terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Sonhos

Hoje sonhei que morriam o Andre Agassi e o Fidel Castro (no mesmo dia, não juntos).

Também sonhei que estava na esplanada de um restaurante imaginário na Rua do Carmo, à espera de uns amigos, e que o empregado de mesa, especialmente antipático, suspeitava que eu e o meu moço lhe queríamos roubar os frascos de mostarda e ketchup. Contudo, minutos mais tarde já tentava convencer-nos a fazer «uma refeição a sério», se estivéssemos dispostos a «gastar algum dinheiro» com uma mariscada.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Como se fosse a primeira vez

A chuva, o nevoeiro cerrado, a viagem de autocarro pelo verde de Monsanto - e as vozes na minha cabeça que, ao acordar, me disseram para ir buscar isto outra vez.



Cada vez melhor.

Pregões

Há pessoas que me deixam a pensar: «mas como é que ele/ela ganha a vida?».

É o caso da senhora que, todos os dias, ao cimo das escadas da estação de comboio de Paço de Arcos, apregoa exactamente a mesma coisa. A saber:

«Coliiinha, pensos, pilhas e pomadinha para as dores. Dá sempre jeito para ter em casa».

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Crueldade para com animais

Eu, que dou bom uso aos dentes caninos comendo de quando em vez um bom bifito, não consegui deixar de sentir uma pena algo hipócrita, mas ao mesmo tempo genuína, das vaquinhas que os senhores do Turismo dos Açores plantaram no meio da Praça de Espanha, para efeitos promocionais.

Passei lá ontem de carro, no regresso do Boa Noite e um Queijo, e entristeceu-me que, depois de um dia rodeadas de carros e poluição, as vaquinhas pernoitassem ali ao frio, encostadinhas uma à outra, quem sabe para se aquecerem.

Outros casos de crueldade para com os animais, menos evidentes mas nem por isso menos graves:




(é impressão minha ou o raio do bicho é quase tão grande como a arara que o segura?)

Ambição

Esta manhã, duas velhas conversavam no autocarro. Assunto do paleio: o filho de uma delas. Retive sobretudo esta passagem:

«E ele ainda está na Marinha?»
«Está!... E há-de estar - se Deus quiser - toda a vida. Que é para ter direito à reforma».

(O filho estava na Marinha desde os 18 anos, altura em que «foi para a tropa». Agora tem 40 anos. Pelas minhas contas também casou novo, pois a senhora sua mãe aproveitou o rendez-vous com a outra velha para se queixar que há 16 anos que todo o santo dia corre para casa da nora - «primeiro era por causa dos filhos, agora é por causa dela...», acho que foi esta a sua explicação, envolta nuns rosnares que não deixam margem para dúvidas: a nora é certamente uma naba que nada sabe fazer.)

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Boa noite e um Queijo

Por razões que o patronato conhece, ontem não me foi possível rumar à Rádio Zero para, com a Ana Martins, confeccionar o segundo Boa Noite e um Queijo de 2009. Eis um excelente pretexto para todos vós, leitores e ouvintes sem medo, ouvirdes a nossa emissão da semana passada, onde uma formiga se passeou pela mesa de mistura durante todo o programa e o computador bloqueou passados poucos minutos de abrirmos os microfones. Como se faz um programa de olhos praticamente vendados? É carregar aqui para descobrirem - ao menos a música não sofreu (muito) com a sucessão de azares que sobre nós se abateu.

Neko

Já tinha avisado aqui que o GD (Grande Disco) de 2009 será o novo da Neko Case.

Como se não bastasse a minha palavra e a amostra ao vivo que circulava por aí de uma das músicas novas, eis que a moça partilha, no seu myspace, um petisco directamente retirado do GD que aí vem. Ouvi, e maravilhai-vos.

Desilusão!

E eu a pensar que, ao cabo de oito álbuns e cinquenta mil críticas histéricas, os Animal Collective iam finalmente entrar pela porta grande do meu coração, quando descubro que o que eles dizem na «My Girls» é «proper house» e não «Doctor House». Ide pró Diabo.

(Continuo a não delirar com os moços, mas enfim, aquela música é consideravelmente amorosa.)

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Um post com um brinde (é procurar o linque, rapaziada)

O ano começa bem quando existe - numa compilação benemérita organizada pelos incríveis manos Dessner, dos National - uma canção chamada «So Far Around The Bend».

Diz o - também mano - José que eles poucas vezes soaram tão felizes. A mana Leonor arranjou a letra e confirma-se: esta podia muito bem ser uma música macambúzia dos National, transformada por brincadeira - mas com grande ciência - na sua homóloga bem disposta e ternurenta.

Ainda por cima a letra começa com uma frase que invariavelmente me faz pensar na gata dos meus pais, D. Zuca Maria.

