Realmente eu vivi toda aquele febre com um entusiasmo adolescente, apesar de a panca ter desabrochado já eu passara dos 20. E onde? Precisamente nos jardins do Palácio de Cristal, na edição de 1998 do Ritual Rock. Conhecia uma ou duas músicas, vi o concerto sozinha e fiquei doida; fui logo para casa escrever um texto tosco que mandei para o "DN Jovem" (acho) e telefonar ao pessoal a espalhar a boa nova: há uma banda muito boa, são do Porto e cantam em Português, veja-se a bizarria, e eu adorei! Não era normal, à altura, e até nisso os Ornatos Violeta vieram revolucionar a minha vida.
À época, dizia então, achava que o Manuel Cruz se chamava Tiago e os nomes das músicas defendidas (ou atacadas? Na altura do "Cão!" eles eram tão viçosos...) naquele palco nada me diziam. Poucos dias depois, uma amiga em Lisboa passava por experiência semelhante, no Palco 6 da Expo. Juntas viríamos a vê-los, ainda naquele ano, num festivaleco de meia leca em noite chuvosa no Parque das Nações, no Montijo (olá, Célia!) e no Hard Club. São coisas que não se esquecem, como os primeiros dias de uma nova paixão, ou da Primavera, ou das férias grandes.
Depois do segundo disco, desde que houvesse dinheiro para a viagem de camioneta e o pão com chouriço no recinto das festas, íamos a todas (ou quase - nunca os vi no Algarve nem em Trás-os-Montes...). No final víamo-nos gregas para voltar a casa, mas achávamos sempre que tinha valido a pena.
É natural, pois, que com o final tenha ficado nas nossas bocas um «travo amargo da solidão» (outra citação). Sentimo-nos abandonadas. E connosco, muitos outros fãs que continuamos, hoje, a conhecer, a ver com t-shirts nos festivais. Há até quem faça sites, ou versões (os Clã do 'Capitão Romance', os Toranja da 'Chaga', e sabe Deus os pulos que o meu coração deu quando os primeiros acordes desta ode ao hino de corno soaram no palco tuga do Super Rock).
Talvez daqui a muitos anos haja uma reunião. Ou um concerto. Só um, pelo qual eu daria metade dos meus discos, as minhas poupanças (OK, esta não vale, eu não tenho poupanças), o recheio do frigorífico ou a totalidade do ordenado. Nem que tenha de aprender a tocar o instrumento de algum membro que recuse tocar nessa ocasião!
A última vez que fora ao Ritual Rock, vi os Ornatos cantarem uma versão ao piano do 'Mata-me Outra Vez'. Bem, a tocar; quem cantou foi o povo. Este fim-de-semana, não consegui abstrair-me disso e senti uma mistela de saudades, melancolia e raiva.
Acho que, apesar de tudo, é bom sinal. Estou viva. E vou continuar à espera de mais "Notícias do Fundo".
( eu estive neste showcase; foi na Valentim de Carvalho do Norte Shopping, estava cheia. )
Há 13 anos