segunda-feira, 10 de abril de 2006

Andorinhas

Muito podia ser dito - e decerto já foi - sobre a capacidade de certos sons, à semelhança do que acontece com os aromas, nos transportarem para tempos que já lá vão.

Deste lado do sofá, é impossível escutar o chilrear (*) das andorinhas e não me vir à memória os fins de tarde passados com a minha avó ao portão da nossa casa. A partir de Março, Abril - ou seja, quando os dias começavam a esticar e o sol a durar mais um bocadinho - íamos sempre para o portão as duas, ver as trabalhadoras da fábrica Coats & Clark passarem, de sacos de plástico na mão e ar apressado, no final do expediente. Do outro lado da rua, o senhor Jorge, enfermeiro e amigo de todos os cães e gatos das redondezas, saudava-nos naquele ritual.

Sei que soa entediante e descolorido, mas naquela altura não havia melhor - tudo enquanto as andorinhas rasgavam, histéricas, o céu rosado, subitamente maior, mais alto.


(*) - sei que as andorinhas não chilreiam, fazem outra coisa qualquer, que vi outro dia n' "A Herança". Mas, apesar de na altura ter acertado na resposta, agora já me olvidei.

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