Há 13 anos
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Mais palavreado rude
Está um homem aos berros na minha rua, utilizando no diálogo com o seu interlocutor a mesma expressão que custou a suspensão ao Carlos Queiroz.
À portuguesa
A gaja que há em mim viu com gosto todos os episódios do America's Next Top Model que pôde. É óbvio que as intrigas e os dramas domésticos das concorrentes obrigadas a viver umas com as outras puxavam pela minha curiosidade, mas também apreciava, genuinamente, o facto de toda a gente - apresentadora, júri, convidados - mostrar que sabia o que estava ali a fazer. Na hora de avaliar as concorrentes, eram severos mas quase nunca cruéis, comentando não só as fotos ou a habilidade a desfilar como a luz, a posição do corpo, os ângulos da cara e uma data de outras minudências que nunca sonhei serem importantes para o resultado final.
Ontem, passei os olhos pelo programa À Procura do Sonho, versão portuguesa e não oficial (pois não tem o nome do franchise) do shóu americano. As diferenças são muitas, e todas para pior: os concorrentes - numa fase em que já só deviam restar os mais fortes - são de uma apatia extrema, à qual não deverá ser alheio o facto de muitos não terem mais de 16 anos (nos Estados Unidos, a idade mínima é 18); os fotógrafos e outros profissionais com quem eles interagem revelam uma incrível moleza e uma bonomia que, certamente, não existirá no «mundo real»; as provas são de uma falta de imaginação constrangedora (uhu, vamos para Sintra brincar ao Bem e ao Mal! Resultado: algo muito próximo das fotos promocionais dos Amália Hoje, cruzado com vampiragem moderna).
Mas o pior estava guardado para o fim, com o júri liderado por Fátima Lopes a limitar-se a duas frases, no encontro directo com os aspirantes a modelos: «Então? Gostaste de fazer esta prova?» ou «Queres comentar a tua prestação?». O concorrente saca então de um ou mais de vários lugares comuns à escolha (o que mais me exaspera é o da «experiência nova» - parece-me que consigo imaginá-los a dizer «gostei muito de ser perseguido por uma manada de porcos selvagens, porque foi uma experiência nova») e passados alguns minutos o júri lá revela a sua decisão, que, na ausência de pareceres prévios, parece completamente aleatória.
Ao fim e ao cabo, nem diverte nem entretém, nem ensina nem estimula, mas a inexistência de qualquer tipo de crítica, construtiva ou nem por isso, é que me parece mais bizarro - como se, na escola, o aluno fizesse um teste, dissesse ao professor como lhe tinha corrido mas este não chegasse a dar-lhe uma nota. Um laxismo bem nacional, portanto. Quanto aos apresentadores, um dos manos Guedes e uma moça que está sempre nas revistas mas nunca percebi quem é, têm tanto jeito para a coisa como os concorrentes - do mal o menos, não destoam e só se estraga uma casa.
Ontem, passei os olhos pelo programa À Procura do Sonho, versão portuguesa e não oficial (pois não tem o nome do franchise) do shóu americano. As diferenças são muitas, e todas para pior: os concorrentes - numa fase em que já só deviam restar os mais fortes - são de uma apatia extrema, à qual não deverá ser alheio o facto de muitos não terem mais de 16 anos (nos Estados Unidos, a idade mínima é 18); os fotógrafos e outros profissionais com quem eles interagem revelam uma incrível moleza e uma bonomia que, certamente, não existirá no «mundo real»; as provas são de uma falta de imaginação constrangedora (uhu, vamos para Sintra brincar ao Bem e ao Mal! Resultado: algo muito próximo das fotos promocionais dos Amália Hoje, cruzado com vampiragem moderna).
Mas o pior estava guardado para o fim, com o júri liderado por Fátima Lopes a limitar-se a duas frases, no encontro directo com os aspirantes a modelos: «Então? Gostaste de fazer esta prova?» ou «Queres comentar a tua prestação?». O concorrente saca então de um ou mais de vários lugares comuns à escolha (o que mais me exaspera é o da «experiência nova» - parece-me que consigo imaginá-los a dizer «gostei muito de ser perseguido por uma manada de porcos selvagens, porque foi uma experiência nova») e passados alguns minutos o júri lá revela a sua decisão, que, na ausência de pareceres prévios, parece completamente aleatória.
Ao fim e ao cabo, nem diverte nem entretém, nem ensina nem estimula, mas a inexistência de qualquer tipo de crítica, construtiva ou nem por isso, é que me parece mais bizarro - como se, na escola, o aluno fizesse um teste, dissesse ao professor como lhe tinha corrido mas este não chegasse a dar-lhe uma nota. Um laxismo bem nacional, portanto. Quanto aos apresentadores, um dos manos Guedes e uma moça que está sempre nas revistas mas nunca percebi quem é, têm tanto jeito para a coisa como os concorrentes - do mal o menos, não destoam e só se estraga uma casa.
