Foram boas estas festas, que em teoria - e em Espanha - acabam apenas no Sábado, 6 de Janeiro, Dia de Reis.
Tive uma árvore montada, porque achei de bom tom fazer decorações de Natal no primeiro ano que passo na casa nova. A Shiva (gata que invadiu a nossa vida há poucochinhos meses) adorou a ideia. Começou por atacar as bolas (socando-as até cairem, como frutos maduros, ao chão). Passou mais tarde aos próprios rancos e, não obstante eu ter mudado o pinheiro (artificial) de compartimento duas vezes (só me faltou pô-lo na cozinha e na casa-de-banho, portanto), ela acabava sempre por encontrá-lo e dar-lhe coça impiedosa. Sobrou o esqueleto da árvore e a estrela, mais tarde pendurada na porta da cozinha. O pinheiro está encaixotado e esquecido. A intenção foi boa.
Fui desejar um bom natal à Dona Conceição, que faz de porteira e "curadora" do prédio. Contou-me que, todos os natais, pensa se aquele não será o seu último: é que já vai fazer 85 anos. Não obstante, era ela quem ia cozinhar a ceia de Natal para toda a família que vive na porta ao lado e mais uns quantos que vinham de longe. Quando lhe falei, antes de ir para o Porto, ou seja, na ante-ante véspera de Natal, ia começar a fazer os doces. Interrogo-me se, daqui a 50 anos, ainda haverá mulheres destas.
Firme e hirta continua a minha Tia Glorinda. A irmã da minha avó brindou-nos, a mim, aos meus pais e à minha irmã, que todos os natais a visitamos, com um dos seus melhores momentos de forma. Pouco resmungou contra a prenda que a minha mãe lhe levou (apenas um ou dois «foi gastar dinheiro pra quê?!») e retribuiu indo buscar uma carteira / porta-moedas, que entregou à minha mãe com a seguinte declaração:
«Olhe Ana, sou-lhe franca. Eu não comprei isto. Foi alguém que roubou, tirou o dinheiro e os documentos, apoleou para o quintal e o [marido] Zé encontrou num vaso. Se a Ana quiser...».
Depois disto, era difícil melhor. Mas o meu tio Zé ainda tentou:
«Carne de porco, todos dizem que faz mal, e a mim só me tem feito bem! Três médicos já me proibiram de comer carne de porco - já morreram todos!!!», exultou.