Há 13 anos
segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
Cinco aninhos é muita fruta
Ao contrário dos vizinhos VJ e Mourinha, não tenho por hábito assinalar o aniversário do Sofá Verde. Mas, ao ver que os blogues daqueles companheiros de teclanço já estão prestes a entrar na escola primária, fui verificar a cédula de nascimento do meu. E a verdade é que também já se passaram cinco anos sobre o complicado parto! (Teimei em erguer o blogue sozinha e, acreditem-me, em 2003 o processo não era tão intuitivo como hoje). Sem dramas nem grandes promessas, espero continuar deste lado por mais umas temporadas. Mi aguardem.
domingo, 28 de dezembro de 2008
As melhores frases do Natal
Uma das melhores prendas que recebi este Natal foi um caderninho de capa verde onde, graças à minha prendada memória, pude anotar algumas das mais inspiradas frases que se proferiram em Oliveira do Douro e arredores, nos últimos dias.
Boa parte das ditas saíram da bela dupla Tia Glorinda & Tio Zé; perdoem-me a insistência, mas recém-orfã de avós, tenho de me agarrar a esta castiça parceria na busca de material humorístico e brutalmente honesto.
Deixo-vos com um best of:
I. Discussão sobre o bolo rei (um clássico)
Breve sinopse: a minha tia comprou um bolo rei que o meu tio acha insuportavelmente seco. Não conseguem passar cinco minutos sem falar nisso. O auge da discussão acontece em modo «Costanzas» (ver pais do George C., in Seinfeld) e reza assim:
Glorinda: É bom.
Zé: É seco.
Glorinda: É bom.
Zé: É seco.
Glorinda: É bom.
Zé (colérico): É BOM MAS É SECO!!!
II. Considerações sobre uma sobrinha (deles) que é, no mínimo, a ovelha tresmalhada da família.
Glorinda: «Ficámos uma única vez na casa dela em Lisboa. Era calçado por todo o lado!»
Zé: «Tenho uma raiva àquele estupor! Foi um desgosto muito grande! Ela quando era pequena eu cheguei a dar-lhe uma bicicleta!»
Glorinda: «Não gosto da maneira como ela se veste agora, parece um fantoche. Não sei que religião é aquela...»; Zé, na resposta: «É dos países de Leste».
III. Em casa dos meus pais, olhando para a parede onde durante muitos anos viveu um quadro de uma mulher nua e onde agora está pendurada uma imagem mais inofensiva.
Glorinda para meu pai: «Isso que tens aí é para tapar os quadros de que tu gostas?»
IV. Sobre a doçaria tradicional de Natal (mais precisamente, declinando um prato de aletria).
Glorinda: «Massa com açúcar não é para mim».
V. Durante transmissão do programa de Natal da TVI.
Glorinda: «Andou muito. Eu também estou pequena porque andei muito» (sobre diminuta estatura da cantora Dina)
Zé: «Disto é que a mocidade gosta!» (comentando aplausos da plateia para garota que canta «Solta-se o Beijo» da Ala dos Namorados. O favorito dele era o miúdo que cantava «Olhos Castanhos» - «mas isso é porque conheço a canção», admitiu).
VI. O bulício da véspera de Natal e dos telefonemas (para o fixo, claro) de felicitações apoquenta-os.
Zé: «Tudo liga, tudo liga... Parece um ministério, carago!»
Posto isto há que dizer que a minha Tia faz as melhores rabanadas com Vinho Porto que alguma vez provei.
Boa parte das ditas saíram da bela dupla Tia Glorinda & Tio Zé; perdoem-me a insistência, mas recém-orfã de avós, tenho de me agarrar a esta castiça parceria na busca de material humorístico e brutalmente honesto.
Deixo-vos com um best of:
I. Discussão sobre o bolo rei (um clássico)
Breve sinopse: a minha tia comprou um bolo rei que o meu tio acha insuportavelmente seco. Não conseguem passar cinco minutos sem falar nisso. O auge da discussão acontece em modo «Costanzas» (ver pais do George C., in Seinfeld) e reza assim:
Glorinda: É bom.
Zé: É seco.
Glorinda: É bom.
Zé: É seco.
Glorinda: É bom.
Zé (colérico): É BOM MAS É SECO!!!
II. Considerações sobre uma sobrinha (deles) que é, no mínimo, a ovelha tresmalhada da família.
Glorinda: «Ficámos uma única vez na casa dela em Lisboa. Era calçado por todo o lado!»
Zé: «Tenho uma raiva àquele estupor! Foi um desgosto muito grande! Ela quando era pequena eu cheguei a dar-lhe uma bicicleta!»
Glorinda: «Não gosto da maneira como ela se veste agora, parece um fantoche. Não sei que religião é aquela...»; Zé, na resposta: «É dos países de Leste».
III. Em casa dos meus pais, olhando para a parede onde durante muitos anos viveu um quadro de uma mulher nua e onde agora está pendurada uma imagem mais inofensiva.
Glorinda para meu pai: «Isso que tens aí é para tapar os quadros de que tu gostas?»
IV. Sobre a doçaria tradicional de Natal (mais precisamente, declinando um prato de aletria).
Glorinda: «Massa com açúcar não é para mim».
V. Durante transmissão do programa de Natal da TVI.
Glorinda: «Andou muito. Eu também estou pequena porque andei muito» (sobre diminuta estatura da cantora Dina)
Zé: «Disto é que a mocidade gosta!» (comentando aplausos da plateia para garota que canta «Solta-se o Beijo» da Ala dos Namorados. O favorito dele era o miúdo que cantava «Olhos Castanhos» - «mas isso é porque conheço a canção», admitiu).
VI. O bulício da véspera de Natal e dos telefonemas (para o fixo, claro) de felicitações apoquenta-os.
Zé: «Tudo liga, tudo liga... Parece um ministério, carago!»
Posto isto há que dizer que a minha Tia faz as melhores rabanadas com Vinho Porto que alguma vez provei.
sábado, 27 de dezembro de 2008
Razões para gostar de música em 2009...
... ou mais uma odiosa lista (neste caso, de discos que me deram muito gosto ouvir nos últimos 12 meses):
American Music Club - The Golden Age
Silver Jews - Lookout Mountain, Lookout Sea
Foge Foge Bandido - O Amor Dá-me Tesão/Não Fui eu que Estraguei
Marcelo Camelo - Sou/Nós
Emily Jane White - Dark Undercoat
Dawn Landes - Fireproof
The Last Shadow Puppets - The Age of the Understatement
Calexico - Carried To Dust
The Cure - 4:13 Dream
dEUS - Vantage Point
Tindersticks - The Hungry Saw
The National - Virginia EP
Cat Power - Jukebox
Joan As Police Woman - To Survive
Josh Rouse - o best of!...
No Kids - Come Into My House
Cass McCombs - Dropping The Writ
Conor Oberst - Conor Oberst
The Walkmen - You and Me
MGMT - Oracular Spectacular
Erykah Badu - New Amerykah
Carla Bruni - Comme Si de Rien N'Était
TV On The Radio - Dear Science
Rui Reininho - Companhia das Índias
Department of Eagles - In Ear Park
Camané - Sempre de Mim
Minta - You (EP)
Projecto Fuga - Fuga 02
Lykke Li - Youth Novels
Beck - Modern Guilt
She & Him - Volume One
Dead Combo - Lusitânia Playboys
Adriana Calcanhotto - Maré
E mais uma imensidão de canções, sonzinhos e ameaças de música que a memória trai mas o coração não (ooh!). Que 2009 seja ainda mais pródigo e suculento musicalmente.
American Music Club - The Golden Age
Silver Jews - Lookout Mountain, Lookout Sea
Foge Foge Bandido - O Amor Dá-me Tesão/Não Fui eu que Estraguei
Marcelo Camelo - Sou/Nós
Emily Jane White - Dark Undercoat
Dawn Landes - Fireproof
The Last Shadow Puppets - The Age of the Understatement
Calexico - Carried To Dust
The Cure - 4:13 Dream
dEUS - Vantage Point
Tindersticks - The Hungry Saw
The National - Virginia EP
Cat Power - Jukebox
Joan As Police Woman - To Survive
Josh Rouse - o best of!...
No Kids - Come Into My House
Cass McCombs - Dropping The Writ
Conor Oberst - Conor Oberst
The Walkmen - You and Me
MGMT - Oracular Spectacular
Erykah Badu - New Amerykah
Carla Bruni - Comme Si de Rien N'Était
TV On The Radio - Dear Science
Rui Reininho - Companhia das Índias
Department of Eagles - In Ear Park
Camané - Sempre de Mim
Minta - You (EP)
Projecto Fuga - Fuga 02
Lykke Li - Youth Novels
Beck - Modern Guilt
She & Him - Volume One
Dead Combo - Lusitânia Playboys
Adriana Calcanhotto - Maré
E mais uma imensidão de canções, sonzinhos e ameaças de música que a memória trai mas o coração não (ooh!). Que 2009 seja ainda mais pródigo e suculento musicalmente.
Razões para gostar de ciganos
Esta, confesso, foi mais complicada. Mas de tudo se encontra, nesta quadra de boa vontade e excesso de açúcar no sangue.
A dois passos de minha casa, em Lisboa, abriu recentemente uma nova sapataria. Alojou-se no estabelecimento deixado vago por uma antiga papelaria e vende sobretudo sapatos, botas e malas de cores vivas e vistosas, não raras vezes com um aspecto plastificado.
Nos primeiros dias, vi umas moças ciganas a ajudarem nas mudanças. Mas só quando a sapataria abriu as portas ao público é que percebi que a loja era propriedade de uma família dessa etnia. «Ciganos em cativeiro!», espantei-me, prometendo entrar, um dia, na sapataria de nome desconhecido para experimentar umas botas que vi na montra.
A verdade é que esse dia está, ainda, por chegar. As moças que, inicialmente, ajudavam na sapataria devem ter desistido das suas tarefas, imagino eu que devido à fraca afluência de compradores. No seu lugar ficou um matulão que se planta ou à porta da sapataria, barrando a entrada, ou lá dentro, sentado num banquito que devia servir para as pessoas experimentarem o calçado, de perna aberta e ar ameaçador. O Tony Soprano à beira dele é um menino.
Eu, que tenho vergonha de entrar em lojas vazias, pior fico se a dita tiver um «segurança» daquele arcaboiço.
Ultimamente, o Sr. Soprano lembrou-se que talvez fosse boa ideia colocar informação sobre a mercadoria na montra. Mas, ao invés de apôr os preços a cada par de sapatos, optou antes por escrever um preço genérico e apoliá-lo para o meio de um ror de peças. Sabe Deus o que é que, dali, custa ou não 25 euros.
Mas foi graças a este inédito esforço de marquetingue e comunicação que percebi - muito a custo, é verdade, que a caligrafia é arenosa - o nome do estabelecimento. «Sapataria Samuel», escreveu o nosso amigo a esferográfica azul, nuns gatafunhos que me demoraram dias a decifrar.
A dois passos de minha casa, em Lisboa, abriu recentemente uma nova sapataria. Alojou-se no estabelecimento deixado vago por uma antiga papelaria e vende sobretudo sapatos, botas e malas de cores vivas e vistosas, não raras vezes com um aspecto plastificado.
Nos primeiros dias, vi umas moças ciganas a ajudarem nas mudanças. Mas só quando a sapataria abriu as portas ao público é que percebi que a loja era propriedade de uma família dessa etnia. «Ciganos em cativeiro!», espantei-me, prometendo entrar, um dia, na sapataria de nome desconhecido para experimentar umas botas que vi na montra.
A verdade é que esse dia está, ainda, por chegar. As moças que, inicialmente, ajudavam na sapataria devem ter desistido das suas tarefas, imagino eu que devido à fraca afluência de compradores. No seu lugar ficou um matulão que se planta ou à porta da sapataria, barrando a entrada, ou lá dentro, sentado num banquito que devia servir para as pessoas experimentarem o calçado, de perna aberta e ar ameaçador. O Tony Soprano à beira dele é um menino.
Eu, que tenho vergonha de entrar em lojas vazias, pior fico se a dita tiver um «segurança» daquele arcaboiço.
Ultimamente, o Sr. Soprano lembrou-se que talvez fosse boa ideia colocar informação sobre a mercadoria na montra. Mas, ao invés de apôr os preços a cada par de sapatos, optou antes por escrever um preço genérico e apoliá-lo para o meio de um ror de peças. Sabe Deus o que é que, dali, custa ou não 25 euros.
Mas foi graças a este inédito esforço de marquetingue e comunicação que percebi - muito a custo, é verdade, que a caligrafia é arenosa - o nome do estabelecimento. «Sapataria Samuel», escreveu o nosso amigo a esferográfica azul, nuns gatafunhos que me demoraram dias a decifrar.
Razões para gostar de lojas chinesas
Ao fundo da minha rua, em Lisboa, há uma loja de roupa «dos chineses» chamada Boutique Maria.
Tem, como qualquer loja de roupa dos chineses, as novidades mais aberrantes (a minha maior curiosidade é saber se há senhoras asiáticas a comprar - e usar! - aquelas cuecas fluorescentes com berloques) mas também uma ou outra peça para a mulher discreta e inteligente dos nossos dias. E depois há outras que são boas para mim.
Encontrava-me eu numa prospecção de camisolas leves, quentes e quase bonitas, quando uma senhora já-de-alguma-idade irrompe pela loja adentro perguntando, alto e bom som, à menina chinesa se ela tem «lecas, legas, legues ou lá o que é».
À falta de rigor da possível compradora juntou-se, para meu delírio, o pobre domínio do Português por parte da vendedora. Deu-lhes uma caixa de leggings para as mãos, é verdade, mas o diálogo que se seguiu devia ter sido gravado como exemplo de dificuldades de comunicação numa terra estranha (arriscava-me a dizer que estranha para as duas).
Primeiro, a senhora queria experimentar as «legas». A chinesa explicou-lhe, como conseguiu, que «não pode, não pode». «Não posso?», indigna-se a cliente. «Então como é que vou saber se me ficam bem?». A chinesinha pode não saber falar Português mas sabe o que dizer - já é um começo. «Fica bem, fica bem, cetêza!».
Pouco convencida, a mulher interroga-se então se as «lecas» não a farão parecer gorda.
«Golda não, máguela!», exclama a nossa heroína, repetidas vezes. «Golda não, máguela!».
Mas não ficarão demasiado justas, continua a apoquentar-se a mulherzinha, pouco familiarizada com o conceito de leggings que a vendedora lhe tenta explicar, num dialecto que deve tanto ao seu como às línguas eslavas e ao Esperanto do desenrascanço.
«CALÇAS LÁGUELAS, MEIAS IÚSTKAS! CALÇAS LÁGUELAS, MEIAS IÚSTKAS!»
Esforço inglório: a mulher acabou por sair da loja de forma tão intempestiva como nela entrou, sem nada comprar.
Tem, como qualquer loja de roupa dos chineses, as novidades mais aberrantes (a minha maior curiosidade é saber se há senhoras asiáticas a comprar - e usar! - aquelas cuecas fluorescentes com berloques) mas também uma ou outra peça para a mulher discreta e inteligente dos nossos dias. E depois há outras que são boas para mim.
Encontrava-me eu numa prospecção de camisolas leves, quentes e quase bonitas, quando uma senhora já-de-alguma-idade irrompe pela loja adentro perguntando, alto e bom som, à menina chinesa se ela tem «lecas, legas, legues ou lá o que é».
À falta de rigor da possível compradora juntou-se, para meu delírio, o pobre domínio do Português por parte da vendedora. Deu-lhes uma caixa de leggings para as mãos, é verdade, mas o diálogo que se seguiu devia ter sido gravado como exemplo de dificuldades de comunicação numa terra estranha (arriscava-me a dizer que estranha para as duas).
Primeiro, a senhora queria experimentar as «legas». A chinesa explicou-lhe, como conseguiu, que «não pode, não pode». «Não posso?», indigna-se a cliente. «Então como é que vou saber se me ficam bem?». A chinesinha pode não saber falar Português mas sabe o que dizer - já é um começo. «Fica bem, fica bem, cetêza!».
Pouco convencida, a mulher interroga-se então se as «lecas» não a farão parecer gorda.
«Golda não, máguela!», exclama a nossa heroína, repetidas vezes. «Golda não, máguela!».
Mas não ficarão demasiado justas, continua a apoquentar-se a mulherzinha, pouco familiarizada com o conceito de leggings que a vendedora lhe tenta explicar, num dialecto que deve tanto ao seu como às línguas eslavas e ao Esperanto do desenrascanço.
«CALÇAS LÁGUELAS, MEIAS IÚSTKAS! CALÇAS LÁGUELAS, MEIAS IÚSTKAS!»
Esforço inglório: a mulher acabou por sair da loja de forma tão intempestiva como nela entrou, sem nada comprar.
Razões para gostar de cães (e da Mary, claro!)
Histórias como esta ou qualquer outra protagonizada pela Bobina, a cadelinha mais amorosa dos Arneiros e arredores. (Bonito bonito era haver uma fotografia para ilustrar esta evidência...).
(Correcção: não há uma, mas duas fotografias, pois a Mary abriu o livro e eu não consigo decidir de qual destas imagens gosto mais. Você escolha!)
(Correcção: não há uma, mas duas fotografias, pois a Mary abriu o livro e eu não consigo decidir de qual destas imagens gosto mais. Você escolha!)
Razões para gostar do Grande Porto
A nossa ideia era apenas trocar uma balança de cozinha que, cheia de boa vontade e antecipação, a minha irmã comprou - em Novembro - para me oferecer no Natal. Garrida e modernaça, a bicha não funcionava: ou como eu e a minha mãe tentámos amadoramente explicar à menina da caixa na secção de utilidades do Corte Inglés, «não vai ao zero».
