Yemanjá tivesse vindo também ouvir a música) e a cidade era como que um grande carrossel onde giravam em invisíveis cavalos os Capitães da Areia. Nesse momento de música eles sentiram-se donos da cidade. E amaram-se uns aos outros, se sentiram irmãos porque eram todos eles sem carinho e sem conforto e agora tinham o carinho e conforto da música."

terça-feira, 8 de março de 2005

Gajas

Começo por pedir desculpa a quem tenha vindo ao engano, por causa ao título... aliciante do post. Hoje, Dia Internacional da Mulher, presto vassalagem a duas (ou três, ou quatro... nunca escrevo o que planeio) grandes senhoras, que me inspiram durante o resto do ano, artisticamente falando.

A diva ruiva da country, cantora de voz portentíssima e crenças inabaláveis, deliciosa conversadora e autora de um dos meus discos favoritos, "Blacklisted". E, já agora, a prova de que, muitas vezes e felizmente!, gostamos tanto das pessoas enquanto músicos como pela sua condição... de humanos. É ler esta página inicial, rústica como só uma página feita por alguém que ainda usa a máquina de escrever podia ser, e tentar não simpatizar com a senhora. Se não resultar, escutem a música ou vejam as fotos. Neko Case.



Mais discreta mas consideravelmente perturbante é Nina Nastasia, trovadora nova-iorquina cujos discos nos deixam com a impressão de estarmos a ler um diário negro de alguém que, na maior parte das vezes, se limita a anotar impressões, contar as histórias, sem lhes acrescentar aprovações ou rejeições... e porque é que me voltei a lembrar d' "O Estrangeiro", de Camus, que li outro dia? A Nina vem a Portugal no próximo dia 24 de Abril, para um concerto no IMAN, «ante-câmara» do Festival Tímpano, em Vila Nova de Famalicão. Vai tocar no café-concerto da Casa das Artes daquela cidade. Não sei se vou poder ir, mas parece-me muito sugestivo. Ask your coffee black...



Podia aqui falar de mais, muitas mais mulheres que, musicalmente, me fazem mais feliz (Mirah, Shannon Wright, Laura Veirs são as primeiras que me vêm à memória... Manuela Azevedo, dentro de portas, também me fascina). Mas vou aproveitar as últimas linhas para mandar beijos invisíveis a todas as minhas amigas, à minha mãe, à minha avó, e imagine-se, até à minha irmã. Válidos para todo o ano.

quinta-feira, 3 de março de 2005

Valha-te Deus

Em pleno século XXI - como lembra o meu colega PR - começamos o dia de trabalho a ler notícias deste calibre. Um padre de Lisboa avisa, com um anúncio no jornal que, diz a RTP, lhe terá custado 1000 euros, que não dá comunhão a todos aqueles que recorrerem ao aborto, defenderem a eutanásia e - entre outros pecados capitalíssimos - tomarem contraceptivos. Essas pessoas, defende o padre Nuno Serras Pereira, advogam, contribuem ou promovem a morte de seres humanos inocentes. Aceitar a actual lei em vigor sobre o aborto - uma das mais punitivas da Europa, não sei se ele sabe - também dá direito a castigo. Benzei-vos.

quarta-feira, 2 de março de 2005

Tomem lá

As minhas vizinhas são nojentas e merecem-me menos respeito que uma barata à porta do prédio, numa noite abafada de Verão (acho eu; já não sinto calor há tanto tempo que não sei se reconheceria o Verão, se ele começasse amanhã). Voltando às velhas: fazem-me, a mim e às minhas pacatas, quando não ausentes, companheiras de casa, a vida negra. Insultam-nos nas reuniões de condomínio, às quais não podemos comparecer, culpam-nos de todas as avarias, desde o elevador com o qual não sabemos funcionar por sermos «da província», às retretes que se entopem (curiosamente, só no andar delas, e não no nosso...). Vêem água negra e cenouras a sair dos canos (ácidos ou medicamentos incompatíveis, aceitam-se apostas), acham que o facto de sermos «as únicas menstruadas» do prédio (peço desculpa pelo palavreado escatológico) nos torna suspeitas primeiras e solitárias de todos os males da canalização do Giestal. Isto nas reuniões às quais não comparecemos, repito, porque frente a frente, ou nos ignoram ou são altamente gentis (e cínicas), chamando-nos «querida» e mimos afins.

Antigamente ainda havia os romenos do andar de cima para dividir a culpa ficcional do mal do mundo. Agora que eles se mudaram, restamos nós. Espero que famílias negras, ciganas ou de qualquer outra «minoria» étnica não venham, nunca, a viver no nosso prédio, ou sobre elas cairão todas as acusações, no tribunal sumário e privado das mulherzinhas da cidade, bem mais conservadoras, injustas e cruéis que muito boa gente na província.

Resumindo, o que elas querem sei eu, e por isso lhes dedico uma grande música de uma banda que adorava ver ao vivo em Portugal.

Senhores e senhoras, 'Coin-Operated Boy', dos Dresden Dolls!...

"Coin operated boy
Sitting on the shelf he is just a toy
But I turn him on and he comes to life
Automatic joy
That is why I want a coin operated boy

Made of plastic and elastic
He is rugged and long-lasting
Who could ever ever ask for more
Love without complications galore
Many shapes and weights to choose from
I will never leave my bedroom
I will never cry at night again
Wrap my arms around him and pretend....

Coin operated boy
All the other real ones that I destroy
Cannot hold a candle to my new boy and I'll
Never let him go and I'll never be alone
Not with my coin operated boy......

This bridge was written to make you feel smittener
With my sad picture of girl getting bitterer
Can you extract me from my plastic fantasy
I didnt think so but im still convinceable
Will you persist even after I bet you
A billion dollars that I'll never love you
Will you persist even after I kiss you
Goodbye for the last time
Will you keep on trying to prove it?
I'm dying to lose it...
I want it
I want you
I want a coin operated boy

And if i had a star to wish on
For my life I can't imagine
Any flesh and blood could be his match
I can even take him in the bath

Coin operated boy
He may not be real experienced with girls
But I know he feels like a boy should feel
Isn't that the point that is why I want a
Coin operated boy
With his pretty coin operated voice
Saying that he loves me that he's thinking of me
Straight and to the point
That is why I want
a coin operated boy"

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