sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Pobre do meu coração!

Ontem adorei ver, botado no Twitter via Facebook dos National, um post cujo título era: «How does it feel».

Tem o seu quê de impossível ler isto e não pensar nos New Order, certo?

Abrindo o link descobríamos uma foto justamente «desse» vídeo, e justamente do elemento que mais me chama a atenção no dito: o cão.





Não há vez que eu veja o vídeo e não diga: «coitadinho do cão, ao tempo que já deve ter morrido».

Pensei de mim para mim: isto realmente prova a ligação de uma pessoa a uma banda.

Esta manhã, entretanto, a mesma ganapada coloca uma foto do Matt Berninger com o título «Agassi-esque». Palavras para quê?



(Seriam estas imagens de um teledisco nunca revelado para a Blank Slate - I'm gonna beat off the army with a tennis racket?)

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Espírito de Natal

Numa edição especial do Quem Quer Ser Milionário, uma conhecida figura da rádio portuguesa decidiu, ontem, aproveitar o seu tempo de antena para se vangloriar: como foi a primeira voz de determinada rádio, quando esta ainda tinha outro nome; como esse programa era o oposto daquele que faz agora; etc. Interrompido pelo Malato com questões mais terra-a-terra - «Então tocavas acordeão quando eras pequeno. Ainda saberias tocar uma música do Quim Barreiros?» - responde com impensável cagança: «Eu não tocava música folclórica, era mais clássica (!). Aliás, ganhei um concurso com uma música do mais complexo que pode haver, e...».

Isto tudo num programa galhofeiro destinado a angariar fundos para solidariedade. Que tacto, senhores, que tacto...

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Home is where the bird is

No ano em que o conceito legal de família foi (justamente) alargado, apresento-vos o destemido protagonista da Consoada 2010 (agora que penso nisso, subjaz a esta história um estranho sentido de destino, uma vez que a responsável pela captura do passaroco acabou por passar todo o Natal doente, na cama. Enfim, Maximón lá saberá). Na última foto, o animal mostra-se curioso em relação à mancha de café que me fez derramar sobre o sofá de pele. Também acabaria por acompanhar com interesse o processo de limpeza da mesma, como se não fosse nada com ele.












E uma fatiazinha de queijo, não?

Bobina, a mais doce e mimalha cadela deste bairro e arredores, de visita a casa da Tia Lia.

Música para estar em casa

De baixa ou simples e alegremente de férias: o vinil do Sad Songs For Dirty Lovers nunca me deixa ficar mal (acompanhada), ou sozinha.

E algumas das suas músicas inspiram vídeos-colagem tão pungentes como este:



Every time you get a drink
And every time you go to asleep
Are those dreams inside you head
Is there sunlight on your bed
And every time you're driving home
Way outside your safety zone
Wherever you will ever be
You're never getting rid of me

(...)

You coulda made a safer bet
But what you break is what you get
You wake up in the bed you make
I think you made a big mistake

(...)

You clean yourself to meet
The man who isn't me
You're putting on a shirt
A shirt I'll never see
The letter's in your coat
But no one's in your head
Cause you're too smart to remember
You're too smart
Lucky you

Música como neve

Da mesma editora dos adoráveis australianos Firekites chegam estes Good Night & Good Morning. Neve com carimbo de Chicago e um disco marcado para Janeiro que já se pode desembrulhar aqui. Agasalhem-se bem para tanta mansidão.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Apoio técnico e moral

O que fazer quando o monitor do portátil garante que faltam uns bons 20 minutos para o «diagnóstico» ficar completo? Aguardar, pois então, enquanto do outro lado da linha o técnico silenciosamente suspira pela hora de saída, com um manto de «bip, bips» de fundo (dir-se-ia que estava numa sala de operações e aquele era o som dos sinais vitais dos pacientes).

Juro que a certa altura ocorreu-me perguntar-lhe se o Natal tinha sido bom, mas depois lembrei-me que as chamadas são gravadas e as chefias eram capazes de achar que o seu funcionário estava a dar demasiada confiança à «Dona Lia».

Só mais um começo

Então e o que me dizem a reencontrar, na nossa cabeça e por puro acaso, canções que em tempos conhecemos de fio a pavio? Oscilo entre o sentir que isto nunca foi a lado nenhum e o descobrir-lhe novos ângulos, novos encantos...


Voltei a ler

Este ano voltei a ler. Não banalidades na internet, nem apenas a imprensa do costume ou livros de receitas. Livros, honrando o nome que me deram, os anos em que devorava colecções inteiras de historinhas de aventuras e todo um arranque de vida devotado à arte de botar caneta ao papel.

O grande culpado deste meu feliz regresso ao passado acabou por ser um rapaz americano de nome Benjamin Moser. A este moço ocorreu, certo dia, escrever a biografia da escritora por quem se apaixonou na Faculdade, onde estudou Português. Li, por mero acaso curioso, algumas entrevistas com este escritor, a propósito do lançamento em Portugal da biografia de Clarice Lispector, e a semente ficou plantada no meu cérebro. Que dirá um americano de uma brasileira de origem ucraniana? E quem era ela, afinal, que só a vejo em frugal modo de citação nos murais de amigos de facebook?

Bastou-me encontrar o calhamaço «Clarice Lispector - Uma Vida» à venda para afiar dente naquelas 600 e tal páginas. Foram certamente o dinheiro e o tempo mais bem empregues de 2010: o dito do Moser não só enquadra maravilhosamente a obra da Senhorita Lispector, que agora começo a descobrir, como nos faz apaixonar pela pessoa que ela era, e ainda traça um retrato muito cativante da política e da história, quer do Brasil quer da Europa do Leste, não só da altura em que Clarice nasceu, como de duas ou três gerações antes da sua. É um trabalho de um fôlego inacreditável, que só muito amor pelo objecto de estudo pode ajudar a entender.

Acabada de ler a biografia, não perdi tempo e açambarquei todos os livros que encontrei da senhora (falecida um ano antes de eu nascer, em 1977). Ainda só li as colectâneas de contos; não peguei, por enquanto, nos romances que se alinham, aconchegadinhos, na prateleira dos vinis. Mas já percebi que o tempo em que não estive em contacto com esta prosa mística mas pagã, aparentemente simples e transparente mas profunda e incomodativa como uma chaga, foi tão somente tempo perdido. E também me entristece um pouco que, procurando o seu nome no Google, o auto-complete sugira pesquisas populares como «Clarice Lispector frases» ou «Clarice Lispector citações». O mais certo é que, assim, só se encontrem as baboseiras (ainda assim, singulares) que ela escrevia em revistas, para ganhar a vida, e não a verdadeira literatura de Clarice. A propósito, a sua definição da mesma era: «literatura é a vida, vivendo».

Leiam, se puderem. «Pior do que está não fica», como diria o seu compatriota Tiririca.

Elbow

Por falar em bandas durante anos esquecidas, e a quem o desprezo não feriu de morte, nesta manhã pós-Natal já vou na terceira ou quarta escuta da nova música dos Elbow. Ouve-se como quem come rabanadas.

Listas, para que te quero

Não foi um ano em que ouvisse muita música, este de 2010.

Se aos amores National e Walkmen juntar a fiel amiga Laura Veirs (desde dois mil e troca o passo incapaz de fazer um mau disco), o Nuno Prata (sempre com mão firme nas canções e na honestidade) e o falsamente macio Mark Kozelek (o disco de Sun Kil Moon foi o que mais companhia me fez este ano), ficam as contas fechadas.

É certo que ouvi, e gostei, de músicas do Caribou, Laura Marling, MGMT, Interpol, Horse Feathers (muito bonito!), Adrian Crowley, Beach House e o diabo a quatro, mas não desvalorizemos a ideia de álbum enquanto pequeno mundo alternativo (ao nosso), autónomo (dos outros) e convidativo (a que lá passemos tardes inteiras). Nesse aspecto, aqueles foram os vencedores - e não me faz qualquer espécie que vocês os odeiem ou desprezem. Se há coisa que, nesta altura do campeonato, deixou de me fazer sentido, é a ideia de competição e discussão sanguinolenta em torno de coisas tão pessoais e supostamente prazerosas.

