Aqui há coisa de uma semana, a minha chefa da Mondo Bizarre disse, num artigo do ipsilon sobre o Elliott Smith, que nos tempos que correm já não há espaço para mitos à anos 90 - gente reclusa e misteriosa como Cobain e amigos. Com a net, facilmente descobrimos o que há a descobrir sobre toda a gente (e concluímos que, muitas das vezes, os artistas são tão ou mais enfadonhos que nós, disse esta vossa lacaia no mesmo artigo).
A Raquel Pinheiro apontava o James Murphy, dos LCD Soundsystem, como exemplo de novo símbolo dos nossos tempos: rápidos, em constante mutação, sem grandes raízes mas com muitos tentáculos e ligações. Simpatizo bastante com esta ideia e com o próprio James Murphy, que a SR diz ter lido que, no começo de cada digressão, compra um fato na Zara, para usar em todos os concertos e deitar ao lixo quando volta a casa.
Outra coisa que me faz gostar do James Murphy é o facto de ele ter conseguido traduzir, sem espinhas, a atitude primária e bronca do público português (e, pelos vistos, europeu) à presença de americanos em palco. Se o/a desgraçado/a se lembra de dizer que é dos Estados Unidos, causa uma reacção pavloviana nos espectadores: mini-vaia envergonhada, numa de «somos um país bué à esquerda e radical e apesar de devorarmos a vossa música e as vossas séries e os vossos filmes somos, like you know, super críticos da administração Bush».
A coisa resolve-se a contento se, de seguida, o artista se lembra de dizer qualquer coisa como: «... mas atenção que eu não gosto do nosso governo e as vossas ruas são muito bonitas e antigas, WOW!». Aí já o povo se bota do lado do músico e siga para bingo.
Muitas vezes me pergunto o que pensarão os americanos deste tipo de postura.
James Murphy explica:
«Oh I don't know, I don't know, oh, where to begin
We are North Americans
And for those of you who still think we're from England
We're not, no [lol]
We build our planes and our trains till we think we might die
Far from North America
Where the buildings are old and you might have lots of mimes
Aha, oh, oh
I hate the feelin' when you're looking at me that way
Cause we're North Americans
But if we act all shy, it’ll make it ok
Makes it go away.
Oh I don't know, I don't know, oh, where to begin
When we're North American
But in the end we make the same mistakes all over again
Come on North Americans»
Também acho esta parte particularmente divertida:
«New York's the greatest if you get someone to pay the rent
Wahoo North America!
And it's the furthest you can live from the government un huh huh
Some proud American Christians might disagree
Here in North America»
Do outro lado da barricada, temos gente como um homenzinho que vi outro dia na Oprah - ela convidou-o para ir ao programa depois de ele o ter acusado de ser demasiado à esquerda (!). Ao explicar a sua visão das coisas, extrema e assumidamente conservadora, usava argumentos como: «E se os liberais tomassem conta disto, já imaginaram? Querem que a nossa América se transforme numa Dinamarca ou numa Holanda?!», perguntava irado.
Que horror, a Dinamarca ou mesmo a Holanda!
Há 13 anos
4 comentários:
O que muitas pessoas não sabem é como se divide o debate político nos EUA entre "conservadores" e "liberais". É mais fácil tomar um país como um todo e cometer injustiças de julgamento. Ora o melhor dos EUA é algo a que muito poucos podem aspirar.
Dou só um pequeno exemplo. Para um conservador americano não existe social-democracia, democracia-cristã ou outras definições que nos habituamos a ler nos jornais de cá. A Europa é socialista. Ponto.
É uma reflexão interessante e bem a propósito.
A mim custa-me ver as coisas tratadas pela rama, as generalizações, os estereótipos construídos e divulgados sem conhecimento de causa - por isso concordo que não se deve tomar um país daquele tamanho, e daquela diversidade, como um todo.
O James Murphy consegue dizer isso tudo de forma muito simples mas extremamente eficaz - como, de resto, qualquer americano que se preze ; )
Realmente! A Dinamarca e a Holanda são uns antros!
Se ainda fosse uma Tunísia ou uma Venezuela...
:-D
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