quinta-feira, 31 de maio de 2007

Em poucas palavras

O rapaz Berninger (The National) responde a um questionário na pitchforkmedia com a elegância que lhe conhecemos. À pergunta «qual o último grande livro que leu?», refere um título qualquer que não conheço e condimenta-o com três adjectivos: «creepy, sexy, heartbreaking». De forma económica, consegue descrever não só aquilo que eu própria procuro num livro (ou num filme) como a música que a sua banda faz.

Angel Dust

Now for next question - does emotional music have quite an effect on you?




Hoje acordei com saudades disto:





Não mais voltarei a beber sangria antes de dormir.

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Conversas em dias de greve

Uma velha para mim, hoje na paragem onde a camioneta tardava a chegar:

«Aquela senhora que ali está vestida de vermelho - é tão elegante, tão elegante, que até dá gosto olhar!... Deve ter muito cuidado com a boca».

Isto a propósito de nada. Prosseguiu falando dos sacos de lixo por recolher, do centro de saúde onde fora ontem, anteontem e onde tinha de voltar hoje, não obstante ficar no topo de uma rampa, e do cheiro a tabaco do comboio que apanhara e onde alguém, maleficamente, tinha carregado num botão para a composição não parar (?).

Perguntou-me se eu ia «para a escola» e, quando a minha camioneta finalmente apareceu, despediu-se desejando-me «muita saúde».

Cá vai disto (ou os National em Berlim)

Acho que mereço um doce - vi, há quatro dias, os National ao vivo e ainda não transformei o Sofá Verde num templo digital de adoração à banda de "Alligator" (e de "Boxer", vá lá). Como diria o outro, make no mistake, though: basicamente, ainda não tive foi muito tempo, entre lavar roupa, desfazer malas e reatar rotinas laborais. As ideias continuam a pairar na minha cabeça («leave it all, up in the air...», dizem eles na "Ada") e atropelam-se quando volto a ouvir, agora em CD ou mp3, as músicas que me levaram ao delírio no Magnet de Berlim.

Antes do mais, e para esclarecer dúvidas que possam surgir junto dos mais incautos, sim, eu sou maluquinha por fazer coincidir as minhas férias com as coordenadas espácio-temporais da digressão dos moços. Sei que não ajuda, mas percebi perfeitamente, quer no Magnet quer no fórum de fãs da banda, que não fui a única a fazê-lo. E mais grave ainda, não me arrependo nada. Todos sabemos que eu já tive destes achaques e como acabaram (pista: banda do Porto cujas iniciais são OV). Por isso, deixai-me aproveitar enquanto posso.

Os National. Em Berlim. Acho que só acreditei quando vi aquela cambada, indistinta e perfeitamente confundível com a equipa de roadies, em palco. Mesmo com bilhetes (de avião e de concerto, mais casa alugada) na mão, achei sempre, até à última, que o plano ia falhar. E as demoras nos transportes e uma pequena tempestade de Verão ao final da tarde ajudaram a avolumar os meus receios. Lá pelas 21h30 de Sexta-feira, no entanto, o concerto por que mais ansiara nos últimos anos começa. Preparo-me para tudo (tentei nem ver grandes setlists, para não ficar desiludida por tocarem esta em vez daquela, coiso e tal).

Foi um concerto em crescendo: quer no alinhamento (a princípio, o som estava pouco nítido, no final a euforia era de tal ordem que já ninguém reparava), quer dentro de cada música.

Admito sem grandes problemas que a minha devoção pela banda seja uma coisa extremamente pessoal - ou seja, ao contrário do que sinto em relação a outros artistas, consigo muito bem perceber que haja quem não goste de National. A mim, e reflecti bastante até chegar a esta conclusão, agrada-me a melancolia, claro está, mas também uma certa gestão da ansiedade. Há músicas em que ela é libertada («Mr. November», «Abel», com o vocalista Matt Berninger no meio do público e a um palmo de mim, a gritar e a saltar como qualquer um de nós), e outras em que ela, a ansiedade, vai sendo exorcisada aos bocadinhos, de forma quase masoquista, pelas guitarras irmãs de Bryan e Scott Davendorf - chicoteantes em «Squalor Victoria» (um surpreendente grande, grande momento, com o Mattzinho a passar-se e a pendurar-se numa trave frente ao palco), cintilantes em «Secret Meeting».

