quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Zuca



Zuca: ?? - 2009

A quantidade de gente a quem, na noite passada, senti necessidade de enviar a notícia da morte de Zuca Maria diz bem do carisma desta gata de armas, que ontem à tarde se deixou partir, nos braços da minha mãe.

Amantes ou não de animais, poucos minutos na companhia daquele (nos seus bons tempos) monte de banha coberto de pêlo fofinho bastavam para uma paixão duradoira (a Leonor, que a deliciou com pancaditas amorosas, que o diga).

Não sei que idade tinha a Zuca - chegou à nossa casa depois de muitos anos a saltitar de pátio em pátio, de quintal em quintal, numa sucessão de relações funcionais de «bed and breakfast». Antes disso, supomos nós pelo facto de ela já ser castrada quando a conhecemos, terá tido um lar e uns donos. Não sabemos se se perdeu, se foi abandonada. Mas há alguns anos aterrou à nossa porta, onde encontrou uma tacinha de comida e uma caixa. Depois de ser atropelada, ficou a recuperar na marquise e, a partir daí, nunca mais deixou de pertencer à mobília da casa.

Não sei se sou eu que me afeiçoo demasiado aos bichinhos, mas parecem-me todos tão únicos, cada um no seu jeito, que a ideia de substituir um cão ou gato me parece absurda.

Imperial, altiva, independente e, ao mesmo tempo, profundamente carinhosa e acessível, a Zuca aprendeu a lidar com a hostilidade do Caramelo (também já desaparecido, faz agora um ano) e com o medo do Kit (resistente, apesar de tudo). Percebeu que o coração da minha mãe pertencia a este último e logo encontrou a atenção - e o roupão de Inverno - do meu pai. Na véspera de morrer, ainda esteve ao seu colo, o que me faz feliz, por saber que, até ao fim, fez aquilo de que mais gostava.

A tristeza pela morte da Zuca tem um «mas»: ela viveu muitos anos (quantos ao certo, nunca saberemos), e boa parte deles numa família que não só a acarinhou, como nunca esquecerá a baba que lhe caía, sem vergonha, pelas falhas dos dentes, quando lhe fazíamos festinhas. Ou a noite de Natal, no ano passado, em que saltou para a cadeira da minha mãe, sentando-se à mesa como gente grande (algo que, na sua cabeça confiante, nunca deixou de ser).

A Zuquinha morreu, viva a Zuquinha.

6 comentários:

leonor disse...

Lágrima no olho e nó na garganta ao ler-te, maninha. E é mesmo verdade... cada bichinho é tão único. :) Querida Zuca. Muitos beijinhos e ânimo a quem vai sentir a sua falta.
*

Beep Beep disse...

Nada a acrescentar. Até Sempre.

Cibele Chaves disse...

Teve uma vida feliz!

Anónimo disse...

Essa gatinha teve o grande azar de ter sido atropelada em 2004, mas a grande sorte de encontrar a casa dos teus pais. Teve uma velhice sem preocupações ainda que tivesse dois cães a olharem desconfiados pra ela. Foi senhora do seu domínio com uma graça e uma agilidade que fazia inveja a muitos.
Pode ser que tenha encontrado o camarada Caramelo no Outro Lado ;)
Zuquinha a gente não te esquece!!

Parola

Suz disse...

Grande Zuca Maria! Obrigada por me teres agraciado com um dos teus olhares felinos, carregado do mais puro desdém. Internamente ajoelhei-me e repeti vezes sem conta "i'm not worthy!" :P

Impossível esquecer uma estrela assim :)

lia disse...

«Internamente ajoelhei-me e repeti vezes sem conta "i'm not worthy!"»

:-D

Obrigada a todos pelas vossas mensagens. Ela bem as merece :-)

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