Pouco depois de a velhota desorientada sair do Intercidades que apanhou por engano, uma rapariga de vinte e poucos anos tomou o seu lugar, a meu lado. Desde logo que a moça me chamou a atenção pelas revistas de que se munira para aguentar a viagem até Campanhã: um daqueles livrinhos de palavras cruzadas e a edição portuguesa da revista Bravo, essa germânica instituição que, imaginava eu, deixava de apelar às moças a partir do segundo período menstrual.
Mas o festim estava longe de se revelar em todo o seu esplendor: para minha desgraça, a rapariga foi toda a santa viagem agarrada ao telemóvel, recebendo e enviando mensagens escritas («lol», escreveu simplesmente numa delas, que eu vi) e fazendo também algumas chamadas. O mais grave disto tudo? Os toques personalizados, que iam do «Fiu, fiu, táxi!» à atordoante rajada de metralhadora.
Quanto o revisor finalmente apareceu, ela exibiu o bilhete e o cartão do exército que lhe rende um desconto na CP - e um sorriso de aprovação do «pica» que a mim não me tocou.
Nome Marlene Cristina, patente soldado, toque rajada de metralhadora, revista favorita Bravo, filme que levava em versão sacada para mostrar a alguém - namorado, irmão? - com quem falou ao telefone «Crepúsculo» (o dos vampiros castos). «Vais gostar», despediu-se ela, com um riso malandro.
Há 13 anos
2 comentários:
Mulheres de uniforme, quando o tiram já se sabe como são! :-D
As coisas que tu sabes :) Como são? Lingeire VICTORIA SECRETS? ;)
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