Há um velhote que já por duas vezes me atrasou o caminho para o trabalho, de manhã. Entra no autocarro que eu apanho perto da estação de comboios, e só sai a ferros. Da primeira vez, o motorista levantou-se e, com a dignidade possível, pô-lo na rua, explicando que a Carris tinha «ordens» para não o transportar. O homem ficou, de pijama vestido e fedor inqualificável, sozinho no meio do passeio, completamente à nora. Da segunda vez, o motorista era bem mais irascível; berrou-lhe: «Ou sai ou chamo a polícia, ou sai ou chamo a polícia!», e como o velhote se recusou a abandonar o veículo, acabou por ligar para a central.
«Colega, rrrrreee....», dizia ele pelo pequeno rádio. «Acabou de entrar no veículo o velho das moedas, que cheira mal e rouba os passageiros e os motoristas. Colega, reeee.... repito, reeeee... o velho das moedas entrou pela porta da rectaguarda».
Do outro lado da linha, a senhora concordou em chamar a polícia, e o velho lá saiu pelo seu pé do autocarro.
Ontem, voltei a vê-lo. Vinha incrivelmente limpo (dentro das suas possibilidades, claro) e tinha um gorro daqueles meio à hip-hopper, a dizer «TRUE CRIME».
Há 13 anos
1 comentário:
A Carris dava um seriado :)
Enviar um comentário