Porque o Facebook ainda não serve para tudo
Outro dia, no facebook, fiz um post sobre areias - os biscoitos que a minha mãe foi comprar ao supermercado minutos depois de eu me queixar por só haver bolachas de água e sal. A ideia era louvar as benesses de só ir a casa quando o rei faz anos e assim receber todos os mimos com retroactivos; na vida real, contudo, passei uma semana a ouvir comentários sobre areias (que não são biscoitos; qual a verdadeira origem da especialidade; a receita para fazê-las em casa!) e eventuais efeitos das ditas no meu peso, isto tudo em pleno cenário laboral.
Pareceu-me, assim, arriscado contar naquela maléfica plataforma que, certo dia na semana passada, acordei com os berros de uma mulher na minha rua. A noite fora de calor e deixei a janela aberta, pelo que, às primeiras horas da manhã, fui despertada por gritos de «Puuuta! Oh puuuta! Anda cá, puta!» (pausa dramática, durante a qual eu tento perceber se será humano ou animal o destinatário dos chamamentos). Conclusão, segundos depois: «Mas que puta que me saiu esta cadela!».
Pareceu-me, assim, arriscado contar naquela maléfica plataforma que, certo dia na semana passada, acordei com os berros de uma mulher na minha rua. A noite fora de calor e deixei a janela aberta, pelo que, às primeiras horas da manhã, fui despertada por gritos de «Puuuta! Oh puuuta! Anda cá, puta!» (pausa dramática, durante a qual eu tento perceber se será humano ou animal o destinatário dos chamamentos). Conclusão, segundos depois: «Mas que puta que me saiu esta cadela!».
domingo, 1 de agosto de 2010
Duas semanas depois do 18
No final, o estado oficial era «emocionada».
Se calhar não faz muito sentido, tendo em conta que passei boa parte do concerto - onde as músicas viçosas ganharam, em número, às vaporosas - a saltar, a pôr as mãozitas no ar, a gritar cada letra e a antecipar cada trinado da guitarra ou golpe da bateria.
Não, a culpa não foi do alinhamento. Também não foi da companhia, a melhor de há uns anos para cá, nem dos pobres incautos que se quedaram nas imediações, quiçá guardando lugar para o Prince, olhando estupefactos para as figurinhas daqueles quatro histéricos para quem «talking ace» é lema de vida e mantra a repetir, incessante e vorazmente, até faltar o ar.
Mas seriam só quatro os histéricos? Não conseguimos furar até às primeiras filas, mas de onde vimos o concerto estávamos longe de ser os únicos não só a vibrar como a música, como a incentivar a banda, a antecipar a canção seguinte, a tentar fazer com que as coisas acontecessem, enfim. Ao meu lado direito, um tipo desconhecido de mochila também se empertigava todo para cantar «I don't have the drugs to sort it out». Nas grades, um jovenzito clamava pela «About Today». E no fim, disse-me a Ana T., outro petiz desabafou: «Foi o concerto mais bonito da minha vida».
A banda já não é nossa, como se calhar nunca foi. Os primeiros segundos da «Fake Empire», logo após o agradecimento ao povo cá da terra por tê-los «abraçado» ao primeiro encontro, pareciam uma missa, disse o Nuno. A noite já se pusera, as vozes uniam-se e, compassadas, respeitosas, davam cor e corpo ao culto. Mais à frente, e depois das descargas eléctricas de «Mr. November» e «Terrible Love» (que formigueiro, que tapete voador), o fim não só do concerto, como da noite. Vi o Prince mas não vi nada. Ver, nem a «About Today» já vi. Como se, à minha volta, as pessoas mais altas fossem ainda mais altas, e as vozes que se substituíam à minha formassem uma parede abismal, e o último ano me estrangulasse devagarinho. E desaparecesse, ele próprio, ralo abaixo. Acho que a única imagem que guardo dessa última música são os sapatos, cheios de pó e alguma água salgada.
No final, o estado oficial era «emocionada». Apesar de todos os guinchos, pinchos e brincadeirinhas durante o concerto. Porque há coisas que tocam mais fundo que outras.
Se calhar não faz muito sentido, tendo em conta que passei boa parte do concerto - onde as músicas viçosas ganharam, em número, às vaporosas - a saltar, a pôr as mãozitas no ar, a gritar cada letra e a antecipar cada trinado da guitarra ou golpe da bateria.
Não, a culpa não foi do alinhamento. Também não foi da companhia, a melhor de há uns anos para cá, nem dos pobres incautos que se quedaram nas imediações, quiçá guardando lugar para o Prince, olhando estupefactos para as figurinhas daqueles quatro histéricos para quem «talking ace» é lema de vida e mantra a repetir, incessante e vorazmente, até faltar o ar.
Mas seriam só quatro os histéricos? Não conseguimos furar até às primeiras filas, mas de onde vimos o concerto estávamos longe de ser os únicos não só a vibrar como a música, como a incentivar a banda, a antecipar a canção seguinte, a tentar fazer com que as coisas acontecessem, enfim. Ao meu lado direito, um tipo desconhecido de mochila também se empertigava todo para cantar «I don't have the drugs to sort it out». Nas grades, um jovenzito clamava pela «About Today». E no fim, disse-me a Ana T., outro petiz desabafou: «Foi o concerto mais bonito da minha vida».
