Ainda que ninguém mo tenha perguntado, a razão deste blogue ter estado abandonado, nos últimos dias, prende-se com o facto de ter passado a última semana no Super Bock Super Rock, em missão laboral.
Confesso que o cartaz me atraía sobremaneira, a nível pessoal, mas a verdade é que passar três ou quatro dias (e noites...) a viver exclusivamente para um evento lhe tira quase toda a graça (hedonista, egoísta) que ele possa ter.
Posto isto, vamos ao que interessa - livre das amarras profissionais, fica o verdadeiro rescaldo. Pequenas, intensas, ressabiadas, apaixonadas, irracionais, disparatadas e livres, muito livres, considerações sobre o que vi no Parque Tejo.
The Gift - ou como é possível colocar sempre um «ôôôhhh» ou um «uáááái» a mais em cada ponte e em cada refrão. Não sou daquelas pessoas que os acham completamente destituídos de talento (há ali trabalho, alguns bons temas e ideias), mas a abordagem constantemente «over the top» torna-se, mais do que cansativa, enjoativa. Era tirar-lhes os samples de cordas e já se estava melhor.
Klaxons - que pobreza. Até cantarolo alegremente os singles, mas em palco estes três moços estão tão à-vontade como eu numa convenção de Física Quântica. Concerto muito perro e enganadiço; salvaram-se as miúdas aos berros de cada vez que o Lovefoxxxo abria a boca.
Magic Numbers - tinha a impressão que ia ser uma bela seca mas foi, afinal, uma bela surpresa. Canções com açúcar amarelo e uma enorme dose de simpatia / profissionalismo / experiência deram o resultado certo: um público convencido e participativo.
Bloc Party - percebi, por fim, a razão pela qual sonho tantas vezes com o Kele Okereke. É muuuuiiiito querido... E sonhar com as canções estaria um pouco fora de questão, pois apesar de giritas... bem, são todas iguais.
Arcade Fire - embirro um bocadinho com o novo disco e com toda aquela atitude melodramática (sininhos, coros, órgãos de igreja - tipo os Gift em bom). Mas ouvi muita gente a dizer que tinha sido o concerto das suas vidas e não me choca nada: foi realmente muito bonito.
Mundo Cão - há necessidade de cantar assim? Como um Manel Cruz nos primeiros tempos, com sotaque alfacinha em vez de tripeiro? E com letras que só fazem mesmo sentido se vociferadas pelo Canibal, que as escreve? Depois de ler a peça do
Correio da Manhã, concluo: não sei como há mulheres que gostam disto.
Linda Martini: muito bem, muito seguros. Um nadinha secantes. O costume, portanto.
Clap Your Hands Say Yeah: era cortar-lhes as mãozinhas. Indie pop pobrezinho, pobrezinho, servido pela voz do ceguinho que pede no metro. Pandeiretas e teclados tlim-tlim-tlim. A voz... a voz. Porque é que há gente que faz de propósito para ser irritante? Já não nos bastam aqueles que o são naturalmente?
Maxïmo Park - gosto muito do novo disco. Saí do concerto a gostar mais do Paul Smith do que das músicas. Deu-me vontade de gritar-lhes: «Calma! Toquem mais devagar!». Espero voltar a vê-los com menos pressa (os saltos podem ficar).
LCD Soundsystem - um ursinho de peluche vestido de pijama. Como é fofinho o James Murphy. E nisto já o pessoal está todo a dançar, mais do que nos Underworld. Uma pequena maravilha.
Anselmo Ralph - outra maravilha. R&B angolano igualzinho ao americano, mas em pobre e cómico. Pancadaria encenada em palco. Ninguém conta isso melhor que o
Cristiano Pereira.
Micro Audio Waves - moça muito séchi, música pop electrónica e animada. Podiam ter ido além dos 20 minutos que não me importaria.
X-Wife - não era concerto para as seis da tarde. Não é voz para as seis da tarde.
Gossip - faço minhas as palavras de uma colega, em conversa com outrém: «Experimenta ser uma mulher gorda, de vestido curto, em cima de um palco». A Beth Gossip experimentou e não quer outra coisa. Ainda bem.
TV On The Radio - adoro-os e não pude vê-los. Ao longe pareceu-me que não estava a ser bombástico...
Scissor Sisters - mais ou menos a mesma coisa que no Coliseu, ou seja, bastante bom.
Interpol - muito estilo e muita segurança. Onde os Bloc Party têm 2 ou 3 canções, estes têm 4 ou 5 (que se repetem ao longo dos respectivos discos). Mas ao menos são boas, essas 4 ou 5 músicas dos Interpol.
Underworld - algures na minha vida, confundi alguma coisa que realmente se tenha passado comigo com a banda-sonora do Trainspotting. Teria de me submeter a hipnose para entender como é que um percurso limpinho e sem espinhas como o meu encontrou tanta identificação numa música como «Born Slippy», mas não posso negar o fenómeno. Ouvi-la foi emocionante, o resto também não me soube mal.
Para o ano, se estiver viva e ainda não me tiver dedicado à jardinagem, lá estarei outra vez.