Posto isto, não posso deixar de reparar como, depois de os National tomarem, com o Boxer, o lugar dos Arcade Fire nas listas de melhores do ano, são agora os Walkmen a ocupar o trono de «ainda não são bem mas um dia destes acabarão por ser, e nós [imprensa] vamos poder dizer que já no ano X o tínhamos previsto. E aí os esqueceremos, aí os largaremos da mão». Como quase tudo na vida: previsível, natural, e um tudo-nada aborrecido.

Será que ainda me lembro da pass do blogue?

E a resposta é: ah, que bom, ele entra sozinho.

Nunca estive tanto tempo sem regressar a este cantinho mas, como tanta coisa na minha vida, o Sofá Verde obedece à famosa deixa da Lucinda Williams: «forgiven, but not forgotten».

Agora que 2010 dá o seu suspiro final, sento-me novamente frente a vós para fazer o balancete (parece-me indicar maior modéstia e menor ambição, este termo) do ano que se fina.

Um ano em que se me esgotou, precisamente, a paciência para os balanços. E em que peneirar talvez tenha sido a palavra de ordem; como se, por fim, fosse mais fácil distinguir o vital do acessório (e como este nos atafulha casas e vidas, credo!).

Volto já.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Mais palavreado rude

Está um homem aos berros na minha rua, utilizando no diálogo com o seu interlocutor a mesma expressão que custou a suspensão ao Carlos Queiroz.

À portuguesa

A gaja que há em mim viu com gosto todos os episódios do America's Next Top Model que pôde. É óbvio que as intrigas e os dramas domésticos das concorrentes obrigadas a viver umas com as outras puxavam pela minha curiosidade, mas também apreciava, genuinamente, o facto de toda a gente - apresentadora, júri, convidados - mostrar que sabia o que estava ali a fazer. Na hora de avaliar as concorrentes, eram severos mas quase nunca cruéis, comentando não só as fotos ou a habilidade a desfilar como a luz, a posição do corpo, os ângulos da cara e uma data de outras minudências que nunca sonhei serem importantes para o resultado final.

Ontem, passei os olhos pelo programa À Procura do Sonho, versão portuguesa e não oficial (pois não tem o nome do franchise) do shóu americano. As diferenças são muitas, e todas para pior: os concorrentes - numa fase em que já só deviam restar os mais fortes - são de uma apatia extrema, à qual não deverá ser alheio o facto de muitos não terem mais de 16 anos (nos Estados Unidos, a idade mínima é 18); os fotógrafos e outros profissionais com quem eles interagem revelam uma incrível moleza e uma bonomia que, certamente, não existirá no «mundo real»; as provas são de uma falta de imaginação constrangedora (uhu, vamos para Sintra brincar ao Bem e ao Mal! Resultado: algo muito próximo das fotos promocionais dos Amália Hoje, cruzado com vampiragem moderna).

Mas o pior estava guardado para o fim, com o júri liderado por Fátima Lopes a limitar-se a duas frases, no encontro directo com os aspirantes a modelos: «Então? Gostaste de fazer esta prova?» ou «Queres comentar a tua prestação?». O concorrente saca então de um ou mais de vários lugares comuns à escolha (o que mais me exaspera é o da «experiência nova» - parece-me que consigo imaginá-los a dizer «gostei muito de ser perseguido por uma manada de porcos selvagens, porque foi uma experiência nova») e passados alguns minutos o júri lá revela a sua decisão, que, na ausência de pareceres prévios, parece completamente aleatória.

Ao fim e ao cabo, nem diverte nem entretém, nem ensina nem estimula, mas a inexistência de qualquer tipo de crítica, construtiva ou nem por isso, é que me parece mais bizarro - como se, na escola, o aluno fizesse um teste, dissesse ao professor como lhe tinha corrido mas este não chegasse a dar-lhe uma nota. Um laxismo bem nacional, portanto. Quanto aos apresentadores, um dos manos Guedes e uma moça que está sempre nas revistas mas nunca percebi quem é, têm tanto jeito para a coisa como os concorrentes - do mal o menos, não destoam e só se estraga uma casa.

Porque o Facebook ainda não serve para tudo

Outro dia, no facebook, fiz um post sobre areias - os biscoitos que a minha mãe foi comprar ao supermercado minutos depois de eu me queixar por só haver bolachas de água e sal. A ideia era louvar as benesses de só ir a casa quando o rei faz anos e assim receber todos os mimos com retroactivos; na vida real, contudo, passei uma semana a ouvir comentários sobre areias (que não são biscoitos; qual a verdadeira origem da especialidade; a receita para fazê-las em casa!) e eventuais efeitos das ditas no meu peso, isto tudo em pleno cenário laboral.

Pareceu-me, assim, arriscado contar naquela maléfica plataforma que, certo dia na semana passada, acordei com os berros de uma mulher na minha rua. A noite fora de calor e deixei a janela aberta, pelo que, às primeiras horas da manhã, fui despertada por gritos de «Puuuta! Oh puuuta! Anda cá, puta!» (pausa dramática, durante a qual eu tento perceber se será humano ou animal o destinatário dos chamamentos). Conclusão, segundos depois: «Mas que puta que me saiu esta cadela!».

domingo, 1 de agosto de 2010

Duas semanas depois do 18

No final, o estado oficial era «emocionada».

Se calhar não faz muito sentido, tendo em conta que passei boa parte do concerto - onde as músicas viçosas ganharam, em número, às vaporosas - a saltar, a pôr as mãozitas no ar, a gritar cada letra e a antecipar cada trinado da guitarra ou golpe da bateria.

Não, a culpa não foi do alinhamento. Também não foi da companhia, a melhor de há uns anos para cá, nem dos pobres incautos que se quedaram nas imediações, quiçá guardando lugar para o Prince, olhando estupefactos para as figurinhas daqueles quatro histéricos para quem «talking ace» é lema de vida e mantra a repetir, incessante e vorazmente, até faltar o ar.

Mas seriam só quatro os histéricos? Não conseguimos furar até às primeiras filas, mas de onde vimos o concerto estávamos longe de ser os únicos não só a vibrar como a música, como a incentivar a banda, a antecipar a canção seguinte, a tentar fazer com que as coisas acontecessem, enfim. Ao meu lado direito, um tipo desconhecido de mochila também se empertigava todo para cantar «I don't have the drugs to sort it out». Nas grades, um jovenzito clamava pela «About Today». E no fim, disse-me a Ana T., outro petiz desabafou: «Foi o concerto mais bonito da minha vida».

A banda já não é nossa, como se calhar nunca foi. Os primeiros segundos da «Fake Empire», logo após o agradecimento ao povo cá da terra por tê-los «abraçado» ao primeiro encontro, pareciam uma missa, disse o Nuno. A noite já se pusera, as vozes uniam-se e, compassadas, respeitosas, davam cor e corpo ao culto. Mais à frente, e depois das descargas eléctricas de «Mr. November» e «Terrible Love» (que formigueiro, que tapete voador), o fim não só do concerto, como da noite. Vi o Prince mas não vi nada. Ver, nem a «About Today» já vi. Como se, à minha volta, as pessoas mais altas fossem ainda mais altas, e as vozes que se substituíam à minha formassem uma parede abismal, e o último ano me estrangulasse devagarinho. E desaparecesse, ele próprio, ralo abaixo. Acho que a única imagem que guardo dessa última música são os sapatos, cheios de pó e alguma água salgada.

No final, o estado oficial era «emocionada». Apesar de todos os guinchos, pinchos e brincadeirinhas durante o concerto. Porque há coisas que tocam mais fundo que outras.

A estudante deslocada que haverá sempre em mim condói-se com estas situações

Esta é uma história já contada na tal diabólica plataforma de iniciais FB, mas que me parece digna de ressurreição neste cantinho bem mais pacato.

Numa noite quente desta semana, à saída do concerto do Mark Knopfler no Campo Pequeno, os táxis escasseavam. Enquanto deambulava em busca de viatura, um casal «de idade» pergunta-me se sou daqui. 14 anos depois, ainda respondo «mais ou menos». Querem saber onde é o Ibis, onde pelos vistos estão hospedados. Pergunto-lhes o nome da rua; entre muitas desculpas, o senhor mostra-me o panfleto e diz: «É aqui, menina, Avenida Casal Garcia».

