domingo, 1 de agosto de 2010

Duas semanas depois do 18

No final, o estado oficial era «emocionada».

Se calhar não faz muito sentido, tendo em conta que passei boa parte do concerto - onde as músicas viçosas ganharam, em número, às vaporosas - a saltar, a pôr as mãozitas no ar, a gritar cada letra e a antecipar cada trinado da guitarra ou golpe da bateria.

Não, a culpa não foi do alinhamento. Também não foi da companhia, a melhor de há uns anos para cá, nem dos pobres incautos que se quedaram nas imediações, quiçá guardando lugar para o Prince, olhando estupefactos para as figurinhas daqueles quatro histéricos para quem «talking ace» é lema de vida e mantra a repetir, incessante e vorazmente, até faltar o ar.

Mas seriam só quatro os histéricos? Não conseguimos furar até às primeiras filas, mas de onde vimos o concerto estávamos longe de ser os únicos não só a vibrar como a música, como a incentivar a banda, a antecipar a canção seguinte, a tentar fazer com que as coisas acontecessem, enfim. Ao meu lado direito, um tipo desconhecido de mochila também se empertigava todo para cantar «I don't have the drugs to sort it out». Nas grades, um jovenzito clamava pela «About Today». E no fim, disse-me a Ana T., outro petiz desabafou: «Foi o concerto mais bonito da minha vida».

A banda já não é nossa, como se calhar nunca foi. Os primeiros segundos da «Fake Empire», logo após o agradecimento ao povo cá da terra por tê-los «abraçado» ao primeiro encontro, pareciam uma missa, disse o Nuno. A noite já se pusera, as vozes uniam-se e, compassadas, respeitosas, davam cor e corpo ao culto. Mais à frente, e depois das descargas eléctricas de «Mr. November» e «Terrible Love» (que formigueiro, que tapete voador), o fim não só do concerto, como da noite. Vi o Prince mas não vi nada. Ver, nem a «About Today» já vi. Como se, à minha volta, as pessoas mais altas fossem ainda mais altas, e as vozes que se substituíam à minha formassem uma parede abismal, e o último ano me estrangulasse devagarinho. E desaparecesse, ele próprio, ralo abaixo. Acho que a única imagem que guardo dessa última música são os sapatos, cheios de pó e alguma água salgada.

No final, o estado oficial era «emocionada». Apesar de todos os guinchos, pinchos e brincadeirinhas durante o concerto. Porque há coisas que tocam mais fundo que outras.

11 comentários:

hilikus disse...

Acho que jamais algum concerto deles será melhor do que o de Guimarães (primeira fila + cartaz a pedir dolled-up in straps, modo teen histérico).

Dito isto, o concerto do sbsr também ficará na memória. Berrar, abraçado ao Matt, "My mind's not right" é daqueles momentos tão perfeitos que não irei esquecer.

Da muita malta jovem à minha volta nas primeira filas deu para perceber que eram todos devotos do "Boxer" e "Alligator". Mas poucos sabiam, sequer, da existência dos discos anteriores.

Por isso, quando chegou a hora de "available" + "cardinal song" (que delícia) fiquei sozinho a cantarolar palavra a palavra. Imbatível o momento "jesus christ you have confused me...." :)

Gosto de os ver acabar os sets com a About Today. É um ponto final sempre bem dado.

Isto é tudo muito bonito mas já estou farto de os ver em festivais. Quero uma missa só pra mim! :)

lia disse...

: ))

Guimarães é outro campeonato. Mas este do Meco, ainda por cima a beneficiar da coincidência da data (18 Julho), foi talvez o melhor em festivais que lhes vi! Talvez porque tenham escolhido um alinhamento tão roqueiro, talvez porque realmente já não tenho a sensação de estar - quase - sozinha, talvez... o resto são males do meu coração : )

Quanto à missa só para nós, acontece em 2011, quando vierem à Península para o Primavera (há notícia na BLITZ mas agora estou com preguiça de ir buscar o link).

:-)

salamandrine disse...

Lia, que texto, moça! :)****
fizeste-me voltar lá, com nuvem de pó e tudo :)))

(e já se calavam com esse mito rural do concerto em Guimarães. humpf)

lia disse...

Mas, Sandra, we'll always have Guimarães! Mesmo que seja a única coisa que teremos sempre : )

Beijos **

Pedro disse...

Fogo... eu fico tão babado de ter amigos capazes de sentir e escrever estas coisas :)*

menina alice disse...

Que texto, sim. :)

Eu não tinha estado, mas estive lá neste bocadinho em que te li. :)

lia disse...

Vocês são muito gentis, é o que é : )

A ver se em breve nos vemos... faz tempo!

Beijinhos,

lia

leonor disse...

Belíssimo texto, mana. <3

Dava-te muitos beijinhos agora só por causa desta parte: "Vi o Prince mas não vi nada. Ver, nem a «About Today» já vi. Como se, à minha volta, as pessoas mais altas fossem ainda mais altas, e as vozes que se substituíam à minha formassem uma parede abismal, e o último ano me estrangulasse devagarinho. E desaparecesse, ele próprio, ralo abaixo. Acho que a única imagem que guardo dessa última música são os sapatos, cheios de pó e alguma água salgada."

Há coisas que tocam tão fundo que são sagradas, como estes dias na vossa companhia. Adoro-vos muito,

vossa mana

Anónimo disse...

you've done it again, lia.

*


lobe you sisters, this morning.






(plagia este ó balsemão)

lia disse...

«(plagia este ó balsemão)»

ahahah :D

Este blogue está ligado à máquina só para que, aquando de 18 de Julhos e afins, tenha um lugar para derramar as besteiras do costume.

Beijinhos para bós, obrigada pela visita,

lia

Luís disse...

não sei o que diga!

...a mim só me resta agradecer por ter a sorte de ler estas maravilhas.

eu estive lá, principalmente na about today :)

bjs :* e obrigado

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