(mais um post que não é escrito a tempo de entrar nos «blogues de papel» do Público, raios!)
Pouca gente sofre mais do que eu pela selecção. Acho que é por não perceber assim muito, muito de futebol que tudo me parece tão intenso e dou por mim a ceder a superstições e manias, numa tentativa de virar o jogo a nossa favor (já a minha mãe acha que passar a ferro dá sorte a Portugal e ao Sporting, a sua equipa predilecta).
Neste Europeu, no entanto, o meu desgosto foi atenuado. Em primeiro lugar, porque - não custa reconhecer - já vamos estando habituados a perder, não é? Na final contra a Grécia (que anedota) ou nos quartos com a Alemanha, o resultado é o mesmo - nenhum. E começo a acreditar que ele há equipas com uma gigantesca estrela de campeão, que até podem perder o primeiro jogo da competição por 0-3 e acabar por erguer a taça na última partida (é o meu palpite), e outras que, enfim, outras que somos nós. Muita expectativa, muitas razões para acreditar, nada a declarar no regresso à Portela, que não a roupa com que se partiu para a terra dos sonhos.
Outra atenuante do meu sofrimento neste Europeu foi o facto de, desde que soube que iamos jogar com a Alemanha (obrigadinha Croácia), me ter convencido que iríamos ser eliminados. Estas coisas são mais fortes que eu e quem me conhece, ou quem já viu jogos a meu lado, sabe que os pressentimentos raramente me enganam.
Por último, a derrota de Portugal significa também um certo regresso à normalidade que não deixa de me agradar.
Não me entendam mal: fiquei tristíssima com a eliminação e o infeliz timing dos nossos golos, mas não posso deixar de regozijar com o fim (?) das notícias, reportagens, anúncios, mezinhas, casamentos imaginários e especulações de toda a ordem em redor do Cristiano Ronaldo.
Nada contra a pessoa, que não conheço, ou o jogador, que todos sabermos ser assim e assado. Mas a individualização da equipa nacional, a concentração de todas as atenções e todos os elogios num só jogador-estrela, tanto vedeta pop quanto futebolista, vai contra tudo o que eu acredito ser uma selecção.
Faço minhas as palavras da Inês Nadais, hoje no Público, quando diz que uma das imagens mais significativas deste Europeu é o golo apontado pelo Quaresma a passe do Ronaldo, e a forma como, na habitual «molhada» da celebração, o madeirense é o único que procura, e fita obsessivamente, a câmara da televisão em vez do sovaco suado do companheiro. Estou com Miss Nadais: gostava mais quando os jogadores usavam bigode e não se ralavam com todas estas metrossexualidades modernas.
Equipa que me serve: a Turquia. Não são os melhores a jogar mas têm alma daqui até à China. E acreditam. Ninguém os vê jogar e fica na dúvida se eles têm mesmo vontade de ganhar aquele jogo. Só por serem «a equipa mais indisciplinada» do Europeu, como diziam ontem os comentadores, referindo-se ao número de amarelos e vermelhos, já mereciam ganhar.
As guerras não se ganham com festinhas.