Quem faz tudo isto e muito mais, muito bem feito (refiro-me a ter graça, não a tomar banho), é o tal Hélder Reis de que vos falava. O rapaz circula com impressionante à-vontade por entre habitats que fariam a delícia dos candidatos a qualquer eleição: mercados (o mais mítico dos quais, o Bolhão, tem presença gaiata e frequente), feiras, centros de apoio a idosos, associações recreativas para reformados. Com todos (e todas: as velhotas adoram-no) o moço fala, troca piropos («Ora essa, tem 95 mas ninguém lhe dava mais que 143!»), esbraceja, dança, sorri. Sorri. Acho que é esta a razão do meu fascínio pela personagem. Ao seu lado, a expressão "sorriso pepsodent" esmorece, cinzenta e moribunda. O Hélder Reis é um monumento de resistência e simpatia, sempre com a dentaura à mostra (e nem sequer a usa para ferrar alguns dos interessantíssimos doces que os entrevistados não se cansam de lhe pôr à frente). E parece, sempre, verdadeiramente interessado no que lhe contam. Acho isto formidável. A única pessoa que conheço e que ostentava um sorriso semelhante acabou na Mega FM (NT, se me estás a ler, desculpa! Gosto de ti na mesma).
Infelizmente não encontrei nenhuma foto do senhor para ilustrar esta ode ao seu trabalho. Mas digo-vos que, apesar de ser jovenzito, o rapaz usa, invariavelmente, pesada farpela: sobretudo de fazenda, e cachecóis finórios, que só por sorte (ou por estarem colados ao casaco?) não mergulham de cabeça nas caixas de sardinhas que lhe mostram, orgulhosas, as peixeiras com quem fala amiúde.
Outro dia, e provavelmente por estarmos no Natal, altura do ano em que a solidariedade por quem já não tem dentes aumenta a olhos vistos, apanhei o Hélder Reis na TV, à noite. Mas como é isto possível, se o homem passa a vida a arreganhar a tacha, toda a santa manhã? É que à noite tinham-no destacado exactamente para o mesmo serviço.
Faz-me lembrar o José Carlos Malato, a quem cabe apresentar o programa da Antena 3 durante a manhã (sendo que aquilo começa às 7h, deve ter de se levantar a que horas? Lá pelas 5h?), e que à tarde ouve emigrantes portugueses pelo telefone, e grandes artistas portugueses ao vivo, no palco do "Portugal no Coração".
Esta gente, mesmo que tenha uma família perfeita, daquelas dos anúncios a carros, deve chegar a casa e mandar toda a gente estar caladinha e quieta. Depois enfiam-se no quarto e tomam a poção mágica para a manhã seguinte. Ninguém pode ser assim tão simpático todo o tempo -- ou pode?

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