segunda-feira, 27 de julho de 2009

café café café

Café a mais num Domingo à tarde e eis que, depois de muito me virar na cama, sem arranjar maneira de pregar olho, caio num sono burro e agitado, do qual acordo assarapantada e com o coração a bater a uma velocidade proibitiva. Sonhava, num daqueles sonhos difíceis de discernir da realidade, que me tinha esquecido de pôr no site a reportagem do super-coiso Lisboa (ao qual nem sequer fui em serviço) e nem depois de acordada conseguia perceber em que dia estava, ou se tinha mesmo ido para a cama sem cumprir a minha missão.

Palavra que nunca tinha sentido o coração a bater assim, atirando-se a mil à hora contra a caixa torácica. Menos café ou menos festivais? É uma boa pergunta.

domingo, 26 de julho de 2009

Riscos

Tenho amigos formidáveis, que fazem coisas para as quais até me falta a adjectivação: desde dizerem adeus aos postos de trabalho (uma tendência dos dias - paradoxalmente - difíceis de hoje), até espectáculos de sapateado, corridas de bicicleta e começares novinhos em folha. Mas também eu me aventurei nas últimas semanas. Por exemplo, pela primeira vez, usei um browser que não o Internet Explorer, e não é que nem desgostei do Firefox?

Podia ser uma mudança mais radical, eu sei, mas é um começo.

Eu, a cigana

Nas próximas semanas irei fazer de minha casa uma espécie de «pit stop»; pararei por aqui entre viagens, no meu roteiro Alto Minho - Costa Alentejana - Londres. Trabalho, sim, mas com um ou outro brinde pelo meio (assim de repente, esperam-me Sean Riley and the Slowriders, Manel Cruz, The National, Marcelo Camelo, Faith No More). No meu regresso falamos com calma.

Dia dos Avós

(Também) para a Cristina.

A última vez que vi a minha avó com vida estava escuro. Escuros os corredores do lar que, à hora do jantar dos restantes ocupantes, se apagavam já; escuro o quarto onde a luz não se acendeu para não incomodar a outra velhinha - que me fitava com olhos vítreos, como se visse já, diante de si, a própria da morte; escura a disposição com que ali entrei e dali saí, convencida da impotência de qualquer um de nós - família, médicos, humanos - perante o que ali vinha.

As últimas palavras que ela repetiu, pelo meio de um discurso sôfrego que a dentadura em cima da mesinha da cabeceira não ajudava a perceber, foram «Tino», «caraças» e «retrete». Tinha, suponho, vergonha de estar de fraldas e estava convencida que, em vez do meu pai, era o outro filho que a visitava naquele fim de tarde cinza e frio.

O dia do funeral, por acaso (ela usava esta expressão para tudo, mas sobretudo para elogiar os cozinhados da nora; «Oh Ana, por acaso está bom!», dizia sempre com a mesma ofensiva surpresa), até foi bonito.

Dia dos Fiéis, ano da graça de 2008, 97 anos depois de Dona Maria nascer em família pobre e numerosa, da qual todos os efectivos se têm vindo, gradualmente, a apagar.

Estava um daqueles dias de Inverno cheios de sol, céu impossivelmente azul, e ao velório compareceu boa parte da sociedade de Santo Ovídio, incluindo o empregado do café onde a minha avó passava as tardes (e de quem dizia cobras e lagartos). A dizer a missa esteve o Padre Queirós, que baptizou toda a gente que conheço e comigo partilha a naturalidade - e de quem a minha avó não gostava nada, por «falar muito baixinho».

Chegámos ao cemitério primeiro que o caixão, pelo qual esperámos, sob o sol manso de Outono. Foi então que um cãozinho pequeno, mas bem bonito, apareceu do nada e se fez às festinhas. Todos lhe dispensámos atenção, desejosos de uma centelha de calor naquele dia cabisbaixo.

Quando o caixão chegou, o bicho acompanhou o cortejo, ordeiramente. Assistiu ao enterro para depois desaparecer, tão misteriosa e discretamente como surgira.

Engraçado é que o cachorro era - ou assim me pareceu, a fazer fé nas fotos a preto-e-branco que a minha avó me mostrava com saudade - parecidíssimo com o Nice, primeiro de uma dinastia canina que contemplou cães de todas as raças, cores e tamanhos, sempre com o mesmo nome, no número 81 da Coats & Clark.

