quinta-feira, 24 de fevereiro de 2005

Me neither

Macacos me mordam se percebo esta histeria colectiva em redor do concerto dos U2 em Alvalade. OK, é uma banda que vai trazer a Portugal um considerável aparato pirotécnico; é uma banda que consegue a proeza de fazer o pleno das rádios, tocando nas assumidamente nostálgicas e nas pretendentes a radicais; é uma banda de que, como dizia a Mary-John há atrasado, toda a gente pode gostar sem surpreender, nem ofender, ninguém.

E, que isto fique claro, não escrevo estas linhas a pensar nos fãs de velha - ou nova - guarda, que esperam com emoção e expectativa o reencontro (ou o primeiro encontro, até) com a banda que lhes preenche os ouvidos, a alma, todas as medidas. Ou seja, isto não é para ti, Susaninha...

Mas confesso que me custa a perceber. Pessoas que vivem de costas voltadas para a música ficam eléctricas quando «um grande nome» (como eu detesto estas expressões) decide fazer a visita da praxe ao nosso quintal. Nem que tenham de desembolsar vinte notas de conto (sim, que piada tem dizer «10 notas de 10 euros»?), há que acorrer ao local do culto e prestar vassalagem, cruzando os dedos para que as músicas escolhidas e tocadas sejam aquelas que nos fazem companhia inabalável em qualquer estação de rádio, desde... desde sempre?

Não pretendo que todos estejam atentos à programação da ZdB, do Mercedes ou até da Aula Magna, e desejo muito sinceramente que o concerto de Alvalade não defraude as expectativas de ninguém. Mas para mim este fenómeno em redor dos bilhetes, da caixinha que a promotora gosta sempre de fazer, como se não lhe interessasse divulgar o seu próprio negócio, vai muito além da música. Além, ou ao lado. Até a minha irmã, que não compra discos, não saca canções da Net, não vai nunca a concertos, me pergunta se eu lhe posso arranjar bilhetes.

Será a esperança de aparecer numa qualquer revista social a falar mais alto? Ou a ideia de ver alguém que já apertou a mão ao Papa e respirou os mesmos micróbios que o Bush é assim tão excitante?




E a despropósito, dou razão ao Gonçalo Frota, do Blitz. Músicos como o Bernardo Sassetti nem o Fórum Lisboa conseguem encher...

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