Vai fazer agora cinco anos que comecei a trabalhar. Depois de um pequeno e mandrião estágio numa empresa que nunca chegou a ir a lado algum, entrei na Rádio Renascença, por aquela que por muitos é considerada a porta do cavalo de qualquer serviço informativo: a Internet. Não me queixo. Gostei de lá estar, fiz amigos e aprendi o suficiente para querer sair e experimentar outros voos. Uma das coisas menos charmosas de trabalhar por turnos é ter de aguentar madrugadas, noitadas e fins-de-semana sem piar. Lembro-me bem dos Domingos de manhã: o Chiado quieto, aparte um ou outro noctívago de regresso cambaleante a casa, e as notícias a pingarem devagarinho no nosso sistema. Uma era sempre certa: quase até já podíamos ter um formulário para a dita.
«Atentado suicida em Israel causa ... mortos e ... feridos».
Bastava substituir os valores. Geralmente, os bombistas suicidas faziam-se explodir nas estações de camioneta onde se concentravam soldados israelitas, de regresso aos quartéis depois do fim-de-semana passado em casa. À força de tanto dar aquela notícia, comecei a inquietar-me com frequência com uma dentre muitas questões: como vivem aquelas pessoas? Sem tomar partidos... eu que podia ser confundida com uma árabe e tenho família judia... Todos os dias há atentados, todos os dias morre gente. Toda a gente já perdeu, sem dúvida, amigos, familiares, vizinhos. Como encaram aquelas pessoas a morte? De forma diferente, necessariamente - não? Como lidam com o medo?
Depois do regresso dos atentados terroristas ao mundo "ocidental", esta semana, dei por mim a pensar que, salvas as devidas distâncias, estamos mais perto de compreender o que vai na cabeça e nos corações dos habitantes de Jerusalém ou Belém.