Ultimamente ando a escrever muito sobre música - até parece mal. Mas não tenho culpa de tanta coisa (por acaso, boa) me andar a passar pelos ouvidos.
Depois dos Sentados, que como devem ter reparado (abaixo, meninos, abaixo) para mim foi igual a Ed Harcourt, a querida
Laura Veirs tocou no Alquimista, faz hoje uma semana.
A típica songwriter por quem ninguém, ou muito pouca gente, dá um chavo, a senhora tem um par de discos bem jeitosos, que recomendo ao meu vasto auditório: "Carbon Glacier" e "The Year of Meteors". Isto são canções de uma folk confessional, observadora e tendencialmente conservadora, mas quem gostar, digamos, de um Josh Rouse também não vai daqui nada mal servido. Ao vivo, e numa noite de absoluto dilúvio, Miss Laura, que às mãos da British Airways perdeu malas, roupa e CDs, apresentou-se de sandálias com meias por baixo (!) e fez o que lhe cabia: embrenhou as suas belas canções num charme menineiro não muito longe, também, da minha queridíssima Mirah, agarrando o público pela mão. Não foi inesquecível, mas muito muito simpático. E até de Saramago se falou/cantou.
Laura Veirs é geóloga e, muitas vezes, canta como se estivesse sozinha no fim do mundo, mas a sentir-se bem. Gosto da ideia.
Dias mais tarde, nova senhora nos palcos do Alquimista:
Lisa Germano, veterana por muitos adorada, de quem lamentavelmente conheço apenas os dois últimos trabalhos. "In The Maybe World", deste ano, é belíssimo, e foi muito bem representado na lotada noite de Sábado. Ao longe, a quase cinquentona, de calças de ganga e t-shirt, parece uma garota. Sentada ao piano, fala dos seus gatos, mas também de um disco por tanta gente adulado ("Op8", com Howe Gelb e restante pandilha) como «um disquito engraçado» ou da calorosa reacção do público como inédita na sua carreira. Presença encantadora e voz a lembrar, por vezes, uma das minhas grandes paixões: Shannon Wright.
Ontem, vi os
Yo La Tengo na Aula Magna. Tal como há 493 anos (talvez tenham sido menos, mas parece-me que já foi há tanto tempo...) no Garage de Alcântara, um formidável concerto, mesmo para quem, como eu, conhece mal os seus discos - à excepção do lindivinal
"And Then Nothing Turned Itself Inside Out", recordado amiúde na noite de ontem, para meu deleite. Olho para o palco e parece-me ver três amigos, encostadinhos uns aos outros, ocupando metade (se tanto) do palco amplo, mas fazendo um barulho e uma magia bem maior que a soma das partes. Muito bonito.
Hoje, conto que a
Cat Power, à semelhança do não-concerto de Matosinhos aqui há uns tempos, destrua a Aula Magna. Tratam-na como um vidrinho, mas a moça é um... erm, garrafão. Mesmo que alegadamente sóbrio, nos dias que correm.
A quem de direito, fica uma lista de senhoras que, não querendo parecer mal agradecida pelas oferendas concretizadas, fariam as minhas delícias ao passar por Portugal: Neko Case, Neko Case, Neko Case. Shannon Wright, Shannon Wright, Shannon Wright. Lucinda Williams, Lucinda Williams, Lucinda Williams. Faço promessas e cumpro-as, se me indicarem o santinho respectivo.