Controlado o riso, toscamente tento dar-lhes direcções. Cabisbaixos mas agradecidos, eles seguem caminho. Uns 15 minutos mais tarde volto a encontrá-los na fila para os táxis. Embaraçado, o homem confessa, encolhendo os ombros: «Não fixei a rua, é melhor assim». Ainda mais encabulada, a senhora só acena que sim. Pouco depois, tentam pedir indicações aos polícias que são tão ou mais cepos que eu. Condoída de pena, e temendo que os simpáticos forasteiros fossem surripiados e estropiados no caminho até ao hotel, dei-lhes boleia de táxi até à Casal Ribeiro («Oh Nando, anda aqui no táxi com esta menina!»).

Apesar de bêbado ao ponto de mal abrir os olhos, o taxista foi muito simpático e expedito no caminho até ao Ibis e, depois, até minha casa. Quanto aos meus colegas de viagem, pagaram-me o pequeno trajecto com o dinheirito que levavam embrulhado numa folha de revista dobrada em quatro.

Um breve regresso

Há mais de um mês que não rego este sofá. Ontem à noite, entre papinha boa e conversa a condizer, a Leonor chamou-me a atenção para esta ausência prolongada, que em poucas palavras, e sem mentir muito, posso atribuir aos chiliques do meu portátil, à tentação do feicebú, ao trabalho que não acaba nunca.

Para a Leonor e outros leitores de passagem, farei o esforço de vos contar uma ou outra coisinha. Se bem que, por aqui e em rigor, as novidades sejam raras.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Eitzel

Já aqui escrevi, muitas (demasiadas?) vezes, sobre a minha admiração e o meu carinho pelo Mark Eitzel. Geralmente falo de música, mas a pessoa que se entrevê atrás do chapéu e do humor auto-depreciativo também me aquece o coração (como o reclame do café Brasa, exacto).

Acompanho diariamente o blogue deste senhor e de vez em quando até se me vêem as lágrimas aos olhos. Não sei porquê, mas os posts sobre animais (os cães que lhe invadiram o quintal, o gato que morreu pouco tempo depois da dona) comovem-me sempre; sou uma pessoa simplória e previsível, eu sei.

Na semana passada o delírio aconteceu quando a Sandra S., outra devota atentíssima, me avisou que o homem se tinha pronunciado sobre a banda santa cá de casa. Sabia que eles se gostavam (como dizem os brasileiros) e sempre senti ali uma ligação, mas ver isto escrito proporciou-me uma alegria disparatada. Como é que ele consegue descrever tão bem o que eu sinto por outra banda? (Se bem que eu nunca estive em Zurique, aparte as secas no aeroporto, em escalas, quando a TAP faz greve. Mas vi o centro de Genebra quando um emigrante destroçado pela morte do avô precisou de distrair-se e levou-me numa passeata turística, como sua «refém». Mais uma vez, culpa das greves da TAP).

«I like great songs and great singers. I got the new The National record and right now they are my favorite pop band. I walked around yesterday and listened to the whole record again. Anyone who knows me would say it is because on half a listen they have Joy Division thing (and I was a HUGE fan - see the first 2 AMC records) - but actually no. I like them because live especially the songs are about my life. For instance I saw them in Zurich once on a night off. They played at this Youth Center miles and miles from my hotel. My sense of direction is not reliable and I walked for hours in the (freezing) cold to find this place never sure if i would arrive. I got there ready for anything. Ready for a beer. A spark from a bonfire. It was when you see music that integrates with how you feel inside. Loving something that reflects your delusions. (Also the openers were Film School and it was the best show I ever saw them play and they helped my life)»

Hoje, e perdoem-me o apropriar de material alheio (se o Ricardo Rodrigues pode eu também posso), descobri no blogue do homem mais uma pérola, desta vez versando pássaros. Os de Los Angeles são mais felizes que os de San Francisco, pelos vistos, e ele sente-se mais confortável com os da sua cidade (a da ponte do portão dourado). Eu aposto que ele também se comovia com o trinado das andorinhas cá da terra, se as ouvisse como eu, a rasgar os céus do fim de tarde.

«So I today I was in San Francisco. When finally I took my hangover outside for a walk I made the following brilliant observation: I think the birds of LA are happier than the birds of San Francisco. Birds have no facial muscles but it is plainly true. Clues? The 'shameless abandon' of their flying style; (a false gesture perhaps but limited means make for creative solutions) Also: their songs of threat and territory. These are a hungry crow at the stars and also the sound of healthy happy birds. In SF they are broken, dirty, a step below rats. They don't sing they whisper. They spin about haggard and haunted. As if a shadow follows. As if always a pointer is running after them. Yes indeed. Home Sweet Home. Sure I love LA, and love the bed and the company in the bed and that makes me stumble through scenery like I'm playing the luckiest man alive. (Though true I have always stumbled)

But: I am not used to LA and its spiritless trees and its billion anonymous birds. And their shrill joys.»

Para vosso entretém.

domingo, 13 de junho de 2010

Menu do Chez Arneiros

Não foram só receitas gostosas e simples que aprendi com a inestimável Teleculinária - também fiquei a saber que os pratos com aspecto mais modesto podem, e devem, ser fotografados ao lado de beldades (como o manjerico abaixo) para potenciar o seu apelo mastigável. Sem mais delongas, eis alguns dos pratos que me aventurei a fazer nas últimas semanas (de cima para baixo: pimentos recheados com carne de novilho, temperada com tomate, vinho branco e louro; caril de frango com piri-piri; bacalhau à valenciana e bolo de chocolate e cerveja preta!).







Junho 2010




Talvez haja...

Talvez haja coisas mais adoráveis do que um wallpaper com o meu cão cadavérico, 15 anos de insuficiência cardíaca e problemas nervosos, a passear ao fundo da rua... Mas tendo em conta que a fotografia da minha irmã (sem photoshop!) enganadoramente o retrata como um cachorrinho de tenra idade, em suave deriva por um campo florido, assim de repente não me lembro de melhor opção.


sexta-feira, 11 de junho de 2010




«Someone send a runner through the weather that I'm under for the feeling that I lost today
Someone send a runner for the feeling that I lost today
»

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Mitos Urbanos e Boatos

Cientes da minha triste atracção pelo disparate, a Rute e o Miguel decidiram, no mais recente 27, congratular-me com o livro Mitos Urbanos e Boatos, da jornalista da SIC Susana André.

Desengane-se, porém, quem imaginar que nas quase 300 páginas desta obra a autora se limita a encarreirar aquelas patranhas que, ao longo dos anos, nos habituámos a ouvir da boca de conhecidos ou a tresler nos e-mails de imediato apagados (*). Há aqui toda uma contextualização sociológica do fenómeno, tão antigo como a má língua humana, que nos explica, por exemplo, que a ambiguidade e o interesse pessoal são a água e o substral dos boatos; que as versões fantasiosas negativas circulam com maior velocidade que as petas positivas; que muitos dos mitos urbanos ocupam na sociedade contemporânea o nicho e a função dos arcaicos contos de fadas e fábulas populares.

Para vosso deleite deixo só dois exemplos castiços: um sério, a espelhar a sólida investigação por detrás deste livro, e outro obviamente pantomineiro.

«Não será o mito jesuítico o reverso do mito sebástico português?», questiona José Eduardo Franco. «Enquanto no mito do sebastianismo projectamos numa pessoa, numa entidade mítica, a possibilidade de realização das aspirações colectivas, no mito jesuítico projectamos as nossas desilusões e desenganos. A esta entidade negativa é dado um carácter expiacional onde os insucessos e os males da nação são projectados e expiados», conclui o investigador. (p. 263)

Nesta passagem do capítulo sobre os extraterrestres, enternece-me acima de tudo a desproporcionalidade de dimensões e meios de combate entre o primeiro exemplo (internacional) e o segundo (de, erm, Valongo).

«Em 1980, os quase dois mil soldados em formação na base aérea de La Joya, no Peru, terão visto um objecto imóvel no ar. Alfonso Santa María, piloto reformado das Forças Armadas peruanas, recorda que recebeu ordens para descolar no seu avião a jacto e disparar contra o objecto esférico que se encontrava no espaço proibido sem autorização (...). Conta que se aproximou do engenho e disparou 64 obuses de 30 milímetros. Garante que alguns acertaram em cheio, mas não tiveram qualquertipo de efeito (...). O antigo piloto descreve-o como algo semelhante a um globo e admite que o assunto ainda hoje lhe "provoca calafrios"». (p. 266)

vs

«Em Portugal, a história mais mediática aconteceu dez anos depois, em Alfena, Valongo, onde várias pessoas terão avistado um estranho elemento em forma de betoneira que descia dos céus. Contam que, à medida que se aproximava, o aparelho começou a descer umas pernas, como se tencionasse aterrar, e garantem que o medo levou algumas testemunhas a atirar pedras ao objecto».

