Nesta bela foto, roubada à/ao Angua no Fórum Sons, não dá para perceber, mas o Ed Harcourt apresentou-se em Santa Maria da Feira com um casaquinho bordeau, que à distância parecia de veludo mas, visto de perto (eu cruzei-me três vezes com ele, na fila para a casa-de-banho) era de simples bombazine.
Gosto muito do Ed Harcourt, apesar de só ter ligado convenientemente aos seus dois primeiros álbuns. Acho que o senhor tem voz de chocolate quente com um cheirinho de uísque, e derreto-me com a) boa parte das suas canções b) o empenho e o carinho que coloca em palco, e que este ano pude, por fim, presenciar.
Em Lisboa, no pico do Verão, falei com o senhor antes de um concerto em que se revelou nervoso, ansioso, agitadíssimo - mas inspirado, e cheio de ideias para preencher as duas horas de espectáculo, perante pouquitas pessoas.
Escrevi, na altura, que era bom que o autor da incomparável «God Protect Your Soul» pudesse acalmar e concentrar-se no seu serviço. Por incrível que pareça, julgo que foi o que aconteceu Sábado, lá nos Sentados. A audiência estava menos que calorosa, mas foi-se rendendo ao desejo, expresso pelo artista, de «turn this funeral into a wedding».
Um doce. E à terceira vez que nos cruzámos, lá o abordei para lhe dar os parabéns pelo sucesso do concerto. Ele achou que tinha corrido «ok» e confessou-se muito cansado. Estranhamente, garantia lembrar-se de mim: «You did the interview», recordou. Depois de, em Lisboa, ter cumprido a promessa de tocar o «God Protect Your Soul» por eu adorar a canção, eis que Ed Harcourt cimenta o seu lugar no meu Top de Simpatia 2006.
A seguir tocaram os Sparklehorse, de quem conheço e adoro, sobretudo, o álbum "It’s A Wonderful Life". Há quem diga que a banda (o Mark Linkous e uns amigos) estava em piloto automático, a fazer o frete de tocar para nós, mas sinceramente deram o concerto que me apetecia ver: não muito longo e com o cheiro a flores mortas e terra queimada que associo à sua música. Não sei porquê, mas a poupita no cabelo do Linkous esteve, durante todo o concerto, a ser ligeiramente levantada por uma corrente de ar (?) que não se fizera sentir na actuação anterior. E esse pormenor, mais a dolência ligeiramente doentia da música dos Sparklerhorse, fizeram-me sentir lá longe, no sítio de onde aquela gente e aquelas canções vêm, e onde eu provavelmente nunca estarei.
A Emiliana Torrini cancelou; foi pena, mas pergunto-me quando é que verei, nos sentados ou em qualquer outro evento nacional, as songwriters que realmente adoro. Pista para os promotores: a country nem sempre morde ou larga peçonha.
Para concluir: os casaquinhos bordeau dominaram as duas últimas semanas, na tela ou no palco (ver post sobre Ciência dos Sonhos). Começo a encará-los como garantia de qualidade.