sábado, 25 de setembro de 2004

Casa

O vento não sopra em lado nenhum como no quintal (selvático, amazónico, caótico) da minha Avó.

quinta-feira, 16 de setembro de 2004

Perigos da leitura

No começo desta semana, estava na paragem do 42 a devorar as últimas páginas do "How To Be Good", quando ouço alguém a interpelar-me, gentilmente:

«Excuse me...»

Ora, a Boa Hora não é propriamente local turístico que se apresente, pelo que desconfiei da abordagem estrangeirada. Olhei pelo canto do olho e vejo um senhor com ar de quem espera o 60 (destino: Martim Moniz), chapéu e sorriso amável. Acalentei a esperança de que quisesse pedir alguma informação de jeito.

«Do you speak english?», avançou o homem, sem que eu lhe desse trela para tal.

Comecei a topar-lhe a pinta - queria conversa, e eu queria acabar o livro. Armei-me em mula e fiz que não com a cabeça. Acompanhei com um sorriso.

«Why are you reading a book in English, then?», apontou com argúcia o senhor do chapéu.

Fuck, parece-me legítimo dizer.

Sonhos

Ontem tive uma insónia do tamanho de uma casa. Tendo em consideração que nunca demoro mais de cinco minutos (ou mesmo segundos) para adormecer, posso até dizer que tive a insónia da minha vida. Estive mais de duas horas às voltas na cama, a olhar para o tecto, a ouvir música e a ler um artigo sobre o "Verão Azul", na 365.

Às tantas, lembrei-me que tinha lido numa revista que o remédio, nestas ocasiões, é pensar no que fizemos naquele dia, ou no que vamos fazer no dia a seguir (estes conceitos confundem-se, a partir de certa altura).

Não resultou: fiquei ansiosa a pensar nas minhas tarefinhas pré-fim-de-semana e não me deu sono nenhum.

Comecei então a lembrar-me de alguns sonhos que tenho tido ultimamente, e que àquela hora, no silêncio escuro do meu quarto quente comó raio, se tornaram mais próximos.

Na última semana, o meu subconsciente esteve em modo temático, recuperando duas paixões da minha longínqua juventude.

À falta de um psicanalista, partilho convosco...

Sonho 1

Estava a passear com os meus pais quando, atrás de mim, um rapaz (uma das tais paixonetas acerca das quais nunca fiz nada que se apresentasse) me começa a chamar. À primeira, parecia não o reconhecer. O mistério resolveu-se (bem, mais ou menos) quando o moço se re-apresentou: «Então, não te lembras de mim! Sou o rapaz que conheceste no Minipreço!».

Esta é uma mentira ignóbil. Nunca conheci ninguém no Minipreço, muito menos aquele holandês, que como convém à sua nacionalidade, me foi apresentado em Amesterdão.

Dei uma volta de honra à praceta com o rapaz, e quando dei por mim já se tinha evaporado. Tão fugaz como na realidade, portanto (esqueçamos a parte do Minipreço, por momentos). Valeu pela recordação.

Sonho 2

Ia de carro com o meu real e estimado batato, em Gaia. Passo em frente à biblioteca anexa ao liceu e vejo, no meio de um grupo de rapaziada, o desgraçado com quem eu muito engraçava, na minha adolescência. Estava igual a si mesmo (calções feitos a partir de calças cortadas, botas grunge/trolha, aquela coisa). Fiquei contentíssima: «Olha, olha, está igual!!! Não mudou nada», exultei.

Na vida real, não o vejo há anos, se bem que me constou que trabalha agora numa famosa cadeia de lojas de música, que não a Valentim de Carvalho.

No mesmo sonho, o Kiko, meu primeiro e saudoso cão, ressuscitava. A emoção era grande. E o canito, cruzamento entre rafeirote e cão de água, aparecia agora de olhos azuis e pijama a condizer.

