quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

A vida e os autocarros

Hoje tive um belo dia de transportes. Logo pela manhã, ouvi a seguinte conclusão de conversa a dois estudantes (suponho que de Veterinária, visto que seguiam no autocarro que passa pela respectiva faculdade):

«Quando acabam Anatomia I, as pessoas ficam mais carnívoras. Ou então vegetarianas».

Ao descer o túnel da estação de comboios, cruzo-me com uma mulher francamente feia e desequilibrada, que me aborda de forma condizente com a seguinte frase: «Tens um cigarro?». Respondo que não e continuo o meu caminho, encontrando três ou quatro passos adiante um senhor de idade, curvado sobre si mesmo e com a esperada boina na cabeça, que me brinda com a punch line: «Quem não tem dinheiro não tem vícios».

No regresso a casa, já à noite, os revisores do 50, que por motivos que me escapam envergam fardas que mais parecem de seguranças privados do que propriamente da Carris, decidem embirrar com um velhote. Aparentemente, o bilhete dele tinha sido validado às 15h e qualquer coisa, e não naquela viagem das 19h e pico.

O senhor explica-se de forma calma e educada e imediatamente o meu coração fica do seu lado (além da farda de segurança, o «pica» tinha cabelo à Quaresma. A decisão não foi complicada). Ficam naquilo uma eternidade e acabam por pedir os dados pessoais ao homem - até a profissão, como se houvesse dúvida de que era reformado - instruindo-no para, no prazo de cinco dias, aparecer na sede da Carris, em Santo Amaro, para esclarecer a sua «situação».

Espero que o homem não vá ou, pelo menos, não tenha de pagar nada.

Demagogicamente falando, acho uma certa graça que os autocarros de Lisboa estejam cheios de mitralhada a ouvir batucada no telemóvel, ameaçar-se uns aos outros («Eu quebro-te todo!», ouvi eu outro dia a dois completos desconhecidos), fazer lixo malcheiroso e incomodar toda a gente, e as «autoridades» se preocupem com um velhote que diz que «picou» a senha e é contrariado pela porcaria da maquineta que faz o controlo das entradas.

4 comentários:

Suz disse...

Melher, só as tuas descrições para me fazerem sentir saudades de andar de autocarro :)

Maria disse...

Todos os dias passo por este sofá e cada dia que vem é sempre melhor que o outro. Parabéns. Demais.

lia disse...

Muito obrigada pela visita e pelo incentivo, São Pedro!

A ver se, quando chegar o meu dia, me reserva um lugarzinho à maneira lá no Paraíso... : )

Maria disse...

Quanto ao paraíso não faço promessas...
mas uma visita diária ao sofá já começa a ser inevitável...

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