«Secret Meeting» foi a terceira música da noite e fez-me pensar que voltaria a passar por todas as caminhadas e esperas e secas que me conduziram até Berlim. Ao primeiro segundo da canção, que não foi anunciada pela banda, o público leva braços ao céu e sorve o momento. No mínimo emocionante, perceber que se está entre tantas pessoas (desconhecidas, de várias nacionalidades) a quem o "Alligator" marcou de forma tão profunda. A empatia público-banda começa, nesse momento, a crescer de tal maneira que, às tantas, já não é possível dizer quantas pessoas entoam as letras das músicas, velhas e novas. Todas? Quase todas? Ou está tudo na nossa cabeça?

Em palco, Matt Berninger parece um cão perdigueiro, esticado para a frente em busca de caça: é piroso dizê-lo, mas o que ele aparenta procurar ali, naquela pose semi-ébria, são emoções, moods, estados de espírito, e quando os agarra, meus amigos, a revolução que ali não acontece. O microfone parece um detector de metais, a registar o ambiente do concerto, a expectativa de quem repete cada palavra e cada barulhinho das 17 músicas daquela noite como se nada mais importasse. Como se canções como «Soho Riots» (o povo a cantar, sozinho e afinadíssimo, todo o final da música, e o autor da letra a comentar, surpreendido, que nem ele sabe o que aquelas palavras querem dizer) ou «Fake Empire» (o fabuloso single do "Boxer", rematado de forma estrondosa com um fogo cruzado de guitarras e violino) oferecessem aos seus admiradores mais do que três ou quatro minutos de contentamento. Como se naquela partilha, por alguns aguardada durante tanto tempo, se encontrasse uma sensação de pertença quase religiosa, mas sem as chatices.

O que é que eu posso dizer mais? Que estavam uns bons 40 graus na sala (bem pior que qualquer ZdB) e que saí de lá completamente partida e com a t-shirt da banda encharcadíssima; que o Matt Berninger esteve a beber de uma garrafa de vinho que eventualmente despachou para o público, vindo a arrepender-se e a passar aos fãs uma nota de 20 euros para que lhe comprassem nova garrafa (ficou sem a nota e sem a pinga); que todos juntos, intuitivamente, fizemos um joguinho de palmas para o final do «Ada» que muito impressionou a banda... ou que os National tocaram a melhor música do mundo («All The Wine») e ainda assim não foi o melhor momento da noite.

Também podia dizer que os National são a «minha» banda, que nasceram para me fazer (a mim e a mais uns quantos, pronto, mas eles que façam os seus próprios blogues) feliz. Nem que seja só por hora e pico. Não houve encore e cada música era tão boa que o concerto podia acabar ali mesmo - sem arrependimentos, sem olhar para trás, e com a certeza de que no dia seguinte estaria pronta para nova dose.


(importantíssima nota de rodapé: obrigada às minhas melhores amigas «alemãs», sem as quais nada disto teria sido possível, e ao João Bonifácio e ao João Lisboa por, no fim-de-semana em que eu gritava «I wish that I believed in fate/I wish I didn't sleep so late!» até ficar rouca, escreverem, no Ipsilon e no Expresso respectivamente, textos marabilhosos que até fazem toda esta panca parecer uma coisa séria.)

terça-feira, 29 de maio de 2007

Mediterrâneo über alles

Há dez anos, quando fiz a minha primeira viagem ao estrangeiro, (os holandeses) achavam que eu era turca.

Aos 29, passo por italiana (tantos «ciaos» gritados em lojas não podem ser coincidência), francesa (com as hospedeiras da swiss a trocarem o «auf wiedersehen» pelo «au revoir» à minha passagem) e, claro está, espanhola (a moça da loja do aeroporto quase se metia num buraco quando esclareci ser portuguesa. Bem tentei dizer que não fazia mal, o engano, mas a rapariga devia ter tido alguma má experiência com este tipo de troca ibérica).

Estou de volta (mais ou menos).

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Concertos

É com emoção que constato que todos os discos que mais rodam (*) no meu leitor de mp3 vão ter direito a concerto perto de mim, bem em breve. Senão, vejamos...

- Andrew Bird: 31 de Maio no Teatro São Jorge (Lisboa)
- Maxïmo Park: 4 de Julho, Super Bock Super Rock
- LCD Soundsystem: 4 de Julho, também no Super Coiso

... e os The National, se tudo correr bem, para a semana num clube chamado Magnet.