De cabelo meticulosamente liso e unhas impecáveis, a moça tentou contrariar a mania da balança, sem sucesso. De seguida, mostrou-nos alternativas que, além de complicadíssimas (ainda agora estou para saber para que serve uma balança que implica uns bons cinco minutos de explicações, somas e subtracções), excediam em muito o plafond do presente original.
Enquanto a funcionária preparava o cartão que permitirá à minha mãe comprar, a partir de Segunda-feira, qualquer objecto que lhe apeteça naquele gigantesco marmarracho a meio da avenida, uma senhora a meu lado olha para mim com indisfarçável curiosidade. «Não é irmã da Vânia?», atira poucos segundos depois.
Confirmo o parentesco e logo a minha mãe percebe estar na presença da «amiga da Eunice». Eunice é a mãe da melhor amiga da minha irmã, e esta não vai ficar nada contente quando souber que basta a alguém que nunca me conheceu ver-me de perfil para perceber as parecenças.
No primeiro dia depois do Natal, o Corte Inglés de Gaia está numa azáfama que a minha mãe, amiga da hipérbole, compara à do São João. Grandes cartazes à entrada anunciam que estamos em plena «Black Friday - O Crash dos Preços!». Questiono a pertinência de trocadilhos com a crise da bolsa em 1929, no final de um ano em que as palavras mais ouvidas em todos os noticiários foram ou «crise», ou «apesar da crise». Mas a ironia escapa ao povo que, em polvorosa, sobe e desce as escadas rolantes consoante as novas promoções anunciadas a cada hora. «Às 16h, colchões da Moviflor a 200 euros. É o Craish dos Préiços», diz a menina no altifalante, num adorável sotaque local.
Enquanto esperamos a camioneta para casa, uma senhora com ar de poucos amigos grita ao telemóvel. Vai, segundo ela, «cortar o pio» à irmã. «Eu sei que ela é minha irmã mas tem uma língua muito porca. Vou amarfanhá-la toda!», era a sua promessa. Também havia um automóvel metido ao barulho. «O carro está no nome dela mas é meu!», berra a pequenita mulher, para risada pouco disfarçada dos companheiros de paragem.
«Até a percebo», desabafa uma senhora para a minha mãe. «Na minha família também somos oito irmãos». Coincidência! Na da minha mãe também (apesar de, este ano, ter morrido um). Mas parece que as semelhanças acabam por aí. «Nenhum deles fala para mim!», revela a nossa interlocutora. «Mas eu até prefiro assim. Só quero que Deus me deia saúde para trabalhar e sustentar as minhas filhas». A minha mãe acena que sim. «Aos meus irmãos só me apetece corrê-los à pezada», são as últimas palavras que ouvimos à nossa amiga de ocasião, antes de as suas pernas sapudas a meterem dentro de uma camioneta dos Carvalhos.
De cabelo meticulosamente liso e unhas impecáveis, a moça tentou contrariar a mania da balança, sem sucesso. De seguida, mostrou-nos alternativas que, além de complicadíssimas (ainda agora estou para saber para que serve uma balança que implica uns bons cinco minutos de explicações, somas e subtracções), excediam em muito o plafond do presente original.
Enquanto a funcionária preparava o cartão que permitirá à minha mãe comprar, a partir de Segunda-feira, qualquer objecto que lhe apeteça naquele gigantesco marmarracho a meio da avenida, uma senhora a meu lado olha para mim com indisfarçável curiosidade. «Não é irmã da Vânia?», atira poucos segundos depois.
Confirmo o parentesco e logo a minha mãe percebe estar na presença da «amiga da Eunice». Eunice é a mãe da melhor amiga da minha irmã, e esta não vai ficar nada contente quando souber que basta a alguém que nunca me conheceu ver-me de perfil para perceber as parecenças.
No primeiro dia depois do Natal, o Corte Inglés de Gaia está numa azáfama que a minha mãe, amiga da hipérbole, compara à do São João. Grandes cartazes à entrada anunciam que estamos em plena «Black Friday - O Crash dos Preços!». Questiono a pertinência de trocadilhos com a crise da bolsa em 1929, no final de um ano em que as palavras mais ouvidas em todos os noticiários foram ou «crise», ou «apesar da crise». Mas a ironia escapa ao povo que, em polvorosa, sobe e desce as escadas rolantes consoante as novas promoções anunciadas a cada hora. «Às 16h, colchões da Moviflor a 200 euros. É o Craish dos Préiços», diz a menina no altifalante, num adorável sotaque local.
Enquanto esperamos a camioneta para casa, uma senhora com ar de poucos amigos grita ao telemóvel. Vai, segundo ela, «cortar o pio» à irmã. «Eu sei que ela é minha irmã mas tem uma língua muito porca. Vou amarfanhá-la toda!», era a sua promessa. Também havia um automóvel metido ao barulho. «O carro está no nome dela mas é meu!», berra a pequenita mulher, para risada pouco disfarçada dos companheiros de paragem.
«Até a percebo», desabafa uma senhora para a minha mãe. «Na minha família também somos oito irmãos». Coincidência! Na da minha mãe também (apesar de, este ano, ter morrido um). Mas parece que as semelhanças acabam por aí. «Nenhum deles fala para mim!», revela a nossa interlocutora. «Mas eu até prefiro assim. Só quero que Deus me deia saúde para trabalhar e sustentar as minhas filhas». A minha mãe acena que sim. «Aos meus irmãos só me apetece corrê-los à pezada», são as últimas palavras que ouvimos à nossa amiga de ocasião, antes de as suas pernas sapudas a meterem dentro de uma camioneta dos Carvalhos.
Razões para gostar de velhos
A minha Tia Glorinda é «incapaz de tomar um café ao balcão». Prometeu que, quando estivessem concluídas as obras na estação das Devesas (Gaia), iria ver ao vivo o resultado de tal empresa. «E fui», garante, muito recta e austera, apesar da corcunda que, de Natal para Natal, se avoluma. Qual não foi o espanto da irmã da minha avó quando percebeu que, no bar da nova estação, café só ao balcão. Atravessou a rua e tomou o cimbalino num café vizinho, antes de voltar ao Canidelo, onde nunca deixou de viver. Vermelhão e inchado, o meu Tio Zé, caixeiro viajante reformado, indigna-se: «Não tomas café ao balcão?! E se não houvesse outro?!», interroga-a, pedacinhos de bolo-rei projectados da sua boca à medida de uma fúria sempre prestes a explodir. «Andava sempre e não tomava!», riposta a minha Tia Glorinda, para quem a expressão «firme e hirta» parece ter sido inventada.
À saída, a minha mãe ofereceu-lhes umas quantas peças de roupa, entre as quais um pullover preto de homem. «Não sei se o Tio gosta, é preto...», disse, a medo, a dona da casa. «Gosto gosto!!», vociferou ele de imediato, agarrando na peça de malha. «Já fica para quando ficar viúvo». A minha tia, portento de seriedade, achou graça e riu.
À saída, a minha mãe ofereceu-lhes umas quantas peças de roupa, entre as quais um pullover preto de homem. «Não sei se o Tio gosta, é preto...», disse, a medo, a dona da casa. «Gosto gosto!!», vociferou ele de imediato, agarrando na peça de malha. «Já fica para quando ficar viúvo». A minha tia, portento de seriedade, achou graça e riu.
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
Eu sei que já não faz grande sentido, mas...
... mas lisabel acende velinhas, faz figas, vai a Fátima a pé, sonha acordada e fica ligeira e subitamente acelerada com esta possibilidade do Demo.
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Queijo congelado
Não, ainda não foi desta que o senhor director nos cancelou o programa. Hoje até fomos fazê-lo com a temperatura atroz que se registava à noite, em Lisboa. Já não tinha tanto frio desde que fui a Viseu no Inverno. Boa Noite e um Queijo para ouvir, aqui.
domingo, 23 de novembro de 2008
Portugal - Brasil
Sexta à noite, espero o autocarro em Belém, frente aos pastéis de. Tenho música nos ouvidos mas, ainda assim, consigo escutar a conversa de duas adolescentes atrás de mim - um «tipo!» de dois ou dois suspiros a fazer-me pensar como é engraçado que, estando o nosso português tão longe do do Brasil, os brasileiros (ou pelo menos os paulistas) tenham adoptado, como nós, a bengala «tipo» para equivalente do execrável «like», dos americanos.
Nem de propósito, nisto chega um casal brasileiro com ar de turista e um filho pequeno. O senhor está atrapalhado porque quer perguntar por alguma coisa cujo nome «luso» desconhece. As miúdas do «tipo!» olham para ele como um boi para um palácio. Tiro os phones e lá digo ao senhor que o «bonde» se apanha na paragem a seguir e tem o número 15. Ele agradece com desproporcional gratidão e segue para a dita paragem.
Atrás de mim, as duas amigas demoram alguns segundos até perceberem o que tinha acabado de se passar. Quando a luz se lhe acende, exclamam não sem algum desdém: «Ah, o eléctrico!».
Outras coisas bonitas com Brasil dentro, esta semana: procurei nas internétes por relatos da passagem recente dos National por terras de Vera Cruz.
Diverte-me ler reportagens de concertos em locais onde a rapaziada ainda é pouco conhecida, pois nota-se um esforço maior em descrever e contextualizar a música, a banda, os tiques dos artistas.
E haverá forma mais cómica (e certeira) de descrever o Matt Berninger do que com os «três foguetes» que encerram este texto: «Pesadão. Neurótico. Maneiro»? Valeu, cara.
Texto completo, que vale a pena ler por pérolas como «A certa altura do show, alguém jogou no palco uma canga que tinha como estampa a bandeira do Brasil. Depois de agradecer, Berninger pegou aquele pano e fez com ele uma gravata. Foi como se tivesse arranjado algo mais para se prender, entende?», espera por vós aqui.
Nem de propósito, nisto chega um casal brasileiro com ar de turista e um filho pequeno. O senhor está atrapalhado porque quer perguntar por alguma coisa cujo nome «luso» desconhece. As miúdas do «tipo!» olham para ele como um boi para um palácio. Tiro os phones e lá digo ao senhor que o «bonde» se apanha na paragem a seguir e tem o número 15. Ele agradece com desproporcional gratidão e segue para a dita paragem.
Atrás de mim, as duas amigas demoram alguns segundos até perceberem o que tinha acabado de se passar. Quando a luz se lhe acende, exclamam não sem algum desdém: «Ah, o eléctrico!».
Outras coisas bonitas com Brasil dentro, esta semana: procurei nas internétes por relatos da passagem recente dos National por terras de Vera Cruz.
Diverte-me ler reportagens de concertos em locais onde a rapaziada ainda é pouco conhecida, pois nota-se um esforço maior em descrever e contextualizar a música, a banda, os tiques dos artistas.
E haverá forma mais cómica (e certeira) de descrever o Matt Berninger do que com os «três foguetes» que encerram este texto: «Pesadão. Neurótico. Maneiro»? Valeu, cara.
Texto completo, que vale a pena ler por pérolas como «A certa altura do show, alguém jogou no palco uma canga que tinha como estampa a bandeira do Brasil. Depois de agradecer, Berninger pegou aquele pano e fez com ele uma gravata. Foi como se tivesse arranjado algo mais para se prender, entende?», espera por vós aqui.
O falso sismo
Trágico teria sido ontem, Sábado lindíssimo de sol por todo o lado, haver realmente uma desgraça qualquer e os meios de socorro estarem todos ocupados com o simulacro de terramoto.
Felizmente nada aconteceu (a não ser as «entidades responsáveis» confirmarem as deficiências de que já suspeitavam, no sistema), pelo que a minha preocupação é outra. Desde quando é que se tornou aceitável usar a expressão «colapsar» para referir derrocadas de edifícios?
Vi umas duas ou três jornalistas a falarem no número fictício de vítimas e danos materiais, e todas mencionaram, também, a quantidade de prédios que «colapsaram» com o abanão imaginado.
Assim de repente, eu, que acalento o débil sonho de que os meus filhos ainda falem português, usaria a «derrocada» ou o «desabamento». Mas é só uma sugestão.
Felizmente nada aconteceu (a não ser as «entidades responsáveis» confirmarem as deficiências de que já suspeitavam, no sistema), pelo que a minha preocupação é outra. Desde quando é que se tornou aceitável usar a expressão «colapsar» para referir derrocadas de edifícios?
Vi umas duas ou três jornalistas a falarem no número fictício de vítimas e danos materiais, e todas mencionaram, também, a quantidade de prédios que «colapsaram» com o abanão imaginado.
Assim de repente, eu, que acalento o débil sonho de que os meus filhos ainda falem português, usaria a «derrocada» ou o «desabamento». Mas é só uma sugestão.
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Sol de Inverno
Lista de coisas que me apetecia estar a fazer, numa tarde em que o sol entra de mansinho pela janela do escritório e me deixa (ainda) mais moliquenta.
1. Espreguiçar-me
2. Comer castanhas
3. Aquecer as mãos numa chávena de chá a escaldar
4. Comer bolo de limão
5. Fazer bolos
6. Ler os jornais e os suplementos do dia
7. Fazer qualquer coisa com o mar por perto (exclui afogar-me)
8. Ouvir música
9. Esparramar-me no sofá com uma manta por cima
10. Perder tempo num café de bairro, a ver os vizinhos passar
Estou certa que a opção «trabalhar» também me cutuca o subconsciente, mas não sei porquê, nesta primeira triagem, não me está a aparecer.
1. Espreguiçar-me
2. Comer castanhas
3. Aquecer as mãos numa chávena de chá a escaldar
4. Comer bolo de limão
5. Fazer bolos
6. Ler os jornais e os suplementos do dia
7. Fazer qualquer coisa com o mar por perto (exclui afogar-me)
8. Ouvir música
9. Esparramar-me no sofá com uma manta por cima
10. Perder tempo num café de bairro, a ver os vizinhos passar
Estou certa que a opção «trabalhar» também me cutuca o subconsciente, mas não sei porquê, nesta primeira triagem, não me está a aparecer.
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Envelhecer bem
Desculpai a presente penúria de palavras. Mas a mini-gótica que há em mim - e que ainda hoje acordou com um cabelo eriçadíssimo e impossível de domar - delira com esta nova cançoneta dos Cure.
Chama-se «Underneath The Stars» e dá todo um novo sentido à expressão «languidez».
As fotos do Dean Chalkley para o NME também estão à maneira.
Chama-se «Underneath The Stars» e dá todo um novo sentido à expressão «languidez».
As fotos do Dean Chalkley para o NME também estão à maneira.
Humor negro
É com alguma curiosidade que reparo que todos vestidos que comprei em 2008 - um comprido, de Verão, com motivos indianos; outro também longo, mas de Inverno e com berloques vermelhos; um último mais curto e de malha - têm uma coisa em comum: são pretos. Nada de mais sensato, da minha parte, tendo em conta o anormal número de funerais a que tive de ir nos últimos meses.
2009
No próximo ano não vai ser tão complicado escolher o melhor álbum da temporada.
Um candidato que já é, praticamente, vencedor:
Um candidato que já é, praticamente, vencedor:
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
Boa Noite e um Queijo (mais um)
Quantas serão já as emissões do Boa Noite e um Queijo, desde que nasceu nos acolhedores estúdios-moradia da saudosa Química FM? Não sei, mas posso garantir que muito poucas foram as vezes em que nada, ou quase nada, correu mal. Desta vez, não nos esquecemos dos discos nem o leitor de pens encravou nem a chave da rádio se extraviou. A prova, esperamos nós, pode ser ouvida aqui.
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
Close To Paradise
Aquele disquinho de que falei aqui, há coisa de um ano, ao qual o autor chamou Close To Paradise, é só um dos meus álbuns favoritos dos últimos tempos. Regresso sempre a ele com a mesma sensação de descoberta e, ao mesmo tempo, de grande familiaridade e conforto. Suponho que seja suficiente para o trazer junto do coração e repetir, aqui, a recomendação.
Claro que quem tira fotos destas também não há-de ser má pessoa de todo.
Claro que quem tira fotos destas também não há-de ser má pessoa de todo.
Baixas (algumas das)
Mal posso esperar que 2008 acabe, passe, desapareça, se esfume numa memória qualquer, distante de mim.
Quando a minha cozinha era mais bonita:
Mélinho, tão digno e misterioso na partida como no adeus.
Quando a minha cozinha era mais bonita:
Mélinho, tão digno e misterioso na partida como no adeus.
Surreal RTP
Dois momentos me ficaram na retina pelos piores motivos, no dia de ontem, ambos pela mão da RTP.
Primeiro, a Marta Leite Castro (oh não, outra vez) a entrevistar o Toy com a habitual cabecita pendente de Bambi (ela, não ele). Ele dedicou-lhe o hit «Sensual», cuja letra ela conhecia, e falou-lhe de religião, e pegou-lhe nas mãozinhas.
Se ainda conservam o jantar no bucho, preparem-se para mais esta. No programa «A Minha Geração», da Catarina Furtado, desta feita dedicado à longínqua década de 90, actuou a Whigfield (aquela loura de trancinhas que, andava eu no liceu, se penteava frente ao espelho em preparação de uma louca «Saturday Night»).
Como se terão lembrado dela? E a que propósito a terão convidado para fazer um playback na RTP, num Domingo à noite? Sabe Deus (e o erário público).
Ainda melhor que esta surpresa, coroada em grande glória pelo «da di da da» que celebrizou a dinamarquesa, foi a entrevista conduzida, no final, pela Catarina Furtado.