Feliz Dia de Portugal!

(*) - ou talvez não. Aparentemente, os e-mails sobre ovos de baratas que eclodem na língua das pessoas e outras impossibilidades científicas (devidamente esclarecidas neste livro) acabam por fazer a vida negra aos médicos e investigadores cujo nome é, na maior parte das vezes, usado para assinar as mensagens electrónicas, sem que alguma vez tenham tido o que quer que seja a ver com o assunto. Aparentemente, e porque ao nome se junta regra geral o contacto e o nome da universidade do estudioso, estas pobres almas passam anos a responder a mails e atender telefonemas de pessoas que acreditam mesmo que se puserem uma tartaruga pequenina em água salgada ela cresce como aquelas dos Galápagos (bem, este mito não consta do livro, mas uma professora de Geografia que tive no liceu acreditava piamente que assim sucedia).

Frases ouvidas na rua

«Acordava com dores de manhã porque os dentes do siso cresciam-me durante a noite!», rapariga à conversa com amiga na carismática carreira 750 da Carris.

«A mãe tem um curso de Economia e o pai é dono de uma empresa e mesmo assim ele não quer outra coisa senão jogar a porcaria do futebol!», moça desgostosa com opção de carreira do namorado, desabafando ao telemóvel no meio da rua («Ele diz-me: "oh 'môr, é só para ver o que dá", mas enquanto vê e não vê, vive dependente dos pais!», queixou-se ainda).

O meu 10 de Junho

Saio do autocarro sob a ameaça de uns, julguei na altura, benignos pingos de chuva. Rapidamente o aguaceiro se transforma numa simpática bátega de água e eu acabo por me abrigar na entrada de um prédio, onde já se encontra um pacífico casal de velhotes. Entreolhámo-nos naquele sorriso cúmplice e desajeitado de quem está no mesmo barco até que eu, afoita e de sandalinha, decido tentar a minha sorte e caminhar, por baixo de várias varandas e afins, até à loja chinesa mais próxima.

Lá acabo por reforçar a dose de incenso de alecrim (que vício, senhores, que vício), estoicamente resistindo a trazer para casa o incenso que «chama o dinheiro». À saída, chove ainda mais e rendo-me às evidências, comprando um guarda-chuva que não demorará a desfazer-se, mas que naquele momento e naquele local, a uns chuvosos 10 minutos de casa, é o objecto mais precioso do mundo.

Mal saio para a rua encontro os mesmos velhotes, agora abrigados frente a outro prédio. Ainda bem-dispostos, saúdam-me e mostram interesse pela minha aquisição. «Quanto deu por ele?», quer a senhora saber. «Cinco...», digo eu, com a noção de que me deixei assaltar. Indignados mas não surpreendidos, os idosos apontam para o outro lado da rua, garantindo que a loja que, neste Dia de Portugal, está fechada vende guarda-chuvas a 1,5 euros. «E a menina ainda vai aí com a etiqueta pendurada», repara a velhota, para minha humilhação.

Percebendo a minha vergonha, os senhores apressam-se a encontrar razões mais acertadas para a minha escolha. «Não, mas até é bonito!», diz ela. «E é dos bons», acrescenta ele (ah, ah). Despeço-me depois de, sorridentes, os meus companheiros declinarem boleia de guarda-chuva até alguma paragem próxima. Quase a chegar a casa, um táxi em corrida super-sónica molha todo o meu lado esquerdo.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Contra a diferença, marchar marchar

Confesso-me apreciadora dos programas da família do «extreme make over»: pega-se num desgraçado ou numa desgraçada cujos espelhos em casa se devem ter partido há décadas e dá-se-lhes um aspecto mais ajeitadinho, aprazível ou consentâneo com a modernidade (os senhores de «mullets» à anos 80 são um clássico deste tipo de reality show, e nesse caso a minha tolerância é zero - cortar a eito e não olhar para trás!).

Geralmente o programa é tanto melhor quanto maior o orçamento e mais ajuizados os «consultores», ou seja, não vejo as edições portuguesas. E quase sempre fico na dúvida se, por muito bonito e sensato que seja o novo visual, a «cobaia» não acabará por voltar, por hábito, preguiça ou impossibilidade financeira, àquilo que era antes da transformação.

De qualquer maneira, há casos e casos - na semana passada apanhei a história de uma senhora de 36 anos, bastante bonita por sinal, que usava meias de rede com desenhos de aranhas e cabelo vermelho. O marido achou, talvez compreensivelmente, que ela já não tinha idade «para se vestir como uma adolescente» e mandou a brigada dos «conselheiros» lá a casa, para lhe darem umas luzes.

O resultado foi deprimente. A única coisa positiva, no meu condoído entender, foi arranjarem-lhe os dentes. De resto, foi penoso ver o visual completamente betinho que lhe arranjaram - nada contra, mas estava nos antípodas do que parecia ser a sua personalidade - e sobretudo a forma como a obrigaram a livrar-se de toda a quinquilharia de teor gótico que ela coleccionara ao longo dos anos. Eu não gostaria de ter estatuetas de gárgulas, morcegos e diabretes em casa, mas se gostasse reagiria com tiros de caçadeira à entrada no meu território de quem mas quisesse levar.


E se houvesse um marido que não gostasse da colecção de malas Chanel ou sapatos Louboutin da parceira? Será que aquela cambada de afectados também lhos iria lá a casa confiscar?

Às vezes tenho a sensação de que enquanto não formos todos iguais há gente que não dorme sossegada.

Aviso à navegação

Aproveito para informar todos os fregueses que este Sofá não irá adoptar, nas suas verduscas intervenções, o novo acordo ortográfico, reservando-se ainda o direito de, caso lhe dê na veneta, passar a escrever flor com acento circunflexo ou farmácia com ph. Muito obrigada!

Precariedade: melhor que desemprego

Ouvi esta semana, da boca de um senhor do PSD (peço desculpa por não me lembrar do seu nome), que ter um emprego precário é melhor que estar desempregado. Fiquei boquiaberta com a desfaçatez (leia-se, lata) de um «representante da nação» dizer uma coisa dessas, em directo para a televisão, sem se rir ou pedir desculpa a seguir.

A esse propósito, aqui deixo um relato bem elucidativo (e, a espaços, revoltante também) da experiência da minha amiga A., em busca de um emprego que lhe deixe tempo para comer e, quem sabe, dormir. Parece que é pedir muito, consideram os empregadores.

Reflexões sem interesse nenhum

O que separa, hoje em dia, boa parte dos vídeos e imagens promocionais das «divas pop» e a velha arte da pornografia? A meu ver, honestidade: nos filmes da especialidade, como diria o pai de uma amiga, o charme está todo na clareza da coisa: tal como nas fitas de pancadaria, não há uma história, mas sim um pretexto. Nuns casos, essa circunstância inicial abre caminho a porrada de criar bicho, noutros a cenas que em pouco superam o teor explícito dos telediscos das Gagás, Aguileras e Rihannas deste mundo, com a vantagem de não invocarem fajutas pretensões artísticas. (Lembro-me de pensar nisto quando vi a primeira destas artistas numa clássica pose de exame ginecológico, num dos seus aclamados vídeos).

Não me considero moralista muito menos me oponho à existência desta fábrica pop de obsessões sazonais (actualmente, nada parece vender e fazer salivar como a sugestão de amor entre senhoras; queria-me rir se as jeitosas do costume fossem substituídas por homens feiosos em preparos igualmente assanhados. É que, quando nasce, a homossexualidade é para todos...). Só me cansa a facilidade dos «argumentos» e a exploração da sexualidade feminina como carne para canhão. Ninguém devia guiar-se na vida pelos vídeos pop, mas estou certa que muita garotada o faz, e não há como negar que o paradigma actual de poder feminino equivale, mais coisa menos coisa, a ser uma grande meretriz.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Verão Azul

«Vemo-nos no próximo Verão?», pergunta uma baleia à outra.

«As férias das baleias-jubarte, do sexo feminino, são passadas em conjunto: todos os Verões as amigas se encontram para se alimentarem e nadarem lado a lado. O ponto de encontro é no golfo de St. Lawrence, no litoral do Canadá, segundo estudos realizados por cientistas.