(*) - alguém devia inventar um termo equivalente ao «rodar», que se aplique àquilo que as músicas fazem no leitor de mp3... Eu já inventei o «pingar» para traduzir o «leak» dos álbuns na net, não me peçam mais coisas.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Lei de Velho

Lei de Velho: a pessoa a quem, simpaticamente, damos o lugar no banco da paragem é a primeiríssima a passar-nos à frente na fila para o autocarro quando ele, por fim, chega. Certo e sabido é também que se alapará no primeiro lugar livre do autocarro, seja ele reservado ou nem por isso.

terça-feira, 15 de maio de 2007

Prática

Além das musiquinhas, aprecio o sentido prático da Lily Allen.

«Sinto-me confortável quando uso vestidos. Eles tapam todas as partes de mim de que não gosto e são apropriados para quase todas as ocasiões», in cotonete.

Ando maluca

Enganei-me três vezes a escrever «maluca», acho que isso diz bem do meu estado mental.

Ele há dias em que aparece tudo e mais alguma coisa destinada a desequilibrar a minha pouca sanidade mental. Esta noite tive um sonho estranho: o Manel Cruz e a sua banda (qual? não sei) viviam na minha antiga casa de Santo Ovídio, no quarto que foi da minha irmã e, antes, era conhecido como «o quarto dos passarinhos», por albergar várias gaiolas de pintassilgos. De alguma forma, esta informação entra no sonho e há imensos periquitos na mais recente curta metragem do meu subconsciente.

Há bocadinho, vou ao belogue do Nuno Prata e vejo um link para uma participação dos Ornatos no Rock Rendez Vous, no tempo da Maria Cachucha. Estou, evidentemente, perturbada.

Boa coisa não é

Estive, há pouco mais de uma semana, na localidade algarvia celebrizada pelo Toy (Olhos de Água). Tudo muito bonito (e pago! Ganhei um fim-de-semana na região, no sorteio de umas rifas de solidariedade...), tirando os cravas que tentam impingir publicidade a tudo o que mexe. À terceira (e derradeira) vez, foram uns mitras que vieram ter connosco, à saída do carro. Optámos por ficar dentro da viatura, de porta fechada, enquanto o diálogo decorria da seguinte (e elegante!) forma:

- Bom dia! São portugueses?, pergunta o tipo de bronzeado das barracas e brinquinho à chunga.
- Não, respondo eu.
- Ah, são portugueses!...
- Sim, mas não estamos interessados. (eu outra vez, que má!)
- Não está interessada em quê, minha senhora?, tenta o mitra.
- Em nada. Eu não estou interessada em nada!
- Mas se ainda nem sabe o que é!..., lamuria-se o homem.
- Olhe, boa coisa não é.
- ... boa coisa não é?, repete o tipo, intrigado.
- Não! Não deve ser, pois não?

Nisto, o chunga hesita. Acaba por dizer «Obrigado» e bazar. «Ora essa», respondo eu. Nunca julguei que dizer a verdade fosse tão eficaz!

LCD Soundsystem

Livre, por fim, do jugo opressor dos !!!, cujo álbum ouvi três biliões de vezes desde o começo do ano, estou pronta dar o valor devido ao disco dos LCD Soundsystem. Até agora, este "Sound of Silver" parecia-me o irmão mais velho, complicado e menos divertido do "Myth Takes", do qual ainda não me fartei mas que já não tenho necessidade de ouvir a toda hora.

Mas não, mas não, o novo do James Murphy e amiguinhos está bem jeitoso. Não teria sido a minha escolha para single, mas gosto mesmo muito deste «All My Friends». Umas poucas de notas ao piano, aceleradas e repetidas ad eternum, são o chão/tapete rolante da música, à qual se junta, de forma improvável, uma melodia e um ambiente bem melancólicos (no YouTube fala-se em New Order e não está mal visto). Faz-me pensar em coisas como apanhar vento na cara, à beira-mar, ver fotografias antigas e lamechices do género. É bem bonito, e podem ver - e ouvir - aqui.

Se nada disto fizer grande sentido, é normal. Estamos em fecho de edição, aqui no serviço, e os efeitos da descompressão mental já se fazem sentir.

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Rainha Shiva

A regente lá de casa fica sempre muito bem com a cor deste belogue.



A propósito, se tiverem alguma ideia brilhante (não literalmente) para eu mudar a cor da letra aqui no tasco, digam. Ando a ver pior e quero mascarar o facto mudando a cor da fonte, mas não me agradam as propostas do blogger. Uma coisa legível mas discretazinha, se faz favor.

James Murphy

Aqui há coisa de uma semana, a minha chefa da Mondo Bizarre disse, num artigo do ipsilon sobre o Elliott Smith, que nos tempos que correm já não há espaço para mitos à anos 90 - gente reclusa e misteriosa como Cobain e amigos. Com a net, facilmente descobrimos o que há a descobrir sobre toda a gente (e concluímos que, muitas das vezes, os artistas são tão ou mais enfadonhos que nós, disse esta vossa lacaia no mesmo artigo).

