A contracapa é clara: ficção, lê-se, em inglês, no canto superior do livro, um nadinha acima da foto do autor. A preto e branco, barbudo e sisudo, John Fahey confessa-se assim responsável por este conjunto de historinhas reunidas no livro How Bluegrass Music Destroyed My Life. Nalguns sites, porém, a obra é considerada autobiográfica e, 291 páginas depois, não duvido que haja farripas de realidade nesta dúzia de fábulas em que John Fahey, o aclamado mestre do «fingerpicking» e estudioso da música americana, lembra o dia em que esmurrou (esmurrou?) o realizador Michelangelo Antonioni, como descobriu que Skip James era um crápula (seria?) ou que Hank Williams era o seu anjo da guarda (disto não há que duvidar).
Autobiográfico ou não, o livro que comprei em Nova Iorque, minutos antes de começar a nevar e atraída pela capa vagamente naïf, foi uma óptima companhia nestes dias de retiro, com a sua escrita humorada, por vezes ácida, sempre muito inteligente. Qualquer pessoa com um ligeiro interesse por música (e história da música), filosofia, política, sonhos, religiões sortidas e / ou gente, em geral, ganhará em ler How Bluegrass Music Destroyed My Life, cujo maior trunfo, ainda assim e a meu ver, é dizer tanto sobre John Fahey quando, em 90% dos casos, tudo o que ele faz é falar de outros que não ele.
Lamechas como sou, a minha fábula favorita tinha de ser April In Orange. Já li algures que é totalmente ficcionada, mas como poucas coisas me soam mais deliciosas do que amores adolescentes mesmo que (ou sobretudo) imaginários, aqui fica um excerto dessa fábula:
«We were pretty good friends and conversationalists. We were both interested in obscure, occult things. And we read lots of books about strange things and told each other about what we had read. And it was quite fascinating. There was so much.
And we did love each other. But it was purely Platonic. And that really was OK with us both.
And we confided in each other and kept each other's secrets. We were great friends.
But not lovers».
(A coisa depois arrebita, com a chegada de outra personagem, mas citação que é citação tem de ter sempre uma certa «sorrow» colada...).
Há 13 anos
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