sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Pobre do meu coração!

Ontem adorei ver, botado no Twitter via Facebook dos National, um post cujo título era: «How does it feel».

Tem o seu quê de impossível ler isto e não pensar nos New Order, certo?

Abrindo o link descobríamos uma foto justamente «desse» vídeo, e justamente do elemento que mais me chama a atenção no dito: o cão.





Não há vez que eu veja o vídeo e não diga: «coitadinho do cão, ao tempo que já deve ter morrido».

Pensei de mim para mim: isto realmente prova a ligação de uma pessoa a uma banda.

Esta manhã, entretanto, a mesma ganapada coloca uma foto do Matt Berninger com o título «Agassi-esque». Palavras para quê?



(Seriam estas imagens de um teledisco nunca revelado para a Blank Slate - I'm gonna beat off the army with a tennis racket?)

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Espírito de Natal

Numa edição especial do Quem Quer Ser Milionário, uma conhecida figura da rádio portuguesa decidiu, ontem, aproveitar o seu tempo de antena para se vangloriar: como foi a primeira voz de determinada rádio, quando esta ainda tinha outro nome; como esse programa era o oposto daquele que faz agora; etc. Interrompido pelo Malato com questões mais terra-a-terra - «Então tocavas acordeão quando eras pequeno. Ainda saberias tocar uma música do Quim Barreiros?» - responde com impensável cagança: «Eu não tocava música folclórica, era mais clássica (!). Aliás, ganhei um concurso com uma música do mais complexo que pode haver, e...».

Isto tudo num programa galhofeiro destinado a angariar fundos para solidariedade. Que tacto, senhores, que tacto...

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Home is where the bird is

No ano em que o conceito legal de família foi (justamente) alargado, apresento-vos o destemido protagonista da Consoada 2010 (agora que penso nisso, subjaz a esta história um estranho sentido de destino, uma vez que a responsável pela captura do passaroco acabou por passar todo o Natal doente, na cama. Enfim, Maximón lá saberá). Na última foto, o animal mostra-se curioso em relação à mancha de café que me fez derramar sobre o sofá de pele. Também acabaria por acompanhar com interesse o processo de limpeza da mesma, como se não fosse nada com ele.












E uma fatiazinha de queijo, não?

Bobina, a mais doce e mimalha cadela deste bairro e arredores, de visita a casa da Tia Lia.

Música para estar em casa

De baixa ou simples e alegremente de férias: o vinil do Sad Songs For Dirty Lovers nunca me deixa ficar mal (acompanhada), ou sozinha.

E algumas das suas músicas inspiram vídeos-colagem tão pungentes como este:



Every time you get a drink
And every time you go to asleep
Are those dreams inside you head
Is there sunlight on your bed
And every time you're driving home
Way outside your safety zone
Wherever you will ever be
You're never getting rid of me

(...)

You coulda made a safer bet
But what you break is what you get
You wake up in the bed you make
I think you made a big mistake

(...)

You clean yourself to meet
The man who isn't me
You're putting on a shirt
A shirt I'll never see
The letter's in your coat
But no one's in your head
Cause you're too smart to remember
You're too smart
Lucky you

Música como neve

Da mesma editora dos adoráveis australianos Firekites chegam estes Good Night & Good Morning. Neve com carimbo de Chicago e um disco marcado para Janeiro que já se pode desembrulhar aqui. Agasalhem-se bem para tanta mansidão.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Apoio técnico e moral

O que fazer quando o monitor do portátil garante que faltam uns bons 20 minutos para o «diagnóstico» ficar completo? Aguardar, pois então, enquanto do outro lado da linha o técnico silenciosamente suspira pela hora de saída, com um manto de «bip, bips» de fundo (dir-se-ia que estava numa sala de operações e aquele era o som dos sinais vitais dos pacientes).

Juro que a certa altura ocorreu-me perguntar-lhe se o Natal tinha sido bom, mas depois lembrei-me que as chamadas são gravadas e as chefias eram capazes de achar que o seu funcionário estava a dar demasiada confiança à «Dona Lia».

Só mais um começo

Então e o que me dizem a reencontrar, na nossa cabeça e por puro acaso, canções que em tempos conhecemos de fio a pavio? Oscilo entre o sentir que isto nunca foi a lado nenhum e o descobrir-lhe novos ângulos, novos encantos...


Voltei a ler

Este ano voltei a ler. Não banalidades na internet, nem apenas a imprensa do costume ou livros de receitas. Livros, honrando o nome que me deram, os anos em que devorava colecções inteiras de historinhas de aventuras e todo um arranque de vida devotado à arte de botar caneta ao papel.