Um estudo (...) incidiu nas baleias neste golfo desde 1997. Juntamente com cientistas alemães e suecos, os canadianos gravaram movimentos de algumas espécies de baleias - azul, fin, minke e jubarte. E foram detectadas amizades entre os cetáceos: a maior amizade registada durou seis anos e ocorre sempre entre animais do sexo feminino da mesma idade. As baleias encontram-se no Verão, depois das alturas de migração e de reprodução. Os cientistas verificaram que as baleias se encontram e alimentam juntas. 'Fiquei muito surpreendido com o tempo que durou a amizade. Estava à espera que se associassem só um Verão, e não nos seguintes'. Christian Ramp acrescenta que 'elas adaptam o seu comportamento às outras'.

Até agora não se sabia que as baleias de barbatana reestabeleciam laços entre si e que estes laços têm efeitos positivos na sua alimentação. Segundo os cientistas, as amizades beneficiam as baleias do sexo feminino e são elas próprias que promovem o elo de ligação contínuo, quase como se fossem passar férias com as amigas».

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Crise de valores

Facilitar casos amorosos: eis «uma atitude pouco cristã», para usar uma expressão querida a um amigo. Ainda por cima quando vem de quem vem - Santo António, então? E as crianças?



(Foto tirada com o telemóvel numa loja chinesa, onde como sabemos vale tudo. Ou nem tanto - Santo António poderá não ter gostado da minha brincadeirinha, pois imediatamente após tirar a foto uma «mão invisível» fez o meu vestido prender-se na estante atrás de mim, atirando ao chão um ror de rolos de fita-cola daquela para calafetar janelas. O incenso de alecrim - 40 cêntimos - é muito bom, porém).

Boas notícias

Há lá melhor maneira de começar a semana do que assistindo à ressurreição d' A Minha Agenda, blogue da mui estimável Anne Martens, agora com Austin, Texas, na quente linha do horizonte? Por aqui não pedimos mais nada (e até o visual d' Agenda está renovado!).

domingo, 6 de junho de 2010

Benfica 2010 - pequenos apontamentos

Por razões relativamente inofensivas e já conhecidas do estimado auditório, tem sido limitado o meu raio de acção nas últimas semanas. Além de mais tempo para ler, ouvir música e pensar na vida, tenho encontrado alguns motivos de «reportagem» por esta Benfica onde me movimento (e com o título deste post vou certamente arrecadar uns quantos leitores/adeptos incautos, iéi).

Na «montra» da Igreja Evangélica de Benfica, por exemplo, a preocupação recai sobre a crise que ameaça a família. Os culpados são, a julgar pela ilustração, os aliens e os decapitados.



(Também vejo aqui uma referência à letra «I have a hole in the middle where the lightning came through», mas passarei à frente para não vos aborrecer.)

Há uns dias tive, ainda, o prazer de conhecer Jimmy, o cão («Alaska Malamute», especifica a minha irmã) de 53 quilos que, frente ao quiosque, concentrava todas as atenções. Habituado à curiosidade dos passantes, e creio que rejubilando com a mesma, o dono autorizou os enfeitiçados pelo cão a fazerem-lhe festas e tirarem-lhe fotos. Não quis contribuir para o já insuflado ego do homem e, por isso, tirei a minha foto já bem de longe, com o zoom do meu pequenito telemóvel. O Jimmy é um bom companheiro e, percebendo as minhas intenções, desviou o olhar na minha direcção, na altura exacta.



Poucos passos à frente, um velho contava às amigas como uma mulher conhecida de todos, narrador e interlocutoras, fora operada aos intestinos. «Tinha 35 quistos mas só lhe tiraram 25!».

Já no sossego do lar descobri, não sem algum alívio, que ainda sei fazer uma coisita ou outra, a saber: arrumações e reorganizações a pender para o épico, descobertas improváveis (encontrar uma saia lindíssima que nunca se usou é melhor que ir às compras!) e cozinhar algo mais do que o básico que se põe ao lume quando se chega a casa derreada, depois de findos os telejornais.

quinta-feira, 3 de junho de 2010



Believe me, believe me, believe me
The blue sky will smother us.

E a TV?

Olhando para o cabeçalho deste blogue, ocorre-me tranquilizar a sua meia dúzia de leitores ocasionais: eu ainda me espreguiço frente ao televisor. Mesmo que as mais recentes intervenções tenham sido inspiradas por música e livros, houve uma noite durante esta semana, por exemplo, em que tive a incrível sorte de apanhar o seguinte menu: programa da Oprah sobre familiares de serial killers famosos (com o filho do mentor do massacre de Jonestown e a irmã de John Wayne Gacy no estúdio); filme sobre homem manco apaixonado por pérfida lolita de 17 anos (protagonizado pelo Dennis Hopper) e rubrica da Zone Reality sobre mitos urbanos e teorias da conspiração. A história da miúda que morrera aos 21 anos e de quando em vez saía do cemitério onde estava enterrada, em Chicago, para pedir boleia aos incautos «passantes» divertiu-me bastante.

Claro que serões há em que não vejo um único shóu que seja. Mas noites como a de Terça ajudam-me a manter viva a chama e retinta a reputação; Deus proteja os programadores que agendam essas bênçãos.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

O último da série

Prometo que este é o último post exibicionista. Mas vejam lá se esta não é uma boa razão para ser acordada de manhã pela campainha do prédio. Eis o que o carteiro trazia consigo (o cartãozinho é para fazer o download mas hei-de trazê-lo comigo como se fosse um de crédito - que nem tenho. O poster é um miminho inesperado e muito apreciado. E o selo com o urso polar? Já guardei!).







«We look younger than we feel and older than we are
Now nobody's funny, no god, they took our fashion week
That's a real bad thing 'cause we have scars to cover»

High Violet, outra vez

Um leitor amigo comentava, há algumas semanas, neste mesmo sofá, o quanto estava a gostar do High Violet e prometia para breve, quando a panquinha o permitisse, uma intervenção sobre o assunto. Por enquanto ainda não me é possível aventurar-me por tais águas, mas posso ir adiantando que uma das coisas que mais aprecio neste disco - além da inspirada coloração - é que, não sendo o Alligator (como, aliás, nada mais é), o High Violet não me deixa tanto a pensar no Alligator como o Boxer, a espaços, deixava. Continuando na onda das citações, o High Violet «corta-se nos joelhos do Alligator». E isso - a par de hoje ter recebido o vinil do Sad Songs for Dirty Lovers - já é muito bom.



«You said I came close as anyone's come
To live underwater for more than a month
You said it was not inside my heart, it was
You said it should tear a kid apart, it does
»

Ainda as dicas de John Fahey



«Last night as I lay dreamin'
I heard my darlin' call
And then I went to meet her
By the singin' waterfall
She took me in her arms
Just like she used to do
And then I heard her whisper
We'll meet beyond the blue
»

Eitzel, esse grande freguês deste sofá

O tempo tem destas coisas. Confrontada com ele, dei por mim a conseguir ouvir até ao fim, com vagar e com cabeça, discos que pensava conhecer bem, mas afinal podia conhecer melhor. Assim confirmei a formidável habilidade da Laura Veirs para ganchos, melodias e tudo o que rime, musicalmente, com sol; o desdém dylandesco e poeirento (em bom) da pequenita Laura Marling (20 primaveras, acusa o BI) e o generoso caudal de Klamath, o mais recente disco a solo do nosso amigo Mark Eitzel.

Lançado no final do ano passado, conquistou-me desde logo por aquela atmosfera nublada e espessa que cobre os melhores álbuns do homem - mas não via nele, ainda assim, aquilo que a Uncut, por exemplo, viu: o melhor dos seus trabalhos fora dos American Music Club. A verdade é que, na horizontal e com mobilidade reduzida, ou seja, nos primeiros dias de baixa, o que me parecia um caldo amável com belos nacos de pão (The Blood On My Hands, I Miss You e Ronald Koal Was a Rock Star são exemplares), passou a algo bem mais rico, fluido e, graças aos delicados apontamentos electrónicos, próximo do disco que me fez descobrir Señor Eitzel: The Invisible Man, de 2001.