«I know you're a serious lady...»






I know you're a serious lady
Living off a teacup full of cherries
Nobody knows where you are living
Nobody knows where you are

Take a bath and get high through an apple
Wanted to cry but you can't when you're laughing
Nobody knows where you are living
Nobody knows where you are

You're so far around the bend

I'll run through a thousand parties
I've run through a million bars

Nobody knows where you are living
Nobody knows where you are

You've been humming in a daze forever
Praying for Pavement to get back together

Nobody knows where you are living
Nobody knows where you are

You're so far around the bend
Now there's no leaving New York


(...)

Perigos de WC

O caixote do lixo para resíduos mais delicados, nas casas de banho do meu local de trabalho, tem nome de empresa de assassinos contratados: Rentokil.

A crise

Sabemos que a crise chegou para ficar quando, a caminho do comboio, uma mulherzinha com a boca toda rebentada (pelo frio?) me aborda de forma abrupta, perguntando «OLHA! O 76... APANHA-SE ONDE?», como mero pretexto para me levar o restito do pão com queijo que eu acabara de comprar no café.

Completamente desinteressada na minha resposta sobre a paragem do dito autocarro para o Dafundo, e com os olhos pregados na sandes, interrompeu-me berrando: «Dá-me um bocado!». Dei-lho todo.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

A PIDE dos blogues

Hesitei em aplicar ao Sofá Verde esta modernice de, ao lado de cada blogue amigo, mostrar a data da sua última actualização.

Assim deixarei de ir 20 vezes por dia (desocupado) aos blogues do costume, verificar se há novidades...

Mas há uma vantagem de grande valor: imagino que esta informação algo pidesca possa envergonhar os donos de certos e determinados blogues, incentivando-os a actualizações mais frequentes.

Não quero dizer nomes, mas convenhamos que um mês sem escutas, por exemplo, é um abuso.

No comboio

Foi tranquila, a viagem de regresso a Lisboa, depois do regalado Natal em Gaia.

Entrei no Intercidades pelas três da tarde, e logo percebi que a carruagem seguia sossegada, quentinha e até acolhedora, apesar de forte chuva que caía lá fora.

À minha frente, uma moça divertia-se no portátil, sem nunca largar o telemóvel (parece complicado, eu sei, mas acreditem que assim era). Mesmo quando dormia, apoiava a cara na mãozita com que agarrava o telefone.

Ao meu lado, um rapaz vagamente agunnado (para os do Sul, amitrado) lia o Ensaio Sobre a Cegueira, já com a capa nova (o Mark Rufallo e a Julianne Moore, do filme do Fernando Meirelles). Estava a custar-lhe: pelas minhas contas, virava uma página - na melhor das hipóteses - de cinco em cinco minutos.

O melhor momento da viagem aconteceu a poucos minutos da hora prevista para a chegada a Lisboa.

O maquinista abre o microfone e berra (literalmente, berra):

«SENHORES PASSAGEIROS!... DEVIDO ÀS INTEMPÉRIES, ESTE COMBOIO...»

Seguiu-se uma pausa longa, e dramática. O maquinista parece hesitar. Os senhores passageiros entreolham-se, tentando, quem sabe, adivinhar o que é que aconteceu ou vai acontecer àquele comboio. Vai explodir? Ser levado por uma enxurrada? Dissolver-se na intempérie? Até que o senhor completa a frase, soando irritadíssimo:

«ESTE COMBOIO PERDEU MUITO TEMPO!!!»

Para anti-clímax, foi bastante bom.

O espólio dela

Debato-me de há uns tempos para cá com uma aflitiva falta de espaço. Parece que, por muita papelada e bens não essenciais que deite fore ou recicle, a tralha se amontoa e multiplica nas minhas duas assoalhadas, deixando-me irritada só de para ela olhar.

Como os tempos não são propícios à desejada mudança para um T5 com jardim e arrecadação, tenho-me entretido, nestas mini-férias, a remodelar a casa (e não apenas o blogue, lá está).

Depois de, ontem, atacar os livros e cadernos da estante, hoje foi a vez de pôr de pernas para o ar o resto da sala, numa tentativa semi-conseguida de baralhar e voltar a dar.

Além de ter descoberto que tenho malas e carteiras em número suficiente para nunca mais me ter que voltar a «preocupar» com o assunto (ainda nestes saldos comprei uma nova), encontrei, ao arrastar o sofá para varrer lá atrás, uma inesperada surpresa: o espólio da estimadíssima, e desaparecida, gata Shiva.