Depois de desenterrar um «one hit wonder» da eurodance de quem mais ninguém se lembraria, pagando-lhe certamente de modo principesco, quis a RTP agradecer a Whigfield pela visita, a revelar grande «generosidade» por parte da cantora. Diz que na véspera foram as duas, escandinava mais Furtado, para a Moda Lisboa. Deus a abençoe.
Primeiro, a Marta Leite Castro (oh não, outra vez) a entrevistar o Toy com a habitual cabecita pendente de Bambi (ela, não ele). Ele dedicou-lhe o hit «Sensual», cuja letra ela conhecia, e falou-lhe de religião, e pegou-lhe nas mãozinhas.
Se ainda conservam o jantar no bucho, preparem-se para mais esta. No programa «A Minha Geração», da Catarina Furtado, desta feita dedicado à longínqua década de 90, actuou a Whigfield (aquela loura de trancinhas que, andava eu no liceu, se penteava frente ao espelho em preparação de uma louca «Saturday Night»).
Como se terão lembrado dela? E a que propósito a terão convidado para fazer um playback na RTP, num Domingo à noite? Sabe Deus (e o erário público).
Ainda melhor que esta surpresa, coroada em grande glória pelo «da di da da» que celebrizou a dinamarquesa, foi a entrevista conduzida, no final, pela Catarina Furtado.
Depois de desenterrar um «one hit wonder» da eurodance de quem mais ninguém se lembraria, pagando-lhe certamente de modo principesco, quis a RTP agradecer a Whigfield pela visita, a revelar grande «generosidade» por parte da cantora. Diz que na véspera foram as duas, escandinava mais Furtado, para a Moda Lisboa. Deus a abençoe.
Maldadezita sem maldade
Estão em grande o Nick Valensi e o Albert Hammond Jr., no disco d' Os Pontos Negros.
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
Boa Noite e um Queijo
Na semana passada não ficou gravado. Esta semana, quase não acontecia. Mas está aqui, pronto a servir, em versão amanteigada.
terça-feira, 7 de outubro de 2008
Honest things, they last
Raramente os press releases servem para alguma coisa. Minto: se nos telefonam e temos de anotar alguma coisa, a face em branco pode revelar-se útil. Quando queremos ocultar as manchas de café no tampo da secretária e não temos lenços de papel, também é bom termos uma dessas coisas por perto. Mas na maior parte dos casos, pouca utilidade têm essas palavras mal amanhadas por alguém que do objecto em causa (disco, filme, cabaz de Natal) nada percebe.
Não é o caso, por incrível que pareça, do textinho que acompanha o novo (e primeiro) best of do Josh Rouse.
Para já, para escrevê-lo houve um senhor que foi falar com o artista a um parque em Nova Iorque, num dia de vento fresquinho. O cenário faz sentido. Depois, dá ao texto o título de «It's an honest thing and honest things, they last», deixa da última música do 1972, a hipercalórica «Rise». A coisa promete, vê-se que o homem percebe da poda e soube escolher uma frase bem representativa da obra do Señor Rouse (agora vive em Espanha).
O Josh Rouse é, dizem as más línguas, um dos artistas mais sensaborões a merecer a minha estima. Eu até posso concordar, mas prefiro não lutar contra a boa disposição, os sorrisos e as palminhas que cada uma destas músicas causam em mim mesmo antes da chegada de cada refrão, redondo e perfeitinho. Depois há toda a questão, ainda mais choninhas, das lembranças que canções como «Laughter», «Feeling No Pain» ou «Come Back (Light Therapy)» despertam no meu cérebro apatetado.
Assim de repente: passeios com a Mary-John ao fim-de-semana, de carro na Marginal; noites coladas ao rádio a ouvir os programas do Miguel Quintão; subir a Rua do Carmo, sem pressas, em tardes de sol, rumo ao meu primeiro local de trabalho; os primeiros - e melhores - tempos de camaradagem, amizade e palhaçada no Cotonete; um belo e inesperado concerto na Aula Magna, que vi com a Martens e outros bons amigos, poucos dias antes de deixar o local onde trabalhei que nem uma moura durante cinco anos.
Podia continuar, mas acho que já perceberam a ideia. E que me caia uma resma de comunicados de imprensa na cabeça se isto não é verdade: desde que comecei a escrever este post, a chuva parou de cair.
Não é o caso, por incrível que pareça, do textinho que acompanha o novo (e primeiro) best of do Josh Rouse.
Para já, para escrevê-lo houve um senhor que foi falar com o artista a um parque em Nova Iorque, num dia de vento fresquinho. O cenário faz sentido. Depois, dá ao texto o título de «It's an honest thing and honest things, they last», deixa da última música do 1972, a hipercalórica «Rise». A coisa promete, vê-se que o homem percebe da poda e soube escolher uma frase bem representativa da obra do Señor Rouse (agora vive em Espanha).
O Josh Rouse é, dizem as más línguas, um dos artistas mais sensaborões a merecer a minha estima. Eu até posso concordar, mas prefiro não lutar contra a boa disposição, os sorrisos e as palminhas que cada uma destas músicas causam em mim mesmo antes da chegada de cada refrão, redondo e perfeitinho. Depois há toda a questão, ainda mais choninhas, das lembranças que canções como «Laughter», «Feeling No Pain» ou «Come Back (Light Therapy)» despertam no meu cérebro apatetado.
Assim de repente: passeios com a Mary-John ao fim-de-semana, de carro na Marginal; noites coladas ao rádio a ouvir os programas do Miguel Quintão; subir a Rua do Carmo, sem pressas, em tardes de sol, rumo ao meu primeiro local de trabalho; os primeiros - e melhores - tempos de camaradagem, amizade e palhaçada no Cotonete; um belo e inesperado concerto na Aula Magna, que vi com a Martens e outros bons amigos, poucos dias antes de deixar o local onde trabalhei que nem uma moura durante cinco anos.
Podia continuar, mas acho que já perceberam a ideia. E que me caia uma resma de comunicados de imprensa na cabeça se isto não é verdade: desde que comecei a escrever este post, a chuva parou de cair.
Oh rainy day
Até parece mal, mas não há nesse maná de vídeos que é o YouTube um único clipe com a música que hoje gostava de vos dar - «Sit and Listen To The Rain», uma das mais bonitas dos Whiskeytown (a antiga banda do transviado Ryan Adams).
Estranhamente encontrei o vídeo de uma moça americana a fazer a sua própria versão da musiqueta, munida de guitarra acústica e comentários lamurientos sobre o estado do tempo na altura em que gravou o clipe. «I'm a moron, in case you haven't noticed», diz ela a certa altura. Às vezes gostava de avançar uns anos para ver a figura que andamos todos a fazer com estas «novas» tecnologias, com um distanciamento (ainda mais) crítico.
Entretanto, se estiverem registados no Last FM podem ouvir o «Sit and Listen To The Rain» aqui. Acompanhar com chá quente e um temperamento melancólico.
Estranhamente encontrei o vídeo de uma moça americana a fazer a sua própria versão da musiqueta, munida de guitarra acústica e comentários lamurientos sobre o estado do tempo na altura em que gravou o clipe. «I'm a moron, in case you haven't noticed», diz ela a certa altura. Às vezes gostava de avançar uns anos para ver a figura que andamos todos a fazer com estas «novas» tecnologias, com um distanciamento (ainda mais) crítico.
Entretanto, se estiverem registados no Last FM podem ouvir o «Sit and Listen To The Rain» aqui. Acompanhar com chá quente e um temperamento melancólico.
domingo, 5 de outubro de 2008
Adeus amigo
Se isto não é típico deste país o meu nome não é Lisabel.
Anda tudo preocupado com o casamento gay, a crise económica e o declínio do FCP quando, mesmo nas nossas barbas, uma barbaridade foi perpetrada.
Aposto que foi pela madrugada que «eles» fizeram isto. A mim já me tinham contado, mas só ontem tive coragem para confirmar a calamidade com os meus próprios olhos.
O boneco do Multibanco, esse amigo de todas as horas, foi substituído - à socapa, claro está - por uma versão «mais jovem, dinâmica e divertida», tem o site da SIBS o desplante de anunciar.
Na entrevista-relâmpago na mesma página, o bicho - frio, inexpressivo, adivinha-se que insensível - mostra a sua raça. Egocêntrico («A novidade sou eu»), vaidoso («Não estou giro?»), sem qualquer discernimento no uso da pontuação... uma lástima, com a qual teremos de conviver diariamente a partir de agora.
Será que alguém perguntou ao antigo detentor deste nobre cargo se estava cansado? Alguém o avisou que a reforma o esperava, sem apelo nem agravo, depois de 18 anos a dar guito à malta, sempre com aquele sorriso tolinho de quem não faz perguntas e não se acha o maior da rua dele?
Porque o antigo boneco do multibanco, meus amigos, tinha personalidade. E uma consciência sindical - em tempos deu uma entrevista à revista 365 (sim, não era como este, que só fala em modo de comunicado oficial) onde mostrava que dentro daquele corpinho rectangular e verde alface vivia um trabalhador como todos nós. Com um ou outro deslize efeminado (ai aquela perninha de ladeiro...), olhos a tremer assimetricamente em dias de maior stress ou cafeína, a ocasional moquita para esquecer a rotina (quem nunca o viu com aquela efémera e deliciosa expressão de ganzado?). Mas era tudo isto que fazia dele um companheiro tão especial.
Adeus, boneco do multibanco, não te esqueceremos. Espero que te tenhas afiambrado às poupanças dos pulhas que te fizeram isto e que gozes muito o descanso a que te forçaram.
Olhai que rico, ele ganzadito:
O tratante que o veio substituir:
Anda tudo preocupado com o casamento gay, a crise económica e o declínio do FCP quando, mesmo nas nossas barbas, uma barbaridade foi perpetrada.
Aposto que foi pela madrugada que «eles» fizeram isto. A mim já me tinham contado, mas só ontem tive coragem para confirmar a calamidade com os meus próprios olhos.
O boneco do Multibanco, esse amigo de todas as horas, foi substituído - à socapa, claro está - por uma versão «mais jovem, dinâmica e divertida», tem o site da SIBS o desplante de anunciar.
Na entrevista-relâmpago na mesma página, o bicho - frio, inexpressivo, adivinha-se que insensível - mostra a sua raça. Egocêntrico («A novidade sou eu»), vaidoso («Não estou giro?»), sem qualquer discernimento no uso da pontuação... uma lástima, com a qual teremos de conviver diariamente a partir de agora.
Será que alguém perguntou ao antigo detentor deste nobre cargo se estava cansado? Alguém o avisou que a reforma o esperava, sem apelo nem agravo, depois de 18 anos a dar guito à malta, sempre com aquele sorriso tolinho de quem não faz perguntas e não se acha o maior da rua dele?
Porque o antigo boneco do multibanco, meus amigos, tinha personalidade. E uma consciência sindical - em tempos deu uma entrevista à revista 365 (sim, não era como este, que só fala em modo de comunicado oficial) onde mostrava que dentro daquele corpinho rectangular e verde alface vivia um trabalhador como todos nós. Com um ou outro deslize efeminado (ai aquela perninha de ladeiro...), olhos a tremer assimetricamente em dias de maior stress ou cafeína, a ocasional moquita para esquecer a rotina (quem nunca o viu com aquela efémera e deliciosa expressão de ganzado?). Mas era tudo isto que fazia dele um companheiro tão especial.
Adeus, boneco do multibanco, não te esqueceremos. Espero que te tenhas afiambrado às poupanças dos pulhas que te fizeram isto e que gozes muito o descanso a que te forçaram.
Olhai que rico, ele ganzadito:
O tratante que o veio substituir:
quinta-feira, 2 de outubro de 2008
Vozes
A Menina Alice anda com esta lengalenga na cabeça.
Eu desde Sábado que não consigo ultrapassar isto:
«Tall Saint, I'm devoted with a glass of champagne to you
Bubbles to the chandelier
(...)
In my city I didn't make a sound
When I fell over and cracked my crown
Heard a woman say "stay down champion, stay down"»
Oh senhores, deixai lá de mandar mensagens telepáticas para a nossa cabeça, sim? Nós, os pobres, temos de trabalhar.
Eu desde Sábado que não consigo ultrapassar isto:
«Tall Saint, I'm devoted with a glass of champagne to you
Bubbles to the chandelier
(...)
In my city I didn't make a sound
When I fell over and cracked my crown
Heard a woman say "stay down champion, stay down"»
Oh senhores, deixai lá de mandar mensagens telepáticas para a nossa cabeça, sim? Nós, os pobres, temos de trabalhar.
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Três canções
Três canções deste ano com o sol - ou o céu, depende do dia - lá dentro:
El cielo es azul
Just don't go telling everyone - Conor Oberst em «Eagle On A Pole»
Vê que o sol ainda brilha, ainda tem por onde arder
Não é mau, não é bom, são razões para viver - Foge Foge Bandido em «Borboleta»
Wake up, wake up the sky’s already blue
It doesn’t matter what you do, what you do - American Music Club em «John Berchman Victory Choir»
Para ouvir as músicas? Tentem apanhar, amanhã, o regresso do Boa Noite e um Queijo.
El cielo es azul
Just don't go telling everyone - Conor Oberst em «Eagle On A Pole»
Vê que o sol ainda brilha, ainda tem por onde arder
Não é mau, não é bom, são razões para viver - Foge Foge Bandido em «Borboleta»
Wake up, wake up the sky’s already blue
It doesn’t matter what you do, what you do - American Music Club em «John Berchman Victory Choir»
Para ouvir as músicas? Tentem apanhar, amanhã, o regresso do Boa Noite e um Queijo.
sábado, 27 de setembro de 2008
Objectivos de vida
Olhando para os últimos posts, noto com satisfação que um dos meus objectivos de vida - polvilhar toda e qualquer prosa com citações do Manel Cruz - está a ser cumprido sem esforço aparente.
Para breve: tentar contrariar o acordo ortográfico passando a escrever como o meu avô escrevia. Acabaram-se os «ff» em pharmácia, para mim.
Para breve: tentar contrariar o acordo ortográfico passando a escrever como o meu avô escrevia. Acabaram-se os «ff» em pharmácia, para mim.
No one here is gonna save you
Não saberia muito bem o que dizer, se me perguntassem porque é que gosto tanto do Mark Eitzel.
Para despachar a questão em poucas palavras, e nunca faltando à verdade, podia responder que o considero um escritor de canções formidável, um letrista milagroso, um cantor imaculado. É a minha voz favorita - diria eu, e acho que isso era sentença para rematar qualquer argumentação. Sem nunca faltar à verdade, repito.
Mas não estaria a dizer tudo. Por que razão à meia-noite de Sexta-feira me encontro eu sozinha na sala de espera dos cacilheiros do Tejo, com o Oceano Pacífico da RFM como única companhia?
Há mais qualquer coisa no Mark Eitzel que me atrai e me impele a não dispensar um concerto, sempre que seja (minimamente) possível lá chegar.
Talvez seja o facto de, entre ele e o velho tolinho que, na viagem de barco para o Barreiro, gritava «Baixem os cornos!», não haver assim tanta diferença. Quando cheguei ao auditório onde a banda ia tocar, ainda surpreendida com o facto de ter dado com o sítio, vejo um gigante de boné e camisa aos quadrados junto a um laguinho de água suja, com patos. Era o Mark Eitzel a falar com os seus músicos, julgo. Rindo e esbracejando, diz quem sabe que entusiasmado com o jantar bem regado que trazia no bucho.
Por mais de uma vez falei com o senhor. Desta feita a timidez levou a melhor e para chegar ao café até fui à volta. Depois passei o concerto com vontade de lhe dar um abraço, uma palavra de carinho, um cafuné. Não é pena que sinto pelo Mark Eitzel, mas uma empatia tão grande que raia a ternura. Empatizo muito com gente humana, e a humanidade do Mark Eitzel é tão grande e desengonçada como o seu corpo embrulhado num fato de fraco corte.
Mas quando canta, ele abandona qualquer humanidade, qualquer mortalidade, e é simplesmente uma voz a pairar acima do palco, acima das estrelas (que ele canta neste último disco dos AMC), acima dos seus pés de barro de palhaço pobre de uma terra maldita, que adora.
«Quem me dera que San Francisco se separasse da América e se tornasse um país independente», diz a certa altura. «Portugal is so free», desabafa noutro momento.
Saio sempre bem de um concerto dele. «Podia ser um Guimarães dos pobres», disse-lhes eu, esperançosa, quando cheguei. Não estavam lá comigo, e fez diferença. Mas lá diz o Outro, e (sempre) com razão: Amar é bom se houver/No fundo de um de nós alguma solidão.
Apesar da mitralhada que se veio a embebedar no bar do cacilheiro, no caminho de volta, estava bonito o rio à noite.
(foto da incrível Vera Marmelo)
Para despachar a questão em poucas palavras, e nunca faltando à verdade, podia responder que o considero um escritor de canções formidável, um letrista milagroso, um cantor imaculado. É a minha voz favorita - diria eu, e acho que isso era sentença para rematar qualquer argumentação. Sem nunca faltar à verdade, repito.
Mas não estaria a dizer tudo. Por que razão à meia-noite de Sexta-feira me encontro eu sozinha na sala de espera dos cacilheiros do Tejo, com o Oceano Pacífico da RFM como única companhia?
Há mais qualquer coisa no Mark Eitzel que me atrai e me impele a não dispensar um concerto, sempre que seja (minimamente) possível lá chegar.
Talvez seja o facto de, entre ele e o velho tolinho que, na viagem de barco para o Barreiro, gritava «Baixem os cornos!», não haver assim tanta diferença. Quando cheguei ao auditório onde a banda ia tocar, ainda surpreendida com o facto de ter dado com o sítio, vejo um gigante de boné e camisa aos quadrados junto a um laguinho de água suja, com patos. Era o Mark Eitzel a falar com os seus músicos, julgo. Rindo e esbracejando, diz quem sabe que entusiasmado com o jantar bem regado que trazia no bucho.
