A mulher mais antipática do mundo vive aqui à minha beira.
Em tempo de férias, o Senhor Zé, dono do café mais próximo da barraca onde trabalho, que cobra balúrdios por um lanchinho e tem um BMW, fecha o seu estaminé. Ficamos nós, trabalhadores esforçados mesmo em tempo de Verão, obrigados a calcorrear uma rua inteira até chegarmos a um outro estabelecimento (onde, por acaso, no ano passado ouvi um empregado contar ter apanhado, com os dentes, alguns «cabeçudos», ie peixes pequeninos, num mergulho na praia).
Aparte os comentários desse senhor, que costuma também contar a todos os fregueses como bebe um litro de leite («compro no Lidl, que é mesmo ao lado de minha casa!») todas as noites, antes de ir dormir, está-se bem naquele café-substituto. Excepto à entrada, ou à saída, quando nos deparamos com a Mulher Mais Antipática do Mundo.
Ela toma conta da caixa, onde há que ir pagar a despesa. E não há dia em que esboce um sorriso, balbucie um obrigado ou até um fugidio boa tarde. Nem aquelas palavras que nos saem inconscientemente (um «com licença» quando queríamos dizer «santinho»...) se ouvem por detrás da caixa. E ela não é mouca nem muda, pois o preço a pagar sabe bem dizê-lo. É apenas antipática, muito antipática. Nem se trata de ter um ar triste, que dessa estirpe costumo até ter pena. É carrancuda, sisusa, de cara inevitavelmente fechada.
Fico nervosa e mal-disposta quando sei que tenho de a enfrentar, pois não consigo evitar os mínimos da boa educação: os obrigados e bons dias que caem, invariavelmente, em saco roto.
Atribuí-lhe o prémio de Mulher Mais Antipática do Mundo quando ouvi colegas a queixarem-se do mesmo. Afinal, não é só com a minha cara que ela não engraça. Acho que é mesmo com a Humanidade em geral.
Há 13 anos
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