Constam do seu legado: umas dez bolinhas de papel (era muito boa a apanhá-las ou socá-las, quando lhas atirávamos pelo ar, no imaginativo «jogo da bolinha»); duas ou três bolas de Natal (era doida pelos enfeites do pinheiro, empurrando-os pela casa à patada como quem joga hóquei, a pata a fazer de taco) e o famoso «rato pimentão», um dos seus brinquedos favoritos. É um ratito pequeno e pontiagudo, de cor vermelha, que ela atacava com grandes fúrias por breves segundos, antes de o bicho desaparecer, se preciso fosse, por semanas. Depois, sem que ninguém percebesse como ou porquê, ia buscá-lo de volta ao esconderijo secreto e tínhamos mais rebaldaria com o pimentão.

Apesar de todo esventrado, está claro que não consegui deitá-lo fora.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Obrigada Antena 3!

Estou arrepiada e não é (só) do frio. A Antena 3 lembrou-se de passar, neste preciso momento, o concerto dos Ornatos no Hard Club, em Novembro de 99, dias antes da saída do Monstro. Depois de uma tarde a arrumar livros e cadernos antigos a abarrotar de bilhetes de concertos, recadinhos e pedaços de letras sarrabiscadas durante as aulas, eis mais uma involuntária viagem ao passado.

Sem vos querer maçar muito, decidi ir a este concerto sem ter quem me acompanhasse (já vivia em Lisboa e o Hard Club era em Gaia). Também não avisei a minha família de que chegaria, numa daquelas camionetas do Campo das Cebolas, à Nobre Invicta pouco depois da hora do jantar. É que, visto o concerto, fui para casa de uma amiga desaparecida em combate fazer horas para a primeira camioneta de regresso: a das 5h30, que apanhei na rua dos Clérigos, juntamente com gente de proveniência - eufemisticamente, chamemos-lhe - diversa.

Cheguei ao Cenjor a tempo da primeira aula, com o casaco do pai da tal amiga (um empréstimo forçado, em virtude de me ter esquecido de agasalho, em pleno Verão de São Martinho). À tarde adormeci na aula de Ciência Política, lembro-me bem.

Na altura achei que o concerto tinha sido um pouco frio, reflexo natural de quem estava a apresentar, pela primeira vez, o disco novo. Quase 10 anos depois, soa-me perfeito.

E ainda não começou a Há-de Encarnar.

Os melhores sms do ano

Passei a manhã da véspera de Natal (ou seja, a viagem de comboio para o Porto) a apagar mensagens escritas do meu telemóvel, para que as felicitações de Natal de 2008 pudessem caber no pequenito aparelho. Claro que, antes de as apagar, tive de relê-las, e foi com tristeza que reparei que, nas mensagens de Natal de 2007 (eram elas as grandes responsáveis pela «despensa» cheia), uma constante se destacava: «em 2008 temos de encontrar-nos!», dizia, de uma maneira ou outra, boa parte dos amigos que há muito não via (e continuo sem ver). Está claro que 2008 passou e, se algum desses desejados encontros se concretizou, terá sido por mero acaso.

Tristezas volvidas, constatei igualmente a tendência idiota que tenho para guardar os sms mais estúpidos. Dentre a modesta colecção (que evidentemente, e ao contrário das mensagens de Natal do ano passado, não apaguei), saliento as seguintes:

I.

Nas poucas vezes que saio de Portugal, há sempre uma parada de gente improvável a ligar-me para o telemóvel, como se lhes cheirasse que vou gastar roaming com o seu súbito desejo de converseta. Em Maio, tinha acabado de aterrar em Heathrow e já a TMN me ligava. Minutos depois, recebo uma mensagem de um número desconhecido. Não atendi, mas fiquei a pensar se não seria importante, pelo que retribuí com um sms onde escrevi qualquer coisa como «não posso atender mas se for urgente por favor mande uma mensagem».

Ia no táxi quando recebo este lindo sms: «Desculpe a minha mulher troca os numeros todos e eganou-se (sic). Infelizmente é habitual».

A necessidade de responder, o atirar das culpas para a mulher, o desabafo extra («infelizmente é habitual»). A melhor de 2008, sem dúvida.

II.

Dias antes, recebo no meu telemóvel, de forma completamente inesperada e gratuita, a revelação de que as modelos não só têm sentimentos, como comem gelados.

«Oi miga. Acabei agora a sessao fotografica. Tou cansada. O desfile é sabado mas sou vou desfilar pra salsa e pra quebramar. Olha agora queres ir comer um gelado?»

A moça devia ser um pouco carente (e ter um tarifário com mensagens grátis), pois lembro-me de lhe responder de forma vagamente espirituosa, a alertar para o engano, e a simpatia do outro lado foi de tal ordem que só lhe faltou agradecer-me por aquele bocadinho.

Posto isto, um bom ano para todos! A mim bastar-me-á que não seja tão mau como 2008 (hasta la vista, ano horríbele).

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