Antes de perder a noção de quem trabalha em quê, a minha avó tinha três carreiras pensadas para mim: a de bancária (obrigada mana por ocupares tu essa vaga); a de dona de quiosque e a de tocadora de acordeão.
Por falta de paciência e/ou jeito para as outras duas, a opção do quiosque sempre me pareceu a mais tentadora. A fartura e rotatividade de jornais, revistas, brindes e, se ampliarmos a ambição para uma papelaria, de livros da escola, cadernos de argolas, canetas, postais e marcadores sempre me fez salivar.
Hoje reparo, porém, que não deve ser uma vida fácil. Além da concorrência dos hipermercados, onde a maior parte dos agregados despacha, compr€€nsivelmente, as compras escolares, há a exaustão. Pelo menos no bairro onde vivo, ter um quiosque ou papelaria parece ser das missões mais árduas do momento.
Ao fundo da minha rua, há várias semanas que o quiosque onde geralmente me aviava tem uma tabuleta que diz que os senhores - que, diga-se em abono da verdade, sempre abriram e fecharam à hora que bem lhes dava na veneta - estão «fechados temporariamente para descanso». Mais nada.
Uns passos acima, uma papelaria em cuja montra iam aparecendo coisas tão improváveis como bibelôs de loiça ou livros desconhecidos escritos em Inglês acaba de fechar «para férias». Ao lado desse papel, um outro dá conta da vontade de os donos «trespassarem» o estabelecimento.
Quer isto dizer que, agora, tenho de ir ao quiosque frente à padaria (e frente ao sítio onde, aí há 15 dias, morreu um senhor em plena via pública. Pelo menos vi muita gente, duas ambulâncias do INEM e uma senhora africana que assistira ao episódio explicou-me, sem pingo de emoção, que o transeunte «caiu, bateu c'o cabeço, tá morto»).
A dona deste «novo» quiosque diz «a Ipsilon» em vez de «o Ipsilon», acho-lhe graça.
Há 13 anos
2 comentários:
Ainda hoje andei por aí perto e reparei precisamente que montes de estabelecimentos comerciais estão desistentes. Muita pena, num bairro que é cada vez mais meu favorito.
(a verificação de palavras deste blog está um escândalo de difícil. juro. tenho testemunhas)
O Turim também tinha uma papelaria que fechou..
É triste :(
Enviar um comentário