quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Sou tão fácil de contentar. Uma música nova, mesmo que seja uma versão, e bem pequenina, de uma canção que não conhecia; um vídeo com um gato cinzento e pessoas que não sabem dançar; uma manta pelas pernas. Olá Inverno.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

John Grant

Mais um bocadinho e entramos «naquela» altura do ano. Não falo do Natal, que como sabemos este ano foi abolido, mas das semanas em que se sucedem as listas de melhores discos da temporada. Eu, que até gosto dessas cromices, à terceira ou quarta listinha já não posso ver as mesmas capas e os mesmos nomes à frente. E, como quase tudo, nesta era de informação redundante e saturada, a sensação é de enjoo.

Mas, no ano passado, houve uma lista que fez algo por mim. Estava em casa quando vi que a revista Mojo tinha escolhido o disco do John Grant (quem?) como o melhor de 2010. Procurei no Youtube um vídeo para ilustrar a notícia - apareceu-me o do «Queen of Denmark», tema-título do álbum, ao vivo nas (sei-o agora) formidáveis sessões Strong Room. Lembro-me de gostar da letra, da voz, da ideia de um homem sentado ao piano a cantar e a berrar como se a sua vida dependesse disso. Pedi o disco emprestado a um colega e, numa primeira audição, lembrei-me do Rufus Wainwright, do Elton John mais vintage, do David Bowie até. Daí para as frente, nas muitas visitas ao Queen of Denmark que se seguiram, já só me lembrei do John Grant: um homem grande e barbudo que, depois de praticamente sucumbir a demónios próprios e alheios, se arrastou - ajudado pelos amigos Midlake - para escrever um disco de uma beleza aterradora.

As drogas, as depressões e o diabo a quatro ajudam ao folclore rock 'n' roll do músico que se redime no último minuto e encontra o reconhecimento quando menos se espera, é verdade. Mas o que menos importa em Queen of Denmark é esse lado artificial, postiço, brilhante. Basta ouvir as letras de «Sigourney Weaver», «It's Easier» ou «Queen of Denmark» para perceber - amando ou odiando - que o que aqui está é um homem a braços com a verdade, a sua verdade. Fã amantíssima de Mark Eitzel, como não havia eu de render-me aos encantos de mais este barbudo confessional? Até me fiz sua amiga no Facebook (ele aceita toda a gente, podem juntar-se também), onde percebi que, além de homem a transbordar talento, o John Grant é boa gente. Não que precisemos de privar ou simpatizar com os nossos artistas favoritos para sancionarmos a nossa paixão - pelo contrário. Mas, quando as canções são pedaços de vida tão em carne crua como o Queen of Denmark, é bom perceber que quem está «do outro lado» tem as mesmas terminações nervosas e o mesmo coraçãozito quente (as mesmas mãos frias?) que nós.

Há algum tempo que não estava tão ansiosa por um concerto como ontem. Em Sintra, e depois de ter tocado em Espinho, o John Grant apareceu constipado. Só me apercebi quando o referiu pois, até então, estava tão pendurada das suas palavras, da sua voz, das suas mãozinhas sapudas a percorrer as teclas do piano que nem reparara na rouquidão. A partir daí, sim: os urros da «Queen of Denmark» saíram todos arranhados, a última «Little Pink House» viveu em esforço, já não houve encore.

Mas, quando me lembrar deste concerto no futuro, sei que o que vou recordar é: a alegria estranha que é ouvir aquelas tiradas sarcásticas, doridas, raspadas do fundo da alma - «you tell me that my life is based upon a lie, i casually tell you i pissed in your coffee» é a que me ocorre sempre - acompanhada por alguns dos meus melhores amigos, a quem passei o disco e o «bichinho», e regozijar com o momento. Que o homem tenha escrito aquelas coisas enquanto chafurdava na lama percebe-se; que tanta gente (como quem diz, podiam ser mais - também de ausências se fez esta noite) se identifique com estes actos de contrição e neles encontre prazer e libertação é prova cabal, desnecessária mas sempre bem-vinda, do poder da música como outra coisa qualquer. Como amor, amizade, empatia e compreensão. Para os dias que correm, já é bastante.

E também me vou sempre lembrar da forma como, já quase afónico, o homem se chegou à boca de palco para, mais do que agradecer os aplausos entusiastas, sorrir perto de nós. Alto e desajeitado, tímido quase, carita rosada e sorriso grato, humilde. Depois de se dar, mostrou-se. (É difícil fazer as duas coisas, artista ou civil). E perante tanta generosidade, ninguém teve coragem de vaiar a falta de encore (ou de «Caramel», a canção que eu tanto gostava de ter ouvido escorrer, caudalosazinha, em Sintra). O homem esteve connosco e connosco deixou o seu escalpe. Não lhe pedimos mais nada.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Ontem como hoje (sem dramas)

«Quando eu sonho eu levo a minha força até ao fim
E quando o sonho acaba, cego, eu olho fundo para mim
E não vejo nada além da tão real ausência de outra luz
E só por ela volto à minha cruz, à minha cruz».

Tempos idos

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