Por mais de uma vez falei com o senhor. Desta feita a timidez levou a melhor e para chegar ao café até fui à volta. Depois passei o concerto com vontade de lhe dar um abraço, uma palavra de carinho, um cafuné. Não é pena que sinto pelo Mark Eitzel, mas uma empatia tão grande que raia a ternura. Empatizo muito com gente humana, e a humanidade do Mark Eitzel é tão grande e desengonçada como o seu corpo embrulhado num fato de fraco corte.
Mas quando canta, ele abandona qualquer humanidade, qualquer mortalidade, e é simplesmente uma voz a pairar acima do palco, acima das estrelas (que ele canta neste último disco dos AMC), acima dos seus pés de barro de palhaço pobre de uma terra maldita, que adora.
«Quem me dera que San Francisco se separasse da América e se tornasse um país independente», diz a certa altura. «Portugal is so free», desabafa noutro momento.
Saio sempre bem de um concerto dele. «Podia ser um Guimarães dos pobres», disse-lhes eu, esperançosa, quando cheguei. Não estavam lá comigo, e fez diferença. Mas lá diz o Outro, e (sempre) com razão: Amar é bom se houver/No fundo de um de nós alguma solidão.
Apesar da mitralhada que se veio a embebedar no bar do cacilheiro, no caminho de volta, estava bonito o rio à noite.
(foto da incrível Vera Marmelo)
Guimarães
«É como cumprimentar a Torre Eiffel», disse ela. E tinha razão. Esperar por um milagre no meio da anarquia oca dos Gogol Bordello e encontrá-lo ali, sorriso a meia haste e braços dispostos a abraçar, foi o mais próximo que tivemos de uma experiência religiosa naquela noite de Julho, à beira-rio. Horas mais tarde, as doc martens resgatadas ao baú enchiam de poeira o cenário do concerto daqueles senhores anti-Bush e anti-tudo, e nós, delicodoces e semi-ausentes, pensávamos na sorte que tínhamos (e em estátuas de luz). Dali a uma semana teríamos nova dose. E dessa vez, oh, dessa vez é que ia ser.
Quase um ano depois, o verde do Minho a substituir-se à poeira do Alentejo. A sensação de dia de folga, inatacável, a apagar a lembrança de ter de escrever sobre coisas demasiado pessoais. Os amigos todos à mão, a contagem decrescente, a certeza, cimentada ao longo de semanas, de que desta vez é que ia ser. Tudo aquilo que desejáramos.
«Não vai correr bem, vai ser um sonho. High hopes», escrevera ela. E tinha razão.
Quase um ano depois, o verde do Minho a substituir-se à poeira do Alentejo. A sensação de dia de folga, inatacável, a apagar a lembrança de ter de escrever sobre coisas demasiado pessoais. Os amigos todos à mão, a contagem decrescente, a certeza, cimentada ao longo de semanas, de que desta vez é que ia ser. Tudo aquilo que desejáramos.
«Não vai correr bem, vai ser um sonho. High hopes», escrevera ela. E tinha razão.
Olho para trás e lembro-me da lua cheia, perfeita, da silhueta do castelo e das igrejas recortadas na noite, do jardim mimoso a sorrir-nos mal lhe pusemos a vista em cima, quando chegámos pela tardinha. Lembro-me de ouvir as canções e de já não as ouvir, de confundir cada momento com tudo o que pedira e sonhara, o coração a bater-me nos ouvidos, as mãos a arder, a vontade de gritar Guimarães não sei bem por que motivo.
Lembro-me de mim e deles como se fôssemos um só, finalmente em sintonia, finalmente premiados por tudo.
E da típica sensação de vazio no final, da qual só o «Dia Mau» tocado de surpresa me podia despertar.
Lembro-me de mim e deles como se fôssemos um só, finalmente em sintonia, finalmente premiados por tudo.
E da típica sensação de vazio no final, da qual só o «Dia Mau» tocado de surpresa me podia despertar.
2008 pode não estar a ser o melhor ano, mas aquele dia de Julho valeu por muitas vidas.
terça-feira, 23 de setembro de 2008
Serviço público
Aquele programa que de quando em vez passa a seguir ao telejornal da RTP, de título 30 Minutos, só pode ter por objectivo dar cabo da digestão a uma pessoa de bem.
Certa vez apanhei por lá uma reportagem com dondocas nacionais, naquilo que foi apresentado como um «Sexo e a Cidade» à portuguesa (Deus nos acuda).
Hoje estiveram um ror de tempo a falar daquela criatura que conta os trocos no reclame da TMN - «douze, treuze...» - e cuja música é mais triste que uma melga a zumbir a meio da madrugada.
Dizia ela, antes de um concerto de apresentação, que com os nervos nem conseguia comer a «pizza» e que a mãe, ao telefone, estava toda «crazy». O parceiro de banda, estrangeiro, partilhou com o país o facto de já saber dizer «olá», com licença» e «cerveza» (sic).
Isto num canal onde a música tem habitualmente a mesma atenção que, sei lá, o cinema de autor montenegrino.
Música na RTP1, numa escala de embirração de 0 a 10: 8 Cláudios Ramos.
Certa vez apanhei por lá uma reportagem com dondocas nacionais, naquilo que foi apresentado como um «Sexo e a Cidade» à portuguesa (Deus nos acuda).
Hoje estiveram um ror de tempo a falar daquela criatura que conta os trocos no reclame da TMN - «douze, treuze...» - e cuja música é mais triste que uma melga a zumbir a meio da madrugada.
Dizia ela, antes de um concerto de apresentação, que com os nervos nem conseguia comer a «pizza» e que a mãe, ao telefone, estava toda «crazy». O parceiro de banda, estrangeiro, partilhou com o país o facto de já saber dizer «olá», com licença» e «cerveza» (sic).
Isto num canal onde a música tem habitualmente a mesma atenção que, sei lá, o cinema de autor montenegrino.
Música na RTP1, numa escala de embirração de 0 a 10: 8 Cláudios Ramos.
São João no Outono
E qual não foi o meu espanto quando hoje, ao dirigir-me ao comedouro do local de trabalho, me deparo com caldo verde (talvez a melhor sopa alguma vez inventada?) e, entre os pratos do dia, sardinhas assadas e pimentos de várias cores!
Confesso que foi o mais próximo que estive de uma epifania nos últimos dias. É nestas raras ocasiões que uma pessoa se sente mais portuguesa que o Galo de Barcelos.
Confesso que foi o mais próximo que estive de uma epifania nos últimos dias. É nestas raras ocasiões que uma pessoa se sente mais portuguesa que o Galo de Barcelos.
Cowgirl
Um breve momento de egocentrismo para provar que o meu fascínio pelo Velho Oeste vem de longe (explicação bem mais romântica do que admitir que as minhas fatiotas de Carnaval eram sempre herdadas dos meus primos mais velhos, ambos rapazes).
Verão quente
O Verão não foi complicado apenas para mim.
Algures na nossa rua, um vizinho também sentiu a cabeça quente. E decidiu falar por todos os moradores dos Arneiros.
Algures na nossa rua, um vizinho também sentiu a cabeça quente. E decidiu falar por todos os moradores dos Arneiros.
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
Reciclar
Tirando aqueles dias de desleixo e vida selvagem - ah, bora arrumar a cozinha sem separar o lixo, como se o holocausto ecológico não estivesse ao virar da esquina - sou, toda eu, pró-reciclagem.
Mas ainda assim humana. Por isso me custa a perceber o que terá feito uma infeliz família portuguesa para merecer que a Sílvia Alberto (todo o respeito; quem diz ela diz qualquer outra apresentadora da têvê) lhe vá remexer no «lixo orgânico» e apontar as falhas na separação dos desperdícios.
«Ai ai, então e este papel? Não devia ir para o papelão?», diz ela, luvas de plástico enfiadas até ao cotovelo, frente a uma mesa onde se prostram todos os detritos da família-vítima. Desconsolados, os membros do clã olham para a porcaria onde a estrela da televisão vasculha, entre o encabulado e o constragido.
Gostava de estar a inventar, mas vi mesmo este programa, o que, até prova da minha insanidade, confirma que ele existe.
Mas ainda assim humana. Por isso me custa a perceber o que terá feito uma infeliz família portuguesa para merecer que a Sílvia Alberto (todo o respeito; quem diz ela diz qualquer outra apresentadora da têvê) lhe vá remexer no «lixo orgânico» e apontar as falhas na separação dos desperdícios.
«Ai ai, então e este papel? Não devia ir para o papelão?», diz ela, luvas de plástico enfiadas até ao cotovelo, frente a uma mesa onde se prostram todos os detritos da família-vítima. Desconsolados, os membros do clã olham para a porcaria onde a estrela da televisão vasculha, entre o encabulado e o constragido.
Gostava de estar a inventar, mas vi mesmo este programa, o que, até prova da minha insanidade, confirma que ele existe.
Frases escutadas no trabalho
«Vai com calma! Faz sempre o teu tai chi todos os dias!», alerta um colega, entre o preocupado e o aflito, ao telefone.
Dor de cabeça
Se as pessoas que fazem o som da sua voz ecoar pelos open spaces desta vida já são irritantes, que dizer daqueles que usam o seu surround system pessoal para publicitar teorias de valor duvidoso, com a certeza de quem descobriu a pólvora?
Depois de um dia inteiro a ouvir as palavras «golo», «anulado», «roubado» e «injusto» em todo o tipo de frase e arranjo gramatical, eis que um vizinho decide apregoar a sua teoria sobre o Starbucks.
Para este senhor cuja cara não vejo, ir ao Starbucks em Portugal será como ir à Pizza Hut em Itália - não vai acontecer. Seguem-se exemplos inanes sobre a importância que «o português», esse bicho raro, dá ao contacto pessoal com o senhor do café e à qualidade do café propriamente dito.
Fosse eu tida ou achada para esta discussão unilateral e talvez viessem à baila certos pormenores. Assim de repente: o Starbucks vai abrir em Lisboa, num centro comercial, e não num Portugal romântico e idealizado onde as pessoas ainda conhecem o merceeiro pelo nome. Ou: a maior parte dos cimbalinos que por aí se tragam, nos mais «tradicionais» cafés de bairro, são na realidade uma bela zurrapa.
Se os argumentos deste senhor fizessem algum sentido, a canalhada das nossas cidades teria desprezado o McDonalds em detrimento da tasca das bifanas, e continuava a ir à sapataria Charles com os papás, a cada semestre, ao invés de vampirizar o orçamento familiar com as belas sapatilhas da marca.
Mas como ninguém me perguntou nada, mais vale ir andando para casa. É nestas alturas que um capuccino para levar calhava mesmo bem.
Depois de um dia inteiro a ouvir as palavras «golo», «anulado», «roubado» e «injusto» em todo o tipo de frase e arranjo gramatical, eis que um vizinho decide apregoar a sua teoria sobre o Starbucks.
Para este senhor cuja cara não vejo, ir ao Starbucks em Portugal será como ir à Pizza Hut em Itália - não vai acontecer. Seguem-se exemplos inanes sobre a importância que «o português», esse bicho raro, dá ao contacto pessoal com o senhor do café e à qualidade do café propriamente dito.
Fosse eu tida ou achada para esta discussão unilateral e talvez viessem à baila certos pormenores. Assim de repente: o Starbucks vai abrir em Lisboa, num centro comercial, e não num Portugal romântico e idealizado onde as pessoas ainda conhecem o merceeiro pelo nome. Ou: a maior parte dos cimbalinos que por aí se tragam, nos mais «tradicionais» cafés de bairro, são na realidade uma bela zurrapa.
Se os argumentos deste senhor fizessem algum sentido, a canalhada das nossas cidades teria desprezado o McDonalds em detrimento da tasca das bifanas, e continuava a ir à sapataria Charles com os papás, a cada semestre, ao invés de vampirizar o orçamento familiar com as belas sapatilhas da marca.
Mas como ninguém me perguntou nada, mais vale ir andando para casa. É nestas alturas que um capuccino para levar calhava mesmo bem.
domingo, 21 de setembro de 2008
Os maiores vilões da televisão dos nossos dias
Há muitos anos eu avisei, e poucos prestaram atenção. A verdade, infelizmente, é que eu estava certa e hoje em dia não há nada que os sapos não queiram e, pior, não possam fazer. Agora até abrir a gabardine a moças, velhas e homens de barba rija o bicho ruim se lembra de fazer. É demais, e neste meu ódio só a Marta Leite Castro, a tombar a cabecinha e fazer olhinhos de Bambi enquanto finge prestar atenção ao que os entrevistados vão dizendo, pode ombrear com o batráquio. Numa escala de embirração de 0 a 10, 9,5 Camilos de Oliveira para cada um.
I am sailing...
Há muito tempo que não andava de barco no Tejo. E se quiser ser rigorosa, terei de acrescentar que as embarcações da Transtejo ou Soflusa nunca transportaram o meu rabiosque com frequência: assim de repente, lembro-me de ter ido, certamente antes da viragem do século, a casa da Célia comer um belo almoço de bacalhau, e uns anos mais tarde a um malfadado concurso de bandas portuguesas onde fiz de júri.
Esta falta de experiência com os barcos - amplamente compensada pelo conhecimento minucioso dos percursos e manhas da Carris - faz com que passar os torniquetes da estação fluvial do Terreiro do Paço tenha sempre, para mim, o seu quê de novidade e até suspense. Irá o barco dar onde eu quero? Porque é que começámos a abrandar? Estas sirenes de catástrofe nuclear são mesmo necessárias?
Na Sexta-feira passada tive de ir ao Barreiro e, na ausência de boleia, lá fiz bom uso do meu polivalente cartão Lisboa Viva, apanhando em Lisboa o barco das 20h30.
Não fazia ideia que, agora, estas embarcações têm, à semelhança do que acontece nos comboios Alfa ou Intercidades, uns pequenos bares onde, ao balcão, é possível adquirir comes e bebes (batatas fritas, gelados e chiclets; sumos, refrigerantes e álcool - é limitada e triste a vida de quem tem de comer saudável).
Ao entrar no barco, já um grupo de amigos se encostava ao balcão do bar, bebendo cerveja.
Durante uns bons 20 minutos, foram entretidos a discutir com a empregada, que acusava um deles de não ter pago um café há coisa de 15 dias.
O guião seguia mais ou menos assim, com um ou outro retoque a cada volta:
«Não fomos nós, posso jurar-lhe, menina! Mas pagamos na mesma!», diziam os acusados.
«Não quero dinheiro nenhum», retorquia ela, passando o pano Vileda pelo balcão. «Mas foram vocês sim senhor, que eu lembro-me que... » [acrescenta milhentos detalhes que só uma mulher ressabiada poderia ter retido]
«Não queremos que fique com essa imagem de nós! Não fomos nós mas deixe-me pagar!»
«Sei muito bem que foram os senhores, mas não quero dinheiro nenhum. Lembro-me muito bem que...» [blá blá blá]
A assistir ao espectáculo, na primeira fila de bancos frente ao balcão, estava um velho tolinho, de chapéu na cabeça, que entrecortava a discussão gritando, alto e bom som, «BAIXEM OS CORNOS!».
Por vezes também chamada à rapaziada que tentava limpar a honra, junto da empregada do bar, «ladrões!», e pareceu bem divertido quando, finda a viagem, uma porção de gente se dirigiu para a porta de desembarque errada. «Ladrões!», chamou-lhes também, mas o «BAIXEM OS CORNOS» bem prolongado era o seu grito de guerra favorito.
A assistir a isto tudo com a fleuma possível estavam duas senhoras que pareciam conhecer o velhote e que se lamentaram demoradamente, quando por elas passou um «qué-frô», porque nunca na vida lhes haviam oferecido flores. Mentira, corrigiu uma, contando uma elaborada narrativa que se pode resumir assim: certa vez, por acaso e pena, um senhor até a deixou tirar uma rosa branca de um ramo para outra pessoa mais estimada.
Com ou sem concerto de American Music Club, tenho de voltar a andar de barco.
Esta falta de experiência com os barcos - amplamente compensada pelo conhecimento minucioso dos percursos e manhas da Carris - faz com que passar os torniquetes da estação fluvial do Terreiro do Paço tenha sempre, para mim, o seu quê de novidade e até suspense. Irá o barco dar onde eu quero? Porque é que começámos a abrandar? Estas sirenes de catástrofe nuclear são mesmo necessárias?
Na Sexta-feira passada tive de ir ao Barreiro e, na ausência de boleia, lá fiz bom uso do meu polivalente cartão Lisboa Viva, apanhando em Lisboa o barco das 20h30.
Não fazia ideia que, agora, estas embarcações têm, à semelhança do que acontece nos comboios Alfa ou Intercidades, uns pequenos bares onde, ao balcão, é possível adquirir comes e bebes (batatas fritas, gelados e chiclets; sumos, refrigerantes e álcool - é limitada e triste a vida de quem tem de comer saudável).
Ao entrar no barco, já um grupo de amigos se encostava ao balcão do bar, bebendo cerveja.
Durante uns bons 20 minutos, foram entretidos a discutir com a empregada, que acusava um deles de não ter pago um café há coisa de 15 dias.
O guião seguia mais ou menos assim, com um ou outro retoque a cada volta:
«Não fomos nós, posso jurar-lhe, menina! Mas pagamos na mesma!», diziam os acusados.
«Não quero dinheiro nenhum», retorquia ela, passando o pano Vileda pelo balcão. «Mas foram vocês sim senhor, que eu lembro-me que... » [acrescenta milhentos detalhes que só uma mulher ressabiada poderia ter retido]
«Não queremos que fique com essa imagem de nós! Não fomos nós mas deixe-me pagar!»
