sábado, 30 de outubro de 2004

Marcelo Rebelo de Sousa, por Zézé Camilo

Uma das regras da comunicação é que, por mais unívocas, claras e transparentes que sejam as palavras de que nos servimos para transmitir uma mensagem, cada um dos receptores vai interpretá-la de acordo com os seus conhecimentos, os seus pré-conceitos, a sua moldura mental, por assim dizer.

Na passada semana, Zézé Camilo Rufino, sobrinho de uma das minhas maiores amigas, emitiu a sua opinião sobre o caso Marcelo Rebelo de Sousa vs TVI. No telejornal, falava-se em «cabalas contra o governo...», e o petiz, com seis anos de idade e um fortíssimo sotaque nortenho, indignou-se:

«Cabalas?!... ÉGUAS!»

Bom fim-de-semana a todos!

quinta-feira, 28 de outubro de 2004

Vale sempre a pena

Até estou a tremer... parece que ganhei o Euromilhões (bem, nesse caso já estaria a caminho do hospital!). Acabo de saber que o Nuno Prata, cujo mérito e canções eu tanto tenho apregoado, vai fazer a primeira parte do Josh Rouse, nos concertos de Dezembro!

Desculpem-me a falta de elaboração deste post, mas às vezes sabe mesmo, mesmo bem ver que o que é bom acaba por ser notado...

Imaginem agora um grande sorriso, e é como eu estou.

Falta dizer que já há bastantes anos sou, também, fã do Josh Rouse, pelo que este double bill está diametralmente oposto, numa escala que vai do Bem ao Mal, àquele match made in hell que é a Anastacia e os Fingertips, um destes dias no Atlântico.

As datas da grande oportunidade podem ser consultadas aqui.

Vão, se quiserem ouvir (e assobiar) ao vivo coisas como esta:

«Nada é pior do que não te ter
e ver que outros braços
te dispensam beijos falsos, fáceis rimas de prazer

Nada é tão mau quanto não te ter
e saber que o teu riso
é o aviso que de ti preciso para viver»


sexta-feira, 22 de outubro de 2004

Insónias

Voltei a ter uma insónia. A gaja que adormecia em poucos segundos não pode ficar a trabalhar até tarde, que lhe passa o sono - isto é, o corpo pede descanso, mas a cabeça não pára, impedindo-me de adormecer.

Esta semana, depois do concerto dos Magnetic Fields, fiquei até às cinco da matina a revolver-me na cama, puxando lençóis, acendendo e apagando a luz repetidas vezes, e de uma forma geral amaldiçoando a minha sorte.

Como sempre nestas ocasiões, só consegui pregar olho depois de rever mentalmente, 20 vezes, o que fizera naquele dia e o que me esperava no próximo, e de começar a considerar usar as horas-extra em que estou a pé para pintar um fresco ou construir uma catedral.

No meio da torrente de ideias, esta voltou a assolar-me: a coisa que mais me atrofia em não conseguir dormir, estou em crer, não é o cansaço (eu ando sempre cansada, a minha mãe diz que eu até já nasci assim) nem o facto de estar a abrir a porta às olheiras (que habitam na minha cara há mais de dez anos, quer durma muito, pouco, ou faça uma directa).

O que me chateia é não ter ninguém com quem falar.

Acho que vou pôr anúncio no Jornal Ocasião:

«Procura-se profissional da área da panificação, segurança nocturna ou recolha do lixo. Para troca de sms aquando de eventuais insónias. E nada mais.»

Bom fim-de-semana!...

terça-feira, 19 de outubro de 2004

Outra vez Saint Nick

Lembram-se de há tempos vos contar que a leitura do "31 Songs" em plena paragem de autocarro me rendera fãs inesperados? Pois bem, além desses dissabores, retive alguma coisa do livro. A sério. Há algo na prosa de Nick Hornby que faz com que, enquanto ando a ler alguma das suas obras, comece a pensar como o homem, integrando expressões e atitudes das personagens no meu dia-a-dia. Isto pode parecer estranho, mas 1) não me acontece com todos os escritores 2) eu sou estranha.

Vem isto a propósito de um capítulo do "31 Songs" em que Nick Hornby fala da música de um grupo obscuro, que não deixou de ser obscuro por ele ter falado nele, ou lembrar-me-ia do seu nome, agora. Seja como for. Queria o senhor contar que a banda era de uns amigos, ou dos amigos de uns amigos, que para o efeito vai dar ao mesmo. E que por isso, e por vir com recomendação de outros amigos, lhe tinha prestado muita atenção, acabando por se apaixonar pela música. Diz Nick Hornby que devíamos ser amigos de toda a gente, para evitar os discos ouvidos à pressa (e logo postos de lado), e até mesmo aquelas rodelas compradas num impulso e que mal acabam por sair da caixa.

Lembrei-me disto por causa do disco que ando a ouvir há um ror de dias. "Bom Dia", dos Pluto. Como se devem lembrar, à conta da choraminguice derramada uns posts abaixo, esta é a nova banda do Manuel Cruz e do Peixe, espinha dorsal dos Ornatos Violeta.



Andava a evitar ouvir o disco. Tinha medo de ficar desiludida. (Lembrem-se, eu sou estranha). Mas graças ao Nuno Prata (ex-baixista dos Ornatos, que me disse maravilhas do "Bom Dia"), tomei coragem. Cá vai disto. Pronto. Ouvi. E agora?

Agora os Pluto não são os Ornatos, mas isso já eu sabia por tê-los visto ao vivo várias vezes. As letras e a voz só podiam vir do Manuel Cruz (embora os textos registem algumas diferenças, certamente para melhor adequação ao novo registo sonoro. E mais não digo se não ainda ficam a pensar que eu fiz um trabalho para a faculdade sobre as letras do homem, e tal).

Se este "Bom Dia" não fosse dito por quem é, talvez não chegasse à segunda audição.

Punha o disco de parte com aquele esgar de «não gosto lá muito» e passava ao próximo, ou voltava aos habituées.

Mas como tenho o MC e o Peixe em altíssima estima, insisti. Primeiro, ouvindo aquelas que me caíram mais no goto (ainda bem que não estamos a falar de um vinil, ou já o teria riscado na faixa 12), depois, pouco a pouco, alastrando a curiosidade ao resto do disco.

Estou viciada, constatei pouco tempo depois. Já me apetece ouvir o disco no autocarro, em altos berros logo pela manhã, decorar letras, ver concertos, assustar os vizinhos com aquelas guitarradas e delírios quase psicadélicos.

Ponho-me assim a pensar que quem tem razão é o Nick Hornby; e a imaginar que outros discos ando a perder, por não olhar para eles como se tivessem sido feitos por amigos meus.

A propósito de amigos: a vida, infelizmente, não sorri da mesma maneira a toda a gente, e enquanto os Pluto se passeiam, graças a Deus, por media avulsos, o Nuno Prata continua sem perspectivas de futuro... Perdoem-me por acreditar, mas digo que está ali um dos melhores autores de canções dos últimos anos, escritas com a mão no coração e um respeito carinhoso, engenhoso, pela Língua Portuguesa.

Se quiserem ouvir, chateiem-me. A sério, mando maqueta sem encargo.

Boa semana!...

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