Morreu, esse cachorro, atropelado quando o meu pai e seus irmãos eram crianças, e a minha tia abriu o portão deixando o pequenito escapulir-se.

Naquele 1 de Novembro de 2008, foi difícil - pelo menos para um lírica como eu - não ver no inesperado convidado canino do funeral da minha avó uma nova encarnação do malogrado Nice I, que evidentemente nunca conheci mas cuja história era contada de forma recorrente, lá em casa.
Lembro-me dos meus avós todos os dias e às vezes até me parece que nem morreram, e que se for ao «palanque» ou ao «galinheiro» (as alcunhas dos cafés que um e outro frequentavam) os vou encontrar, ainda: a minha avó a despejar pacotinhos de açúcar atrás de pacotinhos de açúcar na água a ferver da qual fazia um café interminável; o meu avô de chapéu, a repetir as histórias de quando era petiz e criava indizíveis engenhocas.

Outro dia um amigo usou a expressão «dar a ferro» e num ápice senti-me transportada para a cozinha da minha avó (há muitos corredores mais largos que aquela cozinha), onde ela esticava um lençol velho sobre a mesa de inox e ali engomava a sua roupa, melhor do que alguma vez conseguirei fazer. Leio «dar a ferro» e sinto imediatamente o cheiro do vapor na roupa gasta, o aroma da cevada e do pão com margarina dos meus lanches predilectos, o silvar do vento no quintal/jardim/selva lá fora, sempre verde, sempre vivo.

A minha avó faria 98 anos no próximo domingo, mas custa-me a crer que já cá não está. O mesmo para o meu avó, cujas últimas palavras, para o meu pai, mostravam vontade de «ir à pesca outra vez».

É um lugar comum, mas enquanto os tivermos presentes não os deixaremos morrer. Beijinhos, Cristina.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

O Verão lá fora e eu aqui

Toujours la même chanson, é verdade, mas para quê mudar quando se regressa assim?



Esta e outras novidades de grande gabarito no Boa Noite e um Queijo desta semana, para ouvir aqui.

Uma questão de timing

Aproximadamente 284 dias depois de ver a Leonor, no mensageiro, a escutar esta canção incessantemente, e cerca de duas semanas antes de novo rendez-bous, é que este «Sleep All Summer» encontrou o caminho do «repeat» do meu leitor de mp3.

A letra nem é do homem (esta é uma versão de uma banda chamada Crooked Fingers), mas o que me «vendeu» a música - além de uma simpática apatia veraneante - foi mesmo a deixa «And every time we turn away it hits me like a tidal wave / I would change for you but, babe, that doesn't mean I'm gonna be a better man».

Vamos ouvir outra vez (não se distraiam a olhar para as carinhas deles; oiçam antes os barulhos de Verão que vêm da rua):




(«Sleep All Summer», The National + St. Vincent. O querido «bizinho» RT diz que é um Kenny Rodgers + Sheena Easton para o século XXI. A mim, nem que puxasse muito pela cabeça, me ocorreria melhor publicidade.)

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Canções de amor para quem anda sempre com dois calhaus no bolso do coração

É carregar neste linque e procurar o «In The new Year», dos Walkmen, no Restelo este Sábado.

Lindíssimo, apesar do excesso de luz solar.

Agora chamam-lhe responsabilidade

No meu tempo chamávamos-lhe «medo» ou «falta de alternativa».

«No mesmo comunicado a administração do título da Sonaecom salientou “o sentido de responsabilidade" demonstrado pela quase totalidade dos trabalhadores ao aceitarem uma medida que implicará sacrifícios financeiros individuais».

Notícia sobre o Público aqui.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Boa Noite e um Queijo - come-se no Verão

E quando todos se dedicam à mandriagem, as formiguinhas fazem rádio. Foi assim nas passadas duas semanas e será assim esta noite, se Deus e o Twingo quiserem. Boa Noite e um Queijo, a partir das 22h na Rádio Zero.

domingo, 12 de julho de 2009

No reason to get excited?

Afinal 12 anos não é assim tanto tempo. Quando um conjunto de musiquitas nos consegue tirar as dores nas pernas, a moideira nos rins e a nuvem negra de cima da cabeça, então é porque, apesar de não ouvirmos os discos há anos, afinal ainda somos fãs.

Pela #41, Ants Marching, Two Step ou Tripping Billies estava lá amanhã outra vez. Louvados sejam.

Tempos idos

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