segunda-feira, 30 de abril de 2007

Negócios sujos

Acabo de dar de caras, na casa-de-banho do meu local de trabalho, com uma bonita cena. Três senhoras - deduzo que pelo menos uma delas não fosse funcionária desta empresa - debruçadas sobre duas caixas grandes de joalharia (brincos, medalhões, anéis). Uma delas, claramente a vendedora, tenta convencer as outras dos méritos da sua mercadoria.

«Parece latão...», arrisca uma das potenciais compradoras.
«Latão? Por favor, não me ofenda!», riposta a comercial.

Entro no WC e espero que elas se vão embora, para com mais calma prosseguir o meu serviço. Nada.

«Pois, ando um bocado doente por causa de umas asneiras que fiz...», confessa uma das vozes.
«Então?»
«Umas coisas que tomei para emagrecer... depois fiquei assim!». [tosse]

Despachei as necessidades da forma mais silenciosa possível, saí, lavei as mãozitas e deixei as três, ainda em amena cavaqueira, obstruindo o lavatório e a entrada da casa-de-banho desta empresa onde trabalham (e, portanto, mijam e cagam) mais de 400 pessoas.

sexta-feira, 27 de abril de 2007

My cat is an alien

Tenho para mim que Dona Shiva Maria não é (literalmente) deste mundo. Cada vez que começa a música dos Xis Files, pára o que estiver a fazer (nada de muito edificante, regra geral) e vem a correr pespegar-se frente ao televisor, com as orelhas tamanho XL a arrebitarem-se todas com aqueles agudos do genérico. Também funciona se for o meu moço a assobiar a cantilena - nessas circunstâncias, a elegante felina até se senta frente ao dono, a ver o que sai dali.

Por outro lado, outro dia deu um episódio cheiinho de gataria maléfica, a miar que se desunhava, e ela nem pestanejou.

Mais uma achega (Boxer)

A coisa bonita da net é andarmos à procura de uma coisa que nos parece essencial e encontrar outra ainda mais importante. Continuo às voltas com o "Boxer", a que me posso referir como "o novo disco dos National" mas será mais justo definir como "o sucessor de um dos discos que mais ouvi na vida". Ontem estive a "trabalhar" na faixa «Racing Pro» e quedei-me impressionada pela respectiva letra («your mind is racing like a pro» é a melhor frase do mundo para descrever os meus bichinhos carpinteiros mentais). Procuro pela letra e encontro esta crítica, em jeito de antecipação, e a pingar de verdade:


«This new album, Boxer, is not nearly as edgy or nervy. From the outset, Berninger & co. sound self-assured and comfortable, as if the mild success they experienced has given them a serious jolt of confidence. That means that the band eschews the jagged catharsis of "Abel" for more subtly, and luckily, this is a band that does subtle seriously well. The best thing about The National are the little flourishes that make their songs feel so alive, like the swell of horns at the end of "Fake Empire" or the steady build-up in "Apartment Story." Beringer's voice, deep and steady, is some unholy combination of Ian Curtis' monotone and Jim Morrison's swagger, and he dominates the record with his personality. In fact, if I had one complaint about Boxer, it would be that at times it feels a bit like Matt Beringer solo album; the presence of the band is much more subdued than it was on Alligator. There is no sense of "Mr. November"'s unified anxiety. But at the same time, The National are now writing songs that don't just seem anxious, they're writing songs that make anxiety, fear and love palpable

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Primavera / Verão

Como não gostar de uma época/temporada cujos porta-vozes são coisas adoráveis como meloas e morangos?...



No refeitório onde almoço as senhoras têm posto bocadinhos de morango nas saladas de fruta - mas só por cima, para enganar. Uma pessoa vê aquela mini-explosão de cor e prepara-se para o melhor, mas passados esses dois, três segundos de ilusão, depara-se com o tristonho panorama do costume: a maçã desenxabida, o raio do kiwi e a maldita laranja. Não gosto nada de laranja na salada de fruta.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Joanna Newsom

Sobre a Joanna Newsom (e a emergência de vários artistas - relativamente - pop munidos de instrumentos clássicos: ver Arcade Fire, Final Fantasy, Patrick Wolf), o violinista Andrew Bird comentou:

«Isn't it great that the universe can still create such beautiful weirdness?»

Com certeza que sim, Mr. Bird. Tanto como foi um prazer entrevistá-lo, a si e às suas ansiedades, dúvidas existenciais, metafísicas pessoais e introspecções sortidas. Ora aí está um artista com quem me identifico!

