Não assisti à cerimónia de entrega dos Óscares de Hollywood, mas irritam-me certas fórmulas simplistas e "dissolventes" aplicadas por quem decide as coisas... como se os «originais» ferissem muitas sensibilidades, e se escolha assim presentear os espectadores com versões mais básicas, mais inócuas, mais «populares», e isto no pior sentido.
Adorei o filme "Motorcycle Diaries", e na ressaca dessa minha adoração, fui a correr comprar a banda-sonora. Numa altura em que compro poucos discos - apesar de ouvir cada vez mais - isto é significativo. E mais significativo ainda é que, ao contrário do que muitas vezes sucede com as bandas-sonoras, esta caiu-me no goto sem necessidade de ter imagens a acompanhar as músicas... ou, se calhar, essas imagens estavam já lá, guardadas em mim, e são facilmente accionáveis pelo poder da música.
Ontem, nos Óscares, o valor da banda-sonora de "Motorcyle Diaries" foi reconhecido, com uma interpretação de "Al Otro Lado el Río", ao vivo do famoso Kodak Theatre. A música mereceu, também, o prémio de Melhor Canção. Há temas de que gosto mais, no disco, mas não é isso que está em causa... antes que, a interpretar a canção, estiveram... Santana (talvez por ter nascido no México?) e Antonio Banderas.
Antonio Banderas? Porquê?
Não só não é cantor, como não entra, no papel de actor, no filme.
Porque o terão escolhido, então? Fico com a ideia que, para a Academia, um actor espanhol, desde que ultra-conhecido (e Banderas é-o), é o ideal para dar voz a uma música em castelhano, de um filme realizado por um brasileiro, protagonizado por um mexicano, sobre um gajo nascido na Argentina.
Não sei se o castelhano é a pátria de todos os hispânicos do mundo, mas pessoalmente, confesso-me algo desgostosa com estas reduções ao denominador mínimo comum.
Será que se o tema dos Três Tristes Tigres para o filme português do ano passado, "Noite Escura", estivesse nomeado, iríamos ter a cantá-lo, em directo para todo o mundo, o Joaquim d'Almeida?
Há 13 anos
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