A banda já não é nossa, como se calhar nunca foi. Os primeiros segundos da «Fake Empire», logo após o agradecimento ao povo cá da terra por tê-los «abraçado» ao primeiro encontro, pareciam uma missa, disse o Nuno. A noite já se pusera, as vozes uniam-se e, compassadas, respeitosas, davam cor e corpo ao culto. Mais à frente, e depois das descargas eléctricas de «Mr. November» e «Terrible Love» (que formigueiro, que tapete voador), o fim não só do concerto, como da noite. Vi o Prince mas não vi nada. Ver, nem a «About Today» já vi. Como se, à minha volta, as pessoas mais altas fossem ainda mais altas, e as vozes que se substituíam à minha formassem uma parede abismal, e o último ano me estrangulasse devagarinho. E desaparecesse, ele próprio, ralo abaixo. Acho que a única imagem que guardo dessa última música são os sapatos, cheios de pó e alguma água salgada.
No final, o estado oficial era «emocionada». Apesar de todos os guinchos, pinchos e brincadeirinhas durante o concerto. Porque há coisas que tocam mais fundo que outras.
A estudante deslocada que haverá sempre em mim condói-se com estas situações
Esta é uma história já contada na tal diabólica plataforma de iniciais FB, mas que me parece digna de ressurreição neste cantinho bem mais pacato.
Numa noite quente desta semana, à saída do concerto do Mark Knopfler no Campo Pequeno, os táxis escasseavam. Enquanto deambulava em busca de viatura, um casal «de idade» pergunta-me se sou daqui. 14 anos depois, ainda respondo «mais ou menos». Querem saber onde é o Ibis, onde pelos vistos estão hospedados. Pergunto-lhes o nome da rua; entre muitas desculpas, o senhor mostra-me o panfleto e diz: «É aqui, menina, Avenida Casal Garcia».
Controlado o riso, toscamente tento dar-lhes direcções. Cabisbaixos mas agradecidos, eles seguem caminho. Uns 15 minutos mais tarde volto a encontrá-los na fila para os táxis. Embaraçado, o homem confessa, encolhendo os ombros: «Não fixei a rua, é melhor assim». Ainda mais encabulada, a senhora só acena que sim. Pouco depois, tentam pedir indicações aos polícias que são tão ou mais cepos que eu. Condoída de pena, e temendo que os simpáticos forasteiros fossem surripiados e estropiados no caminho até ao hotel, dei-lhes boleia de táxi até à Casal Ribeiro («Oh Nando, anda aqui no táxi com esta menina!»).
Apesar de bêbado ao ponto de mal abrir os olhos, o taxista foi muito simpático e expedito no caminho até ao Ibis e, depois, até minha casa. Quanto aos meus colegas de viagem, pagaram-me o pequeno trajecto com o dinheirito que levavam embrulhado numa folha de revista dobrada em quatro.
Numa noite quente desta semana, à saída do concerto do Mark Knopfler no Campo Pequeno, os táxis escasseavam. Enquanto deambulava em busca de viatura, um casal «de idade» pergunta-me se sou daqui. 14 anos depois, ainda respondo «mais ou menos». Querem saber onde é o Ibis, onde pelos vistos estão hospedados. Pergunto-lhes o nome da rua; entre muitas desculpas, o senhor mostra-me o panfleto e diz: «É aqui, menina, Avenida Casal Garcia».
Controlado o riso, toscamente tento dar-lhes direcções. Cabisbaixos mas agradecidos, eles seguem caminho. Uns 15 minutos mais tarde volto a encontrá-los na fila para os táxis. Embaraçado, o homem confessa, encolhendo os ombros: «Não fixei a rua, é melhor assim». Ainda mais encabulada, a senhora só acena que sim. Pouco depois, tentam pedir indicações aos polícias que são tão ou mais cepos que eu. Condoída de pena, e temendo que os simpáticos forasteiros fossem surripiados e estropiados no caminho até ao hotel, dei-lhes boleia de táxi até à Casal Ribeiro («Oh Nando, anda aqui no táxi com esta menina!»).
Apesar de bêbado ao ponto de mal abrir os olhos, o taxista foi muito simpático e expedito no caminho até ao Ibis e, depois, até minha casa. Quanto aos meus colegas de viagem, pagaram-me o pequeno trajecto com o dinheirito que levavam embrulhado numa folha de revista dobrada em quatro.
Um breve regresso
Há mais de um mês que não rego este sofá. Ontem à noite, entre papinha boa e conversa a condizer, a Leonor chamou-me a atenção para esta ausência prolongada, que em poucas palavras, e sem mentir muito, posso atribuir aos chiliques do meu portátil, à tentação do feicebú, ao trabalho que não acaba nunca.
Para a Leonor e outros leitores de passagem, farei o esforço de vos contar uma ou outra coisinha. Se bem que, por aqui e em rigor, as novidades sejam raras.
Para a Leonor e outros leitores de passagem, farei o esforço de vos contar uma ou outra coisinha. Se bem que, por aqui e em rigor, as novidades sejam raras.
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