Esta, confesso, foi mais complicada. Mas de tudo se encontra, nesta quadra de boa vontade e excesso de açúcar no sangue.
A dois passos de minha casa, em Lisboa, abriu recentemente uma nova sapataria. Alojou-se no estabelecimento deixado vago por uma antiga papelaria e vende sobretudo sapatos, botas e malas de cores vivas e vistosas, não raras vezes com um aspecto plastificado.
Nos primeiros dias, vi umas moças ciganas a ajudarem nas mudanças. Mas só quando a sapataria abriu as portas ao público é que percebi que a loja era propriedade de uma família dessa etnia. «Ciganos em cativeiro!», espantei-me, prometendo entrar, um dia, na sapataria de nome desconhecido para experimentar umas botas que vi na montra.
A verdade é que esse dia está, ainda, por chegar. As moças que, inicialmente, ajudavam na sapataria devem ter desistido das suas tarefas, imagino eu que devido à fraca afluência de compradores. No seu lugar ficou um matulão que se planta ou à porta da sapataria, barrando a entrada, ou lá dentro, sentado num banquito que devia servir para as pessoas experimentarem o calçado, de perna aberta e ar ameaçador. O Tony Soprano à beira dele é um menino.
Eu, que tenho vergonha de entrar em lojas vazias, pior fico se a dita tiver um «segurança» daquele arcaboiço.
Ultimamente, o Sr. Soprano lembrou-se que talvez fosse boa ideia colocar informação sobre a mercadoria na montra. Mas, ao invés de apôr os preços a cada par de sapatos, optou antes por escrever um preço genérico e apoliá-lo para o meio de um ror de peças. Sabe Deus o que é que, dali, custa ou não 25 euros.
Mas foi graças a este inédito esforço de marquetingue e comunicação que percebi - muito a custo, é verdade, que a caligrafia é arenosa - o nome do estabelecimento. «Sapataria Samuel», escreveu o nosso amigo a esferográfica azul, nuns gatafunhos que me demoraram dias a decifrar.
Há 13 anos
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