segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Coisas tristes

Uma senhora que faz secretariado perto da nossa redacção (trabalhamos todos no mesmo open space, portanto) descobriu há pouco, por telefone, que a mãe está gravemente doente. Como se o historial familiar da senhora - e estas notícias! - não fossem já suficientemente más, a frieza de novo drama começa logo na forma como se apresentou, ao telefone.

«Bom dia, eu sou a filha da doente da cama 8...».

Nem a todos pode calhar um médico «romântico de esquerda» (na semana passada, pedi a um doutor da caixa que me passasse umas credenciais e fiquei quase três quartos de hora a ouvi-lo contar e comentar tudo e mais alguma coisa, num estilo excêntrico e espampanante em que metade das palavras saíam a voar disparadas para outro receptáculo qualquer que não o meu canal auditivo. Justificou a sua postura com o tal título de «romântico de esquerda». Esqueceu-se de me mandar carimbar as credenciais, percebi hoje de manhã.

Nota mental: nunca mais dizer a minha verdadeira profissão, numa destas circunstâncias. Pior cotado que «jornalista» só mesmo político ou arrumador de carros, suponho. E nestas ocasiões, jornalista tanto é o pivô do jornal da noite como o revisor de uma revista de horticultura - nem vale a pena argumentar).

7 comentários:

Anónimo disse...

E quando todos tivermos o chip implantado debaixo da pele, será ainda mais prático:
"bom dia, indivíduo 34527/83, filho de indivíduo 8925/61,..."

:s

Anónimo disse...

@Mulher da Noite-Tu e os chips no pescoço.. ;-)

Dupont

Anónimo disse...

Quem falou em pescoço?....

;)

K@ disse...

Há coisas que surpreendem. Eu explico. Não passava pelo blog há coisa de uma semana (talvez mais) e deparo-me com este post.

1ª coincidência: a profissão e a sensação acerca dela. De facto, também sou e também sinto que me olham como tal.

2ª coincidência(a maior): mesmo antes de aceder ao blog escrevi um post num outro blog meu (palavra-do-dia.blogspot) em que referi profissões de "má fama", mal aceites. Político e arrumador também vieram logo ao assunto.

Enfim... acredito não ter um chip implantado no pescoço, mas gosto de ainda ser surpreendido por algumas coisas na vida. Até porque a nossa ocupação profissional nos "ensina" e obriga a sermos friamente passivos e "insurpreendíveis" a toda a hra e momento. E isso é uma seca.

lia disse...

K, vou consultar o post que escreveste em sintonia com o meu : )

Os belogues têm destas coisas...

Um Feliz Natal, já agora! : )

lia

Joana disse...

Acredita que não há profissão pior cotada em Portugal que a de professor.
"Ah sim? Tadinha... tão nova, doente, e... SEM EMPREGO, não é?" Grrrrrrhhhhhhhhh!!!!! Não, não é!

Um 2007 realmente ímpar para ti.

Jinhos.

P.S. O truque é ires a um médico teu conhecido ou levares contigo alguém que o conheça - derretem-se todos assim.

lia disse...

Acredito, JJ! Professor é outro dos ofícios que deve dar direito a discurso... no meu caso, geralmente começam as frases com «você, que está ligada ao jornalismo...» e a partir daí pode-lhes dar para falar sobre alterações climáticas, casos de corrupção, cenas de tribunais ou o escaravelho da batata.

Um bom ano de 2007 também para ti! : )

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