sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

No comboio

Foi tranquila, a viagem de regresso a Lisboa, depois do regalado Natal em Gaia.

Entrei no Intercidades pelas três da tarde, e logo percebi que a carruagem seguia sossegada, quentinha e até acolhedora, apesar de forte chuva que caía lá fora.

À minha frente, uma moça divertia-se no portátil, sem nunca largar o telemóvel (parece complicado, eu sei, mas acreditem que assim era). Mesmo quando dormia, apoiava a cara na mãozita com que agarrava o telefone.

Ao meu lado, um rapaz vagamente agunnado (para os do Sul, amitrado) lia o Ensaio Sobre a Cegueira, já com a capa nova (o Mark Rufallo e a Julianne Moore, do filme do Fernando Meirelles). Estava a custar-lhe: pelas minhas contas, virava uma página - na melhor das hipóteses - de cinco em cinco minutos.

O melhor momento da viagem aconteceu a poucos minutos da hora prevista para a chegada a Lisboa.

O maquinista abre o microfone e berra (literalmente, berra):

«SENHORES PASSAGEIROS!... DEVIDO ÀS INTEMPÉRIES, ESTE COMBOIO...»

Seguiu-se uma pausa longa, e dramática. O maquinista parece hesitar. Os senhores passageiros entreolham-se, tentando, quem sabe, adivinhar o que é que aconteceu ou vai acontecer àquele comboio. Vai explodir? Ser levado por uma enxurrada? Dissolver-se na intempérie? Até que o senhor completa a frase, soando irritadíssimo:

«ESTE COMBOIO PERDEU MUITO TEMPO!!!»

Para anti-clímax, foi bastante bom.

2 comentários:

T. disse...

Jantares em família e viagens de comboio são sempre boas fontes de divertimento.
Vou me tornar assíduo aqui :)

lia disse...

Seja então bem-vindo a este humilde sofá! :-)

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