Julgava eu que o meu dia batia no fundo quando, ao chegar à estação de Algés, não conseguia desviar-me das simpáticas meninas que entregam aos transeuntes exemplares do Diário Desportivo. Por respeito a pessoas que não conheço, mas com quem partilho o ofício, não quero alongar-me em considerandos - mas aparte o empenho que transparece na publicação, tudo o mais que lhe diz respeito é absolutamente risível.
Hoje, porém, um novo ponto baixo surge inesperadamente no meu quotidiano matinal: uma menina (quiçá cansada de distribuir o Diário Desportivo!) entrega-me uma revista que eu nunca vira, mas pelos vistos já vai no número 47. Chama-se Plenitude, tem a Lili Caneças na capa e é uma espécie de versão beta, beata e com muitos pontos de exclamação da Visão ou da Focus. Um breve folhear mostrou-me mais referências à Bíblia do que uma entrega de prémios na América e pérolas como o editorial do senhor Luís Farinha, que descobriu que as mulheres de hoje «vencem».
«As mulheres do nosso tempo não se limitam a ser esposas e mães, mas intervêm activamente na sociedade» é a citação destacada.
Eis a minha vez de ser reaccionária e perguntar ao Sr. Farinha que tipo de intervenção na sociedade pode ser mais activa que ser Mãe.
Não posso também deixar de transcrever a primeira quadra do Lugar Criativo, um espaço que segundo percebi pertence aos leitores.
«O caso "Esmeralda"
É algo a lamentar
Como estamos num país de doidos
Tudo se pode esperar»
Contra esta sentença nada tenho a acrescentar - realmente, tudo se pode esperar.
A coisa só se compõe lá para a página 42 (em rigor, na 42 e 43, porque a foto está miseravelmente dividida entre as duas páginas, com agrafos no meio): uma breve nota sobre o Gael García Bernal salva a honra do convento. (Diz-que reatou com a Natalie Portman; enfim, qual é a versão positiva da expressão "só se estraga uma família"?).
Há 13 anos
3 comentários:
Vou estar atenta às bancas. Grande sortuda que tu és... E pensar que se perderam 46 números disso!
É verdade : (
Eu guardo este número para te mostrar quando fores lá a casa ; )
Parece que a preciosidade é de distribuição gratuita...
Adorei esta frase:
"(...) que tipo de intervenção na sociedade pode ser mais activa que ser Mãe [?]"
Mas nem vale a pena insistir muito com o senhor - parece-me apenas mais uma generalização do politicamente correcto dos tempos que correm, bem pior quando vem de bocas (ou canetas) femininas...
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