Não há nada de mais em Klamath: são só canções capazes de nos abraçar e esfaquear em simultâneo, belas letras - sem tretas, cheias de coração, zero de pretensão - e aquela que é provavelmente a voz que mais me diz. O YouTube não é amigo na hora de partilhar este tipo de artistas (ou serão os seus fãs que são uns cepos?), mas se acreditarem em mim e tiverem o disco à mão, dêem uma oportunidade às músicas Like a River That Reaches The Sea, There's Someone Waiting, What do You Got For Me ou Why I'm Bullshit. Rápido, antes que chegue o Verão e leve consigo todo este benfazejo nevoeiro.

«But I'm so sick and tired of acting dumb and playing fair
I wanna be the one that writes history and doesn't care
»

terça-feira, 1 de junho de 2010

John Fahey, o escritor

A contracapa é clara: ficção, lê-se, em inglês, no canto superior do livro, um nadinha acima da foto do autor. A preto e branco, barbudo e sisudo, John Fahey confessa-se assim responsável por este conjunto de historinhas reunidas no livro How Bluegrass Music Destroyed My Life. Nalguns sites, porém, a obra é considerada autobiográfica e, 291 páginas depois, não duvido que haja farripas de realidade nesta dúzia de fábulas em que John Fahey, o aclamado mestre do «fingerpicking» e estudioso da música americana, lembra o dia em que esmurrou (esmurrou?) o realizador Michelangelo Antonioni, como descobriu que Skip James era um crápula (seria?) ou que Hank Williams era o seu anjo da guarda (disto não há que duvidar).

Autobiográfico ou não, o livro que comprei em Nova Iorque, minutos antes de começar a nevar e atraída pela capa vagamente naïf, foi uma óptima companhia nestes dias de retiro, com a sua escrita humorada, por vezes ácida, sempre muito inteligente. Qualquer pessoa com um ligeiro interesse por música (e história da música), filosofia, política, sonhos, religiões sortidas e / ou gente, em geral, ganhará em ler How Bluegrass Music Destroyed My Life, cujo maior trunfo, ainda assim e a meu ver, é dizer tanto sobre John Fahey quando, em 90% dos casos, tudo o que ele faz é falar de outros que não ele.

Lamechas como sou, a minha fábula favorita tinha de ser April In Orange. Já li algures que é totalmente ficcionada, mas como poucas coisas me soam mais deliciosas do que amores adolescentes mesmo que (ou sobretudo) imaginários, aqui fica um excerto dessa fábula:

«We were pretty good friends and conversationalists. We were both interested in obscure, occult things. And we read lots of books about strange things and told each other about what we had read. And it was quite fascinating. There was so much.

And we did love each other. But it was purely Platonic. And that really was OK with us both.

And we confided in each other and kept each other's secrets. We were great friends.

But not lovers
».

(A coisa depois arrebita, com a chegada de outra personagem, mas citação que é citação tem de ter sempre uma certa «sorrow» colada...).

sexta-feira, 28 de maio de 2010

32

Quando até o senhor do restaurante é amigo, como podemos não agradecer a nossa sorte?

terça-feira, 25 de maio de 2010

Cor, maestro!

Costuma-se dizer que quem não tem dinheiro não tem vícios.

Suponho que a falta de tempo também não ajude ao brotar de certos luxos. Ou seja: agora depois de velha, e obrigada que fui a parar para respirar, é que me deu para estas pantominices. Apresento-vos, damas e cavalheiros, aos vinis coloridos do (vénia) High Violet e de Only Time Will Tell, segundo e belíssimo dos portugueses Sean Riley and the Slowriders (nesta edição especial, verde e numerada, há até dois inéditos: um deles chama-se «Stay Forever» e podia estar no Pneumonia dos Whiskeytown, de tão bom que é). Mirai:



sexta-feira, 21 de maio de 2010

Fahey

E do livro, onde a ficção começa e a realidade acaba em pontos deliciosamente incertos, passo momentaneamente para a música. Já dei por mim a encomendar um vinil. Será que esta baixa vai contribuir para a minha ruína financeira? Ao menos fico em sintonia com o país.

No ano em que nasci, tocava-se isto:

Carried in the arms

Carried in the arms of mitra cheerleaders voltei ontem a casa, numa cadeirinha dos bombeiros onde nunca me imaginara ver sentada. Num dia de calor atordoante, os homens suaram e bufaram para me devolverem ao terceiro andar de onde saíra na segunda; eu respirei de alívio (e tossi um bocadinho com o pó, ameaçando a saúde da costura) ao encontrar os meus 40 metros quadrados no mesmo sítio, acolhedores como sempre.

Esperam-me agora algumas semanas de paciência, mobilidade reduzida e quem sabe reflexão. Já comecei a ler um livro de trouxera de Nova Iorque há meio ano e no qual nunca pegara - «How Bluegrass Music Destroyed My Life», do John Fahey. Lá fora os pássaros chilream e a Primavera acontece. Quem sabe não saio desta uma almofadinha mais rija! A todos os que mandaram mensagens e se preocuparam, obrigada - vou dando notícias.

domingo, 2 de maio de 2010

Do na-na-na ao do-do-do

O vídeo caseiro é um autêntico amor, mas a minha ideia aqui é: muito do melhor que o High Violet tem para dar já borbulhava (literalmente; acho estas músicas todas muito aquáticas) neste «Blank Slate». Melhor «raridade» de sempre?

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Poucos sons me trazem mais alegria primaveril do que o chilrear, um tudo-nada histérico, das andorinhas que rasgam os céus nestes primeiros dias de calor.

domingo, 25 de abril de 2010

A Primavera ligou

Tempos complicados, «templates» de blogue simples.

Ao sétimo ano de vida, o Sofá Verde experimenta um novo visual e deseja ardentemente que ele sirva da mais amável forma as fotos que aí vêm, tiradas com a Canon novinha em folha numa Benfica antiga, semi-decadente semi-romântica, que aqui apresento àqueles para quem este bairro é só clubes ufanos e catedrais do consumo.



















sábado, 24 de abril de 2010

Fotos a caminho

A combinação do verde florescente (assim mesmo, sem «u») das árvores e do cinza-amuo do céu não só torna o disco novo dos National ainda mais incrível, como apressou (nas palavras da minha irmã, precipitou) a compra de uma máquina fotográfica nova, estragada que há muito está a minha Sony. Me aguardem, portanto : )

segunda-feira, 22 de março de 2010

Primavera

A Primavera festeja-se sempre, nem que seja em casa, com uma oferenda trazida de contexto laboral.

sexta-feira, 19 de março de 2010

I'm getting nervous

Às vezes tenho a sensação de que os melhores concertos da minha vida são aqueles de que mal me lembro. Nevoeiro e sal a turvar a imagem.

quinta-feira, 11 de março de 2010

2010, odisseia no espaço

A internet é realmente uma coisa marabilhosa.




Bliss

Uma improvável mistura entre sentir-me uns quantos centímetros acima do solo (nada a ver com a deslocação da terra para ocidente, depois do terramoto do Chile) e uma certa vontade de partir coisas (ou pelo menos torcê-las um bocadinho, até aleijar). É isto que distingue as músicas dos National «daquelas» músicas dos National. A nova deixou-me eriçada, e não tem nada a ver com as aranhas da letra. Salvé!

quarta-feira, 10 de março de 2010

Oh tu que fumas

Só esta manhã, duas pessoas que não me conheciam de banda nenhuma - um velhote no autocarro e um enfermeiro do INEM que me explicou onde ficava a Rua Ivone Silva - me trataram por tu. Se o primeiro pareceu quase acidental (um «desculpa!» fugaz, pós-empurrão acidental) o segundo foi mesmo sentido: «E depois viras aqui, e depois contornas a estação, e depois chegas lá». Talvez não esteja assim com um ar tão gasto e idoso, afinal!

domingo, 7 de março de 2010

So long, Mark Linkous

Ainda ontem pus esta t-shirt a secar.



O Nuno comprou-a nos Sentados, há quatro anos. Curiosamente, no fim-de-semana passado lembrámo-nos dessa edição, não pelo concerto dos Sparklehorse, se bem me lembro curto e conciso, nem pelo do Ed Harcourt, que para meu deleite se esticou no alinhamento graças ao cancelamento da Emiliana Torrini, mas porque foi em 2006, na cidade de Santa Maria da Feira, que conhecemos, na altura de forma fugaz, a Leonor. O José também andava por lá, embora na altura não tivessemos ainda formado o nosso «time» (isto é, o Boxer ainda estava por nascer).

