A gaja que há em mim viu com gosto todos os episódios do America's Next Top Model que pôde. É óbvio que as intrigas e os dramas domésticos das concorrentes obrigadas a viver umas com as outras puxavam pela minha curiosidade, mas também apreciava, genuinamente, o facto de toda a gente - apresentadora, júri, convidados - mostrar que sabia o que estava ali a fazer. Na hora de avaliar as concorrentes, eram severos mas quase nunca cruéis, comentando não só as fotos ou a habilidade a desfilar como a luz, a posição do corpo, os ângulos da cara e uma data de outras minudências que nunca sonhei serem importantes para o resultado final.
Ontem, passei os olhos pelo programa À Procura do Sonho, versão portuguesa e não oficial (pois não tem o nome do franchise) do shóu americano. As diferenças são muitas, e todas para pior: os concorrentes - numa fase em que já só deviam restar os mais fortes - são de uma apatia extrema, à qual não deverá ser alheio o facto de muitos não terem mais de 16 anos (nos Estados Unidos, a idade mínima é 18); os fotógrafos e outros profissionais com quem eles interagem revelam uma incrível moleza e uma bonomia que, certamente, não existirá no «mundo real»; as provas são de uma falta de imaginação constrangedora (uhu, vamos para Sintra brincar ao Bem e ao Mal! Resultado: algo muito próximo das fotos promocionais dos Amália Hoje, cruzado com vampiragem moderna).
Mas o pior estava guardado para o fim, com o júri liderado por Fátima Lopes a limitar-se a duas frases, no encontro directo com os aspirantes a modelos: «Então? Gostaste de fazer esta prova?» ou «Queres comentar a tua prestação?». O concorrente saca então de um ou mais de vários lugares comuns à escolha (o que mais me exaspera é o da «experiência nova» - parece-me que consigo imaginá-los a dizer «gostei muito de ser perseguido por uma manada de porcos selvagens, porque foi uma experiência nova») e passados alguns minutos o júri lá revela a sua decisão, que, na ausência de pareceres prévios, parece completamente aleatória.
Ao fim e ao cabo, nem diverte nem entretém, nem ensina nem estimula, mas a inexistência de qualquer tipo de crítica, construtiva ou nem por isso, é que me parece mais bizarro - como se, na escola, o aluno fizesse um teste, dissesse ao professor como lhe tinha corrido mas este não chegasse a dar-lhe uma nota. Um laxismo bem nacional, portanto. Quanto aos apresentadores, um dos manos Guedes e uma moça que está sempre nas revistas mas nunca percebi quem é, têm tanto jeito para a coisa como os concorrentes - do mal o menos, não destoam e só se estraga uma casa.
Há 13 anos
1 comentário:
Assino por baixo Lisabel. Nem mais, foi exactamente isso que eu tb achei! Parecemos uns pobres de espirito, copiamos e quase sempre mal. Nada adicionamos, nem tão pouco tendemos a manter os padrões de qualidade do original. A mim soa-me a uma obra clássica tocada por meninas de coro no intervalo das aulas a brincar aos programas de televisão. Aquela da franja, lá porque é da Madeira e até se safou no início já não acha que chega? Tenta ir a todas e depois não consegue sequer levar os projectos até ao fim. São mulheres totalmente futeis. Só têm arrogancia, peneiras etc.... Mordam a lingua qdo planearem imitar(estragar) os programas dos outros...
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