sexta-feira, 13 de fevereiro de 2004

Sofá Gold

Esta batata tem andado aos caídos, com tanto trabalho. Nem tempo para espreitar as vistas do sofá arranja... mas como não quer ter a barraca digital às moscas, lembrou-se de inaugurar uma nova rubrica. Apresento-vos, pois, o Sofá Gold, um espaço dedicado às nossas melhores/piores memórias televisivas. Quando não houver matéria-prima mais fresca, vai-se ao congelador e pesca-se meia dúzia de petiscos, em bom estado de conservação, mas a precisar de arejar.

Na minha última visita ao Norte, tive a oportunidade de passar mais de meia hora num autocarro da STCP, a empresa que transporta o povo do Porto e arredores. Para chegar da Invicta a Santo Ovídio, não só demorei quase uma hora, como me contorci de riso, graças a uma dupla de mulheres, piores que os velhotes dos Marretas, com um discurso imparável e mais divertido do que alguma vez elas terão pensado. Já aqui tinha falado nesta teoria, mas cada vez se me afigura como mais verdadeira a ideia de que o humor é tanto melhor, quanto mais involuntária é a sua criação. Adiante.

A converseta das senhoras fez-me lembrar a brilhante intervenção, há coisa de dois (?) anos, de uma utente da mesmíssima empresa, no telejornal da RTP. Tinha havido uma colisão entre dois autocarros, na baixa do Porto; assustados, alguns passageiros contavam à televisão como acontecera o acidente, se tinham sofrido ferimentos... o habitual. Eis senão quando chegam os cinco segundos de fama de uma mulher, que se havia escapulido do veículo pela porta do meio do autocarro (são aquelas viaturas bem compridonas, com três portas, em vez de duas).

«E os autocarros bateram, e eu saí pela porta do meio...», contava, um pouco exaltada, a senhora.

Quer então o repórter saber como se processara a chegada da polícia, ou das ambulâncias, ao local do acidente. Responde a entrevistada, no mesmo tom high pitched, mas sem perder a naturalidade:

«Bem, isso não sei, porque ao sair do carro escorreguei nas folhas e nessa altura já estava na valeta!»



Isto pode não ter muita piada agora (digo eu, a lutar contra o riso, no local de trabalho), mas na altura deixou o Sofá Verde e suas habitantes em delírio. Curiosamente, poucos dias depois, esta batata partilhou umas boas gargalhadas com a sua irmã, aquela trocada à nascença, de quem falei no thread sobre o "Quem Quer Ser Milionário".

Falava-se, na TVI, de um padre milagreiro que, entre outras boas acções, devolvera, numa qualquer aldeola portuguesa, o dom da fala a uma senhora que, durante anos a fio, nada dissera. Naturalmente, a mulher nutria pelo pároco (nunca mais me esquece que tinha o nome da melhor voz da TV portuguesa) uma forte devoção. Dizia ela que só os préstimos do senhor (Senhor?) lhe tinham dado de volta a voz, depois de anos de curas e tratamentos sortidos. Pergunta-lhe a jornalista, provavelmente a título de curiosidade, qual a primeira palavra pronunciada, após tanto ano de silêncio.


(Pensem no vosso caso... diziam o nome do vosso batato? Um "aleluia!" sonoro e apropriado? Uma impaciente caralhada tipo "até q'enfim, foda-se!"?)

Agora imaginem a cara sorridente da amilagrada, a arreganhar a tacha e revelar a primeira palavra depois do jejum:

«Foi 'lixívia'!!!»

Bom fim-de-semana!

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