Ainda ontem pus esta t-shirt a secar.
O Nuno comprou-a nos Sentados, há quatro anos. Curiosamente, no fim-de-semana passado lembrámo-nos dessa edição, não pelo concerto dos Sparklehorse, se bem me lembro curto e conciso, nem pelo do Ed Harcourt, que para meu deleite se esticou no alinhamento graças ao cancelamento da Emiliana Torrini, mas porque foi em 2006, na cidade de Santa Maria da Feira, que conhecemos, na altura de forma fugaz, a Leonor. O José também andava por lá, embora na altura não tivessemos ainda formado o nosso «time» (isto é, o Boxer ainda estava por nascer).
Conheci os Sparklehorse com o álbum It's a Wonderful Life. À semelhança de quase tudo aquilo de que gosto, hoje, dentro desses géneros musicais, foi nos programas do Miguel Quintão que descobri aquela música frágil, quebradiça, quase umbilical mas muito acolhedora e quente, sempre quente. Ouço o «Comfort Me» ou o «Piano Fire» e vejo-me no Chiado, nos primeiros anos de trabalho, então na vivaça Rua Ivens. Vejo-me no Giestal, ainda com a Marlene e ainda agarrada ao rádiozito da Sony que todas as noites me trazia as novidades. Vejo a Cibele, com quem partilhava e comentava, no dia seguinte, a melhor colheita do serão anterior. E íamos à praia, às vezes.
Do disco que se seguiu também gostei, embora não tanto. O It's A Wonderful Life tem aquela aura dourada que distingue os bons discos dos nossos discos, e foram as suas canções que, neste Domingo de notícias tristes, fui recordar.
O Mark Linkous não era pessoa em quem pensasse regularmente, nem os Sparklehorse banda que me ocorresse colocar entre as mais marcantes do meu percurso. Mas a brincar a brincar, acompanharam-me nos últimos 10 anos. Uma década decisiva a todos os níveis e que, sem o milagre da partilha a que a música convida, não teria sido a mesma.
Acredito que, para alguém disposto a suicidar-se, saber tudo isto não valesse de nada. Mas é apenas justo que o deixe escrito. E agora, depois do Vic Chesnutt, da Lhasa e do Mark Linkous, só espero que o Mark Eitzel não comece a achar que está a dever anos à casa. Essa seria uma desfeita que eu, personagem tão central na sua vida, não seria capaz de perdoar.