Quanto à Joanna Newsom, cada vez mais me convenço que a menina da harpa é um pequenito génio. O disco do ano passado, Ys, não me deixa mentir. E também houve entrevista gostosa e estimulante - hoje nas bancas com a BLITZ e nos bancos (dos transportes) com o Metro.


sexta-feira, 20 de abril de 2007

Boxer

Os National põem, claramente, qualquer coisa na sua música que me deixa perto da demência. Ando desde ontem à noite com a mesma frase na cabeça: «Come on let me call you love - brainy, brainy, brainy». E isto ao mesmo tempo que digo coisas como «estou só a gostar mais ou menos» ou «o Alligator é melhor». Promete.

Entretanto, apesar de o site da banda não o dizer, parece que também já não há bilhetes para o concerto de Paris. Vou pois repensar as minhas férias...



(que engraçado, em tempos tirei uma foto em Carnaxide parecidíssima com esta que está no site deles. Ideia à americana: processá-los e assim ganhar dinheiro para os ir ver bem longe!)

EXTRA: eis a foto de que vos falo acima:


quinta-feira, 19 de abril de 2007

Write like a girl

Escrever como uma rapariga sem parecer uma menina - eis um truque praticamente infalível para me pôr a gostar de letras de canções. O Manel Cruz fazia-o muito bem, o Paul Smith dos Maxïmo Park, se não ficar desanimado com as críticas ao novo disco, vai continuar a fazê-lo tão bem como neste "Our Earthly Pleasures".

«In the gaps between words are the things that really intrigue me.
It's the gasps and the sighs that say more about what's inside you»

Este é um dos álbuns que mais tenho ouvido ultimamente e, além das melodias e canções pegadiças, estou certa que as palavras também têm ajudado à festa.

A maior parte das críticas não revela metade do meu entusiasmo, o que m'enerva consideravelmente. O pior é quando acusam as letras do rapaz de serem «pretensiosas»: irrita-me que alguém que sabe pôr três ou quatro palavras juntas e fazer algum sentido leve nas orelhas por causa disso. Foi essa a crítica da editora do NME ao disco, quando foi ao programa do Gonzo na MTV2 falar de singles. Fiquei tão indignada que sonhei que encontrava o dito Gonzo, na rua - o homem estava a passar férias em Portugal e eu aproveitei logo para abordá-lo. Ele ficou tão interessado na minha opinião como a maior parte dos críticos no disco dos Maxïmo Park.

«You spent the evening unpacking books from boxes
You passed me up so as not to break a promise
Scattered polaroids and sprinkled words around your collar
In the long run, you said you knew that this would happen»

O evento mediático do ano

Para todos os ouvidos que não sorriam desde o fim do Boa Noite e um Queijo, fica a notícia do ano (quiçá, da década!): o programa de Ana Martins e desta vossa serva está de volta! Em regime light - uma hora todas as Terças-feiras, das 22h às 23h, na Rádio Zero (também conhecida como "a Rádio do Técnico"). Vai ser pelo menos tão bom como na Química, é o que podemos prometer.


Se não sou eu nesta casa...

Esta noite sonhei com um funeral, ou com o "copo de água" que se segue ao dito e que, por razões que desconheço, se realizava em minha casa. A minha casa, diga-se, era outra casa qualquer, maior e mais vazia.

A certa altura, um burgesso qualquer pergunta-me a mim e ao meu moço se pode fumar. Dizemos-lhe que, se tem mesmo de ser, que o faça à janela. O gajo obedece mas deixa a janela escancarada, o que faz com que eu tenha de correr para salvar a gata da morte certa. Quando agarro Dona Shiva Maria, impedindo-a de saltar para o parapeito, abre-se a porta da cozinha e o Kele Okereke, dos Bloc Party, pergunta-me se há café. «Já faço», respondo eu, muito atarefada e para o despachar.

Books from Boxes

As feiras do livro exercem em mim o mesmo fascínio e atracção que os hortos e lojas de plantas na minha mãe. Devia afastar-me daqueles antros de páginas amarrotadas, mas quando colocam a tenda à saída (ou à entrada) da estação dos comboios, torna-se complicado ignorar a tabuleta que grita: «LIVROS A PREÇO REDUZIDO».

Ontem (à saída do comboio): uma biografia do António Variações e um livro antigo do Miguel Esteves Cardoso ("A Vida Inteira", por 5 euros).

Hoje (enquanto esperava pelo comboio): um livro de contos do Oscar Wilde e uma antologia de contos tradicionais portugueses.

Não há coisa que me aflija mais que saber que, depois de ler os 37 livros que tenho em fila de espera, não sobra mais nada por ler lá em casa.

