De ontem para hoje não dormi nada, aflita com a tempestade - o maior trovão que já ouvi na vida fez-se anunciar pelas quatro e meia - e intempéries de outra ordem.
De manhã, com ingenuidade acredito que toda a gente pegou no carro para ir para o trabalho, e que o 729 estará vazio à minha espera, na paragem. Em meia hora, não passa um único autocarro da Carris numa Estrada de Benfica caótica - em minha casa havia luz, mas nos cafés mais abaixo, as portas abriam-se apenas para mostrar estabelecimentos escuros e sorumbáticos. Deles, as pessoas saem com cara de poucos amigos - e cara de falta de cafeína também. Não sei porquê, começo a lembrar-me d' O Ensaio Sobre a Cegueira; tenho medo.
Decido apanhar um táxi até Algés. A viatura fica presa no trânsito logo aos primeiros segundos da viagem e a certa altura desisto de sequer olhar mais para o taxímetro. Se morresse alguém era pior, chego a pensar a certa altura. Curiosamente, na altura de lhe pagar os 17 euros por cerca de uma hora de convívio forçado, o taxista despede-se com as palavras «olhe, ao menos não morreu ninguém, menina». Telepático, no mínimo.
Chego ao trabalho duas horas e meia depois de sair de casa. Estou mal disposta e o trabalho, que tem de ficar todo pronto hoje, não tem fim à vista. Só consigo sair, insatisfeita com a qualidade do que deixei feito, perto das nove. Chego a casa a tempo de tragar qualquer coisa aquecida no micro-ondas. Primeira vitória desta Segunda-feira: ainda apanho o House e a expulsão, bem bonita, lá da outra bimba (obrigada pelo consolo, visitante anónimo!).
Louça lavada, casa-de-banha da gatucha limpa e chão da cozinha varrido, ponho um chá a fazer. Penso que a única emoção que o dia me reserva pode, com algum jeito, residir nalguma série tola dos canais do costume. Vou à sala sem razão e reparo que o telemóvel toca. Tento tirá-lo da mala, que está presa na cadeira, mas a palerma da gata, a quem o toque não agrada por aí além, começa a esgadanhar-me pernas e braços. Agarro o telemóvel no último toque - ainda a tempo de ver «Leonor».
Um pressentimento assola-me a alma e corro para o computador enquanto tento retribuir a chamada.
Sim. 11 de Maio. Aula Magna. Um ano depois, mais dia menos dia. The National. Podia terminar o post dizendo que ainda há justiça neste mundo, mas não resisto a contar um sonho que tive recentemente, para me vangloriar ainda mais do meu subconsciente: nesse sonho, a Sara e a Leonor - arautas desta notícia na vida real - descobriam, numa ida ao Garage, que os National iam ao Santiago Alquimista a 23 de Maio. Os bilhetes custavam 14 euros e a organização era da Everything Is New. Na mesma noite, actuavam em Lisboa os Mercury Rev.
Pá, mais coisa menos coisa, estou pronta para entrar no mercado da Alcina Lameiras. Ana Martins, Leonor, Moonshiner - depois apareçam por aqui para confirmar que eu vos falei deste sonho... o que tive a dormir, que no outro ainda não acredito : )