«Sei muito bem que foram os senhores, mas não quero dinheiro nenhum. Lembro-me muito bem que...» [blá blá blá]
A assistir ao espectáculo, na primeira fila de bancos frente ao balcão, estava um velho tolinho, de chapéu na cabeça, que entrecortava a discussão gritando, alto e bom som, «BAIXEM OS CORNOS!».
Por vezes também chamada à rapaziada que tentava limpar a honra, junto da empregada do bar, «ladrões!», e pareceu bem divertido quando, finda a viagem, uma porção de gente se dirigiu para a porta de desembarque errada. «Ladrões!», chamou-lhes também, mas o «BAIXEM OS CORNOS» bem prolongado era o seu grito de guerra favorito.
A assistir a isto tudo com a fleuma possível estavam duas senhoras que pareciam conhecer o velhote e que se lamentaram demoradamente, quando por elas passou um «qué-frô», porque nunca na vida lhes haviam oferecido flores. Mentira, corrigiu uma, contando uma elaborada narrativa que se pode resumir assim: certa vez, por acaso e pena, um senhor até a deixou tirar uma rosa branca de um ramo para outra pessoa mais estimada.
Com ou sem concerto de American Music Club, tenho de voltar a andar de barco.
Aqui estou eu
Como diria o outro, os rumores da morte deste blogue são grandemente exagerados.
Mesmo sem férias e sem tempo para partilhar aqui o sortido de pensamentos fúteis que me assolam, ainda por cá ando. E vou encarar o facto de não me ter esquecido da password do blogger como um sinal para voltar a dar ao dedo pelo Sofá Verde.
(Obrigada a todos os que me perguntaram o que se passava, e a esta menina em particular. Na verdade não se passa nada - nada além do trabalho, e o mal é esse...).
Mesmo sem férias e sem tempo para partilhar aqui o sortido de pensamentos fúteis que me assolam, ainda por cá ando. E vou encarar o facto de não me ter esquecido da password do blogger como um sinal para voltar a dar ao dedo pelo Sofá Verde.
(Obrigada a todos os que me perguntaram o que se passava, e a esta menina em particular. Na verdade não se passa nada - nada além do trabalho, e o mal é esse...).
segunda-feira, 28 de julho de 2008
Mitras - as suas preocupações
Verão é tempo de praia e esta é uma regra que nem os mitras parecem ignorar. Por isso vejo-me obrigada a conviver com esta estirpe urbana, todo o santo dia no comboio e no autocarro.
Na semana passada um moço contava às concubinas (sempre num mínimo de duas, tenho observado) uma louca passagem de ano em que ficara, não percebi bem porquê, sem os seus bem amados brincos (umas bolinhas douradas que, no meu tempo, se davam às meninas por altura da primeira comunhão).
«E EU A DORMIR SEM BRINCOS COM MEDO QUE OS BURACOS FECHASSEM!», recordava ele, o autocarro todo suspenso das suas palavras.
Minutos mais tarde, no comboio, dois (outros) mitras discutiam quem é o homem mais rico do hip-hop.
«TÁZAGOVAR, TOUTADIZER, VI ONTEM NA VH1! É O FIFTY! O FIFTY TEM A FIFTY FORMULA, O FIFTY FERRARI, A DROGA, OS DISCOS... QUANTAPOSTAS QUE É O FIFTY?».
Na semana passada um moço contava às concubinas (sempre num mínimo de duas, tenho observado) uma louca passagem de ano em que ficara, não percebi bem porquê, sem os seus bem amados brincos (umas bolinhas douradas que, no meu tempo, se davam às meninas por altura da primeira comunhão).
«E EU A DORMIR SEM BRINCOS COM MEDO QUE OS BURACOS FECHASSEM!», recordava ele, o autocarro todo suspenso das suas palavras.
Minutos mais tarde, no comboio, dois (outros) mitras discutiam quem é o homem mais rico do hip-hop.
«TÁZAGOVAR, TOUTADIZER, VI ONTEM NA VH1! É O FIFTY! O FIFTY TEM A FIFTY FORMULA, O FIFTY FERRARI, A DROGA, OS DISCOS... QUANTAPOSTAS QUE É O FIFTY?».
I am an agent of chaos
Já há quem diga que é um dos melhores vilões de sempre. Eu, que não tenho a história do cinema em mim mas ainda consigo contornar cepticismos e entregar-me por completo a um filme, só tenho autoridade para dizer: o Joker do Heath Ledger é já uma das minhas personagens favoritas de sempre. Quando penso no filme só me ocorrem as suas tiradas, o seu humor doentio, cada expressão e cada esgar a sublinhar a grosso a demência que, ao invés de repelir, nos atrai irremediavelmente para as suas cenas.
E isto não tem nada a ver com pena. Aliás, por detrás de tanta maquilhagem e tanto génio, praticamente me esqueci que, no Dark Knight, estamos a ver o canto de cisne do ex-cowboy gay (Deus lhe fale na alma).
sábado, 5 de julho de 2008
Bandido
Sei que passo a vida a falar da mesma coisa, mas é um consolo sentir, tantos anos depois, a mesma emoçãozinha, o mesmo brilho nos olhos, o mesmo aperto no peito quando letras - e músicas - como estas se imiscuem na minha cabeça, a qualquer hora do dia.
«Se eu largar eu sinto a sua falta
Se eu agarro ela perde a cor
Ela não é dos meus dedos, é dos meus medos, e faço-me passar por uma flor
Tento imaginar o que ela diz, à espera de aprender
À face da rua existe a lua mas não é tua
À margem da estrada não há nada mas já te agrada
Tu és o teu mundo, tu és o teu fundo, tu és o teu poço, és o teu pior almoço
És a pulga na balança, és a mãe dessa criança, és o mal, és o bem, és o dia que não vem
Agora pára de fazer sentido, não vês que assim estás a pisar fora da estrada
Vê se agora páras de fazer sentido, não vês que nada nos dirá mais do que nos diz NADA
Vê que o meu coração ainda salta, quer e julga ser capaz
Não o faça por meus medos, faça nos dedos, e eu fico para ver o que ele faz
Sem imaginar o que eu não fiz, à espera de viver
À face da chama existe a fama mas não te ama
À margem do nada não há estrada, já não te agrada
Tu és o teu preço, és a tua glória, tu és o teu medo, és a parte má da história
Vê que o sol ainda brilha, ainda tem por onde arder
Não é mau, não é bom, são razões para viver
Agora pára de fazer sentido, não vês que assim estás a pisar fora da estrada
Vê se agora páras de fazer sentido, não vês que nada nos dirá mais do que nos diz NADA
Se eu largar eu vou sentir a sua falta
Tu és tu sempre que tu és, és mesmo tu quando pensas que és outra coisa
E tu pensas que não mas tu és mesmo bom a ser sempre quem és
Daí o teu motivo ser inapagável, daí o teu desejo ser incontornável
O prazer é tão maleável, daí o seu valor ser inestimável
(«Borboleta», in O Amor Dá-me Tesão, Foge Foge Bandido)
-----------------
Não sei qual de nós não mudou em 10 anos. Mas não me podia deixar mais feliz e emocionada, este «reencontro».
«Se eu largar eu sinto a sua falta
Se eu agarro ela perde a cor
Ela não é dos meus dedos, é dos meus medos, e faço-me passar por uma flor
Tento imaginar o que ela diz, à espera de aprender
À face da rua existe a lua mas não é tua
À margem da estrada não há nada mas já te agrada
Tu és o teu mundo, tu és o teu fundo, tu és o teu poço, és o teu pior almoço
És a pulga na balança, és a mãe dessa criança, és o mal, és o bem, és o dia que não vem
Agora pára de fazer sentido, não vês que assim estás a pisar fora da estrada
Vê se agora páras de fazer sentido, não vês que nada nos dirá mais do que nos diz NADA
Vê que o meu coração ainda salta, quer e julga ser capaz
Não o faça por meus medos, faça nos dedos, e eu fico para ver o que ele faz
Sem imaginar o que eu não fiz, à espera de viver
À face da chama existe a fama mas não te ama
À margem do nada não há estrada, já não te agrada
Tu és o teu preço, és a tua glória, tu és o teu medo, és a parte má da história
Vê que o sol ainda brilha, ainda tem por onde arder
Não é mau, não é bom, são razões para viver
Agora pára de fazer sentido, não vês que assim estás a pisar fora da estrada
Vê se agora páras de fazer sentido, não vês que nada nos dirá mais do que nos diz NADA
Se eu largar eu vou sentir a sua falta
Tu és tu sempre que tu és, és mesmo tu quando pensas que és outra coisa
E tu pensas que não mas tu és mesmo bom a ser sempre quem és
Daí o teu motivo ser inapagável, daí o teu desejo ser incontornável
O prazer é tão maleável, daí o seu valor ser inestimável
(«Borboleta», in O Amor Dá-me Tesão, Foge Foge Bandido)
-----------------
Não sei qual de nós não mudou em 10 anos. Mas não me podia deixar mais feliz e emocionada, este «reencontro».
O Sexo e a Cidade
Nunca tive nada contra O Sexo e a Cidade - sempre me pareceu uma série capaz, enquanto entretenimento peso-pluma e gigantesco «product placement» de luxo.
Já este alvoroço todo com a passagem da série para o cinema me aborrece consideravelmente: outro dia até sonhei que tinha ido ver o filme, que na vida real é coisa que não me passa pela cabeça (20 minutos é uma coisa, duas horas e tal é tortura, tende dó).
Isto para dizer que, há coisa de uma semana, a RTP transmitiu, em horário nobre, uma reportagem sobre «o Sexo e a Cidade à portuguesa». Protagonistas: Margarida Rebelo Pinto, Clara Ferreira Alves, Ana Borges e Vicky Fernandez (espero que fosse este o nome - nunca a tinha visto mais gorda).
A culpa nem será das senhoras escolhidas para ilustrar a existência, em Portugal (ou em Lisboa), de uma certa classe de mulheres emancipadas e com simpático poder de compra (apesar de da MRP se poderem sempre esperar pérolas de acefalia como a que encerrou a reportagem: «os homens gostam de gadgets sofisticados, as mulheres gostam de sapatos!!»).
O problema é mesmo a distância que vai da intenção à realização. O Sexo e a Cidade à Portuguesa é apresentado como uma peça altamente revolucionária e inevitavelmente descamba nos lugares comuns do costume sobre a vida profissional e familiar das senhoras (chatices que, na série, existem apenas em teoria).
Era vir uma bola de fogo e consumir estas reportagens todas da silly season. Preocupem-se é encontrar o felino arraçado de cão gigante da Maia, se faz favor.
Já este alvoroço todo com a passagem da série para o cinema me aborrece consideravelmente: outro dia até sonhei que tinha ido ver o filme, que na vida real é coisa que não me passa pela cabeça (20 minutos é uma coisa, duas horas e tal é tortura, tende dó).
Isto para dizer que, há coisa de uma semana, a RTP transmitiu, em horário nobre, uma reportagem sobre «o Sexo e a Cidade à portuguesa». Protagonistas: Margarida Rebelo Pinto, Clara Ferreira Alves, Ana Borges e Vicky Fernandez (espero que fosse este o nome - nunca a tinha visto mais gorda).
A culpa nem será das senhoras escolhidas para ilustrar a existência, em Portugal (ou em Lisboa), de uma certa classe de mulheres emancipadas e com simpático poder de compra (apesar de da MRP se poderem sempre esperar pérolas de acefalia como a que encerrou a reportagem: «os homens gostam de gadgets sofisticados, as mulheres gostam de sapatos!!»).
O problema é mesmo a distância que vai da intenção à realização. O Sexo e a Cidade à Portuguesa é apresentado como uma peça altamente revolucionária e inevitavelmente descamba nos lugares comuns do costume sobre a vida profissional e familiar das senhoras (chatices que, na série, existem apenas em teoria).
Era vir uma bola de fogo e consumir estas reportagens todas da silly season. Preocupem-se é encontrar o felino arraçado de cão gigante da Maia, se faz favor.
Palavroso
O que terá acontecido à simples, honesta, singela «lavagem de carros»?
Esta semana, no Corte Inglés, dou com um cartaz que anuncia uma pomposa...
HIGIENIZAÇÃO AUTOMÓVEL
Ao lado, promessas de retorno a uma vida mais feliz: «volte a estrear o interior do seu automóvel!».
Esta semana, no Corte Inglés, dou com um cartaz que anuncia uma pomposa...
HIGIENIZAÇÃO AUTOMÓVEL
Ao lado, promessas de retorno a uma vida mais feliz: «volte a estrear o interior do seu automóvel!».
quarta-feira, 25 de junho de 2008
A idade é um posto
Esta manhã, na paragem do autocarro, duas pré-adolescentes - uma delas japonesa - comiam um pacote de batatas fritas e bebiam um Red Bull. A «ocidental», chamemos-lhe assim, comenta da seguinte forma a emancipação de ambas:
«Outro dia fui com a minha mãe ao Continente e estavam lá umas miúdas de seis anos a beber um destes» (pausa) «Mas não deviam beber. É muito energético».
«Outro dia fui com a minha mãe ao Continente e estavam lá umas miúdas de seis anos a beber um destes» (pausa) «Mas não deviam beber. É muito energético».
terça-feira, 24 de junho de 2008
Depois querem que uma pessoa se interesse pela política
Frase escutada de esguelha, há coisa de dois minutos, num debate aguerrido em que ambos os políticos pareciam convictos de serem donos da verdade.
«Temos de explorar virtualidades de soluções que congreguem os portugueses!»
«Temos de explorar virtualidades de soluções que congreguem os portugueses!»
SILLY SEASON... I LOVE YOU
Um felino de grande porte? Não, um cão.
(Do JN)
«MAIA: GRANDE FELINO DEVE SER UM CÃO
O Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade e o director do Zoo da Maia garantiram que os vestígios encontrados em S. Pedro de Fins, Maia, não são de um felino de grande porte, mas provavelmente de um cão.
"Não é nenhum leão, nem um tigre ou um leopardo. Se for um felino, é mais pequeno, como um gato bravo, mas inclino-me mais para que seja um cão", afirmou à agência Lusa João Loureiro, do Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB).
Comentando rumores de que andaria um leão ou outro grande felino à solta em S. Pedro de Fins, onde foram encontradas pegadas de nove centímetros num terreno, árvores marcadas por supostas garras e danificados uns fardos de palha e umas videiras, o responsável desvalorizou a gravidade da situação.
O alerta foi dado sábado à GNR pelo proprietário de uma vacaria, mas, segundo João Loureiro, esta é uma denúncia recorrente desde há cerca de dois anos, em várias zonas desde Famalicão à Maia. "A diferença é que, neste caso, nunca ninguém viu" o animal, afirmou.
(...)
"Foram detectadas pegadas com nove centímetros não se sabe do quê, pode ser um cão e nem precisa de ser muito grande", disse, acrescentando que, "por descargo de consciência", serão colocadas 4ª feira algumas armadilhas para tentar capturar o animal.»
Assim de repente... não será um lobo?
(Do JN)
«MAIA: GRANDE FELINO DEVE SER UM CÃO
O Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade e o director do Zoo da Maia garantiram que os vestígios encontrados em S. Pedro de Fins, Maia, não são de um felino de grande porte, mas provavelmente de um cão.
"Não é nenhum leão, nem um tigre ou um leopardo. Se for um felino, é mais pequeno, como um gato bravo, mas inclino-me mais para que seja um cão", afirmou à agência Lusa João Loureiro, do Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB).
Comentando rumores de que andaria um leão ou outro grande felino à solta em S. Pedro de Fins, onde foram encontradas pegadas de nove centímetros num terreno, árvores marcadas por supostas garras e danificados uns fardos de palha e umas videiras, o responsável desvalorizou a gravidade da situação.
O alerta foi dado sábado à GNR pelo proprietário de uma vacaria, mas, segundo João Loureiro, esta é uma denúncia recorrente desde há cerca de dois anos, em várias zonas desde Famalicão à Maia. "A diferença é que, neste caso, nunca ninguém viu" o animal, afirmou.
(...)
"Foram detectadas pegadas com nove centímetros não se sabe do quê, pode ser um cão e nem precisa de ser muito grande", disse, acrescentando que, "por descargo de consciência", serão colocadas 4ª feira algumas armadilhas para tentar capturar o animal.»
Assim de repente... não será um lobo?
sábado, 21 de junho de 2008
A selecção
(mais um post que não é escrito a tempo de entrar nos «blogues de papel» do Público, raios!)
Pouca gente sofre mais do que eu pela selecção. Acho que é por não perceber assim muito, muito de futebol que tudo me parece tão intenso e dou por mim a ceder a superstições e manias, numa tentativa de virar o jogo a nossa favor (já a minha mãe acha que passar a ferro dá sorte a Portugal e ao Sporting, a sua equipa predilecta).
Neste Europeu, no entanto, o meu desgosto foi atenuado. Em primeiro lugar, porque - não custa reconhecer - já vamos estando habituados a perder, não é? Na final contra a Grécia (que anedota) ou nos quartos com a Alemanha, o resultado é o mesmo - nenhum. E começo a acreditar que ele há equipas com uma gigantesca estrela de campeão, que até podem perder o primeiro jogo da competição por 0-3 e acabar por erguer a taça na última partida (é o meu palpite), e outras que, enfim, outras que somos nós. Muita expectativa, muitas razões para acreditar, nada a declarar no regresso à Portela, que não a roupa com que se partiu para a terra dos sonhos.
