quinta-feira, 24 de agosto de 2006

Be generous



Era o meu favorito. A par do Doug Ross, do John Carter e do Peter Benton (OK, nunca me consegui decidir muito bem, dentre a riqueza do elenco original). Quis (o actor) experimentar novos desafios profissionais, morreu a personagem que ao longo deste anos se tornou um velho conhecido.

Quando era miúda chorei um fim-de-semana inteiro quando, num episódio da Missão Impossível, morreu uma das agentes. Achava sempre que aquele aviso inicial («se algum de vocês quinar, a gente lava as mãozinhas», etc) era só para despistar, e afinal a moça lá sucumbiu numa qualquer missão. Não eram imortais, nem querer na tela.

A morte do Doutor Greene foi coisa mais anunciada; um tumor no cérebro que jogou às escondidas com o médico durante um ano levou-o, eventualmente, às seis e quatro de uma manhã havaiana. Curioso como uma série que se passa quase sempre no hospital (frenético, caótico, cheio de vida - e morte), ou quanto muito no exterior, mas à noite ou em sítios escuros, se mudou para uma praia solarenga e luminosa para aquele que foi, provavelmente, o seu episódio mais sombrio de sempre.

O realismo da coisa (todos os nós que ficam por atar, a filha que até ao suspiro final do pai se comporta como aquilo que é - uma parvinha de 14 anos) e um breve mas incisivo flashback final provam que, ao contrário do que eu inicialmente pensava, se calhar não havia outra maneira de assinalar a despedida do Doutor Mark Greene. Se calhar, era mesmo preciso este sofrimento todo, este peso imenso que por segundos parecia real. Uma personagem daquelas não se manda embora com a desculpa de uma migração ou de um emprego noutro estado.

Para sempre ficará a imagem do médico, em suave delírio nos derradeiros segundos de vida, imaginando-se a deambular pelos corredores do hospital (para ele, símbolo do trabalho de uma vida, e não de doença ou morte) subitamente vazio. Ou o episódio anterior, em que o homem, já com poucas forças, insistia em continuar a trabalhar e dava de caras com muitas das pessoas com quem se cruzara até então, desde a mulher com a unha encravada do primeiro episódio ao sem abrigo que confia apenas naquele médico para impedir que os enfermeiros malvados o levem para longe do seu inseparável carrinho do lixo. Ou ainda a recusa em ver a sua vida prolongada pelos tratamentos que ele próprio tanta vez administrou aos pacientes, preferindo a morte «ao natural», tentando viver aqueles poucos de dias como se nada fosse. «Be generous» foi o último recado do Mark Greene à filha adolescente. Foi bonito.

Vá lá que, depois de tanto drama, mudei de canal e vi a maior badalhoca da pop actual (Fergie) a conspurcar o nome de Londres (e a Union Jack, pregada numas cuecas) na sua primeira musiqueta a solo. Pude passar rapidamente da choramingueira à maledicência, uma mudança muito bem recebida na altura. E hoje dá o House na TVI. Sinto-me como aquelas pessoas a quem morre um animal de estimação e dizem que não querem mais nenhum: não voltarei a ganhar afecto a um médico de uma série de televisão.

7 comentários:

Anónimo disse...

oh pá,tive tanta pena de não ver:(
Cheguei a ver o anúncio na tv 2 mas depois esqueci-me. Ainda vou pedir p/ me sacarem esse episodio. Tenho a certeza que ia chorar baba e ranho...

lia disse...

Eu chorei, foi terrível!

:-p

Ainda estás de férias?

Anónimo disse...

Sim, até 11 de Setembro. Mas parece que nem estou de férias :( Não vou para lado nenhum... So quandv os meus primos chegarem.

Sofia Viseu disse...

também fiquei com a lágrima no canto do olho. pena não ter mudado de canal seguida como tu!

Anónimo disse...

olha, ainda bem que não vi!
O Mark era quem segurava as pontas ali dentro. Quem vai dar a volta à Weaver agora?..

Fio de Beque disse...

pá, nunca digas nunca a nao gostar outra vez de um medico de uma serie... o house é bem capaz de te fazer pensar o contrario!!!

Jardim da Celeste disse...

Ninguém resiste ao House!!

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