quarta-feira, 19 de abril de 2006

Nojo

Não é a primeira vez que um amigo meu perde o pai. A sensação de quem quer ajudar é sempre a mesma: a de impotência, sobretudo verbal. O que dizer perante uma situação destas? Mesmo que as palavras adequadas tivessem sido inventadas, iam sempre soar mal. Às vezes o mais certo, ou menos intrusivo, acaba por ser mesmo o silêncio, ou o silêncio de um abraço. A dor de quem perde o pai não cabe nas nossas palavras, por mais que as estiquemos.

Pelo menos tão mau (há quem diga que é ainda pior, por contrariar a - pouca - lógica da vida) será perder um filho. E é sobretudo isso que me magoa neste circo que a TVI tem montado à volta da morte do "Dino". Os Morangos podem ser uma produção da TVI, os actores podem ter os seus direitos todos esmigalhados na mão da estação, mas o Francisco Adam não é pertença da Televisão Independente. Nos últimos dias, tenho-me recusado a passar por aquele canal por me custar a crer em tão gritante falta de decoro e contenção, numa hora que só à família e aos amigos devia dizer respeito. Acho que essa é capaz de ser a maior lição que tiro de toda esta desgraça: já ninguém é dono de si próprio, nem mesmo na hora da morte.

1 comentário:

Filipa Paramés disse...

realmente.
exploram ao máximo esta situação. Ainda no domingo disse à minha mãe: a TVI deve estar a esfregar as mãos de contente com tamanha audiência q estão a ter hoje à pála da morte do miúdo.
No mínimo por respeito à família n deviam de passar o episódio hoje..."

Mas enfim, pode ser que num contrato futuro haja uma clausula: "no caso de morte, não explorar nem espremer a imagem do falecido"

beijinhos!! :)
fil

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