Outra atenuante do meu sofrimento neste Europeu foi o facto de, desde que soube que iamos jogar com a Alemanha (obrigadinha Croácia), me ter convencido que iríamos ser eliminados. Estas coisas são mais fortes que eu e quem me conhece, ou quem já viu jogos a meu lado, sabe que os pressentimentos raramente me enganam.
Por último, a derrota de Portugal significa também um certo regresso à normalidade que não deixa de me agradar.
Não me entendam mal: fiquei tristíssima com a eliminação e o infeliz timing dos nossos golos, mas não posso deixar de regozijar com o fim (?) das notícias, reportagens, anúncios, mezinhas, casamentos imaginários e especulações de toda a ordem em redor do Cristiano Ronaldo.
Nada contra a pessoa, que não conheço, ou o jogador, que todos sabermos ser assim e assado. Mas a individualização da equipa nacional, a concentração de todas as atenções e todos os elogios num só jogador-estrela, tanto vedeta pop quanto futebolista, vai contra tudo o que eu acredito ser uma selecção.
Faço minhas as palavras da Inês Nadais, hoje no Público, quando diz que uma das imagens mais significativas deste Europeu é o golo apontado pelo Quaresma a passe do Ronaldo, e a forma como, na habitual «molhada» da celebração, o madeirense é o único que procura, e fita obsessivamente, a câmara da televisão em vez do sovaco suado do companheiro. Estou com Miss Nadais: gostava mais quando os jogadores usavam bigode e não se ralavam com todas estas metrossexualidades modernas.
Equipa que me serve: a Turquia. Não são os melhores a jogar mas têm alma daqui até à China. E acreditam. Ninguém os vê jogar e fica na dúvida se eles têm mesmo vontade de ganhar aquele jogo. Só por serem «a equipa mais indisciplinada» do Europeu, como diziam ontem os comentadores, referindo-se ao número de amarelos e vermelhos, já mereciam ganhar.
As guerras não se ganham com festinhas.
Pouca gente sofre mais do que eu pela selecção. Acho que é por não perceber assim muito, muito de futebol que tudo me parece tão intenso e dou por mim a ceder a superstições e manias, numa tentativa de virar o jogo a nossa favor (já a minha mãe acha que passar a ferro dá sorte a Portugal e ao Sporting, a sua equipa predilecta).
Neste Europeu, no entanto, o meu desgosto foi atenuado. Em primeiro lugar, porque - não custa reconhecer - já vamos estando habituados a perder, não é? Na final contra a Grécia (que anedota) ou nos quartos com a Alemanha, o resultado é o mesmo - nenhum. E começo a acreditar que ele há equipas com uma gigantesca estrela de campeão, que até podem perder o primeiro jogo da competição por 0-3 e acabar por erguer a taça na última partida (é o meu palpite), e outras que, enfim, outras que somos nós. Muita expectativa, muitas razões para acreditar, nada a declarar no regresso à Portela, que não a roupa com que se partiu para a terra dos sonhos.
Outra atenuante do meu sofrimento neste Europeu foi o facto de, desde que soube que iamos jogar com a Alemanha (obrigadinha Croácia), me ter convencido que iríamos ser eliminados. Estas coisas são mais fortes que eu e quem me conhece, ou quem já viu jogos a meu lado, sabe que os pressentimentos raramente me enganam.
Por último, a derrota de Portugal significa também um certo regresso à normalidade que não deixa de me agradar.
Não me entendam mal: fiquei tristíssima com a eliminação e o infeliz timing dos nossos golos, mas não posso deixar de regozijar com o fim (?) das notícias, reportagens, anúncios, mezinhas, casamentos imaginários e especulações de toda a ordem em redor do Cristiano Ronaldo.
Nada contra a pessoa, que não conheço, ou o jogador, que todos sabermos ser assim e assado. Mas a individualização da equipa nacional, a concentração de todas as atenções e todos os elogios num só jogador-estrela, tanto vedeta pop quanto futebolista, vai contra tudo o que eu acredito ser uma selecção.
Faço minhas as palavras da Inês Nadais, hoje no Público, quando diz que uma das imagens mais significativas deste Europeu é o golo apontado pelo Quaresma a passe do Ronaldo, e a forma como, na habitual «molhada» da celebração, o madeirense é o único que procura, e fita obsessivamente, a câmara da televisão em vez do sovaco suado do companheiro. Estou com Miss Nadais: gostava mais quando os jogadores usavam bigode e não se ralavam com todas estas metrossexualidades modernas.
Equipa que me serve: a Turquia. Não são os melhores a jogar mas têm alma daqui até à China. E acreditam. Ninguém os vê jogar e fica na dúvida se eles têm mesmo vontade de ganhar aquele jogo. Só por serem «a equipa mais indisciplinada» do Europeu, como diziam ontem os comentadores, referindo-se ao número de amarelos e vermelhos, já mereciam ganhar.
As guerras não se ganham com festinhas.
As papelarias
Antes de perder a noção de quem trabalha em quê, a minha avó tinha três carreiras pensadas para mim: a de bancária (obrigada mana por ocupares tu essa vaga); a de dona de quiosque e a de tocadora de acordeão.
Por falta de paciência e/ou jeito para as outras duas, a opção do quiosque sempre me pareceu a mais tentadora. A fartura e rotatividade de jornais, revistas, brindes e, se ampliarmos a ambição para uma papelaria, de livros da escola, cadernos de argolas, canetas, postais e marcadores sempre me fez salivar.
Hoje reparo, porém, que não deve ser uma vida fácil. Além da concorrência dos hipermercados, onde a maior parte dos agregados despacha, compr€€nsivelmente, as compras escolares, há a exaustão. Pelo menos no bairro onde vivo, ter um quiosque ou papelaria parece ser das missões mais árduas do momento.
Ao fundo da minha rua, há várias semanas que o quiosque onde geralmente me aviava tem uma tabuleta que diz que os senhores - que, diga-se em abono da verdade, sempre abriram e fecharam à hora que bem lhes dava na veneta - estão «fechados temporariamente para descanso». Mais nada.
Uns passos acima, uma papelaria em cuja montra iam aparecendo coisas tão improváveis como bibelôs de loiça ou livros desconhecidos escritos em Inglês acaba de fechar «para férias». Ao lado desse papel, um outro dá conta da vontade de os donos «trespassarem» o estabelecimento.
Quer isto dizer que, agora, tenho de ir ao quiosque frente à padaria (e frente ao sítio onde, aí há 15 dias, morreu um senhor em plena via pública. Pelo menos vi muita gente, duas ambulâncias do INEM e uma senhora africana que assistira ao episódio explicou-me, sem pingo de emoção, que o transeunte «caiu, bateu c'o cabeço, tá morto»).
A dona deste «novo» quiosque diz «a Ipsilon» em vez de «o Ipsilon», acho-lhe graça.
Por falta de paciência e/ou jeito para as outras duas, a opção do quiosque sempre me pareceu a mais tentadora. A fartura e rotatividade de jornais, revistas, brindes e, se ampliarmos a ambição para uma papelaria, de livros da escola, cadernos de argolas, canetas, postais e marcadores sempre me fez salivar.
Hoje reparo, porém, que não deve ser uma vida fácil. Além da concorrência dos hipermercados, onde a maior parte dos agregados despacha, compr€€nsivelmente, as compras escolares, há a exaustão. Pelo menos no bairro onde vivo, ter um quiosque ou papelaria parece ser das missões mais árduas do momento.
Ao fundo da minha rua, há várias semanas que o quiosque onde geralmente me aviava tem uma tabuleta que diz que os senhores - que, diga-se em abono da verdade, sempre abriram e fecharam à hora que bem lhes dava na veneta - estão «fechados temporariamente para descanso». Mais nada.
Uns passos acima, uma papelaria em cuja montra iam aparecendo coisas tão improváveis como bibelôs de loiça ou livros desconhecidos escritos em Inglês acaba de fechar «para férias». Ao lado desse papel, um outro dá conta da vontade de os donos «trespassarem» o estabelecimento.
Quer isto dizer que, agora, tenho de ir ao quiosque frente à padaria (e frente ao sítio onde, aí há 15 dias, morreu um senhor em plena via pública. Pelo menos vi muita gente, duas ambulâncias do INEM e uma senhora africana que assistira ao episódio explicou-me, sem pingo de emoção, que o transeunte «caiu, bateu c'o cabeço, tá morto»).
A dona deste «novo» quiosque diz «a Ipsilon» em vez de «o Ipsilon», acho-lhe graça.
terça-feira, 17 de junho de 2008
Queijo
Depois de uma pausa de duas semanas, por motivos de trabalho e de calendário, o Queijo regressa esta noite, mais fulgurante e bem cheiroso do que nunca, à frequência da Rádio Zero.
Contem com uma emotiva antecipação do concerto de amanhã à noite: Shannon Wright + Tiago Sousa, no Santiago Alquimista.
Tudo isto no linque do costume.
Contem com uma emotiva antecipação do concerto de amanhã à noite: Shannon Wright + Tiago Sousa, no Santiago Alquimista.
Tudo isto no linque do costume.
quarta-feira, 11 de junho de 2008
Uma frase do Bandido por dia...
«Migra medo
Para filhos de outras mães»
(é a de hoje)
Para filhos de outras mães»
(é a de hoje)
segunda-feira, 9 de junho de 2008
A bola
Fiquei tão contente com a vitória da selecção no Sábado como qualquer pessoa que tenha uma bandeira de Portugal colada com fita-cola no parapeito da janela. Agora é só aguentar até Quarta-feira - dia do novo embate dos nossos rapazes, desta feita frente aos checos - e tentar abstrair-me da histeria dos media (ou seja, fazer de conta que ontem não vi, na SIC Notícias, uma entrevista telefónica ao pai do Pepe).
Falta de tempo, não de material
E quando o tempo falta para escrever posts com pés e cabeça, há sempre alguém a distribuir panfletos à porta da estação do comboio. «Para ler com atenção», recomendou a senhora que me deu isto:
quarta-feira, 4 de junho de 2008
O primeiro
Na passada Sexta-feira, fui ter com a vizinha AT ao seu posto de trabalho, para juntas nos dirigirmos a esse fim de mundo a que eufemisticamente chamam Bela Vista; ela ia em reportagem e eu queria ver se a Winehouse se aguentava em pé (mais valia ter ficado em casa, portanto).
Enquanto esperava pela Ana, dois senhores africanos passaram por mim, ao descer a rua. Um deles parou à minha frente e ficou a olhar. «Deixa a senhora em paz!», apelou o amigo. «Eu não estou a fazer mal, só não gosto de ver mulheres bonitas sozinhas», retorquiu o mais atrevido.
Decide então, este senhor, perguntar se já me tinham dito que sou «muito gira». Para atalhar caminho e também porque a minha vida não é assim tão desastrosa, respondi que sim, agradecendo porém a gentileza. «Mas um preto? Um preto já te tinha dito que és bonita? NÃO ACREDITO!», exaltou-se ele.
«Diz-me lá que, de um preto, é a primeira vez que ouves isso!», chegou a pedir. Eu fiz-lhe a vontade. «OK, és o primeiro preto a dizer-me isso».
«Viste? Sou o primeiro preto!...», congratulou-se ele para o amigo. Depois foi embora, não sem antes assegurar que «nunca tinha falado com uma senhora tão simpática» e de me desejar tudo de bom, na vida e no trabalho (claramente não tinha poderes, ou não teria passado o que passei na reportagem do Rock In Rio - mas o que conta é a intenção).
Enquanto esperava pela Ana, dois senhores africanos passaram por mim, ao descer a rua. Um deles parou à minha frente e ficou a olhar. «Deixa a senhora em paz!», apelou o amigo. «Eu não estou a fazer mal, só não gosto de ver mulheres bonitas sozinhas», retorquiu o mais atrevido.
Decide então, este senhor, perguntar se já me tinham dito que sou «muito gira». Para atalhar caminho e também porque a minha vida não é assim tão desastrosa, respondi que sim, agradecendo porém a gentileza. «Mas um preto? Um preto já te tinha dito que és bonita? NÃO ACREDITO!», exaltou-se ele.
«Diz-me lá que, de um preto, é a primeira vez que ouves isso!», chegou a pedir. Eu fiz-lhe a vontade. «OK, és o primeiro preto a dizer-me isso».
«Viste? Sou o primeiro preto!...», congratulou-se ele para o amigo. Depois foi embora, não sem antes assegurar que «nunca tinha falado com uma senhora tão simpática» e de me desejar tudo de bom, na vida e no trabalho (claramente não tinha poderes, ou não teria passado o que passei na reportagem do Rock In Rio - mas o que conta é a intenção).
segunda-feira, 26 de maio de 2008
Para Shiva
Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã...
Todo dia ela diz que é pr'eu me cuidar
E essas coisas que diz toda mulher
Diz que está me esperando pró jantar
E me beija com a boca de café...
Todo dia eu só penso em poder parar
Meio-dia eu só penso em dizer não
Depois penso na vida prá levar
E me calo com a boca de feijão...
Seis da tarde como era de se esperar
Ela pega e me espera no portão
Música aqui.
Me sacode às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã...
Todo dia ela diz que é pr'eu me cuidar
E essas coisas que diz toda mulher
Diz que está me esperando pró jantar
E me beija com a boca de café...
Todo dia eu só penso em poder parar
Meio-dia eu só penso em dizer não
Depois penso na vida prá levar
E me calo com a boca de feijão...
Seis da tarde como era de se esperar
Ela pega e me espera no portão
Música aqui.
sexta-feira, 23 de maio de 2008
Bandido
«Meu sonho tem boca
Que o digam meus ossos»
Está quase a chegar o Foge Foge Bandido. Vou ter de arranjar mais um espacinho no departamento das grandessíssimas paixões para o acolher - ou simplesmente despejar quem quer que o tenha ocupado (?) desde o fim dos Ornatos. A meus braços, novamente.
Que o digam meus ossos»
Está quase a chegar o Foge Foge Bandido. Vou ter de arranjar mais um espacinho no departamento das grandessíssimas paixões para o acolher - ou simplesmente despejar quem quer que o tenha ocupado (?) desde o fim dos Ornatos. A meus braços, novamente.
segunda-feira, 12 de maio de 2008
Ainda estou lá
É um pau de dois bicos, a recorrente questão da eterna juventude e fenómenos associados. Se por um lado quem leva a vida com um sorriso de invariável despreocupação angaria, obrigatoriamente, algumas invejas, por outro arrisca-se a ser rotulado de imaturo, inconsequente ou simplesmente tolinho.
Mas não há como negar que uma boa dose de inconsequência ou até proto-demência, muito de vez em quando, é um poderoso anti-rugas mesclado de anti-depressivo e suplemento vitamínico. Só assim, com este palavreado médico todo, se consegue explicar que, depois de dormir três horas e pico e de estar a puxar pela cabeça até às quatro da matina, esta manhã me sentisse tão enérgica. Acho que até sonhei com o Chico Buarque.
Agora é tarde para negar - agora que a minha pobre figurinha ficou imortalizada em pelo menos um vídeo do YouTube e umas quantas fotografias inesperadas. Agora que berrei o Abel de braço dado com a Sandra, que assisti à muito profissional preocupação da Menina Alice com a jornada laboral que se avizinhava, que abracei um amigo que fez das tripas coração para chegar ao epicentro a tempo, que partilhei ansiedades de índole diversa com a mana e a vi, luminosíssima, a cantar uma das melhores letras de sempre horas depois, o sorriso a encher a sala toda. Agora que fiquei amuada por me desencontrar do mano e triste por, no meio da minha euforia, me encontrar com a sua desorientação; que interrompi conversas civilizadas para partilhar, aos berros, entusiasmos sem palavras; que rejubilei com os pareceres persuadidos de gente entendida e racional; que quis ligar a meio mundo com quem ainda não partilhei toda esta vida, a dar a boa nova.
É tarde para negar toda a devoção que por aqui corre, pulsante, tarde para dissociar letras de amigos, amigos de canções, canções de desejos, desejos de recordações. A Ali pensava que era «full of spiders» e eu «come on let me call you love» e o mano enxuga os olhos, que eu bem vi, com as mesmas mãos com que praticamente esganará os rapazes por fazerem ouvidos moucos ao «I'm getting nervous» que entoa há nove meses, prenho de esperança. Eu sonhei que via um papagaio azul no meio da rua e pensava nos «blue birds» de tantas letras, o rapaz que impediu que o Matt caísse nas doutorais tinha uma t-shirt igual à minha, engomadinha e tudo, o padrinho JG ficou de papo cheio, em Domingo de outras emoções. Dia de aniversário, manhã de funeral, conquistas e despedidas, a vida toda a fazer um sprint em 24 horas.
O que faz uma banda especial? Ter gente dentro. E nesta, por muito que tentasse, eu já não conseguia pôr mais ninguém. Toda eu vivo lá.
Mas não há como negar que uma boa dose de inconsequência ou até proto-demência, muito de vez em quando, é um poderoso anti-rugas mesclado de anti-depressivo e suplemento vitamínico. Só assim, com este palavreado médico todo, se consegue explicar que, depois de dormir três horas e pico e de estar a puxar pela cabeça até às quatro da matina, esta manhã me sentisse tão enérgica. Acho que até sonhei com o Chico Buarque.
Agora é tarde para negar - agora que a minha pobre figurinha ficou imortalizada em pelo menos um vídeo do YouTube e umas quantas fotografias inesperadas. Agora que berrei o Abel de braço dado com a Sandra, que assisti à muito profissional preocupação da Menina Alice com a jornada laboral que se avizinhava, que abracei um amigo que fez das tripas coração para chegar ao epicentro a tempo, que partilhei ansiedades de índole diversa com a mana e a vi, luminosíssima, a cantar uma das melhores letras de sempre horas depois, o sorriso a encher a sala toda. Agora que fiquei amuada por me desencontrar do mano e triste por, no meio da minha euforia, me encontrar com a sua desorientação; que interrompi conversas civilizadas para partilhar, aos berros, entusiasmos sem palavras; que rejubilei com os pareceres persuadidos de gente entendida e racional; que quis ligar a meio mundo com quem ainda não partilhei toda esta vida, a dar a boa nova.
