O tempo tem destas coisas. Confrontada com ele, dei por mim a conseguir ouvir até ao fim, com vagar e com cabeça, discos que pensava conhecer bem, mas afinal podia conhecer melhor. Assim confirmei a formidável habilidade da Laura Veirs para ganchos, melodias e tudo o que rime, musicalmente, com sol; o desdém dylandesco e poeirento (em bom) da pequenita Laura Marling (20 primaveras, acusa o BI) e o generoso caudal de Klamath, o mais recente disco a solo do nosso amigo Mark Eitzel.
Lançado no final do ano passado, conquistou-me desde logo por aquela atmosfera nublada e espessa que cobre os melhores álbuns do homem - mas não via nele, ainda assim, aquilo que a Uncut, por exemplo, viu: o melhor dos seus trabalhos fora dos American Music Club. A verdade é que, na horizontal e com mobilidade reduzida, ou seja, nos primeiros dias de baixa, o que me parecia um caldo amável com belos nacos de pão (The Blood On My Hands, I Miss You e Ronald Koal Was a Rock Star são exemplares), passou a algo bem mais rico, fluido e, graças aos delicados apontamentos electrónicos, próximo do disco que me fez descobrir Señor Eitzel: The Invisible Man, de 2001.
Não há nada de mais em Klamath: são só canções capazes de nos abraçar e esfaquear em simultâneo, belas letras - sem tretas, cheias de coração, zero de pretensão - e aquela que é provavelmente a voz que mais me diz. O YouTube não é amigo na hora de partilhar este tipo de artistas (ou serão os seus fãs que são uns cepos?), mas se acreditarem em mim e tiverem o disco à mão, dêem uma oportunidade às músicas Like a River That Reaches The Sea, There's Someone Waiting, What do You Got For Me ou Why I'm Bullshit. Rápido, antes que chegue o Verão e leve consigo todo este benfazejo nevoeiro.
«But I'm so sick and tired of acting dumb and playing fair
I wanna be the one that writes history and doesn't care»
Há 13 anos
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