A Raquel Pinheiro apontava o James Murphy, dos LCD Soundsystem, como exemplo de novo símbolo dos nossos tempos: rápidos, em constante mutação, sem grandes raízes mas com muitos tentáculos e ligações. Simpatizo bastante com esta ideia e com o próprio James Murphy, que a SR diz ter lido que, no começo de cada digressão, compra um fato na Zara, para usar em todos os concertos e deitar ao lixo quando volta a casa.



Outra coisa que me faz gostar do James Murphy é o facto de ele ter conseguido traduzir, sem espinhas, a atitude primária e bronca do público português (e, pelos vistos, europeu) à presença de americanos em palco. Se o/a desgraçado/a se lembra de dizer que é dos Estados Unidos, causa uma reacção pavloviana nos espectadores: mini-vaia envergonhada, numa de «somos um país bué à esquerda e radical e apesar de devorarmos a vossa música e as vossas séries e os vossos filmes somos, like you know, super críticos da administração Bush».

A coisa resolve-se a contento se, de seguida, o artista se lembra de dizer qualquer coisa como: «... mas atenção que eu não gosto do nosso governo e as vossas ruas são muito bonitas e antigas, WOW!». Aí já o povo se bota do lado do músico e siga para bingo.

Muitas vezes me pergunto o que pensarão os americanos deste tipo de postura.

James Murphy explica:

«Oh I don't know, I don't know, oh, where to begin
We are North Americans
And for those of you who still think we're from England
We're not, no [lol]
We build our planes and our trains till we think we might die
Far from North America
Where the buildings are old and you might have lots of mimes
Aha, oh, oh
I hate the feelin' when you're looking at me that way
Cause we're North Americans
But if we act all shy, it’ll make it ok
Makes it go away.


Oh I don't know, I don't know, oh, where to begin
When we're North American
But in the end we make the same mistakes all over again
Come on North Americans»

Também acho esta parte particularmente divertida:

«New York's the greatest if you get someone to pay the rent
Wahoo North America!

And it's the furthest you can live from the government un huh huh
Some proud American Christians might disagree
Here in North America»

Do outro lado da barricada, temos gente como um homenzinho que vi outro dia na Oprah - ela convidou-o para ir ao programa depois de ele o ter acusado de ser demasiado à esquerda (!). Ao explicar a sua visão das coisas, extrema e assumidamente conservadora, usava argumentos como: «E se os liberais tomassem conta disto, já imaginaram? Querem que a nossa América se transforme numa Dinamarca ou numa Holanda?!», perguntava irado.

Que horror, a Dinamarca ou mesmo a Holanda!

Maddie

Pensava já ter visto/lido/ouvido todas as barbaridades possíveis sobre o caso da menina desaparecida no Algarve, até ontem o professor Barra da Costa (nome genial) aproveitar o poleiro diário que, por algum motivo, lhe deram no telejornal da RTP para dizer que os pais da criança são swingers e médicos, pelo que é bem possível que tivessem posto os filhos a dormir, com um qualquer sedativo, para irem jantar e «brincar» descansadinhos e sozinhos (ou com os amigos swingers, subentende-se).

Esta manhã, no Destak, um leitor consegue uma chamada de capa com uma carta onde compara o desaparecimento da menina aos «milhares» de abortos legais que se fazem todos os dias (com dinheiros públicos! Que o que toca a esta gente é que lhes vão ao bolso...). Essas crianças, diz o senhor, nem sequer chegam a conhecer a cor do céu ou dos olhos da mãe, e delas ninguém fala. É só Maddie, Maddie, Maddie.

Por favor - calai-vos.

sexta-feira, 11 de maio de 2007

Gordos

Comentário atónito da senhora que, esta manhã, estava atrás de mim na fila do quiosque:

«AAHHH! E depois é aos gordos que dá os AVCs!...».

(a senhora falava, consigo mesma, sobre o problema de saúde da fininha Margarida Rebelo Pinto, noticiado na capa da Caras)

Importante

Hoje numa das últimas páginas do Público:



Passo a explicar, da mesma elucidativa e telegráfica forma que a amiga e então colega AM explicou, certo dia de grande cansaço, um recado que o chefe nos transmitira por telefone: «Aníbal, Best Rock, inserir». Neste caso, é «Gael, contra a SIDA, comité latino».

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