É tarde para negar toda a devoção que por aqui corre, pulsante, tarde para dissociar letras de amigos, amigos de canções, canções de desejos, desejos de recordações. A Ali pensava que era «full of spiders» e eu «come on let me call you love» e o mano enxuga os olhos, que eu bem vi, com as mesmas mãos com que praticamente esganará os rapazes por fazerem ouvidos moucos ao «I'm getting nervous» que entoa há nove meses, prenho de esperança. Eu sonhei que via um papagaio azul no meio da rua e pensava nos «blue birds» de tantas letras, o rapaz que impediu que o Matt caísse nas doutorais tinha uma t-shirt igual à minha, engomadinha e tudo, o padrinho JG ficou de papo cheio, em Domingo de outras emoções. Dia de aniversário, manhã de funeral, conquistas e despedidas, a vida toda a fazer um sprint em 24 horas.
O que faz uma banda especial? Ter gente dentro. E nesta, por muito que tentasse, eu já não conseguia pôr mais ninguém. Toda eu vivo lá.
segunda-feira, 5 de maio de 2008
Crise existencial
Quer-me parecer que, mais do que uma crise desportiva, é uma crise existencial a abalar o Benfica.
Depois de o Luisão salientar a sua pertença ao género humano - «o Luisão também é um ser humano», lembrou ele numa «flash interview» - hoje ouvi o Nuno Gomes mandar um recado aos comentadores da bola. «É que eu estou vivo», revelou ele em primeira mão, aos repórteres que o rodeavam.
Depois de o Luisão salientar a sua pertença ao género humano - «o Luisão também é um ser humano», lembrou ele numa «flash interview» - hoje ouvi o Nuno Gomes mandar um recado aos comentadores da bola. «É que eu estou vivo», revelou ele em primeira mão, aos repórteres que o rodeavam.
domingo, 4 de maio de 2008
No thinking for a little while
Olhai como a boa gente do deserto da Califórnia aquece a banda para nós:
Menina Alice: uma semana e cinco minutos.
(e a dica a não ignorar, nesta canção, só pode mesmo ser: no thinking for a little while. No thinking for a little while, No thinking for a little while, No thinking for a little while - há ciência neste pedido)
Menina Alice: uma semana e cinco minutos.
(e a dica a não ignorar, nesta canção, só pode mesmo ser: no thinking for a little while. No thinking for a little while, No thinking for a little while, No thinking for a little while - há ciência neste pedido)
domingo, 27 de abril de 2008
Paparoca vistosa
Para dar um pouco de colorido ao blogue, eis uma selecção de pratos confeccionados recentemente pela vossa amiga, e com poucas probabilidades de agradar à doutora da Menina Alice (que, apesar de nunca me ter posto a vista em cima, passou já a fazer parte dos meus pesadelos...).
sexta-feira, 25 de abril de 2008
O triunfo dos pássaros
Há um pavão, que eu em tempos fotografei, que gosta de trocar o Jardim Botânico da Ajuda onde habita por alguns poisos vizinhos. Outro dia avistei-o em cima do muro do jardim, dias mais tarde empoleirado no telhado (!) de uma casa vizinha.
Em Paço de Arcos, há uma senhora de idade que se passeia regularmente a pé, acompanhada do marido. Ele leva uma bengala, ela tem um papagaio pousado na mão. Nunca consigo perceber se o bicho está preso por uma corrente ao pulso dela ou se se habituou a não fugir, mas não deixa de ser das parcerias mais exóticas que me têm sido dadas a observar.
Em Paço de Arcos, há uma senhora de idade que se passeia regularmente a pé, acompanhada do marido. Ele leva uma bengala, ela tem um papagaio pousado na mão. Nunca consigo perceber se o bicho está preso por uma corrente ao pulso dela ou se se habituou a não fugir, mas não deixa de ser das parcerias mais exóticas que me têm sido dadas a observar.
Fado nocturno
Estava eu outro dia muito refastelada a tentar encontrar virtudes no Instinto Fatal 2 - aquele corte de cabelo não nasceu para a cara da Sharon Stone - quando um inesperado fenómeno musical irrompe na minha rua.
A Amália Rodrigues, e julgo que não estou a inventar, começa a ouvir-se alto e bom som, cantando «Tudo Isto é Fado». Era meia noite e meia. Vou à janela tentar perceber se alguém pôs o auto-rádio em altos berros ou se apenas abriu a janela de casa, partilhando com o resto da rua a sua tardia escolha musical. Não vislumbro sinais de uma ou outra coisa.
Entretanto, a música acaba, chega o camião do lixo, por si só capaz de abafar qualquer nova ousadia fadística, e quando parte deixa atrás de si a rua no costumeiro silêncio.
A Amália Rodrigues, e julgo que não estou a inventar, começa a ouvir-se alto e bom som, cantando «Tudo Isto é Fado». Era meia noite e meia. Vou à janela tentar perceber se alguém pôs o auto-rádio em altos berros ou se apenas abriu a janela de casa, partilhando com o resto da rua a sua tardia escolha musical. Não vislumbro sinais de uma ou outra coisa.
Entretanto, a música acaba, chega o camião do lixo, por si só capaz de abafar qualquer nova ousadia fadística, e quando parte deixa atrás de si a rua no costumeiro silêncio.
25 de Abril na RTP
No telejornal da RTP, o 34º aniversário do 25 de Abril dá origem às mesmas reportagens - deprimentes - de sempre.
Das duas uma, e isto acontece desde que me conheço e que conheço os serviços noticiosos do canal público: ou está mau tempo, as pessoas não fazem nenhum e entram umas imagens de arquivo, ou faz sol, o povo enche as praias e lá vão os repórteres, todos empertigados, aborrecer os veraneantes de Abril.
E o que foi o 25 de Abril? Bom ou mau? Tem a certeza, não quer usar a ajuda de casa? Sempre a mesma conversa, com a pequena agravante de, ano após ano, os inquiridos parecerem cada vez mais ignorantes e/ou esquecidos da razão que lhes permite não trabalhar naquele dia.
Também me apoquenta a pitadinha de moralismo, sempre implícita nas perguntas dos repórteres. Então é 25 de Abril e está na praia? Tem algum jeito, não devia estar a desfilar de bandeira na mão e cravo na lapela?... Coitados dos cidadãos, já lhes basta a burrice e a celulite à vista de todo o país.
Era bonito que algum dos senhores ou senhoras respondesse de volta: então e vocês que são o canal público, hein, a seguir a mostrar esta reportagem vão passar um «tutorial» sobre o 25 de Abril protagonizado pelo Guilherme Leite? Acha bem, acha?...
Das duas uma, e isto acontece desde que me conheço e que conheço os serviços noticiosos do canal público: ou está mau tempo, as pessoas não fazem nenhum e entram umas imagens de arquivo, ou faz sol, o povo enche as praias e lá vão os repórteres, todos empertigados, aborrecer os veraneantes de Abril.
E o que foi o 25 de Abril? Bom ou mau? Tem a certeza, não quer usar a ajuda de casa? Sempre a mesma conversa, com a pequena agravante de, ano após ano, os inquiridos parecerem cada vez mais ignorantes e/ou esquecidos da razão que lhes permite não trabalhar naquele dia.
Também me apoquenta a pitadinha de moralismo, sempre implícita nas perguntas dos repórteres. Então é 25 de Abril e está na praia? Tem algum jeito, não devia estar a desfilar de bandeira na mão e cravo na lapela?... Coitados dos cidadãos, já lhes basta a burrice e a celulite à vista de todo o país.
Era bonito que algum dos senhores ou senhoras respondesse de volta: então e vocês que são o canal público, hein, a seguir a mostrar esta reportagem vão passar um «tutorial» sobre o 25 de Abril protagonizado pelo Guilherme Leite? Acha bem, acha?...
sexta-feira, 18 de abril de 2008
A arte do título
Muito me ri com este texto que o Jorge Mourinha publicou no jornal Público, na passada Segunda-feira.
O título (de documentário!) "Total Selvagem: Cabras Desmaiadas?", então, vai ser daquelas «muletas mentais» a que irei recorrer sempre que quiser evitar chorar no cinema, por exemplo.
O título (de documentário!) "Total Selvagem: Cabras Desmaiadas?", então, vai ser daquelas «muletas mentais» a que irei recorrer sempre que quiser evitar chorar no cinema, por exemplo.
Fim de intervalo
Não tenho tido muito tempo nem cabeça para alimentar o Sofá Verde, apesar de frequentes vezes posts inteiros surgirem na minha cabeça, com imagem e tudo. É o que eu digo - tudo será mais fácil (e menos sossegado) quando inventarem um cabo USB para ligar os nossos humildes cérebros aos infalíveis PCs.
Retomo, timidamente, actividade com uma sugestão musical. É um rapaz americano pouco mais velho que eu, acaba de lançar o terceiro álbum ("Dropping The Writ") e chama-se Cass McCombs. À primeira escutadela parece «apenas» um novo Elliott Smith, mas à medida que lhes damos trela, músicas como «Lionkiller», «Pregnant Pause» ou «Full Moon Or Infinity» deitam as garras de fora. É um belo disco, do qual infelizmente não encontro amostras (áudio ou vídeo) de interesse para vos mostrar. Em breve, passem por aqui outra vez, que vos dispenso um linquezinho amigo.
E AÍ ESTÁ ELE: é só clicar no linque para aconchegarem no vosso PC o mp3 da música «Windfall». Beleza para dar e vender.
Retomo, timidamente, actividade com uma sugestão musical. É um rapaz americano pouco mais velho que eu, acaba de lançar o terceiro álbum ("Dropping The Writ") e chama-se Cass McCombs. À primeira escutadela parece «apenas» um novo Elliott Smith, mas à medida que lhes damos trela, músicas como «Lionkiller», «Pregnant Pause» ou «Full Moon Or Infinity» deitam as garras de fora. É um belo disco, do qual infelizmente não encontro amostras (áudio ou vídeo) de interesse para vos mostrar. Em breve, passem por aqui outra vez, que vos dispenso um linquezinho amigo.
E AÍ ESTÁ ELE: é só clicar no linque para aconchegarem no vosso PC o mp3 da música «Windfall». Beleza para dar e vender.
terça-feira, 15 de abril de 2008
Grande plano
Uma foto de Dona Shiva I serve sempre às mil maravilhas como desbloqueador de conversa.
Ei-la aqui, fotografada para a capa da Vanity Fair.
A emissão neste blogue será retomada o quanto antes.
Ei-la aqui, fotografada para a capa da Vanity Fair.
A emissão neste blogue será retomada o quanto antes.
quinta-feira, 3 de abril de 2008
terça-feira, 25 de março de 2008
Explosão floral
Num discurso proferido durante a deslocação que compreensivelmente apoquenta a Menina Alice, Cavaco Silva explicou que o tempo passado em Moçambique com a mulher o marcou - também - pela beleza da rua onde viveram. O facto de a dita artéria se chamar «Princesa Patrícia» influenciou, até, o casal na hora de baptizar a filha. Segue-se uma descrição emocionada (na medida do possível - estamos a falar do Cavaco Silva) sobre a «explosão floral» que caracterizava a Rua Princesa Patrícia.
Explosão Floral. Será que o senhor que escreve os anúncios do champô Herbal Essences anda a fazer um part-time tratando dos discursos do Presidente da República?...
Explosão Floral. Será que o senhor que escreve os anúncios do champô Herbal Essences anda a fazer um part-time tratando dos discursos do Presidente da República?...
segunda-feira, 24 de março de 2008
Limpeza de Primavera
Nada que se apresente, esta modesta remodelação, mas mudei - por fim! - a lista dos discos que ando a ouvir e os linques dos blogues amigos. Alguns mudaram de casa e voltaram à actividade - três vivas a essa boa nova.
Mais frases
A época pascal também foi fértil para o meu Pai. As miúdas a dormir à porta do Atlântico, para verem os Tokio Hotel, estariam - se fossem filhas dele - a «asfaltar estradas». O Sportingue perdeu com o Setúbal porque o Paulo Bento (além de ser um maricas e estar sempre «a coçar o nariz» nas conferências de imprensa) tem «vergonha» de pôr os jogadores, nomeadamente o Liedson, a treinar penalties. Quem dera aos leões ter um treinador como o Jaime Pacheco (de quem o meu Pai já disse cobras e lagartos, ao longo de vários anos) - pode ser caceteiro mas pôs jogadores «que só foram para o Boavista porque tinham fome e queriam comer maçarocas» a jogar mais ou menos. Por falar em regimes alimentares, a desgraça do SCP é, claramente, da responsabilidade do Miguel Veloso e do «cu gordo!» que ostenta desde a colaboração com a estilista Fátima Lopes (o meu Pai é que diz, atenção - eu nunca olhei para o rabo do futebolista).
Não reparando que a chávena que o jornal Record trazia de brinde era não só uma chávena do Sporting, como uma chávena do Miguel Veloso, a minha Mãe ofereceu o dito souvenir ao meu Pai. O homem ignorou o ódio de estimação ao jogador de rabiosque adiposo e prometeu estimar a caneca. Pouco depois, viria a parti-la sem querer, quando tentava perceber porque é que as cápsulas da máquina de café não estavam a rebentar. «Rai's partó dia em que se comprou [ele comprou, portanto] a máquina!».
Não é preciso ser cientista genético para encontrar aqui um padrão (ver post abaixo).
Não reparando que a chávena que o jornal Record trazia de brinde era não só uma chávena do Sporting, como uma chávena do Miguel Veloso, a minha Mãe ofereceu o dito souvenir ao meu Pai. O homem ignorou o ódio de estimação ao jogador de rabiosque adiposo e prometeu estimar a caneca. Pouco depois, viria a parti-la sem querer, quando tentava perceber porque é que as cápsulas da máquina de café não estavam a rebentar. «Rai's partó dia em que se comprou [ele comprou, portanto] a máquina!».
Não é preciso ser cientista genético para encontrar aqui um padrão (ver post abaixo).
A frase desta Páscoa
Desta vez até tinha razão para se queixar, mas nem por isso a frase com que a minha Avó cunhou esta Páscoa perdeu em imaginação, intensidade ou respeito pelo Criador.
«Rai's partam o Domingo de Páscoa! Senhor me perdoe».
«Rai's partam o Domingo de Páscoa! Senhor me perdoe».
Sotaques
Adoro quase todo o tipo de sotaque, com a notável e julgo que justificada excepção do «sotaque» castrado de tantas adolescentes da Grande Lisboa, que substituem o final das palavras com um sarrabisco sibilado («portantss», «deitadz»... A circunflexização que fazem das vogais também me dá volta ao estômago, mas essa é outra história).
Mas aparte essa praga, palavra de honra que adoro sotaques. Por que razão me eriçará tanto, então, ouvir um rapaz com forte sotaque madeirense? Será que o referente é demasiado forte para eu conseguir apreciar apenas a fonética?...
Mas aparte essa praga, palavra de honra que adoro sotaques. Por que razão me eriçará tanto, então, ouvir um rapaz com forte sotaque madeirense? Será que o referente é demasiado forte para eu conseguir apreciar apenas a fonética?...
terça-feira, 18 de março de 2008
Queijo esta noite
Depois de uma semana de reflexão, o Queijo volta esta noite à Rádio Zero. É só rumar a radiozero.pt por volta das 22h, se nos quiserem fazer companhia.
O meu jardim oriental
De manhã há um sapo com a língua de fora e uma coroa na cabeça; à tarde a raposa prepara um chá, à sombra do pagode chinês e das muitas laranjeiras. Com o fim da tarde o cenário passa do verdinho relaxante para um quente acobreado, o sol a pôr-se ao fundo. A noite é serena, com libelinhas por toda a parte.
É um consolo, o meu google.
American Music Club
Não tem sido um ano fértil em nova música boa, pelo menos aqui para os meus lados.
Mas ter o Mark Eitzel a cantar, logo na primeira música do novo THE GOLDEN AGE, «I wish that we... could swim in the sky», vale por muitos «flavours of the week».
Mas ter o Mark Eitzel a cantar, logo na primeira música do novo THE GOLDEN AGE, «I wish that we... could swim in the sky», vale por muitos «flavours of the week».
terça-feira, 11 de março de 2008
Pas de Queijo
Por motivos familiares, a emissão desta noite do Boa Noite e um Queijo não irá para o ar. A todos os nossos fãs - e sobretudo aos gatos da prima brasileira da Ana Martins que vive na Escócia - deixamos sentidos pedidos de desculpa e a promessa de um regresso breve, breve.
ALL SAFE AND SOUND
ALL SAFE AND SOUND - I WON'T LET THE PSYCHOS AROUND
Não reparei antes de fazer o post, mas faltam dois meses.
Não reparei antes de fazer o post, mas faltam dois meses.
Dilemas de call center
Ontem de manhã, uma senhora atrás de mim, no comboio, telefonou para um qualquer «call center» para fazer a seguinte reclamação:
«É que deram-me um telemóvel para substituir o outro... e eu encontrei lá uma fotografia de uma senhora com... como é que hei-de dizer isto, com uma lingerie muito ousada».
Aparentemente, a queixosa achava essa imagem pouco apropriada para o telemóvel de alguém «já com uma certa idade».
«É que deram-me um telemóvel para substituir o outro... e eu encontrei lá uma fotografia de uma senhora com... como é que hei-de dizer isto, com uma lingerie muito ousada».