Conheci os Sparklehorse com o álbum It's a Wonderful Life. À semelhança de quase tudo aquilo de que gosto, hoje, dentro desses géneros musicais, foi nos programas do Miguel Quintão que descobri aquela música frágil, quebradiça, quase umbilical mas muito acolhedora e quente, sempre quente. Ouço o «Comfort Me» ou o «Piano Fire» e vejo-me no Chiado, nos primeiros anos de trabalho, então na vivaça Rua Ivens. Vejo-me no Giestal, ainda com a Marlene e ainda agarrada ao rádiozito da Sony que todas as noites me trazia as novidades. Vejo a Cibele, com quem partilhava e comentava, no dia seguinte, a melhor colheita do serão anterior. E íamos à praia, às vezes.

Do disco que se seguiu também gostei, embora não tanto. O It's A Wonderful Life tem aquela aura dourada que distingue os bons discos dos nossos discos, e foram as suas canções que, neste Domingo de notícias tristes, fui recordar.

O Mark Linkous não era pessoa em quem pensasse regularmente, nem os Sparklehorse banda que me ocorresse colocar entre as mais marcantes do meu percurso. Mas a brincar a brincar, acompanharam-me nos últimos 10 anos. Uma década decisiva a todos os níveis e que, sem o milagre da partilha a que a música convida, não teria sido a mesma.

Acredito que, para alguém disposto a suicidar-se, saber tudo isto não valesse de nada. Mas é apenas justo que o deixe escrito. E agora, depois do Vic Chesnutt, da Lhasa e do Mark Linkous, só espero que o Mark Eitzel não comece a achar que está a dever anos à casa. Essa seria uma desfeita que eu, personagem tão central na sua vida, não seria capaz de perdoar.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Agora em avatar

A Menina Alice só me dá boas ideias. Depois das amendoeiras (ainda à espera de uma máquina nova...), eis aqui a vossa serva, em versão manga:

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Post batoteiro

Sempre atenta ao que realmente interessa, a Menina Alice já avisou que, em Monsanto, as amendoeiras começam a corresponder aos primeiros raios de sol e a entrar em competição com as sempre apressadas azedas.

Ainda não tive vagar, nem material fotográfico para regressar a esse pedaço de verde tão perto de mim. Mas, para emprestar um pouco de cor a este blogue, que dela anda bem precisado, incorro no pecado da repetição e repesco este post de 2008. Estávamos em Março e Monsanto rezava assim:

(Parece que o foto-buquê está a armar-se em esquisito. Cliquem aqui se não conseguirem ver o slideshow abaixo.)

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Um raio de sol

... para desenjoar de tanto fel:


Carregai aqui, carregai.

Esta mulher não falha. (Música: «I Can See Your Tracks», do novo e belíssimo July Flame, título inspirado numa estirpe daqueles pêssegos «especiais de corrida» pelos quais, em certo episódio do Seinfeld, o Kramer faz tudo para degustar.)

Pequenos ódios

Prosseguindo nesta temática tão saudável, enumero à laia de desabafo questínculas relativamente abstractas que fazem crescer dentro de mim uma irritação bem palpável. Gente com pés, braços e cabeça (aparentemente) funcionais para quem a vida, todavia, é um fardo a carregar sem o mínimo de criatividade ou alento. Continua, um dia destes.

domingo, 17 de janeiro de 2010

MLC vs Herman

Não será a forma mais saudável de começar o novo ano, repescando velhos ódios de estimação. Mas, sobretudo agora que já paguei a minha dívida à sociedade, arrumando a casa, não posso deixar de escrever uma pequenita nota sobre a «entrevista» da Marta Leite Castro ao Herman José, esta tarde no Só Visto.

Bem sei que estes encontros devem ser, tanto quanto possível, falhos de qualquer confrontação ou desconforto. Que tudo não passa de um grande, por vezes hipócrita, elogio da vida e obra (por muito irrelevante que esta, frequentemente, seja) de quem se senta na cadeira do convidado.

Mas, mesmo assim, custou-me ver como, quando o próprio Herman enveredava por assuntos «difíceis» (a referência velada ao envolvimento no escândalo da pedofilia, na menção à depressão da mãe; a admissão da queda de popularidade nos últimos anos), a Marta Leite Castro (já sabemos: olhos de Bambi, carinha de «não está ninguém cá dentro») chutasse para canto de forma praticamente insultuosa.

No primeiro caso, a intervenção foi cortada a talho de foice na edição (e musicada com um sonzinho alegre, como se a depressão da mãe e os processos judiciais fossem assuntos joviais). No segundo, a própria Marta Leite Castro se encarregou de cortar o discurso do entrevistado, referindo-se despreocupadamente às vozes que dizem que Herman perdeu a piada como «essas coisas parvas!», ou inanidade afim.

O pior de tudo ainda terá sido a única «provocação» que a rapariga lançou ao convidado. Vida pessoal? Orientação sexual? Desorientação profissional? Qual quê. «O IMBD diz que és o maior humorista de sempre em Portugal, concordas?». Ah, bela provocação! Nem sei como ele não ruborizou.

Posto isto, há que dizer que o Herman José foi, em tempos idos, um dos meus grandes heróis. E que ainda lhe tenho, provavelmente graças a esse passado glorioso, um carinho e um respeito residuais que, ingenuamente, me levavam a esperar mais da «entrevista». A culpa nem foi dele, apesar de tudo um homem astuto e inteligente, entrevistado carismático e exímio contador de histórias. Mas sim daquela que, quando ele se referiu aos jornalistas chatos que de tanto insistirem conseguem que lhes respondam às perguntas aborrecidas, o sossegou dizendo, entre risinhos: «Descansa que eu não tenho perguntas dessas!». Nem dessas, nem de outras. O vazio absoluto é cada vez mais constrangedor, dentro daquele shou e, pelo que se vê no mesmo, daquelas cabeças.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Alligator

Talvez o melhor texto que já li sobre o Alligator (e sabe Deus quantos já terei lido).

Da Stylus Magazine:

The NationalAlligator
Beggars Banquet, 2005

A telegram from midnight of the 21st century, recorded in the long shadows of 2004’s “Armageddon election,” these deceptively small snapshots tell a bigger story. As rock music slumped through middle age “Alligator” felt like an affirmation and a eulogy for the energy and optimism that had sustained it since the mid fifties. The characters Matt Berninger allusively sketches are little men – and they are always men – under enormous pressure. Different songs enact different reactions from the “fuck me and make a drink” desperate lust of “Karen” through the brooding nostalgia of “Daughters of the Soho Riots” and the denial and finally despair essayed in “Baby We’ll Be Fine”; never has a song with such a title been so ironic. The song’s anti-hero details the mundane strains of his life in nightmarish detail before collapsing in on himself with the line, "I don’t know how to do this… I’m so sorry for everything.”

Rock bands don’t apologise, it’s not in their nature, but the world has become so much harder. The National sound like the previous years’ garage rock revivalists beaten down by the sheer grey weight of life itself. The slower songs have a rich warmth to them, sympathetic strings sweetening the sorrow. When they come out on the attack it is not with the petulant passions of adolescence but the suicidal swagger of men with nothing to lose. The protagonists of “All The Wine" and “Lit Up” are pretty much beat, but they sure as fuck aren’t going down without a fight. It’s defeat, but a glorious one. And there, at the end is “Mr November”. Whilst a couple of years later the band would authorize “Mr November” T-shirts emblazoned with the face of Barack Obama it seems more likely the song is loosely inspired by John Kerry; the sixties fossil, once the hero now forced to admit he doesn’t quite know what to do. The sound is like a battle raging in thick fog; opaque violence. Though their side would eventually win through this is the sound of the optimistic, utopian spirit of rock under fire.

«When they come out on the attack it is not with the petulant passions of adolescence but the suicidal swagger of men with nothing to lose»

Nas imortais palavras do amigo Nuno Santos (ainda por cima, um sósia do Matt Berninger...), oh pá.

sábado, 2 de janeiro de 2010

2009 em meia dúzia de discos

Eu até gosto de listas: por toda a sua subjectividade, futilidade e inutilidade, tenho-lhes carinho. Mas confesso que, neste final do ano, já não aguentava a edição de mais um top com os melhores discos, canções ou fenómenos da temporada. Só para não dizer que não piquei o ponto, contudo, e porque há sempre duas ou três pessoas que gostam de saber quais os discos que mais ouvi, aqui ficam, de cabeça e sem ordem rigorosa, os álbuns que, nos últimos 12 meses, mais facilmente encontraram lugar no meu coração algo lotado.