Menção honrosa, ainda, para o melhor título que vi na feira: «Doenças do Porco - Tratamento e Detecção».

Mau!

O horóscopo disse-me isto, esta manhã: «Vai sentir uma energia muito sensual e positiva (...). Os seus talentos ocultos vão trazer-lhe benefícios económicos».

É caso para adaptar uma das frases-chave da grande Lauren (a adolescente brit e enfadada do Catherine Tate Show) e perguntar à astróloga do Destak: «Are you calling me a prostitute?».

EXTRA! EXTRA! EXTRA!

- 24 horas volvidas sobre a leitura daquele horóscopo, tenho uma rectificação a fazer. Afinal, e tal como a Suz alertava nos comentários a este post, a astróloga do Destak legisla violentamente. Ontem à noite soube que tinha ganho o prémio de uma rifa - nunca tal me tinha acontecido, pelo que irei encarar a improbabilidade da coisa como «um talento oculto». Hoje não devo ganhar nada, já conferi o Destak no comboio.

quarta-feira, 18 de abril de 2007

AS FÉRIAS, PARTE 2

Não resisto a mostrar mais algumas imagens - se o blog rebentar, é como no post sobre a mulher ranhosa na paragem do autocarro, já sabem do que foi.













Legenda (de cima para baixo): Amesterdão num Sábado à tarde; parque natural numa zona residencial perto de Düsseldorf; igreja em Kaiserswerth (sítio bonito para rico viver, na periferia de Düsseldorf); aspecto de igreja em Colónia; praça colorida em Colónia.

AS FÉRIAS

Deixo-vos então com uma reduzidíssima versão do verdadeiro álbum de fotografias que trouxe da Alemanha e Holanda. Espero que dê para perceber o asseio florido que domina aquelas bandas (mais nas Germânias do que na tarada Amesterdão, já se sabe).












Legenda (de cima para baixo): canal + ponte na "Avenida da Liberdade" de Düsseldorf; uma das muitas bancas de flores no mercado local; o ex-libris de Amesterdão (foto tirada enquanto a minha amiga que agora lá vive foi à casa-de-banho num cyber café); um jardim na "Avenida da Liberdade" (König Strasse, seria?) e uma torre de igreja torta (o arquitecto - medieval? - enganou-se nos cálculos, coitado, e depois de o edifício ser destruído na II Guerra, decidiram manter a traça (desastrada e) original. A reconstrução de Düsseldorf só ficou completa dois anos antes de a minha irmã nascer, em 1982).

terça-feira, 17 de abril de 2007

Civismo

Esta manhã, uma senhora sentada ao meu lado, na paragem do autocarro, deu um valente espirro. A respectiva secreção atravessou livremente os poucos centímetros que nos separavam e aterrou, a pingar, no meu nariz e olheiras.

Não consegui dizer nada - esperei que o embaraço a levasse a pedir, pelo menos, desculpa. Nada: limitou-se a tirar um lencinho de papel da carteira, a limpar sem grande convicção o nariz e a olhar em frente, como se nada de estranho se tivesse acabado de passar.

Se morrer nos próximos dias já sei do que foi.

House, temporada 3

Nada me emocionou até agora, em toda a série, como o telefonema que o House faz aos pais na véspera de Natal. Deixa uma mensagem de boas festas no voice mail, que a mãe já devia ir a caminho da casa da Tia Sarah, onde o pai decerto se iria empanturrar com eggnog e peru seco. Depois kaputta lá no meio do chão (o House, não o pai).

Outro dia emocionei-me porque o Mulder, para acordar a Scully, que adormecera a seu lado no carro, lhe passa ao de leve a mão pela carita [terceira série dos X-Files]. Alguém me dê uma injecção de cinismo.

Suspeito

Tenho para mim que anda para aí um "revival" encapotado e por anunciar dos Afghan Whigs. Já não é o primeiro nem o segundo disco, nos últimos meses, cujas guitarras me lembram as da banda do maravilhoso Greg Dulli - mas estes Twilight Sad abusam. Aos primeiros cinco segundos da faixa inicial já só pensava nas canções do "Gentleman", um dos clássicos dos Afghan Whigs.

Os Afghan Whigs são das minhas bandas favoritas porque conseguiam ser, ao mesmo tempo, ordinários, badalhocos, raivosos, tristíssimos e muito, muito elegantes. Não é para todos.

E EU AQUI

Já há pessoas a passear, de calções de banho, pelo areal de Paço de Arcos. De manhãzinha.

