segunda-feira, 30 de agosto de 2004

Sofá Não #1: O Amor É Isto

Amei os Ornatos Violeta com uma intensidade dificilmente explicável em palavras. Uma paixão breve, porque o outro extremo da relação morreu, suicidou-se, apagou-se do mapa vá-se lá saber porquê (confesso que hoje também não sinto grande curiosidade; se acabou, acabou, e a resignação acaba por vencer. Como diria o Steve Wynn, «only the pain remains/the same the same the same»).

Chorei muito no dia em que o final veio escarrapachado nas páginas do "Correio da Manhã", e também quando, depois de um desmentido pouco convincente, o "Blitz" disse que a banda ia estar na Queima da Fita do Porto, para «o último concerto» da carreira. Vinha a descer a Rua Garrett quando dei com essa notícia, e as lágrimas caíram-me em catadupa pela cara abaixo. O último (triste) acto deste verdadeiro drama a conta-gotas aconteceu numa manhã de Inverno. Uma amiga, também aficionadíssima da banda, deu-me a notícia pelo telefone. Vi o DVD do "American Beauty" e no final aproveitei a cena da morte do Kevin Spacey (salvo seja) para chorar mundo e o outro. Fiquei doente e tudo, mas pelo menos dessa vez foi definitivo. Os Ornatos não mais voltariam a subir a um palco, para me dar alegrias como aquelas que vivi mais de 20 vezes, em várias terreolas deste nosso Portugal.

Este fim-de-semana, veio-me tudo isto (e mais alguma coisa) à cabeça. Fui ao Porto ver as Noites Ritual Rock, aquele festim de concertos de bandas nacionais que acontece anualmente nos jardins do meu adorado Palácio de Cristal. Em 2004, tínhamos no - excelente - cartaz Nuno, Nico (o fantástico projecto do antigo baixista dos Ornatos, Nuno Prata, e do seu amigo Nicolas Tricot) e Pluto, a banda em que alinham Manuel Cruz e Peixe, da mesma casa violeta.

Quis o destino ou algo mais que se encontrassem, na mesma noite, os novos grupos do defunto supergrupo. Musicalmente, pouco lugar a grandes conclusões: continuo a achar que, numa primeira audição, os meus ouvidos se apaixonam mais facilmente pelas canções do Nuno, Nico do que pelas guitarras dos Pluto. Mas quer uns quer outros (eu esforço-me e já tinha visto cada um dos grupos, ainda sem nada editado, por duas vezes) estão, como se diria no Fórum Sons, a crescer - e muito.

Enquanto consigo olhar para o Nuno Prata, tão tímido e tão bonito, e concentrar-me nas lindivinais letras da qual parece estar prenho, ver o Manuel Cruz e o Peixe em palco dá-me vontade de chorar. Emoção, mas não só. Sobretudo quando um dos mais talentosos artistas nacionais toca uma música, altamente reminiscente da banda que a gente sabe, e no final revela que ela foi escrita com o Nuno Prata, «para aquele que seria o terceiro disco dos Ornatos». Foi aqui que o nó que tinha na garganta se apertou definitivamente, e ainda bem que estava sozinha, para ninguém ver a minha fraca figura.

O Nuno Prata é um excelente escritor de canções, o Manuel Cruz e o Peixe têm química a rodos. Mas não há amor como o primeiro e sei que nada substituirá, no meu coração, a banda que me levou a andar em "digressão" pelo país, sempre sedenta de mais um concerto, de mais um encore, de mais um 'Há-de Encarnar' (um inédito que o grupo tocou ao vivo na tour d' "O Monstro...", e que eu e as minhas amigas adorávamos com devoção).

Quando contei estas "coisas" (outra bela canção, do segundo disco), o meu amigo Pedro Rios, que curiosamente entrevistou o Manuel Cruz na última edição do "Y", comentou: "Tanto amor...". E acho que nem a lucidez demonstrada pelo MC na dita entrevista chega aos calcanhares da argúcia deste novo escriba de valor, aqui na sua condição de melómano e camarada de lides musicais.

(continua)

1 comentário:

Anónimo disse...

Ornatos 4 EVER!!!! so tenho pena de ser novo de mais para nunca poder ter visto um concerto....
Mas qual é a musica escrita conjuntamente com o Nuno prata?
Curti totil esta rubrica (as duas partes)

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