Marcelo Camelo - Sou/Nós
Saiu em Janeiro e comecei a ouvi-lo ainda em 2008. Mas não há burocracia que resista a canções da laia de «Copacabana» (perfeita buarquice), «Menina Bordada» (a mais ternurenta do ano) ou «Tudo Passa». Sempre num Brasil sub-aquático e de aguarela, onde a voz não precisa de ser mais do que um veículo de doçura e honestidade.


Elvis Perkins - Elvis Perkins In Dearland
O primeiro disco, «Ash Wednesday», não era perfeito mas mostrava queda para as letras cuidadas e o estilo narrativo, num sonho sempre pop-folk. Em 2009, com «Elvis Perkins In Dearland» e uma banda a abarrotar de sopros, acordeões e outros arcaísmos, este moço tímido e vagamente místico fez aquele que é, provavelmente, o meu disco do ano. «I Heard Your Voice In Dresden» tornou-se, da primeira vez que a ouvi, a vencedora incontestável. Mas «Doomsday» e «Hey», como pudemos comprovar ao vivo nas eufóricas versões em Nova Iorque, ou a delicodoce «Hours Last Stand» (romance retro à moda de Richard Hawley) também se destacam num disco que é, à falta de melhor descrição, lindíssimo.



Edward Sharpe and the Magnetic Zeros - Up From Below
Metade «Elvis Perkins In Dearland», mas com um esgar mais burlesco e surreal, metade psicadélico-aguado, a fazer lembrar as valsinhas do Patrick Watson, eis a estreia do ano. Ao vivo parecem ser uma cambada insuportável de friques sem lâminas de barbear em casa, mas ouçam «Home» até ao fim (o diálogo ele-ela é das coisas mais adoráveis deste lado do calendário) e descubram a minha banda-revelação de 2009. Melhor música para andar de comboio, ponto.



Mayra Andrade - Storia, Storia
Lindíssima, inteligente e capaz de responder à aclamada estreia de «Navega» com um «Storia, Storia» de excelência. Não é Mayra Andrade quem quer, e esta miscelânea de África, (muito) Brasil e alguma Europa rendeu a 2009 algumas das suas canções mais perfeitas, de perfumadas e requintadas, mas sem nunca perder o Norte ou a autenticidade. O tema-título, «Carrossel», «Joana»... a navegação é segura e prazenteira, da primeira à última faixa.



Neko Case - Middle Cyclone
Há pelo menos três álbuns que esta mulher faz canções com iguais doses de garra, delicadeza e caneta nos sítios certos. «Middle Cyclone» tem tudo: fôlego conceptual, a fidelidade às causas do costume (Natureza, corações partidos), canções de bradar aos céus («This Tornado Loves You», «People Got a Lot of Nerve») e Aquela Voz. Mesmo que um dia falhe, irei ficar do seu lado. Mas ainda não foi desta, Neko.



Sean Riley and the Slowriders - Only Time Will Tell
Em 2009, já não se aplica - ou não devia aplicar - o chavão do «ao nível do que se faz lá fora» para elogiar discos feitos no rectângulo. Mas quando uma banda do eixo Coimbra-Leiria faz, apenas ao segundo álbum, uma obra que tranpira América por todos os poros, é inevitável que o mencionemos. Independentemente da origem, «Only Time Will Tell» é tão simplesmente um dos melhores conjuntos de canções que ouvi em 2009. «Walking You Home», «Houses and Wives», «Hold On», «Buffalo Turnpike» e muitas mais falam por mim.



Também no Quadro de Honra:

Arctic Monkeys - Humbug: o que perderam em apelo juvenil, ganharam em charme negro e serpenteante. Só por «Cornerstone», a melhor combinação de música + vídeo + vocalista amoroso do ano, mereciam uma menção.



Mark Eitzel - Klamath: não vou tão longe como a Uncut, que o considerou o melhor disco a solo do barbudo, mas se formos a ver bem está aqui tudo o que é preciso: a voz dele, algumas óptimas canções («Blood On My Hand», «I Miss You»...), a voz dele. Não lhe peço mais nada: só que regresse a Portugal, para poder vê-lo em concerto pela sexta vez. Porque é em palco que ele é ainda maior.



VA - Dark Was The Night: um dos raríssimos casos em que a música é tão boa como a intenção. Na compilação dupla com fins beneméritos posta a andar pelos manos Dessner está não só a fina flor do indie americano dos anos 00, como a melhor canção dos National em algum tempo, «So Far Around the Bend». Mais uma vez, não lhes peço mais nada.



Norah Jones - The Fall: há duas formas de interpretar esta minha escolha. Ou estou realmente a deixar-me envelhecer ou esta moça fez o disco certo para a minha altura errada. Lânguido e indeciso entre o derrotismo e a luta, soube-me que nem ginjas e palavra que gostava de aplaudi-lo ao vivo.



Yeah Yeah Yeahs - It's Blitz!: dispenso as «canciones lentas», como diria o Mike Patton em Santiago do Chile na digressão do King For a Day... Mas ligados à electricidade, em «Zero» ou «Heads Will Roll», os Yeah Yeah Yeahs salvam a cara do «novo rock» durante mais uns meses. Salvé, Karen O.



JP Simões - Boato: um disco ao vivo, é verdade, mas talvez um dos melhores que o homem dos Belle Chase Hotel e Quinteto Tati já lançou. As canções clássicas, a elegância e o estilo, a voz impecável, vários inéditos «perdidos», o Brasil ao fundo - está tudo aqui, concentrado e inadulterado numa actuação sem espinhas.



Minta - Minta and the Brooktrout: Ela, Francisca Cortesão, não nega a inspiração de cantautoras de estampa internacional como Laura Veirs, mas há nesta moça, que eu já trazia debaixo de olho desde o EP «You», bem mais do que isso. Há uma voz, para começar, bem firme e madura; há um universo (introspectivo e confortável) e há canções como «Large Amounts», digna de figurar em qualquer compilação de melhores do ano.



Para acabar de vos moer o juízo, deixo ainda os discos de 2008 que não abandonaram o meu leitor de MP3 em 2009 (ou porque só os descobri este ano, ou porque simplesmente não fui capaz de separar-me deles):

Department of Eagles - In Ear Park: talvez o disco que mais ouvi este ano. Mas quem é que precisa dos Grizzly Bear quando um dos homens dessa banda querida dos fazedores de opinião tem um projecto paralelo desta categoria? É algo que me escapa - basta-me ouvir as três primeiras cantigas do «In Ear Park» para me sentir transportada para outra realidade qualquer, cortesia daquelas cordas e vozes oníricas. E eu nem sou nada dessas mariquices.



The Walkmen - You and Me: um clássico do amuo, do descontrolo emocional, da ânsia de explosão. Um clássico do meu 2009, portanto. Felizmente ainda os consegui ver uma segunda vez com este disco, ainda que sob o sol impiedoso do Verão lisboeta, pouco adequado a canções como «In The New Year» (um clássico dentro do clássico, por assim dizer).



The Acorn - Glory Hope Mountain: garotos do Canadá contam a história da mãe do vocalista: uma complicada fuga das Honduras que, em canções como «Crooked Legs», soa comovente mas sempre muito doce e cheia de amor. O melhor disco para trabalhar e o melhor de uma estirpe de pop-folk onde incluo os Noah and the Whale, os Mumford and Sons ou os Fanfarlo...



Firekites - Bowery: O disco que os Kings of Convenience deviam ter feito este ano? Não desgostei do «Declaration of Dependence», mas estes novatos australianos comunicaram comigo de forma diferente: com mais verdade e vontade, talvez. «Last Ships» foi uma das músicas das minhas primeiras férias do ano, já íamos em Setembro...



E ainda: Alela Diane (Alela & Alina), John Vanderslice (Romanian Names), Norberto Lobo (Pata Lenta), Andrew Bird (Noble Beast), M Ward (Hold Time), Tiguana Bibles (Child of the Moon EP), Mazgani (Tell The People EP), Bat For Lashes (Two Suns), Noah and the Whale (The First Days of Spring).

Bom 2010 a todos!

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