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Publicidade agressiva

Com a proximidade do Verão, a concorrência entre produtos que prometem eliminar o máximo de banha no menor período de tempo é de tal ordem que alguns dos anunciantes esquecem que, quando queremos fazer os outros desembolsar uns tostões, meter-lhes medo não é a solução mais indicada.

Ontem, vi numa farmácia de Benfica o seguinte slogan, num cartaz a um produto adelgaçante:

«Continue a engordar e vai ver o que lhe acontece!»

quinta-feira, 12 de abril de 2007

A Leste

Fui à Alemanha, vim e, atolada em trabalho, deixei passar demasiado tempo para que aqui possa depositar aquelas banalidades pós-viagens, de férias ou não. Não me ocorre, realmente, nada de profundo para partilhar, a não ser que gostei muito da serenidade de Düsseldorf e um bocadinho menos do lufa-lufa turístico de Colónia. Amesterdão, ora, Amesterdão continua bela, ainda que, lamentavelmente, algo descaracterizada. Lojas e barulheira e apelos ao desembolsar a cada esquina; nada que olhar três segundos para os canais ladeados de árvores e banhados por uma luz quase primaveril não ajude a contornar.

Obrigada a todas as amigas que me receberam, na viagem mais a Leste que já fiz. Para vocês e para quem mais quiser ver, tentarei botar aqui umas fotos giraças, ainda esta semana. Danke schön!...

Sonho vs Pesadelo

Qualidade de vida é: sobrevoar os Alpes a bordo de uma aeronave absolutamente pacífica, ao som de National. Ver a neve lá em baixo, sentir o sol que entra pela mini-janelinha e confundir todo esse conforto com a voz do Matt Berninger. Nham.

O reverso da medalha (e da viagem): horas a fio dentro de uma mega-avião lotado, repleto de gente descontente e transferida de outros voos, entretanto cancelados sem explicação. A tripulação, além de cínica, é sádica e brinda os passageiros com músicas de João Pedro Pais, Robbie Williams e Mel C. Como quem canta seus males espanta, algumas passageiras entoam com entusiasmo a totalidade dos êxitos transmitidos nos "intervalos" (escalas) da ligação.

Joguinho: adivinhai qual dos voos acima foi cortesia da nossa transportadora nacional.

HOJE O MAR SOU EU

Típica fã tinhosa que sou, nunca reconheci «Capitão Romance» como um dos meus temas favoritos dos Ornatos Violeta. Qualquer coisa na voz do nosso herói, ou do herói dele (Gordon Gano, dos Violent Femmes, que alinhava umas palavras em Português na cançoneta), afastava-me da música.


Anos mais tarde, versões como a dos Clã (simples, sublime) ou até a da Margarida Pinto, dos Coldfinger, devolveram-me a canção. Na essência, e não me apetece estar com meias palavras ou subjectivismos, uma das mais belas da última década. A melodia é magnífica e de uma portugalidade indizível, a letra uma das coisas mais geniais que o Manuel Cruz, rapaz com jeito para pôr a caneta a funcionar, já se lembrou de escrever.



Vem tudo isto a propósito do sonho que tive hoje. Estava numa igreja (!) com a minha ex-room mate e companheira de adoração violeta. Em palco (?), o Peixe e o Nuno Prata (guitarra e baixo dos Ornatos) preparavam-se para começar a actuar. «Sei que a banda significava muito para vocês, mas hoje não vamos tocar músicas dela. Talvez um dia...», avisou o Peixe.

E nisto começaram, os dois, a cantar o Capitão Romance, para a meia dúzia de gatos pingados espalhados pelos bancos da igreja. Foi bonito, diria mesmo comovente - pelo menos, até o cuco (toque de despertador do meu telemóvel) tocar.

«Não vou procurar quem espero
Se o que eu quero é navegar
Pelo tamanho das ondas
Conto não voltar

Parto rumo à primavera
Que em meu fundo se escondeu
Esqueço tudo do que eu sou capaz
Hoje o mar sou eu

Esperam-me ondas que persistem
Nunca param de bater
Esperam-me homens que desistem
Antes de morrer

Por querer mais do que a vida
Sou a sombra do que eu sou
E ao fim não toquei em nada
Do que em mim tocou

Eu vi
Mas não agarrei

Parto rumo à maravilha
Rumo à dor que houver pra vir
Se eu encontrar uma ilha
Paro pra sentir

E dar sentido à viagem
Pra sentir que eu sou capaz
Se o meu peito diz coragem
Volto a partir em paz

Eu vi
Mas não agarrei»

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