Bom fim-de-semana!...

domingo, 5 de setembro de 2004

Sofá Gold - Dempsey & Makepeace

Num Domingo quase Outonal, com bastante coisa para fazer mas preguiça em iguais doses, lembrei-me de recorrer ao Google para encontrar informação actualizada sobre o programa que mais alegrias me deu em toda a vida (sim, estou em semana nostálgica).

A missão era arriscada, eu sei: o que pode ser mais deprimente que encontrar os nossos ídolos velhos e caquéticos, numa qualquer prateleira dourada (ou nem isso) da especialidade em que em tempos brilharam?

No entanto, e graças a outros maluquinhos como eu, vi os meus propósitos cumpridos sem apanhar qualquer decepção. Eles vivem! Eles estão bem!! E eles tiveram um filho, ao qual deram um dos meus nomes favoritos: Alexander.

Falo, como é bom de ver, dos protagonistas da lindivinal série Dempsey & Makepeace, que em meados da década de 80 me dava uma razão extra para ficar acordada no sofá (na altura, de outra cor), à espera do melhor programa da televisão portuguesa e arredores.

Não me lembro, ao contrário da maior parte das minhas contemporâneas, da Candy Can, mas tenho bem presente a tarde em que persuadi a minha mãe a passar-me uma justificação de falta, para poder sair das aulas a meio da tarde e ver o Dempsey & Makepeace no "Agora Escolha". Andava na quarta classe.

Hoje, é possível reviver todos aqueles grandes episódios, grandes cenários foggy e brit, e grandes penteados dos anos 80, graças à edição da série em DVD. Recebi a primeira caixa pelo aniversário e desde então que tem sido um fartote de memórias e ansiedades: estarão bem? Ainda serão actores? Terão entrado em filmes da TVI?

Através de uma amiga, verdadeira enciclopédia de cinema e televisão, soube que, tristemente, a resposta a esta última pergunta é «sim, uns quantos». Mas também que Michael Brandon (verdadeiro nome, Feldman) e Glynis Barber (Van Der Reit) casaram pouco depois do final da série, têm um menino e, o que é mais importante, ostentam hoje em dia visuais que em nada envergonham os verdadeiros paradigmas da moda que eram quando eu tinha seis anos.

Fiquei feliz.

Ele:



Ela:



Ele mais ela:



quinta-feira, 2 de setembro de 2004

Momentos olímpicos

Agora que os jogos acabaram e o tempo (inclusivamente o meteorológico) convida à reflexão, deixo aqui no tasco a memória de um dos melhores momentos das últimas Olimpíadas.

O atleta português que não brilhou e, depois, acusou a federação de o ter deixado correr com sapatilhas rotas, arrependeu-se e, no aeroporto, já dizia que, afinal, a culpa tinha sido dele. A Federação até lhe podia ter dado umas sapatilhas novas, ele é que não soube «a quem se dirigir para pedi-las» (bem o compreendo; em qualquer empresa de média dimensão, saber a quem pedir o quê é, muitas vezes, um enigma diabólico).

Pergunta-lhe então o jornalista: «Está, portanto, a fazer um mea culpa

Responde o homem das sapatilhas rotas: «Hum... não, é culpa completa, mesmo. Foi toda minha!»

(Eruditos dum raio, estes jornalistas que abordam atletas que correm quase descalços com locuções latinas!)

Entretanto, outro dia sonhei que era metade de uma equipa olímpica de ginástica blues-rock, tendo realizado uma prova invejável, ainda que improvável, de corrida, ciclismo, malabarismos e música ao lado do Paulo Furtado, aka Legendary Tiger Man.



O júri não sabia muito bem o que achar da nossa pretação, mas nós sabíamos que tínhamos estado bem.

Eu até tinha um fato-de-treino prateado, e, no final, perguntava ao homem dos Wray Gunn se ele não queria que eu lhe cozinhasse alguma coisa, já que ao olhar para o que tinha no frigorífico, achei que bolos e suminhos não era ementa rock que se apresentasse.

Desculpa, Petra.

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