sexta-feira, 18 de março de 2005

Posso parar quando eu quiser

Tenho um problema com malas. O problema é não poder comprar todas as que gostava de ter. Quem me conhece sabe que nem sou gaja de grandes gastos; passam-se semanas sem que compre alguma coisa «para mim», isto se ignorarmos os comes e bebes e as pechinchas da loja dos 300. Mas as malas deixam-me um pouquito descontrolada. Estive a reflectir sobre possíveis razões para que isso aconteça...

Em primeiro lugar, e como diz a CM, da Laranja Amarga, as malas são um dos poucos produtos-para-gaja que é possível comprar sem complexos. Não há o perigo de nos ficarem apertadas, de não haver o nosso número, de nos caírem mal. Uma mala materializa o utópico ideal do one size fits all, extendível apenas, nestes domínios do shopping, aos sapatos (e depende do pé!), chapéus (que muitos não vêem ainda como acessório com direito à vida) e agasalhos que, agora que chegou o Verão, já não entram na equação.

Assim sendo, para comprar uma mala é necessário que se reúna um número reduzido e alcançável de factores: a cor, o formato, o tamanho agradarem-nos. E a partir daí não precisamos de nos preocupar com mais nada, excepto o preço, claro, e ele há lojas cujas malas eu adoro e onde nunca comprei uma que fosse, para a amostra.

Depois, e isto parece-me importantíssimo, uma mala configura uma promessa. Se olho para uma mala espaçosa, com boa arrumação, com cara de me ir dar jeito todos os dias da semana and then some more, acredito que é nela que reside a solução para o caos do meu quotidiano. Se a comprar, vou ter aquilo de que preciso e não consigo arranjar: espaço, arrumação, ordem, tempo (por não mais ter de pensar onde enfiei as coisas, por exemplo; uma mala perfeita, esse nadir das gajas, é aquela onde tudo se guarda e encontra com facilidade, evitando horas de procura e frustração).

Sinto o mesmo com as caixas de plástico das lojas dos chineses; só por passar a ter onde arrumar a tralha, acho logo que a minha vida vai ser mais descansada e relaxada.

Penso que é legítimo concluir, pois, que uma mala, ou a mala (perfeita, aquela que nos tira o desejo de conhecer outras malas e nos conduzirá à monogamia de acessórios) é uma ilusão. E como tal esvai-se sem aviso prévio.

Antes de perder o multibanco apaixonei-me por uma mala que vi à venda perto de minha casa. Não comprei e a primeira coisa que pensei quando dei pela falta do cartão foi que me tinham roubado o dinheiro todo, antes mesmo de ter podido comprar a maleta (tão jeitosa, cor tão boa, e os CDs e livros a caberem todos lá, tão ajeitadinhos... Quase podia prescindir da renda e ir viver para dentro da mala).

Serve isto para apelar à compra, não por impulso, mas por instinto, e para tentar explicar ao meu gajo a profusão de malas e sacos pendurados na minha cama (mal ele sabe que dentro de muitos deles há outros, progressivamente mais pequenos, ao bom jeito das matrioskas russas). Não é uma questão de vaidade, nem de futilidade, antes uma crença sincera numa vida melhor.

5 comentários:

lia disse...

TFT? :)

João M disse...

Este post ganha o prémio de post-mais-bonito-da-semana.

lia disse...

:)

João, identifiquei-me com o teu post sobre mudança de casa e respectivas arrumações: foi ele que inspirou, parcialmente, este :)

Ah, e temos final feliz! Ontem fui às Amoreiras buscar os bilhetes para os concertos da Semana da Juventude e pumba, encontrei A mala! ;)

Bom fim-de-semana!

paulo rico disse...

quero ver essa mala amanhã...

static disse...

:D

tmbm tenho uma tara por malas :p

actualmnt passo pelas lojas q têm essas tentações nas montras de olhos fechados ;)

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