Aparentemente, a queixosa achava essa imagem pouco apropriada para o telemóvel de alguém «já com uma certa idade».
Ao cuidado do senhor McQueen
Sempre preocupado com o bem-estar de quem nele trabalha, o «meu» edifício acaba de apresentar aos seus utentes três intrigantes novidades:
- uma porta automática, onde antes havia uma porta «normal», para que os fumadores possam escapulir-se para o exterior com mais facilidade
- uma máquina de amendoins, cajus e gomas
- um engraxador automático de sapatos
Estou certa que há uma relação evidente entre estes três «melhoramentos» e um mundo mais justo; mal descubra qual, venho cá dizer.
ÚLTIMA HORA: O engraxador automático de sapatos desapareceu. Quem também se foi embora, de ontem para hoje, foram os senhores das massagens zen, que há duas ou três semanas assentaram arraiais por aqui, promovendo coisas como tratamentos «indian head». Estarão ambos os desaparecimentos relacionados?...
- uma porta automática, onde antes havia uma porta «normal», para que os fumadores possam escapulir-se para o exterior com mais facilidade
- uma máquina de amendoins, cajus e gomas
- um engraxador automático de sapatos
Estou certa que há uma relação evidente entre estes três «melhoramentos» e um mundo mais justo; mal descubra qual, venho cá dizer.
ÚLTIMA HORA: O engraxador automático de sapatos desapareceu. Quem também se foi embora, de ontem para hoje, foram os senhores das massagens zen, que há duas ou três semanas assentaram arraiais por aqui, promovendo coisas como tratamentos «indian head». Estarão ambos os desaparecimentos relacionados?...
terça-feira, 4 de março de 2008
CALIFORNICATION (e outras séries)
Numa era em que o paradigma da série bem sucedida se aloja algures entre médicos misóginos (amor profundo), conspirações (anti)-terroristas (todo o meu respeito, embora não seja devota), donas de casa mais sexuadas do que desesperadas, famílias poligâmicas e gente normal com poderes sobrehumanos, escolher para herói da história um senhor que papa as senhoras todas e não mostra remorso acaba por ser tão anacrónico como enfadonho.
Constou-me que a série causara grande polémica. Pois a mim, dá-me sono (ainda assim vejo-a, se não me apetece recolher às boxes nem tenho nada de melhor para fazer àquela hora).
Confesso ainda que, por algum motivo estranho, prefiro acreditar que o David Duchovny é um bom rapaz (com a casa cheia de filmes pornô e uma fixação pelo Além, mas um bom rapaz) do que vê-lo com um penteado à Don «Miami Vice» Johnson. É escusado.
Por outro lado, cada vez me intriga mais a série Nip/Tuck, que apanho ocasionalmente, sempre por acaso, e me parece ter um argumento francamente cruel, a roçar o desumano. E se é de gente nua e em acção que o vosso «zapping» precisa àquela hora, também nesse campeonato o Nip/Tuck dá goleada ao Californication (quantidade e variedade, e mais não digo).
Já o prémio de «guilty pleasure» actual tem de ir para o Miss Match, uma pequenita mas graciosa (pronto, apenas pequenita) comédia romântica - em forma de série televisiva - sobre uma advogada de divórcios que, nas horas livres, se arma em casamenteira. É com a Alicia Silverstone e onde quer que sejam as filmagens, naquela terra nunca chove.
Constou-me que a série causara grande polémica. Pois a mim, dá-me sono (ainda assim vejo-a, se não me apetece recolher às boxes nem tenho nada de melhor para fazer àquela hora).
Confesso ainda que, por algum motivo estranho, prefiro acreditar que o David Duchovny é um bom rapaz (com a casa cheia de filmes pornô e uma fixação pelo Além, mas um bom rapaz) do que vê-lo com um penteado à Don «Miami Vice» Johnson. É escusado.
Por outro lado, cada vez me intriga mais a série Nip/Tuck, que apanho ocasionalmente, sempre por acaso, e me parece ter um argumento francamente cruel, a roçar o desumano. E se é de gente nua e em acção que o vosso «zapping» precisa àquela hora, também nesse campeonato o Nip/Tuck dá goleada ao Californication (quantidade e variedade, e mais não digo).
Já o prémio de «guilty pleasure» actual tem de ir para o Miss Match, uma pequenita mas graciosa (pronto, apenas pequenita) comédia romântica - em forma de série televisiva - sobre uma advogada de divórcios que, nas horas livres, se arma em casamenteira. É com a Alicia Silverstone e onde quer que sejam as filmagens, naquela terra nunca chove.
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008
É o regresso das árvores...
É o regresso das árvores - agora a solo - e da frase/legenda/citação que melhor assenta a este tipo de foto...
SERVE ME THE SKY WITH A BIG SLICE OF LEMON
A mancha da demência
Nota: o concerto ainda não foi oficialmente anunciado e os bilhetes estão à venda há dois ou três dias. E aquele cadeirão mesmo lá à frente já esteve reservado.
terça-feira, 19 de fevereiro de 2008
Taxista palavroso
Até era simpático, o senhor taxista que ontem tentou levar-me de Benfica até Algés, contra tudo e contra todos (ou seja, contra as cheias e os automobilistas furibundos).
As suas palavras favoritas: CALDEIRADA (ex: «isto ali para Sete Rios com a água deve estar uma caldeirada desgraçada») e DESEMBORREGAR (OK, esta só usou uma vez, mas é tão boa que tive de anotar. Ex: «Eu bem tentei desemborregar, metendo por Pina Manique, mas também estava uma caldeirada»).
As suas palavras favoritas: CALDEIRADA (ex: «isto ali para Sete Rios com a água deve estar uma caldeirada desgraçada») e DESEMBORREGAR (OK, esta só usou uma vez, mas é tão boa que tive de anotar. Ex: «Eu bem tentei desemborregar, metendo por Pina Manique, mas também estava uma caldeirada»).
De férias
Depois do brilharete anunciado abaixo, o meu subconsciente demitiu-se de mais canseiras.
Como quem diz: «Adivinhei-te aquilo e fiz-te passar por esperta, agora deixa-me descansar, boa?».
E eu deixei. Quando acordei, esta manhã, estava a sonhar que matava um mosquito.
Como quem diz: «Adivinhei-te aquilo e fiz-te passar por esperta, agora deixa-me descansar, boa?».
E eu deixei. Quando acordei, esta manhã, estava a sonhar que matava um mosquito.
Temporal
No meio de toda a desgraça, salvam-se duas grandes fotos: a do JN e DN (abaixo) e a do Público, que é mau e não me deixa copiar a imagem. Eu vi isto ontem à noite, pois vergonhosamente sou uma pessoa que acha excitante esperar pela uma da manhã para ver o Pedro Mourinho, na SIC Notícias, a riscar com um marcador cor-de-rosa fluorescente as capas dos jornais da manhã seguinte.
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008
Um dia feliz (parecendo que não)
De ontem para hoje não dormi nada, aflita com a tempestade - o maior trovão que já ouvi na vida fez-se anunciar pelas quatro e meia - e intempéries de outra ordem.
De manhã, com ingenuidade acredito que toda a gente pegou no carro para ir para o trabalho, e que o 729 estará vazio à minha espera, na paragem. Em meia hora, não passa um único autocarro da Carris numa Estrada de Benfica caótica - em minha casa havia luz, mas nos cafés mais abaixo, as portas abriam-se apenas para mostrar estabelecimentos escuros e sorumbáticos. Deles, as pessoas saem com cara de poucos amigos - e cara de falta de cafeína também. Não sei porquê, começo a lembrar-me d' O Ensaio Sobre a Cegueira; tenho medo.
Decido apanhar um táxi até Algés. A viatura fica presa no trânsito logo aos primeiros segundos da viagem e a certa altura desisto de sequer olhar mais para o taxímetro. Se morresse alguém era pior, chego a pensar a certa altura. Curiosamente, na altura de lhe pagar os 17 euros por cerca de uma hora de convívio forçado, o taxista despede-se com as palavras «olhe, ao menos não morreu ninguém, menina». Telepático, no mínimo.
Chego ao trabalho duas horas e meia depois de sair de casa. Estou mal disposta e o trabalho, que tem de ficar todo pronto hoje, não tem fim à vista. Só consigo sair, insatisfeita com a qualidade do que deixei feito, perto das nove. Chego a casa a tempo de tragar qualquer coisa aquecida no micro-ondas. Primeira vitória desta Segunda-feira: ainda apanho o House e a expulsão, bem bonita, lá da outra bimba (obrigada pelo consolo, visitante anónimo!).
Louça lavada, casa-de-banha da gatucha limpa e chão da cozinha varrido, ponho um chá a fazer. Penso que a única emoção que o dia me reserva pode, com algum jeito, residir nalguma série tola dos canais do costume. Vou à sala sem razão e reparo que o telemóvel toca. Tento tirá-lo da mala, que está presa na cadeira, mas a palerma da gata, a quem o toque não agrada por aí além, começa a esgadanhar-me pernas e braços. Agarro o telemóvel no último toque - ainda a tempo de ver «Leonor».
Um pressentimento assola-me a alma e corro para o computador enquanto tento retribuir a chamada.
Sim. 11 de Maio. Aula Magna. Um ano depois, mais dia menos dia. The National.
Podia terminar o post dizendo que ainda há justiça neste mundo, mas não resisto a contar um sonho que tive recentemente, para me vangloriar ainda mais do meu subconsciente: nesse sonho, a Sara e a Leonor - arautas desta notícia na vida real - descobriam, numa ida ao Garage, que os National iam ao Santiago Alquimista a 23 de Maio. Os bilhetes custavam 14 euros e a organização era da Everything Is New. Na mesma noite, actuavam em Lisboa os Mercury Rev.
Pá, mais coisa menos coisa, estou pronta para entrar no mercado da Alcina Lameiras. Ana Martins, Leonor, Moonshiner - depois apareçam por aqui para confirmar que eu vos falei deste sonho... o que tive a dormir, que no outro ainda não acredito : )
De manhã, com ingenuidade acredito que toda a gente pegou no carro para ir para o trabalho, e que o 729 estará vazio à minha espera, na paragem. Em meia hora, não passa um único autocarro da Carris numa Estrada de Benfica caótica - em minha casa havia luz, mas nos cafés mais abaixo, as portas abriam-se apenas para mostrar estabelecimentos escuros e sorumbáticos. Deles, as pessoas saem com cara de poucos amigos - e cara de falta de cafeína também. Não sei porquê, começo a lembrar-me d' O Ensaio Sobre a Cegueira; tenho medo.
Decido apanhar um táxi até Algés. A viatura fica presa no trânsito logo aos primeiros segundos da viagem e a certa altura desisto de sequer olhar mais para o taxímetro. Se morresse alguém era pior, chego a pensar a certa altura. Curiosamente, na altura de lhe pagar os 17 euros por cerca de uma hora de convívio forçado, o taxista despede-se com as palavras «olhe, ao menos não morreu ninguém, menina». Telepático, no mínimo.
Chego ao trabalho duas horas e meia depois de sair de casa. Estou mal disposta e o trabalho, que tem de ficar todo pronto hoje, não tem fim à vista. Só consigo sair, insatisfeita com a qualidade do que deixei feito, perto das nove. Chego a casa a tempo de tragar qualquer coisa aquecida no micro-ondas. Primeira vitória desta Segunda-feira: ainda apanho o House e a expulsão, bem bonita, lá da outra bimba (obrigada pelo consolo, visitante anónimo!).
Louça lavada, casa-de-banha da gatucha limpa e chão da cozinha varrido, ponho um chá a fazer. Penso que a única emoção que o dia me reserva pode, com algum jeito, residir nalguma série tola dos canais do costume. Vou à sala sem razão e reparo que o telemóvel toca. Tento tirá-lo da mala, que está presa na cadeira, mas a palerma da gata, a quem o toque não agrada por aí além, começa a esgadanhar-me pernas e braços. Agarro o telemóvel no último toque - ainda a tempo de ver «Leonor».
Um pressentimento assola-me a alma e corro para o computador enquanto tento retribuir a chamada.
Sim. 11 de Maio. Aula Magna. Um ano depois, mais dia menos dia. The National.
Podia terminar o post dizendo que ainda há justiça neste mundo, mas não resisto a contar um sonho que tive recentemente, para me vangloriar ainda mais do meu subconsciente: nesse sonho, a Sara e a Leonor - arautas desta notícia na vida real - descobriam, numa ida ao Garage, que os National iam ao Santiago Alquimista a 23 de Maio. Os bilhetes custavam 14 euros e a organização era da Everything Is New. Na mesma noite, actuavam em Lisboa os Mercury Rev.
Pá, mais coisa menos coisa, estou pronta para entrar no mercado da Alcina Lameiras. Ana Martins, Leonor, Moonshiner - depois apareçam por aqui para confirmar que eu vos falei deste sonho... o que tive a dormir, que no outro ainda não acredito : )
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
Romantismo mediterrânico
No Dia dos Namorados, espero que os meus amigos tenham recebido, no mínimo, 24 mil beijinhos cada um. Eis a minha contribuição para a saúde da sua vida afectiva (desculpai lá a meia de vidro enfiada pela cabeça abaixo):
(24 000 BACI, um original do cançonetista Adriano Celentano, tocado ao vivo e com respeito pelos Mr. Bungle, em 1995. O original, reconheço, é ainda melhor e pode - e deve - ser visto aqui.)
(24 000 BACI, um original do cançonetista Adriano Celentano, tocado ao vivo e com respeito pelos Mr. Bungle, em 1995. O original, reconheço, é ainda melhor e pode - e deve - ser visto aqui.)
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008
HOUSE
Quase tão bom como o Mike Patton a dizer «canciones lentos» foi, nesta Segunda-feira à noite, o House a dizer «castanhas do Pará». Senti um pequeno arrepio, e nem tem estado assim tanto frio ultimamente.
Agora, há necessidade de o emparelharem com uma tipa esquelética, cabelo impecável, perfil de top model? E a simpatia pelos pobres de espírito - e de corpo - que gostam de ver a série e não se revêem em tais estampas?
Estou chateada.
(Susana, ainda só vi para aí até ao episódio 5. Não me venhas já com os teus spoilers em catadupa.)
Agora, há necessidade de o emparelharem com uma tipa esquelética, cabelo impecável, perfil de top model? E a simpatia pelos pobres de espírito - e de corpo - que gostam de ver a série e não se revêem em tais estampas?
Estou chateada.
(Susana, ainda só vi para aí até ao episódio 5. Não me venhas já com os teus spoilers em catadupa.)
Boa Noite e um Queijo
Depois do descanso na semana do Carnaval, a Ana Martins e esta vossa lacaia voltaram aos estúdios da Rádio Zero. Brevemente, o linque para ouvirem em diferido, aqui.
Nem uma coisa nem outra
A minha semana começou da melhor maneira.
Atrás de mim, na paragem de autocarro, um velhote explicava como uma ida ao hospital e os avanços da medicina tinham feito maravilhas pela sua saúde.
«Já não tenho nada na prósta, nem costróis, nem nada!», exclamava, ufano.
Mas o senhor era especialmente achacado dos intestinos. Nada que uns clisters não tivessem ajudado a resolver.
«Mas agora já está bom?», perguntou, ansioso, um dos interlocutores, precipitando a conclusão triunfal do nosso herói:
«Sim, agora estou! Mas dantes, nem órinava nem cagava!».
Atrás de mim, na paragem de autocarro, um velhote explicava como uma ida ao hospital e os avanços da medicina tinham feito maravilhas pela sua saúde.
«Já não tenho nada na prósta, nem costróis, nem nada!», exclamava, ufano.
Mas o senhor era especialmente achacado dos intestinos. Nada que uns clisters não tivessem ajudado a resolver.
«Mas agora já está bom?», perguntou, ansioso, um dos interlocutores, precipitando a conclusão triunfal do nosso herói:
«Sim, agora estou! Mas dantes, nem órinava nem cagava!».
Sonhos
Há poucas coisas mais reconfortantes do que acordar de um sonho mau. A confusão ainda é alguma, o coração bate fora do ritmo Becel, mas o alívio de percebermos que o cenário que ainda há poucos segundos parecia tão realista é, afinal, uma construção da nossa imaginação é muito bem-vindo.
Esta noite, sonhei que se tinha descoberto que o Andre Agassi tinha tomado, em determinada altura da sua carreira, substâncias dopantes. Por isso, iam ser-lhe retirados os Grand Slams (Open da Austrália, Roland Garros, Wimbledon, US Open - nunca é demais salientar que os papou todos) que tinha ganho.
Sonhei, inclusive, com as manchetes dos jornais. Uma falava no «período dourado dele», e o Expresso - uau, sonhei com o Expresso. Que erudição! - fazia mesmo uma chamada de capa com a terrível notícia.
A foto era da colheita 1993/4 e o título o seguinte: «Andre Agassi pode perder o seu canto na história» (até que nem era um mau título, não senhora).
Depois acordei, graças a Deus.
Esta noite, sonhei que se tinha descoberto que o Andre Agassi tinha tomado, em determinada altura da sua carreira, substâncias dopantes. Por isso, iam ser-lhe retirados os Grand Slams (Open da Austrália, Roland Garros, Wimbledon, US Open - nunca é demais salientar que os papou todos) que tinha ganho.
Sonhei, inclusive, com as manchetes dos jornais. Uma falava no «período dourado dele», e o Expresso - uau, sonhei com o Expresso. Que erudição! - fazia mesmo uma chamada de capa com a terrível notícia.
A foto era da colheita 1993/4 e o título o seguinte: «Andre Agassi pode perder o seu canto na história» (até que nem era um mau título, não senhora).
Depois acordei, graças a Deus.
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