Este post da Menina Alice trouxe-me de volta três das recordações de infância que tenho mais presentes, no capítulo «sinto-me tão deslocada, não sou igual aos outros». A saber:
- todos os meus coleguinhas da primeira classe, que fiz num colégio, tinham os livros encapados com papel autocolante transparente. A minha mãe encapava os meus com aquele papel de plástico com bonequinhos, que não adere às capas dos livros, antes se cola nos cantos com fita gomada. Cedi à pressão de grupo e quis ter, também, papel autocolante transparente. Nem eu nem a minha mãe conseguimos os exímios resultados exibidos pelos meus coleguinhas, e as capas ficaram cheias de vincos (mais ou menos como a roupa que engomo hoje em dia). Antecipando uma humilhação que nunca aconteceu, lembro-me de ter chorado.
- cheguei a casa ao fim de um dos primeiros dias de aulas, arrasada. Apesar de o meu avô me ter ensinado, antes de entrar na primeira classe, a escrever e fazer contas básicas, fiquei com a ideia de ser a única da turma que não sabia, ainda, escrever o nome completo. A professora Teresa (que será feito?...) tinha posto umas tirinhas com o nome de todos os meninos num cesto, e nós tínhamos de reconhecê-lo e reproduzi-lo. Houve ali qualquer coisa que me correu mal e não descansei, à noite, enquanto não escrevinhei umas 50 vezes o meu nome (ou os meus cinco nomes), sentada à mesa da sala de jantar. Lembro-me da resignação da minha mãe e das paredes verde escuras.
- esta preocupou - e até irritou - a minha mãe. Ao contrário das minhas amigas, garantia-lhe eu, a pequena Lia não tinha «voz de menina». Nunca gostei muito do meu tom de voz, mas aos seis anos o facto de ter uma voz mais grave que a das outras era, sem dúvida, gravíssimo.