O grande culpado deste meu feliz regresso ao passado acabou por ser um rapaz americano de nome Benjamin Moser. A este moço ocorreu, certo dia, escrever a biografia da escritora por quem se apaixonou na Faculdade, onde estudou Português. Li, por mero acaso curioso, algumas entrevistas com este escritor, a propósito do lançamento em Portugal da biografia de Clarice Lispector, e a semente ficou plantada no meu cérebro. Que dirá um americano de uma brasileira de origem ucraniana? E quem era ela, afinal, que só a vejo em frugal modo de citação nos murais de amigos de facebook?

Bastou-me encontrar o calhamaço «Clarice Lispector - Uma Vida» à venda para afiar dente naquelas 600 e tal páginas. Foram certamente o dinheiro e o tempo mais bem empregues de 2010: o dito do Moser não só enquadra maravilhosamente a obra da Senhorita Lispector, que agora começo a descobrir, como nos faz apaixonar pela pessoa que ela era, e ainda traça um retrato muito cativante da política e da história, quer do Brasil quer da Europa do Leste, não só da altura em que Clarice nasceu, como de duas ou três gerações antes da sua. É um trabalho de um fôlego inacreditável, que só muito amor pelo objecto de estudo pode ajudar a entender.

Acabada de ler a biografia, não perdi tempo e açambarquei todos os livros que encontrei da senhora (falecida um ano antes de eu nascer, em 1977). Ainda só li as colectâneas de contos; não peguei, por enquanto, nos romances que se alinham, aconchegadinhos, na prateleira dos vinis. Mas já percebi que o tempo em que não estive em contacto com esta prosa mística mas pagã, aparentemente simples e transparente mas profunda e incomodativa como uma chaga, foi tão somente tempo perdido. E também me entristece um pouco que, procurando o seu nome no Google, o auto-complete sugira pesquisas populares como «Clarice Lispector frases» ou «Clarice Lispector citações». O mais certo é que, assim, só se encontrem as baboseiras (ainda assim, singulares) que ela escrevia em revistas, para ganhar a vida, e não a verdadeira literatura de Clarice. A propósito, a sua definição da mesma era: «literatura é a vida, vivendo».

Leiam, se puderem. «Pior do que está não fica», como diria o seu compatriota Tiririca.

Elbow

Por falar em bandas durante anos esquecidas, e a quem o desprezo não feriu de morte, nesta manhã pós-Natal já vou na terceira ou quarta escuta da nova música dos Elbow. Ouve-se como quem come rabanadas.

Listas, para que te quero

Não foi um ano em que ouvisse muita música, este de 2010.

Se aos amores National e Walkmen juntar a fiel amiga Laura Veirs (desde dois mil e troca o passo incapaz de fazer um mau disco), o Nuno Prata (sempre com mão firme nas canções e na honestidade) e o falsamente macio Mark Kozelek (o disco de Sun Kil Moon foi o que mais companhia me fez este ano), ficam as contas fechadas.

É certo que ouvi, e gostei, de músicas do Caribou, Laura Marling, MGMT, Interpol, Horse Feathers (muito bonito!), Adrian Crowley, Beach House e o diabo a quatro, mas não desvalorizemos a ideia de álbum enquanto pequeno mundo alternativo (ao nosso), autónomo (dos outros) e convidativo (a que lá passemos tardes inteiras). Nesse aspecto, aqueles foram os vencedores - e não me faz qualquer espécie que vocês os odeiem ou desprezem. Se há coisa que, nesta altura do campeonato, deixou de me fazer sentido, é a ideia de competição e discussão sanguinolenta em torno de coisas tão pessoais e supostamente prazerosas.

Posto isto, não posso deixar de reparar como, depois de os National tomarem, com o Boxer, o lugar dos Arcade Fire nas listas de melhores do ano, são agora os Walkmen a ocupar o trono de «ainda não são bem mas um dia destes acabarão por ser, e nós [imprensa] vamos poder dizer que já no ano X o tínhamos previsto. E aí os esqueceremos, aí os largaremos da mão». Como quase tudo na vida: previsível, natural, e um tudo-nada aborrecido.

Será que ainda me lembro da pass do blogue?

E a resposta é: ah, que bom, ele entra sozinho.

Nunca estive tanto tempo sem regressar a este cantinho mas, como tanta coisa na minha vida, o Sofá Verde obedece à famosa deixa da Lucinda Williams: «forgiven, but not forgotten».

Agora que 2010 dá o seu suspiro final, sento-me novamente frente a vós para fazer o balancete (parece-me indicar maior modéstia e menor ambição, este termo) do ano que se fina.

Um ano em que se me esgotou, precisamente, a paciência para os balanços. E em que peneirar talvez tenha sido a palavra de ordem; como se, por fim, fosse mais fácil distinguir o vital do acessório (e como este nos atafulha casas e vidas, credo!).

Volto já.

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